olá, amigos, depois de milhares de anos, resolvi voltar a postar por aqui.
Segue minha ultima experiência com psilocibina.
abraço a todos.
Substancia: cubensis tipo tailandês, Koh-Samui
Dosagem: 21 g secos, em capsulas
Peso da cobaia: 92 KG
No final do ano passado passei uns dias sozinho na praia pra fazer uma sessão de cogumelo, tinha cerca de um ano que não consumia os PCs.
Ingeri 25 capsulas de 850mg totalizando cerca de 21 g de cubensis secos.
Exatamente ao meio dia, ingeri as 25 capsulas com cerca de tres quartos de copo de suco de maracujá sem açucar.
A Primeira sensação foi de estranheza. Como fazia tempo que não usava, ficou uma grande expectativa com o que viria. Da ultima vez foi muito bom, uma bela trip de hiperspaço. Desta vez estou mentalizando para ser novamente carregado pelo universo, focando fortemente na vontade de fazer contato com inteligências alienígenas. No entanto, a trip foi pra outro lado, muito diverso.Aliás, isso sempre acontece, a gente espera um negocio e rola outro absurdamente diferente.
Enquanto não batia, fiz uma sessão de tai-chi ao ar livre e depois entrei numas de defumar o terreno e a casa (minha cabaninha fica isolada em algum lugar do litoral sudeste brasileiro, num daqueles locais aonde ainda é tudo mata virgem).
Deitei na rede e esperei. Quando começou a bater, senti necessidade de abrigo e entrei em casa. Deitei na cama e começou, como a dosagem foi elevada, passei batido pelas angustias da decolagem e fui direto para a fase de bipartição do ego. Estava pronto para começar a viagem pelo hiperspaço, espirais madrepérola de olhos fechados e abertos, uma enorme compressão dos pensamentos. Quando os egos se partiram, dois deles passaram a dialogar acima de minha cabeça:
- E aí, vamos levar ele com a gente?
-Que nada, ele ta muito denso. Tá cheio de raiva, desta vez é melhor a gente ficar por aqui e fazer uma sessão de cura no cara...
Dito isso, imediatamente meu abdômen começou a convulsionar, senti uma vontade irresistível de vomitar e fui lá pra fora, vomitar junto à cerca dos fundos da casa. Não tenho lembrança se fui andando, voando ou me arrastando, no instante seguinte eu tava com a cabeça enconstada no mourão de madeira, tentando botar as tripas pra fora e não tinha nada pra vomitar. Toda a região abdominal doía como se eu estivesse numa superbad de argirea. Eu tava de quatro, meu corpo se contorcia pra vomitar e não conseguia.
De repente, tive uma regressão, fui até algum ponto de minha primeira infância, foi a primeira vez que vi meu irmão mais velho, olhei pra ele e... veio um asco profundo, físico, inimaginável. Ao sentir isso, vomitei uma bola de espuma amarelada, e rolei para tra´s, enrolado em posição fetal. Fiquei ali, embaixo de um puta sol, regredido à idade de um bebê, sem linguagem, sem pensamento ordenado, só sentidos e sensações. Mijei nas fraldas, e o calor da urina no meu calção me trouxe de volta à realidade, tive consciência de que o sol tava me fritando e que eu ia ter queimaduras graves se não fosse pra uma sombra.
Consegui ir de quatro até o banheiro para me lavar, no processo a primeira onda baixou um pouco, consegui administrar pegar toalha limpa, um novo calção e entrar no chuveiro. O contato com água morna e sabonete foi muuuuito prazeiroso, e naquele momento de sobriedade inter-ondas percebi o tamanho do trauma que foi em mim o primeiro contato com meu irmão, 4 anos mais velho. Nunca nos demos bem, imagino que ele também não deve ter sentido boa coisa quando me viu pela primeira vez.
Estava pensando nisso, muito abalado emocionalmente pela descoberta, quando veio uma segunda onda. Novamente cólicas inacreditáveis, minha musculatura abdominal se mexia que parecia que a qualquer momento ia nascer um alien da minha barriga rasgando as tripas por dentro. Senti uma pedra subindo através de mim, nesse momento novamente o ego dividiu, de supetão, e continuou a conversa:
-isso, ele ta quase conseguindo, vai botar o implante pra fora!
-joga fora! Joga fora!
Saí do box e mal consegui chegar ao vaso, dei a descarga e ao mesmo tempo vomitei a pedra que estava sendo arrancada a força de dentro de mim por espasmos musculares inacreditavelmente dolorosos. Mal tive tempo de ver uma coisa preta, do tamanho de uma tampa de caneta bic, que bateu na louça do vaso fazendo “plec”, e sumiu água abaixo, junto com a descarga.
- conseguimos tirar o implante!
Nisso a onda aumenta terrivelmente, fui pro quarto pelado, todo molhado, tentei chegar na cama e não consegui, desmanchei no chão, em cima do tapete aos pés da cama. Fechei os olhos e tive uma visão de helicóptero da casa de minha mãe, a aproximadamente 60 m de altura. O carro da minha esposa tava parado na frente, e com visão de raio X eu consegui ver minha mãe, minha filha, minha mulher, ao redor da mesa de almoço. Senti uma enorme agonia, minha mulher estava querendo desesperadamente falar comigo, ela tava numa angustia enorme. Fiquei extremamente angustiado, bateu uma paranóia que ela estava numas que eu estava em apuros por conta da experiência, foi muito angustiante. Então passei a vivenciar uma situação onde de olhos fechados eu tinha a visão da casa de minha mãe e de olhos abertos eu estava no quarto, tudo muito alterado, aquela coisa de respiração das superfícies, tudo ondulando.
Lutei contra essa angustia, que virou meio uma culpa por estar sozinho, totalmente drogado deixando minha esposa sozinha em sp muito totalmente preocupada com minhas loucuras, etc, etc. Quase liguei o celular pra telefonar pra lá, mas tive o bom senso de não fazer isso. Entrei forte na trip de culpa, o que era pura armadilha mental, pois minha esposa acha muito interessante toda essa historia de enteogenia e não reprime minhas experiências, ter consciência desse fato foi fundamental para me ligar que estava em plena paranóia de culpa infundada.
A visão de olhos fechados saiu da casa de minha mãe e virou hiperspaço, desta vez bem sombrio, parecendo um pouco a huasca. Vi duas figuras humanas feitas de luz azul, eram duas crianças, só a forma, feito aquele bonequinho da propaganda da vivo. Uma das figuras estava sentada, chorando, enquanto a outra estava em pe´, consolando e dando “passes” na primeira figura. Me foi comunicado por um ego localizado “à direita, atrás e acima”, que a figura sentada era a “alma de criança” da minha mulher, e a figura em pé era a minha. Fiquei (ou melhor, o observador ficou) ali durante uma eternidade vendo como eram lindos aqueles bonecos de luz azul, sentindo um amor profundo pela minha esposa, que também teve infância bem difícil...
Então começou a voltar a angustia de que ela precisava desesperadamente falar comigo, lutei contra esse sentimento, não queria foder minha trip por uma armadilha mental de culpa e também não queria ligar pra ela alterado do jeito que estava. O celular continuou desligado.
(depois, soube que ela tava mesmo querendo falar comigo, por conta de umas historias que aconteceram com minha filha. E também que na hora da trip ela relamente estava com minha filha almoçando na casa de minha mãe. O mais louco é que eu não eu não sabia que elas estavam lá, foi realmente uma visão à distancia)
Cosnciente de que era preciso sair da trip de culpa, aproveitei a baixa da onda para conseguir me locomover de novo e saí pra varanda. Sentei na cadeira e passei a reparar no chão de ardósia, que parecia ser feito de jade. Cheguei a agachar e tocar o chão, uma coisa maravilhosa, um piso feito de placas de jade!
Andei um pouco no terreno, tentando observar a natureza, as flores eram feitas de vidro, a grama parecia de borracha. A casca das arvores era de metal maleável.
Tirei a rede da posição onde estava, no sol, e amarrei em duas arvores à sombra. Levei muuuito tempo pra conseguir, rindo às gargalhadas de minha incapacidade para dar dois nós simples... finalmente consegui, deitei na rede e... tinha ficado frouxa, minha bunda e coccix ficaram apoiados na grama.
Relaxei por perceber ter superado a bad de culpa, e comecei a decolar em uma outra onda, muito deliciosa, o céu estupidamente azul, e então começou uma fase que não lembro muito bem, tinha muito caos, e vieram flashes de vidas passadas e futuras. Me fundi com a consciência das arvores que suportavem as redes, acessei também a vida passada/futura delas. Houve momentos de profundo amor por estar arvores, o que era plenamente correspondido por elas, as duas amigas já me abrigaram muitas vezes em minhas trips sob sua sombra. Eu podia senti-las me embalando na rede, gentilmente curvando os galhos para proteger meu corpo frágil dos raios do sol. Tudo de olhos abertos, não consegui lembrar de fechá-los para saber o que acontecia no hiperspaço naquele momento.
Então aconteceu uma coisa incrível, que foi mais ou menos assim:
Como eu estava num momento de olhos abertos, então não tinha aquele negocio alucinatorio do hiperspaço de olhos fechados. estava olhando a paisagem e ela se decompos na linguagem em que o universo está escrito.
e eu não tinha capacidade pra ler aquele codigo.
o que posso talvez sugerir como referencia visual fraquinha e distante perto do que vivi é aquela imagem do matrix onde a cena se decompõe em bits e bits de informação e daí o mocinho passa a manipular a matrix à vontade.
como eu não estava de olhos fechados, foi diferente de uma alucinação de hiperspaço. teve um tom de realidade mais real que o hiperspaço, porque foi uma visão do mundo real, da materia, não do etereo.
no momento em que aconteceu, havia um resquicio de ego presente no observador, a paisagem se manteve, mas eu vivi-vi o codigo que está por trás de tudo isso.
e então fiquei totalmente confuso, senti que estava num limiar, rolou um caos absurdo, estava além de minha capacidade entender "o codigo". é como se alguém me desse uma folha de papel muito bem escrita, contendo a explicação e o segredo que está por trás de todo o universo material, atomos e galaxias, e eu totalmente analfabeto diante daquela linguagem não-racional.
senti pura e simplesmente que não estava preparado praquela quantidade absurda de informação, uma sensação fisica de que não caberia tudo no hd do meu cerebro animal-racional de macaco evoluido.
e me refugiei justamente no racional, porque muito lucidamente percebi que aquele enigma linguistico, uma vez solucionado, responderia todas as minhas perguntas, e haveria apenas duas fomas de solucioná-lo: mergulhar na loucura eterna e sem volta ou então morrer.
preferi voltar ao meu muito aconchegante ego, que descobriu estar com o corpo todo mijado de medo na rede...
Vivi uns momentos de confusão pura, o ego refeito e o caos girando ao redor de minha cabeça, estava numa baixa de onda, e comecei a refletir sobre a trip com meu irmão, percebi que meu abdômen estava todo dolorido, e no entanto meu corpo estava totalmente relaxado, notei especialmente que meu maxilar estava tão relaxado que eu babava de boca aberta, não dava pra manter a mandibula fechada. Meu coccix estalava cada vez que eu me mexia na rede.
Entrei numa fase de tranqüilidade absoluta, o tempo deu uma parada, começou a vir outra onda e entrei numa trip visual fortíssima, passei a ter visão de raios X sobre meu corpo, eu tive consciencia, em visão hiperdimensional, de cada nervo, cada veia, cada musculo e osso de meu corpo, tipo aqueles quadros do Alex Grey.
entrei em outra onda regressiva, regredi até ser apenas uma protocorda dentro do utero de minha mãe, e observei como as toxinas que o corpo dela produziu devido à uma situaçao de muito medo entraram em mim e afetaram bastante a formação da base de minha coluna.
voltei ao tempo presente e no relaxamento profundo em que eu me encontrava, tive um entendimento profundo de "consciencia total" sobre os impedimentos e travas de minha couraça muscular ao redor do coccix e da base de minha coluna. Nunca senti um relaxamento muscular em tamanha profundidade.
percebi então que eu tinha controle sobre meu sistema endócrino, entrei numas de por pra fora toda a sujeira e toxinas que estavam acumuladas em meus tecidos, muito louco, eu conseguia localizar as toxinas acumuladas entre as fibras dos meus músculos e então passava a trabalhar para secretá-las, eu via todo caminho percorrido através de diferentes canais do corpo até chegar às glandulas de suor da minha axila, sentia as gotas saindo pelos poros, sentia o inacreditável fedor que subia, devido à natureza daquela transpiração. O mesmo aconteceu levando materiais tóxicos que suaram pelas temporas, eu não tinha como ver mas sabia que estavam escorrendo gotas de suor amarelo pela minha testa, inacreditavelmente fedido.
Também fiz o caminho dos rins, bexiga, próstata, uretra, e mijei nas calças algumas vezes de novo, só que desta vez eram apenas umas gotinhas, muito quentes, e com um cheiro pavoroso (minha bermuda ficou tingida com umas manchas que nunca mais sairam). Aos poucos fui perdendo a visão de raio X e fui entrando num estado mais normal de consciência, fiquei um bom tempo na rede esperando a onda baixar, totalmente abalado emocional e fisicamente com tudo o que que se passou. então passei a sentir frio, muito frio. eu estava todo mijado na rede, com o cóccix encostado no chão.
Saí da rede e fui de novo pro banho, que delicia, fiquei muito tempo deixando uma água muito quente cair sobre a base de minhas costas, minhas vértebras da base da coluna começaram a estalar à medida que a musculatura relaxava mais e mais. era só virar um pouquinho o corpo, e tlec-tlec-tlec... uma delicia...
Saí do banho e fui pra baixo dos lençóis, agora era só esperar a onda terminar de baixar, o ego estava totalmente encarnado de novo e era evidente que a parte heavy da trip já tinha passado. Começou a me dar uma impaciência, queria ficar sóbrio logo, eram quatro e meia da tarde e eu tinha tomado ao meio dia, me deu muita angustia de saber que ainda teria que segurar a onda por umas duas horas antes de ficar sóbrio.
Começou a rolar um caos meio chato, me sentia como se estivesse bêbado, odeio essa sensação de não estar nem totalmente louco nem totalmente sóbrio...
Passei a tentar encontrar um foco pra mente, lembrei da “alma de criança” da minha esposa e fiquei mentalizando e focando em nosso amor, a angustia passou, e fiquei ali enlevado no sentimento amor durante toda a fase de aterrissagem da trip. De repente, como sempre acontece em minhas trips de cogumelo, eu estava totalmente sóbrio, sem nenhum vestígio de mente alterada, apenas uma grande paz mental e o corpo inacreditavelmente relaxado, apesar da musculatura do abdomem e da base da coluna estarem bem sensíveis e doloridas.
Levantei e conferi o relógio, eram seis e meia da tarde, fui de carro para a praia, liguei pra minha esposa, soube que estava tudo bem, ela tava mesmo ansiosa pra falar comigo mas nem era nada tão grave assim.
finda a comunicação, fui pra um daqueles lugares especiais para enquadrar a paisagem e fiquei lá admirando o céu até estar totalmente escuro.
Acabou...
Segue minha ultima experiência com psilocibina.
abraço a todos.
Substancia: cubensis tipo tailandês, Koh-Samui
Dosagem: 21 g secos, em capsulas
Peso da cobaia: 92 KG
No final do ano passado passei uns dias sozinho na praia pra fazer uma sessão de cogumelo, tinha cerca de um ano que não consumia os PCs.
Ingeri 25 capsulas de 850mg totalizando cerca de 21 g de cubensis secos.
Exatamente ao meio dia, ingeri as 25 capsulas com cerca de tres quartos de copo de suco de maracujá sem açucar.
A Primeira sensação foi de estranheza. Como fazia tempo que não usava, ficou uma grande expectativa com o que viria. Da ultima vez foi muito bom, uma bela trip de hiperspaço. Desta vez estou mentalizando para ser novamente carregado pelo universo, focando fortemente na vontade de fazer contato com inteligências alienígenas. No entanto, a trip foi pra outro lado, muito diverso.Aliás, isso sempre acontece, a gente espera um negocio e rola outro absurdamente diferente.
Enquanto não batia, fiz uma sessão de tai-chi ao ar livre e depois entrei numas de defumar o terreno e a casa (minha cabaninha fica isolada em algum lugar do litoral sudeste brasileiro, num daqueles locais aonde ainda é tudo mata virgem).
Deitei na rede e esperei. Quando começou a bater, senti necessidade de abrigo e entrei em casa. Deitei na cama e começou, como a dosagem foi elevada, passei batido pelas angustias da decolagem e fui direto para a fase de bipartição do ego. Estava pronto para começar a viagem pelo hiperspaço, espirais madrepérola de olhos fechados e abertos, uma enorme compressão dos pensamentos. Quando os egos se partiram, dois deles passaram a dialogar acima de minha cabeça:
- E aí, vamos levar ele com a gente?
-Que nada, ele ta muito denso. Tá cheio de raiva, desta vez é melhor a gente ficar por aqui e fazer uma sessão de cura no cara...
Dito isso, imediatamente meu abdômen começou a convulsionar, senti uma vontade irresistível de vomitar e fui lá pra fora, vomitar junto à cerca dos fundos da casa. Não tenho lembrança se fui andando, voando ou me arrastando, no instante seguinte eu tava com a cabeça enconstada no mourão de madeira, tentando botar as tripas pra fora e não tinha nada pra vomitar. Toda a região abdominal doía como se eu estivesse numa superbad de argirea. Eu tava de quatro, meu corpo se contorcia pra vomitar e não conseguia.
De repente, tive uma regressão, fui até algum ponto de minha primeira infância, foi a primeira vez que vi meu irmão mais velho, olhei pra ele e... veio um asco profundo, físico, inimaginável. Ao sentir isso, vomitei uma bola de espuma amarelada, e rolei para tra´s, enrolado em posição fetal. Fiquei ali, embaixo de um puta sol, regredido à idade de um bebê, sem linguagem, sem pensamento ordenado, só sentidos e sensações. Mijei nas fraldas, e o calor da urina no meu calção me trouxe de volta à realidade, tive consciência de que o sol tava me fritando e que eu ia ter queimaduras graves se não fosse pra uma sombra.
Consegui ir de quatro até o banheiro para me lavar, no processo a primeira onda baixou um pouco, consegui administrar pegar toalha limpa, um novo calção e entrar no chuveiro. O contato com água morna e sabonete foi muuuuito prazeiroso, e naquele momento de sobriedade inter-ondas percebi o tamanho do trauma que foi em mim o primeiro contato com meu irmão, 4 anos mais velho. Nunca nos demos bem, imagino que ele também não deve ter sentido boa coisa quando me viu pela primeira vez.
Estava pensando nisso, muito abalado emocionalmente pela descoberta, quando veio uma segunda onda. Novamente cólicas inacreditáveis, minha musculatura abdominal se mexia que parecia que a qualquer momento ia nascer um alien da minha barriga rasgando as tripas por dentro. Senti uma pedra subindo através de mim, nesse momento novamente o ego dividiu, de supetão, e continuou a conversa:
-isso, ele ta quase conseguindo, vai botar o implante pra fora!
-joga fora! Joga fora!
Saí do box e mal consegui chegar ao vaso, dei a descarga e ao mesmo tempo vomitei a pedra que estava sendo arrancada a força de dentro de mim por espasmos musculares inacreditavelmente dolorosos. Mal tive tempo de ver uma coisa preta, do tamanho de uma tampa de caneta bic, que bateu na louça do vaso fazendo “plec”, e sumiu água abaixo, junto com a descarga.
- conseguimos tirar o implante!
Nisso a onda aumenta terrivelmente, fui pro quarto pelado, todo molhado, tentei chegar na cama e não consegui, desmanchei no chão, em cima do tapete aos pés da cama. Fechei os olhos e tive uma visão de helicóptero da casa de minha mãe, a aproximadamente 60 m de altura. O carro da minha esposa tava parado na frente, e com visão de raio X eu consegui ver minha mãe, minha filha, minha mulher, ao redor da mesa de almoço. Senti uma enorme agonia, minha mulher estava querendo desesperadamente falar comigo, ela tava numa angustia enorme. Fiquei extremamente angustiado, bateu uma paranóia que ela estava numas que eu estava em apuros por conta da experiência, foi muito angustiante. Então passei a vivenciar uma situação onde de olhos fechados eu tinha a visão da casa de minha mãe e de olhos abertos eu estava no quarto, tudo muito alterado, aquela coisa de respiração das superfícies, tudo ondulando.
Lutei contra essa angustia, que virou meio uma culpa por estar sozinho, totalmente drogado deixando minha esposa sozinha em sp muito totalmente preocupada com minhas loucuras, etc, etc. Quase liguei o celular pra telefonar pra lá, mas tive o bom senso de não fazer isso. Entrei forte na trip de culpa, o que era pura armadilha mental, pois minha esposa acha muito interessante toda essa historia de enteogenia e não reprime minhas experiências, ter consciência desse fato foi fundamental para me ligar que estava em plena paranóia de culpa infundada.
A visão de olhos fechados saiu da casa de minha mãe e virou hiperspaço, desta vez bem sombrio, parecendo um pouco a huasca. Vi duas figuras humanas feitas de luz azul, eram duas crianças, só a forma, feito aquele bonequinho da propaganda da vivo. Uma das figuras estava sentada, chorando, enquanto a outra estava em pe´, consolando e dando “passes” na primeira figura. Me foi comunicado por um ego localizado “à direita, atrás e acima”, que a figura sentada era a “alma de criança” da minha mulher, e a figura em pé era a minha. Fiquei (ou melhor, o observador ficou) ali durante uma eternidade vendo como eram lindos aqueles bonecos de luz azul, sentindo um amor profundo pela minha esposa, que também teve infância bem difícil...
Então começou a voltar a angustia de que ela precisava desesperadamente falar comigo, lutei contra esse sentimento, não queria foder minha trip por uma armadilha mental de culpa e também não queria ligar pra ela alterado do jeito que estava. O celular continuou desligado.
(depois, soube que ela tava mesmo querendo falar comigo, por conta de umas historias que aconteceram com minha filha. E também que na hora da trip ela relamente estava com minha filha almoçando na casa de minha mãe. O mais louco é que eu não eu não sabia que elas estavam lá, foi realmente uma visão à distancia)
Cosnciente de que era preciso sair da trip de culpa, aproveitei a baixa da onda para conseguir me locomover de novo e saí pra varanda. Sentei na cadeira e passei a reparar no chão de ardósia, que parecia ser feito de jade. Cheguei a agachar e tocar o chão, uma coisa maravilhosa, um piso feito de placas de jade!
Andei um pouco no terreno, tentando observar a natureza, as flores eram feitas de vidro, a grama parecia de borracha. A casca das arvores era de metal maleável.
Tirei a rede da posição onde estava, no sol, e amarrei em duas arvores à sombra. Levei muuuito tempo pra conseguir, rindo às gargalhadas de minha incapacidade para dar dois nós simples... finalmente consegui, deitei na rede e... tinha ficado frouxa, minha bunda e coccix ficaram apoiados na grama.
Relaxei por perceber ter superado a bad de culpa, e comecei a decolar em uma outra onda, muito deliciosa, o céu estupidamente azul, e então começou uma fase que não lembro muito bem, tinha muito caos, e vieram flashes de vidas passadas e futuras. Me fundi com a consciência das arvores que suportavem as redes, acessei também a vida passada/futura delas. Houve momentos de profundo amor por estar arvores, o que era plenamente correspondido por elas, as duas amigas já me abrigaram muitas vezes em minhas trips sob sua sombra. Eu podia senti-las me embalando na rede, gentilmente curvando os galhos para proteger meu corpo frágil dos raios do sol. Tudo de olhos abertos, não consegui lembrar de fechá-los para saber o que acontecia no hiperspaço naquele momento.
Então aconteceu uma coisa incrível, que foi mais ou menos assim:
Como eu estava num momento de olhos abertos, então não tinha aquele negocio alucinatorio do hiperspaço de olhos fechados. estava olhando a paisagem e ela se decompos na linguagem em que o universo está escrito.
e eu não tinha capacidade pra ler aquele codigo.
o que posso talvez sugerir como referencia visual fraquinha e distante perto do que vivi é aquela imagem do matrix onde a cena se decompõe em bits e bits de informação e daí o mocinho passa a manipular a matrix à vontade.
como eu não estava de olhos fechados, foi diferente de uma alucinação de hiperspaço. teve um tom de realidade mais real que o hiperspaço, porque foi uma visão do mundo real, da materia, não do etereo.
no momento em que aconteceu, havia um resquicio de ego presente no observador, a paisagem se manteve, mas eu vivi-vi o codigo que está por trás de tudo isso.
e então fiquei totalmente confuso, senti que estava num limiar, rolou um caos absurdo, estava além de minha capacidade entender "o codigo". é como se alguém me desse uma folha de papel muito bem escrita, contendo a explicação e o segredo que está por trás de todo o universo material, atomos e galaxias, e eu totalmente analfabeto diante daquela linguagem não-racional.
senti pura e simplesmente que não estava preparado praquela quantidade absurda de informação, uma sensação fisica de que não caberia tudo no hd do meu cerebro animal-racional de macaco evoluido.
e me refugiei justamente no racional, porque muito lucidamente percebi que aquele enigma linguistico, uma vez solucionado, responderia todas as minhas perguntas, e haveria apenas duas fomas de solucioná-lo: mergulhar na loucura eterna e sem volta ou então morrer.
preferi voltar ao meu muito aconchegante ego, que descobriu estar com o corpo todo mijado de medo na rede...
Vivi uns momentos de confusão pura, o ego refeito e o caos girando ao redor de minha cabeça, estava numa baixa de onda, e comecei a refletir sobre a trip com meu irmão, percebi que meu abdômen estava todo dolorido, e no entanto meu corpo estava totalmente relaxado, notei especialmente que meu maxilar estava tão relaxado que eu babava de boca aberta, não dava pra manter a mandibula fechada. Meu coccix estalava cada vez que eu me mexia na rede.
Entrei numa fase de tranqüilidade absoluta, o tempo deu uma parada, começou a vir outra onda e entrei numa trip visual fortíssima, passei a ter visão de raios X sobre meu corpo, eu tive consciencia, em visão hiperdimensional, de cada nervo, cada veia, cada musculo e osso de meu corpo, tipo aqueles quadros do Alex Grey.
entrei em outra onda regressiva, regredi até ser apenas uma protocorda dentro do utero de minha mãe, e observei como as toxinas que o corpo dela produziu devido à uma situaçao de muito medo entraram em mim e afetaram bastante a formação da base de minha coluna.
voltei ao tempo presente e no relaxamento profundo em que eu me encontrava, tive um entendimento profundo de "consciencia total" sobre os impedimentos e travas de minha couraça muscular ao redor do coccix e da base de minha coluna. Nunca senti um relaxamento muscular em tamanha profundidade.
percebi então que eu tinha controle sobre meu sistema endócrino, entrei numas de por pra fora toda a sujeira e toxinas que estavam acumuladas em meus tecidos, muito louco, eu conseguia localizar as toxinas acumuladas entre as fibras dos meus músculos e então passava a trabalhar para secretá-las, eu via todo caminho percorrido através de diferentes canais do corpo até chegar às glandulas de suor da minha axila, sentia as gotas saindo pelos poros, sentia o inacreditável fedor que subia, devido à natureza daquela transpiração. O mesmo aconteceu levando materiais tóxicos que suaram pelas temporas, eu não tinha como ver mas sabia que estavam escorrendo gotas de suor amarelo pela minha testa, inacreditavelmente fedido.
Também fiz o caminho dos rins, bexiga, próstata, uretra, e mijei nas calças algumas vezes de novo, só que desta vez eram apenas umas gotinhas, muito quentes, e com um cheiro pavoroso (minha bermuda ficou tingida com umas manchas que nunca mais sairam). Aos poucos fui perdendo a visão de raio X e fui entrando num estado mais normal de consciência, fiquei um bom tempo na rede esperando a onda baixar, totalmente abalado emocional e fisicamente com tudo o que que se passou. então passei a sentir frio, muito frio. eu estava todo mijado na rede, com o cóccix encostado no chão.
Saí da rede e fui de novo pro banho, que delicia, fiquei muito tempo deixando uma água muito quente cair sobre a base de minhas costas, minhas vértebras da base da coluna começaram a estalar à medida que a musculatura relaxava mais e mais. era só virar um pouquinho o corpo, e tlec-tlec-tlec... uma delicia...
Saí do banho e fui pra baixo dos lençóis, agora era só esperar a onda terminar de baixar, o ego estava totalmente encarnado de novo e era evidente que a parte heavy da trip já tinha passado. Começou a me dar uma impaciência, queria ficar sóbrio logo, eram quatro e meia da tarde e eu tinha tomado ao meio dia, me deu muita angustia de saber que ainda teria que segurar a onda por umas duas horas antes de ficar sóbrio.
Começou a rolar um caos meio chato, me sentia como se estivesse bêbado, odeio essa sensação de não estar nem totalmente louco nem totalmente sóbrio...
Passei a tentar encontrar um foco pra mente, lembrei da “alma de criança” da minha esposa e fiquei mentalizando e focando em nosso amor, a angustia passou, e fiquei ali enlevado no sentimento amor durante toda a fase de aterrissagem da trip. De repente, como sempre acontece em minhas trips de cogumelo, eu estava totalmente sóbrio, sem nenhum vestígio de mente alterada, apenas uma grande paz mental e o corpo inacreditavelmente relaxado, apesar da musculatura do abdomem e da base da coluna estarem bem sensíveis e doloridas.
Levantei e conferi o relógio, eram seis e meia da tarde, fui de carro para a praia, liguei pra minha esposa, soube que estava tudo bem, ela tava mesmo ansiosa pra falar comigo mas nem era nada tão grave assim.
finda a comunicação, fui pra um daqueles lugares especiais para enquadrar a paisagem e fiquei lá admirando o céu até estar totalmente escuro.
Acabou...