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Acompanhando uma viagem sagrada

Ao alcançar um orgasmo sob efeito, me tornei meu pênis e me ejaculei pra fora dele retornando ao meu corpo kkk. Bem, nada de místico, é verdade, mas posso me colocar no lugar de um espermatozóide se um dia um deles precisar de empatia. :p
Acho super místico, na verdade 😂
 
Cara, que relato incrível, me senti inspirado. Espero um dia guiar uma experiência fantástica assim.
 
Experiência incrível, vários deslumbres, descrições detalhadas, tópico de se emocionar, uma verdadeira jornada oq você passou
Olá!

Gostaria de compartilhar com vocês uma experiência muito bonita que tive. Dessa vez não do ponto de vista de quem come os cogumelos, mas de quem acompanha alguém nesse momento tão sagrado. Acredito que possa ser útil para quem se dispõe a acompanhar alguém iniciante. Ao final vou colocar algumas coisas que ela me contou sobre sua viagem. Separei por tópicos pra leitura ficar mais fácil.

Contexto e preparo

Conheci uma jovem espanhola às vésperas do ano novo em uma cidadezinha de interior muito especial. Ela havia acabado de chegar ao Brasil, junto com uma amiga nossa, e veio passar um tempo viajando por aqui. Desde o momento em que a vi, antes de trocarmos qualquer palavra, soube que tínhamos muito em comum e muito o que compartilhar. Foi amizade à primeira vista, hehe.

As conversas que seguiram confirmaram minha primeira impressão, tanto que este mês ela veio à minha cidade passar uns dias na minha casa. Logo de início me disse que sentia um chamado forte em relação aos cogumelos e a outras plantas sagradas, e que até teve algumas oportunidades anteriores mas recusou pois sentiu que o contexto não respeitava a sacralidade com que ela queria consagrá-los, além de não se sentir segura com as pessoas que a ofereceram. Disse-me que sentiu de maneira muito forte que queria ser acompanhada por mim. Uma honra e uma responsabilidade e tanto. Aceitei, e combinamos de fazer no domingo, 8 de março.

Os dias anteriores foram de muuuita conversa sobre nossos caminhos, nossos sonhos, sobre espiritualidade, sexualidade, sagrado feminino... muito lindo, muita conexão. Acho que foi um preparo essencial.

O dia

Chegado o dia, acordamos e tomamos um leve café-da-manhã. Ela se recolheu para meditar enquanto eu preparava algumas coisas (frutas cortadinhas na geladeira, chá de gengibre, água., etc.). Quando ela sinalizou estar pronta, adentrei o quarto onde iriamos realizar o processo. É um ambiente agradável, com plantas, e onde mantenho meu altar. Ela também leva consigo seu altar e o montou ali, próximo ao meu. Coloquei uma música relaxante para meditarmos juntas.

Disse-lhe para que confiasse em sí e para que se entregasse completamente à experiência; que os cogumelos são muito seguros, que seu corpo ficaria bem, e que ela estava segura pois eu estaria ali o tempo todo para qualquer coisa que precisasse. Disse também para que não se assustasse caso sentisse frio.

Fizemos um reiki nos cogumelos e ela os comeu com mel. Foram 5g, como eu havia sugerido. Já havia explicado que essa era uma dose alta, mas que como confio em mim, na qualidade do acompanhamento que posso oferecer (modéstia às favas), nos cogumelos, e no preparo que estávamos fazendo, valeria a pena tomar uma dose alta e entrar de cabeça na experiência.

Preciso frisar aqui que apenas sugeri uma dose alta porque: 1- Já tomei essa dose várias vezes e estou familiarizada com os efeitos; 2- Eu sabia que ela tinha estrutura para lidar com o que viesse; 3- Já tive uma bad e sei como acolher quem está passando por uma ( pra quem se interessar, pesquise sobre o guia de redução de danos para psicodélicos da MAPS – Psychedelic Harm Reduction - , são materiais excelentes e acho que tem tradução de alguma coisa desse material aqui no Fórum); 4- Preparamos muito bem set (conversas nos dias anteriores e meditação no dia) e setting (ambiente agradável e seguro); 5- Eu me propus a ficar presente o tempo todo com toda a atenção voltada a ela, o que quer dizer: sem celular, sem ler livros, atenção plena no momento sagrado da amiga e em suas necessidades.

Ela os comeu, colocou uma venda de olhos e se deitou confortavelmente na cama. Com sua permissão, apliquei reiki nela nesse início. Coloquei uma playlist maravilhosa de música clássica e sentei-me em uma cadeira próxima à cama, observando-a.

Passados uns 40 minutos notei que ela sorria algumas vezes. Me disse “Pri, tengo um poquitinho de frio”, então a cobri.

Após 1h, 1h30 mais ou menos ela gargalhava muito.

Por volta de 2h, 2h30 disse, ainda com venda nos olhos, disse que precisava ir ao banheiro. Ela se sentou, um pouco desnorteada e percebi que ela não estava se lembrando de tirar a venda dos olhos, kkkk, então a ajudei a tirar. Ela olhou pra mim com uma cara confusa e disse “Não sei bem onde estou”. Falei que não precisava ter pressa. Ela olhou em volta, provavelmente reconheceu onde estava, e disse com uma cara de espanto: “Pri! Estou sentindo coisas que nunca havia sentido antes! Estou com um pouco de medo de me entregar e não voltar”. Afirmei que ela estava segura e que poderia se entregar completamente à experiência, que daqui a algumas horas ela estaria de volta, e que eu estaria ali o tempo todo para o que ela precisasse. Ajudei-a a se levantar e guiei-a pelas mãos até o banheiro, já que ela estava se acostumando com a sensação de andar sob o efeito mágico.

Quando voltou, perguntei se poderia começar com as músicas xamânicas (que eu havia mostrado a ela antes da viagem pra saber se era de seu gosto...), e ela disse que sim. Coloquei uma playlist de cantos Shibibos que escutei na minha primeira trip e que foi muito importante pra mim, seguida de outra playlist de cantos sagrados peruanos. Seu rosto risonho deu lugar a uma expressão mais grave, mais profunda... passados uns 30min ela disse que precisava da minha mão. Coloquei a cadeira mais próximo da cama, e segurei sua mão entre as minhas.

“Está tudo bem?”, ela me perguntava algumas vezes. E eu respondia com uma voz calma: “Está tudo bem, está tudo tranquilo.”
Percebi que em alguns momentos ela chorava, embora não desse pra ver as lágrimas por causa das vendas.

Fiquei por volta de 2h segurando sua mão, entre a terceira e quinta hora de trip. Pra mim foi a parte mais difícil, porque eu já estava um pouco cansada e não podia me movimentar muito. Não ousei largar sua mão porque não sabia o que isso significaria pra ela.

Depois da quinta hora, vi que sua expressão estava serena e que ela parecia estar em algum lugar muuuito profundo, quase como se estivesse dormindo. Como eu estava cansada e queria me movimentar um pouco, interrompi o silencio e perguntei: “Está tudo bem?”. Ela me respondeu que sim com um sorriso e soltou minha mão (ufa!). Perguntei se ela queria alguma fruta, água e disse que não. Avisei-a então que eu iria sair um pouco pra comer algo, e vi que ela estava muito tranquila com essa informação.

Me estiquei, comi algo (já estava com fome!), mas fiquei de olho nela, espiando de quando em vez na porta do quarto. Quando a vi movimentando os braços, como quem se estica e dança ao mesmo tempo, voltei à minha cadeira e perguntei como ela se sentia. Ela se sentou, tirou as vendas, e com um olhar maravilhado me disse: “Uau!”,“Quanta coisa!”, “Uau!”, “Que lindo!” , “Quero te contar, mas ainda..., é tanto!”. Falei que eu estava curiosa mas que sabia que naquele momento seria difícil de me contar... disse que teríamos bastante tempo para conversarmos depois. Ela assentiu com a cabeça e disse: “Me senti tão vulnerável... foi muito importante ter sido acompanhada por uma mulher”. Pediu umas frutas e eu busquei pra ela. Depois de comer disse que precisava descansar e dormiu.

Sua versão da história

No dia seguinte me contou sobre sua experiência, e com sua permissão, irei narrar aqui um pouquinho do que me foi dito.

Ela disse que se viu em uma casa, um castelo, em sua terra natal, mas em uma época antiga. Um homem, seu pai, tocava piano e era muito rígido. Ela estudava dentro de casa, seguindo as regras e a rigidez imposta, mas olhava a mata pela janela e desejava estar ali, em meio à natureza. Em algum momento tomou coragem, saiu, e uns serezinhos, como se fossem duendes, começaram a subir nela, brincando, e a despí-la. Nua, ela foi levada por esses seres cada vez mais profundamente à terra, deixando para trás seu castelo.

Depois se viu dançando com uma longa pluma atrás da orelha. Dançava leve e belamente e viu que todos os homens com quem ela já havia se relacionado sexual e amorosamente faziam um circulo em volta dela. Era um círculo de proteção, era como se eles a tivessem protegendo para que ela seguisse a viagem que estaria por vir.

Ela então disse que se sentiu em seu próprio útero, que foi sua própria vagina, que começou a sentir orgasmos em cada poro de seu corpo. Isso é muito importante e significativo porque ela disse que tinha dificuldade em sentir prazer sexual. Foi nesse momento em que ela começou a gargalhar. Ela sabia que todo aquele prazer estava conectado com seu útero. Ela gozou por si, gozou por sua mãe, gozou por sua avó. Quem está consciente de toda a repressão sexual que as mulheres carregam a gerações (e ela vem de uma família católica conservadora...) sabe o quanto isso é lindo, importante e revolucionário.

Quando abriu os olhos, disse que me viu saindo de uma concha, como a Vênus de Boticceli kkkkkk

Com os cantos xamânicos ela disse que sentiu-se conectada com suas ancestrais. Com as mulheres que a antecederam. Mas que em algum momento veio um homem, um padre, dizendo que ela não poderia sentir aquilo, que era errado, apontava-lhe o dedo e queria que ela se sentisse culpada... foi quando ela pediu minha mão. Disse que foi muito importante a presença calma de uma outra mulher ali - a presença ancorada pelo aperto de mão - que isso deu forças para que ela enfrentasse esse homem que queria cobrí-la de culpa. E ela o mandou às favas 😊 (e me contou isso com o dedo do meio em riste, acenando para a memória desse padre).

Assim que ela colocou tal opressor em seu devido lugar, viu-se rodeada por muitas mulheres de distintos povos originários, e de mãos dadas, cantavam e dançavam juntas.
Havia homens também, mas eles estavam mais distantes, tocando instrumentos e guardando o lugar para que as mulheres tivessem seu momento sagrado. Diferentemente do padre, eram homens que estavam conectados ao próprio sagrado masculino e respeitavam a importância e sacralidade daquele momento. Sabiam da importância de as mulheres conectarem-se com seus úteros. Ela disse que foi nesse momento que chorou... por gratidão à existência desses homens, por ser possível que eles existam.

Envoltas em um profundo sentimento de amor, as mulheres tiveram um orgasmo coletivo, fazendo tremer a terra. Desse tremor, começaram a brotar flores, frutas, verduras, cogumelos... graças à conexão direta das mulheres com o próprio prazer se gestava a vida, uma vida voltada ao bem estar da comunidade.

Suas lágrimas nesse momento expressavam o sentimento oceânico de amor, esperança, paz e gratidão, e embalada nesse conforto, permitiu-se descansar.

Foi o 8 de março - dia das mulheres - mais lindo, sagrado e revolucionário que já vivi. Interessante notar que não escolhemos essa data por ser dia das mulheres... mas simplesmente por ser "o dia que deu". Mais sincronico, impossível.

Vou colocar aqui as playlists que usamos, caso alguém se interesse. Importantissimo baixar os vídeos antes, pra não ter o inconveniente dos anúncios.

Música de Relaxamento inicial:
Músicas Clássicas Suaves:
Cantos Shibibo:
Cantos Sagrados Peruanos:
Sinos tibetanos relaxantes pro pós:
 
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