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2ª experiência com cogumelos desidratados – Psylocibe cubensins

seumadruga

Esporo
Cadastrado
20/03/2021
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Olá amigos. Acabei de entrar no fórum e venho aqui deixar meu relato quanto à minha 2ª experiência com cubensins (saltei de 2g para 5g).

Esse é o relato da minha segunda experiência com o uso de cogumelos mágicos, mais precisamente 10g desidratadas de Psylocibe cubensins para duas pessoas. Diferentemente da última vez, em que fizemos um chá, agora optamos por batê-los no liquidificador juntamente do suco advindo de 10 limões. Primeiramente colocamos todos os cogumelos, batemos, deixando-os reduzidos à pó e, em seguida, inserimos o suco de limão. Batemos de novo e deixamos descansar por torno de 30 minutos (técnica conhecida como Lemon Tech, onde, aparentemente, a acidez do limão é capaz de degradar a psilocibina diretamente para psilocina).

Após meia hora, finalmente fizemos a batida completa e dividimos para duas pessoas (eu e mais um amigo). O gosto extremamente forte quase me fez vomitar (nunca vou me acostumar com o amargo). Uma vez bebido, ainda raspamos o resto do cogumelo que ficou no fundo dos copos, dividimos e engolimos. De fato, queríamos uma experiência completa, sentir tudo o que fosse possível, pois da última vez ficamos "desapontados" com 2,3g para cada.

Fomos para o quarto dele meditar. Timer do celular para 10 minutos: 10 minutos de olhos fechados, controlando a respiração. Quando saímos do quarto eu já sentia que alguma coisa (ainda pouco perceptível) havia mudado. Sabia que alguma coisa ia acontecer, só não imaginava ainda a profundidade disso.

Ficamos eu e ele, na sala, com mais duas amigas que não haviam bebido e supostamente estavam lá para nos vigiar. Elas colocaram uma playlist de lo-fi para tocar, mas logo enjoamos e fomos assistir um desenho no Netflix chamado “The Midnight Gospel”. Eu logo percebi lentamente que não conseguia mais me concentrar nos episódios. Sugeri que colocássemos Pink Floyd no Youtube para quem sabe alavancar a experiência, pois até então ainda duvidava que teríamos algum efeito mais forte. Álbum: “Animals”.

Logo que a música começou a fluir, uma das nossas amigas teve que ir embora e dissemos para a outra que poderia ficar à vontade para também ir se quisesse, pois provavelmente nada demais aconteceria e iria ser chato para ela ver duas pessoas sob o efeito do cogumelo. Elas partiram. Nesse momento, estava olhando pela janela. Estava escurecendo e fazia aproximadamente 50 minutos que havíamos ingerido os cogumelos. As luzes da rua estavam borradas e as coisas, embora aparentemente normais, transmitiam uma sensação diferente ao exame mais detalhado. Um montante de terra, por exemplo, em um terreno baldio, parecia muitíssimo interessante. Quando saí desse transe e olhei de volta para a sala, meu amigo estava no chão, com as mãos na cabeça, sentindo a música. Resolvi também me entregar à psicodelia sonora de Pink Floyd. Isso talvez, tenha feito toda a diferença.

Em pouco tempo, sentia a música dentro de mim. Não parecia mais como se a música existisse no ambiente, mas como se ela fizesse parte de mim e tudo o que os instrumentos "falavam" fazia sentido. Começamos a nos contorcer no chão, como se uma energia percorresse nosso corpo a cada segundo (sinestesia maluca). Provavelmente ficamos nisso em torno de 20 minutos, mas a perda de senso temporal começou a agir. Tudo parecia uma eternidade. Até que cansamos de ouvir aquilo, estava nos desgastando.

Desligamos a televisão e já era noite lá fora. Resolvi levantar e desbravar a casa vazia do meu amigo. Olhei para o corredor e ele parecia muito mais largo do que de fato era. Eu sentia como se estivesse desbravando um novo mundo. Tudo era muito belo e fascinante. Caminhei até o banheiro e me enxerguei no espelho. Eu parecia muito vermelho, minhas pupilas muito dilatadas. Sorri em frente ao espelho, me sentindo um maníaco, me entregando à loucura. Essa sensação foi muito boa. Só havia sentido isso com N-Bome há mais de um ano e agora, lá estava eu de novo, perdendo o controle de mim mesmo, mas, ao mesmo tempo, seguro, em uma casa vazia.

Meu amigo se juntou a mim e deitamos no corredor. A partir desse instante muitos insights surgiam em minha cabeça. Eu começava a ver imagens e pensamentos vívidos, tudo fluía em alta velocidade, como se eu sonhasse acordado. A visão tornou-se extremamente complexa: tudo estava borrado e vibrando, como se tivesse vida própria. Comecei a respirar alto involuntariamente e me assustei ao ver que meu amigo incorporava uma cobra, imitando os movimentos sinuosos e o chacoalhar (comportamento que, mais tarde, ele afirmou não saber o porquê de ter realizado e que não havia controle daquilo, embora soubesse o que estava fazendo).

De repente, precipitou-se o início de uma bad trip. O corredor parecia muito sombrio. Eu me sentia sujo, suado, tinha a sensação que meu nariz estava escorrendo. Meu amigo foi ao banheiro, alegando mal-estar e disse ter vomitado (mas depois percebemos que ele não vomitou nada, tudo era fruto da alucinação). Em um momento de certo desespero ligamos para uma amiga e contamos um pouco o que estávamos sentindo. Ouvir uma voz conhecida nos reconfortou e pareceu nos trazer de volta à realidade.

Depois dessa fase, fomos à cozinha, um lugar onde tudo estava mais claro, com luzes mais fortes. A maior parte do tempo ficávamos em pé, se entreolhando, sem falar nada. Olhando para nossas mãos, sentindo a força da psicodelia, a perda do ego, as ilusões da consciência. Uma hora, faminto, abri a geladeira e peguei uma maçã velha. Ela estava realmente velha, mole, farinácea. Mas eu não sabia se aquilo era fruto da minha cabeça ou se era de fato real. Coloquei a maçã no meio da palma das minhas mãos, como quem vai receber a hóstia, e passei, pelo o que estimo, pelo menos 15 minutos da "vida real" olhando para aquela imagem que me parecia bela e sagrada. Eu encarava o buraco do topo da maçã e ele parecia me encarar de volta, como se fosse capaz de me sugar. Lembrava da máxima de Nietzsche: “quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”.

No decorrer dessa viagem, nós mudávamos muito de cômodo. Exploramos toda a casa, mas ficamos a maior parte do tempo entre a sala e a cozinha. Certo momento, deitado no sofá, fechei os olhos e senti que estava alcançando Deus. Chegava muito perto, mas ele olhava para mim e falava “você nunca vai conseguir. A missão dos humanos na terra é tentar me alcançar, mas isso será sempre impossível. Não importa o que você faça, você não pode”. Aquilo me doía muito e cheguei, mesmo sendo ateu (e ainda continuo ateu, mesmo após a experiência), a chorar um pouco.
O barulho dos vizinhos era o que mais nos incomodava. O subconsciente nos causou um medo maldito de que a qualquer momento os pais do meu amigo (totalmente conservadores em relação a drogas) chegassem sem aviso prévio da viagem do interior e nos flagrassem naquela situação. O que diríamos? Eu não conseguiria me explicar. Estava muito fora de mim.

“A gente tá muito louco”. Eu repetia diversas vezes essa frase. E realmente estávamos. Não conseguíamos sequer fritar um ovo. Totalmente incapazes. Além disso, eu sentia um oco muito forte no meu estômago por causa do jejum que eu fizera e também pela acidez dos limões.

Na última hora da viagem eu já não me aguentava. Eu só queria que aquilo acabasse. Minha cabeça pesava, eu estava exausto. Eu mordia o meu braço e a pele tinha uma textura macia, agradável. Talvez se eu me esfaqueasse naquele momento não sentiria tanta dor.

Quando finalmente tudo começou a passar, sentamos em frente à televisão e começamos a compartilhar nossas experiências. Ambos falamos muito o quão inocente éramos em relação à tudo. “Agora eu sei o poder, agora eu entendo por que os Astecas chamavam isso de Pele de Deus”. Divagamos muito tempo sobre o que vivemos. Meu amigo relatou que pensava ter morrido e que o corredor era alguma espécie de purgatório. Eu, no entanto, não alcancei essa desrealização.

Como lição final desse dia, tirei o fato de que pretendo me afastar um pouco dos psicodélicos, em especial dos cogumelos. Não pela vida toda, mas talvez por um bom tempo. Da próxima vez, reduzirei a dose para 3g, quem sabe 3,5g. Tomei como fato que 5g foi demais para mim. Definitivamente não é um processo agradável. Causa demasiada dor em certos momentos, mas agora, um mês depois desse dia, não me arrependo em ter feito. Agora entendo o motivo de não fazer desacompanhado ou em ambientes públicos. Ler bastante sobre antes foi essencial para mim.

Obrigado por ler até aqui. Espero que tenha sido relevante :)
 
Última edição:
Se olhar no espelho e dar essa risada maníaca é a melhor coisa parece que renova a vibe, tomei 4g não senti muito efeito mas fiquei super feliz sorrindo igual o coringa ao ponto de doer o rosto kkk
 
Bem vindo amigo, acho que você acabou percebendo que os dourados não são simples "drogas" recreativas né.

Eu diria que foi uma primeira experiência de aprendizado, conhecer o poder deles. Tire uns dias pra refletir, a fase da integração pós trip é a mais importante e mesmo na bagunça que foi sua experiência 5g abre legal a consciência por alguns meses. Tem MUITO conteúdo útil nesse fórum, dá uma lida para se preparar melhor para sua próxima experiência.

Se olhar no espelho e dar essa risada maníaca é a melhor coisa parece que renova a vibe
Pior que renova mesmo. Tive uma experiência em que passei uma hora ou mais enxergando meu próprio "Tyler Durden" através do espelho, só ali foi meio maço de cigarro, isso porque normalmente fumo no máximo uns 5 por dia e do orgânico. É bom chutar o pau da barraca as vezes e rir de si mesmo, dos nossos erros, e de quem somos, através do espelho.

Paz irmão.
 
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