Eu estava me preparando psicológica e espiritualmente para me iniciar nas viagens de cogumelos mágicos, era novembro de 2014, e a época de chuvas estava chegando, e eu poderia ir colher os belos fungos no pasto. Li muitos relatos, mas hoje, após várias experiências, posso afirmar que muita gente fica vislumbrado com os efeitos da psilocibina, e não presta muita atenção no que realmente está acontecendo durante a viagem. Minha 1ª viagem foi com 3 ou 4 paneoulus, batidos no liquidificador com leite, aveia e achocolatado em pó (deu uma disfarçada no gosto tenebroso). Bebi o copo de uma vez, e intencionava pregar 2 zíperes em peças de roupas (sou costureiro) enquanto esperava bater, mas fui surpreendido; em questão de 15 minutos eu estava me sentindo muito estranho, os cogumelos estavam causando alguma revolução dentro de mim, fui desesperando, desisti de costurar; sim, tive medo, pensei que ia morrer, porque os cogumelos me tiraram completamente da minha zona de conforto, e me lançaram para um abismo desconhecido... Eu estava passando mal, mas afinal de contas, o que era aquilo? Fui tomar um banho e depois me deitei. 1 hora depois eu estaria dando gargalhadas como há muitos anos eu não dava, e estaria sentindo o mundo ao meu redor resplandecente... Mas naquele momento eu só sentia medo, desespero, angústia... Hoje, após várias experiências, acredito que essa fase é a da limpeza, uma reviravolta que ia me tornando uma pessoa melhor, com menos neuras, mas antes era necessário mergulhar no mais profundo obscuro da minha alma; de olhos fechados eu conseguia ver coisas dentro de mim; sim, eu fechava os olhos, e havia uns bichos nojentos dentro de mim, era algo tão horrível que não consigo exatamente expressar em palavras, e eu era capaz de tocar esses bichos se eu quisesse, dentro da minha consciência, mas não o fiz, porque sei que vomitaria se os tocasse; aflito, eu aguardava passar esse pesadelo, e quando fechei os olhos mais uma vez, vi uma carinha sorrindo para mim, mas era diabólico... Esta foi a única vez que ocorreram esses fatos tão bizarros, e 1 hora depois eu estava nas nuvens, me sentindo completamente renovado. No dia seguinte, continuei comendo cogumelos, e no outro dia... Enfim, estava chovendo quase que diariamente, e eu ia no pasto, colhia muitos cogumelos e sempre tinha alguns na geladeira; fui aumentando a dose, daí comia 10 num dia, depois 13, 15, 20... cheguei até uns 30. Houve uns dias sem chuva, mas nisto eu já havia completado mais de um mês de tratamento mágico. Aconteceram tantas coisas nesse período que fica impossível descrever tudo aqui, mas eu vi a vida funcionando perfeitamente, sabe? O sol, as árvores, os insetos, as nuvens e as estrelas, uma harmonia maravilhosamente orquestrada. Os seres humanos ao meu redor se entupindo de drogas, e abrindo suas bocas para fazer jorrar palavras desequilibradas e dementes, enquanto eu só queria ficar contemplando a natureza e vivendo em harmonia com ela. Em quase todas as viagens acontecia o mesmo processo: uns 30 minutos aproximadamente após ingeri-los, eles me derrubavam, eu tinha que ficar sentado ou deitado em algum lugar calmo até suavizar, dava muito, mas muito sono, e uma "dor" (não é dor, é um desconforto, como se a minha alma estivesse sendo lixada, e as impurezas iam sendo eliminadas dia após dia). Depois, vinha uma euforia gigante, eu me sentia imortal, com uma força física descomunal, um sorriso constante na face, irradiando alegria, me sentindo mais vivo do que nunca, ondas de euforia fluindo pelo meu corpo inteiro, um equilíbrio fantástico de raciocínio, meu diafragma relaxava e eu cantava muito bem, saía pulando, dançando e cantando nas ruas, não me importando onde estivesse. As pessoas em geral ficavam me observando como se eu fosse um louco, mas hoje eu sei que louco é quem não é feliz. Teve um dia que eu perdi o chinelo, estava correndo tão animado nas ruas, com os fones de ouvido jorrando música de qualidade em alto volume (música boa sempre acompanha viagens de cogumelos, e é um casamento perfeito, realmente), daí o chinelo voou do meu pé, não pude mais encontrá-lo (a não ser 4 dias depois, no jardim de uma casa, para dentro do portão!), estava muito quente, era metade de dezembro, e eu estava tão inspirado, não queria voltar pra casa, então segui o passeio a pé; o asfalto quente estava queimando as solas de meus pés, daí resolvi parar para descansar um pouco, fazia uns 40 minutos que eu havia comido os cogumelos (ultimamente eu apenas os comia, dava umas mordidas e ia engolindo com água ou algo doce); então eles bateram forte em mim, senti tanto sono, deitei ali mesmo numa calçada, na frente de uma casa; incrível como as pessoas se incomodam com um cara deitado na calçada, ouvi até alguém dizer "olha o vagabundo ali..."; depois de uma meia hora, consegui levantar, e a euforia veio tomando conta de mim, lentamente. Do sono absurdo, eu fui evoluindo para passos lentos, daí comecei a cantarolar uma música do The Postal Service, e aquela música foi tomando conta de minha alma, foi tomando conta de mim, eu era a música, e eu me expressava com muita energia! Tudo era perfeito, a vida era perfeita, e eu estava descalço, as bolhas já começavam a se formar nas minhas solas, mas eu não me importava, porque estava além, num estado elevado, de gratidão e alegria, de êxtase! Horas depois cheguei em casa, tive que andar muito lentamente porque meus pés estavam doendo; as pessoas nas ruas mexiam comigo e faziam comentários; um cara passou de moto e disse "esse aí está mais louco do que eu"; outro senhor ficou me tirando pra mendigo... Teve outro dia muito interessante, eu comi os cogumelos e já havia passado a fase do sono, então eu estava muito inspirado e energético; estava caminhando e sendo feliz perto de um lago que tem aqui na minha cidade, e que fica perto do pasto mágico também. Amo este lugar, e combina com as viagens, porque natureza é perfeita; eu encontrei um belo galho de árvore, e estava caminhando com ele, brincando, dançando nas ruas... As pessoas realmente estavam achando que eu estava muito louco, mas eu sei que estava apenas feliz e inspirado; passei perto do asilo de velhinhos, e resolvi entrar para uma visita (era segunda-feira de manhã). Fui educado, e estava falando muito suavemente, minha postura estava impecável e meu sorriso, sereno, mas nada disto fazia diferença, porque depois eu descobriria que algumas pessoas me consideravam uma ameaça. Entrei com o meu galho/cajado, sem problemas. Eu estava observando as instalações, quando uma senhora veio me falar (uma coordenadora); ela ficava me fazendo perguntas estranhas, e acabei percebendo rapidamente que ela estava me estranhando, talvez por eu ter entrado ali com um pau. Ela perguntou se podia guardar aquilo, e eu disse que sim. Me livrei dela logo, porque estava sentindo uma energia muito negativa em seus comentários. Dei umas voltas nas instalações, e cumprimentei alguns velhinhos, eu estava muito amável, amando a vida em toda a sua plenitude, e eu enxergava coisas boas nos velhinhos, mas as mulheres da limpeza em geral não paravam de me olhar, e aquilo estava me incomodando. Um outra coordenadora veio me falar, mas esta não era tão estranha. Acabei conversando com uma senhora que não parava de chorar, ela parecia um bebê no seu modo de chorar, e realmente é assim que eu enxergava aqueles velhinhos: extremamente frágeis. Minutos depois uma das coordenadoras disse que eu precisava sair porque era horário de almoço. Me despedi e peguei meu cajado; logo na saída havia uma viatura da polícia do outro lado da rua (haviam chamado a polícia para mim! Aliás, a polícia me para quase que diariamente nas ruas, é incrível). Eu saí girando o galho sobre minha cabeça, encarando os policiais e sorrindo, e disse "bom dia!". Eles só ficaram observando, mas não vieram até mim. Eu desci a rua, e acabei sentando ali por perto para curtir aquele momento mágico... Minutos depois eu vejo a viatura de polícia chegando; me levantei categoricamente do chão onde estava sentado, coloquei as mãos na cintura e encarei a policial corajosamente... Não deu outra, pararam a viatura e vieram me dar uma geral. Ficaram me tratando muito mal, como sempre, eu estava naquela posição de sempre (mãos na nuca, de costas para eles), e a mulher policial pegou o meu cajado e o jogou dentro da floresta. Eu disse: "Hey, isto é meu!" Ela respondeu: "Era!" E assim se seguiram inúmeras perguntas idiotas que os policiais adoram fazer, eles estavam tentando me botar medo, mas eu estava tão equilibrado e feliz e saudável, que não me abalei. Porém, depois que eles foram embora, desabei em lágrimas, eu estava completamente frágil e desesperado; os policiais haviam me ameaçado e maltratado, e eu estava cansado daquilo tudo, afinal é a mesma história sempre! Me assustei com o estado em que eu estava naquele momento, parecia um bebê que não parava de chorar desesperadamente. Custei a me recompor, mas aos poucos fui voltando, e 40 minutos depois eu já estava radiante novamente. Poderia ficar aqui contando mais sobre as minhas aventuras, mas o fato principal é que os cogumelos mágicos me trouxeram um aprendizado que jamais esquecerei, mudaram muito a minha vida, me purificaram de tantas neuroses, da depressão... Teve um fim de tarde em que eu me sentei à beira do lago, e o sol estava se pondo, aquele céu alaranjado refletindo no espelho d'água... Era tão lindo que eu fiquei constrangido, com vergonha mesmo, abaixei a cabeça de vergonha, e olhei novamente para o céu, apenas agradecido pela vida, e por momentos tão mágicos. Eu não quero mais reclamar, sabe? A vida é boa demais quando sabemos apreciá-la, enxergar os detalhes. Eu costumava fumar maconha, mas durante esse mês eu nem senti necessidade ou vontade. Foi tudo muito perfeito, foi espetacular, cada vaga-lume, cada crepúsculo... Noção de tempo alterada, afinal não importava mais, estava feliz, não precisava mais me debater com preocupações desgastantes. Acho que logo vai chover de novo, e poderei colher mais cogumelos; eles reavivaram partes de meu corpo e de meu cérebro que eu achava que estavam mortos!
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