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Zigg volta pro espaço

zigg dust

Desligado
Cadastrado
18/11/2008
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69
Juntando o feriado de Tiradentes com o de S. Jorge (só pros privilegiados do RJ), fiquei numa mini-férias de 5 dias. Juntei com uns amigos e voltei ao cenário de minha última experiência com cogumelos, já relatada neste fórum(LINK).

Como a última experiência foi meio fraca, decidi descacetar de vez para desvendar o mundo arcaico dos cogumelos.

Depois de um dia de muita brincadeira adulta (inclusive, com o apanhar de 3 maluquetes no vilarejo mais próximo) voltamos pro sítio acompanhados de mulheres (duas das 3) mais bebida e ganja!

Já no final da tarde, saímos eu e o dono do sítio a cavalo(!) para procurar enteógenos. Ele me mostrou uma árvore de onde pendiam dezenas de trombetas de cor avermelhada e colhemos algumas - só pro caso de querermos um algo a mais na mistura. Depois cavalgamos com força por uns dois km até um descampado, onde só tinha boi e vaca e - como ele disse que tinha visto - mais de vinte cogumelos crescendo juntos. Descemos dos cavalos e cortamos todos menos uns dois muito pequenos.

No caminho de volta, fomos por uma margem de rio enquanto mastigávamos uns pedaços de cogu e íamos bem devagar observando as águas. Paramos e observamos o põr-do-sol. Mascavamos os cogus como se fossem capim. Eram cogus bem potentes em psilo, já que depois de uma meia hora mascando já observava mudanças dramáticas de cor na paisagem: nas nuvens violeta, onde pingavam chamas douradas e laranjas do Sol, e no rio, agora de um verde esmeralda que corria e voltava ao mesmo ponto, uma cobra verde e imensa que se avolumava sobre a linha do horizonte. A paisagem tornava-se chapada, 2-d.

Então, em total sincronia, chicoteamos os cavalos e disparamos seguindo, perseguindo a cobra gigante que se fundia, se perdia num ponto negro muito além. E eu me fundia a vento, ao movimento e ao cavalo, para me tornar um dragão transparente, aquático e alado, ondulando meu longo corpo transparente como o de uma anêmona ao sabor do vento.


Por um momento tive medo de cair, mas deixe a coisa ir, não pensei no pior. Parecia que estava assim faziam horas, muitas horas. Senti-me voando, o cavalo parecia agora escalar uma escada para o céu. Meu peito encheu-se da energia de Deus, do Tudo, Energia Criadora. Assim continuou pelo que parecia horas. Já não ouvia mais o galope, nem sabia mais onde meu amigo estava.

Até que o caminho acabou; estava já proximo a estrada asfaltada. Tive medo de olhar para a direita e ver-me a sós com a grande e verde serpente. Fiquei de cabeça baixa. O cavalo estava cansado e parou para comer um pouco de grama seca (parecia seca pra mim). Então vi que todo campo estava seco e saltei do cavalo. Sentei numa pedra abri a bolsa com os cogus e masquei um inteiro. Um zunido agudo começou a irromper vindo de longe. Tive medo, pois lembrei-me de uma noite que pensei ter visto uma ameaçadora sombra negra na parede da casa onde estava hospedado. Quando fui dormir minha sensação era que a sombra negra me engolia, como uma grande mancha de petróleo, sugando meu ar. Me deu enjôo e tentei vomitar numa árvore proxima à pedra onde estava.

O sol era abrasador. Tomava conta da paisagem como uma grande bola de fogo. Tudo parecia seco, cor de palha e âmbar. Levantei-me sobre a "palha"; meus pés pareciam afundar, senti mesmo agulhadas nos tornozelos como se milhares de serezinhos cravassem suas unhas em mim. Olhei a paisagem e parecia ver seres de calor vindo em minha direção.

Vi um homem de chapéu num cavalo ao longe. Só ouvia o som das vacas e comeceia me sentir no fim do mundo, solitário e triste. A canção monótona das vacas me deu sono, e me sentei na grama, recostado na pedra. Fiquei ali sem lutar contra nada, sem quere mais nada, secando como um galho ao sol. Dormi. Acordei com o som de meu amigo saltando do cavalo. "E aí, vamos voltar?" Ao som da voz humana me recompus. Minha vitalidade e senso comum estavam intactos. Subi no cavalo e voltamos vagarosamente para a casa. A paisagem... eu não tinha coragem de olhar a princípio. Mas puxei conversa com meu amigo e assim fomos aos poucos voltando a uma certa normalidade.

Já sabia que seria estranho voltar a lidar com as pessoas que não estavam "loucas".

Então deite-me numa rede e dormi. Mais um pouco me deu fome e comi a comida que tinha no local.

Sentei com as garotas e um amigo que tocava violão e fumei um cigarrinho. Fui até uma banheira sob chuveiro "natural" e fiquei imerso até a cintura naquela água gelada, me banhando vagarosamente.

A noite, como já tinhamos combinado, fizemos uma fogueira e sentamos em volta, meu amigo - o dono do sítio - trouxe a mistura cogumelos + uma ou duas flores de trombeta, com vinho. A mistura, num garrafão de plásticoa, foi passando de mão em mão. Aos poucos o efeito veio: passeia observar as fagulhas da fogueira multicolorida, que se formava a minha frente.

Um amigo estava meio descontrolado depois de alguns goles: sua face parecia de um bode louco com a luz do fogo em seus olhos. Ele revolvia a areia, levantando poeira e falava palavras desconexas. A garota ao meu lado tinha um cheiro muito bom. Aspirei aquele cheiro e fechei os olhos. Visualizei as estrelas sobre mim e me senti voltando ao espaço: estrelas, o sol, uma grande fonte de luz branca. Tateei o garrafão e tomei um farto gole e mais um. Senti que girava na velocidade da Terra em torno do Sol: eu estava sobre a terra pela primeira vez, sem gravidade.

AS palavras do "amigo descontrolado" transformara-se num cântico que outros também cantavam "não somos mais do que vacas e bois sob o sol, sob o imenso peso do céu", foi o que ouvi cantarem.

Começamos a caminhar em círculos em volta da fogueira de mãos dadas. Padrões geométricos, triângulos verdes, espoucavam repetidamente quando olhava para a mata escura em volta. Éramos mariposas em volta da luz/conhecimento.

Senti vontade de beber mais da mistura, mas o garrafão jazia vazio no chão. Fomos pra mata. Novamente senti aquele cheiro gostoso da garota. Ela seguia à minha frente. Ela segurou na munha mão e caminhamos tentando não tropeçar ou qualquer coisa do tipo. Enquanto entravamos no mato, uivavamos como um bando de caçadores pré-históricos. Sentamos em volta de uma fonte, eu e a garota mais afastados, e assim esperamos o sol nascer. Troquei idéias profundas com aquela garota, mas que no dia seguinte não me lembrava mais. Não me lembrei mais de muita coisa a partir daí...
 
Última edição por um moderador:
Não me lembrei mais de muita coisa a partir daí...
trombeta nao deixa a gente lembrar de muita coisa mesmo...

mas foi uma bela viagem, Zigg voce é praticante de xamanismo? (curiosidade)
 
Já fui muito ligado ao xamanismo. Meu animal-totem era o lobo. Já corri (e conversei) ao lado de lobos/cães em muitas viagens e exercícios xamânicos.

Sempre recebo mensagens através desses animais até mesmo em sonhos, lúcidos ou não.

Hoje em dia ainda sou muito ligado ao planeta Terra ao panteísmo da Natureza, manifestação de Deus. Como vc pode perceber...

a trombeta... Sim, depois descobri que naquela cavalgada também estava mascando uns pedaços da flor sem saber:eek:!
 
logo imaginei que tinha um laco com o xamanismo devido a viagem relatada e da forma que foi, legal Zigg! muitas viagens de paz e conhecimento pra voce! e pra todos aqui do CM. :)
 
Zigg, pela sua trip, voce não volta pro espaço.
Penso que sempre esteve lá!!!
Mystic man.
Lindo relato, cara.
 
Valeu zigg! Sempre afiado com as letras e alinhado com os astros.

Então, em total sincronia, chicoteamos os cavalos e disparamos seguindo, perseguindo a cobra gigante que se fundia, se perdia num ponto negro muito além. E eu me fundia a vento, ao movimento e ao cavalo, para me tornar um dragão transparente, aquático e alado, ondulando meu longo corpo transparente como o de uma anêmona ao sabor do vento.

Imaginei isso com muita clareza. Cheguei a ver.
 
Vlw pelos comentarios moçada!

realmente foi uma trip (uma ou duas?) que me fez muito bem. Aliás este tem sido o objetivo dessas reuniões que eu e esse meu amigo dono de sítio temos organizados (ainda é a segunda): sempre que houver tempo hábil reunir os guerreiros/os buscadores e realizar uma sessão (dias) de retorno às raízes (ao arcaico, como diria Mckenna). A idéia é ficar o mais "nu" possível, mais próximo possível da natureza ecológica e da natureza humana (por isso, as mulheres - as mais simples possíveis e, ainda assim, loucas).

Dá um pouco de pena da patroa em casa, mas... acontece... Nada grave:eek:...:D

No entanto, o objetivo maior não deixa de ser o conhecimento/esquecimento de si mesmo, um retorno a simplicidade/plenitude, até mesmo a selvageria, ao primitivo, almejando chegar à outra margem desse rio: a transcendência.

Na próxima vão entrar elementos novos na mistura (as brugmansia suaveolens - agora lembrei o nome - foram interessantes para criar alguns delírios a mais. Mas deixaram as imagens da sessão noturna um pouco borradas...).

Fiquem ligados. Agora que reencontrei o caminho da roça a tendência é "piorar"!:D:D:D
 
Aewwwwwwwww Zigg muito bom esse relato cara.

Queria participar desse encontro também e bolar uma ideia contigo nesses estados alterados, gosto muito da maneira como deixa fluir a coisa.

Parabens meu queridu!
 
Vlw, LD.

Seria muito bem-vindo. Vou falar com o cara sobre isso, porque ele é quem carimba o passaporte pra Terra do Nunca!:D

E quando houver outra oportunidade (e quando sentirmos a energia fluindo), te dou um toque por MP.

---

Aquele lance do rio-serpente (acho que nunca mais entro naquele rio de forma natural:D) me lembrou dum trecho da música The End, dos Doors:

Ride the snake, ride the snake
To the lake, the ancient lake, baby
The snake is long, seven miles
Ride the snake...he's old, and his skin is cold
:eek:

---
Coyote, ontem me dei conta da sua afirmação que sempre estive no espaço.

É verdade, todos estamos no espaço a milhares de km por hora, sobre as costas desse imenso ser vivo, esse presente de Deus, a Terra, nossa querida Pacha Mama! Basta nos darmos conta disso a cada minuto de nossas vidas.
 
Obrigado pela oportunidade grande Zigg. Ficarei lisongeado em lhe fazer companhia =]

Sobre a serpente certa vez ouvi que simboliza a cura. Sabe se obteve alguma coisa do genero?
 
O tempo todo, Lys. O tempo todo... Cada vez a casca fica mais grossa e as asas mais fortes!

Abraço...:pos:
 
Fala Zigg Star Dust, muito bom esse relato, tive até as sensações fisicas em algumas partes!
 
Realmente, ótimo relato! Incrível Tripp! Tbm conseguir imaginar com clareza vc cavalgando seguindo a cobra gigante!
Paz, luz e mt conhecimento pra tds!!!
 
Caro Zigg: sua trip é repleta de sensações que podem ser transmitidas através do relato... as cores da paisagem, da fogueira, o som do violão, eu juro que até o cheiro bom da garota dá pra sentir e aquela imensa sensação de pertencer a tudo isso, contido neste Universo, valeu essa descrição foi como uma âncora de momentos vividos para mim.:)
 
No caminho de volta, fomos por uma margem de rio enquanto mastigávamos uns pedaços de cogu e íamos bem devagar observando as águas. Paramos e observamos o põr-do-sol. Mascavamos os cogus como se fossem capim. Eram cogus bem potentes em psilo, já que depois de uma meia hora mascando já observava mudanças dramáticas de cor na paisagem: nas nuvens violeta, onde pingavam chamas douradas e laranjas do Sol, e no rio, agora de um verde esmeralda que corria e voltava ao mesmo ponto, uma cobra verde e imensa que se avolumava sobre a linha do horizonte. A paisagem tornava-se chapada, 2-d.


Ah.. eu de certa forma invejo quem tem estas alucinações coloridas.. para mim as cores nunca mudam..somente as formas.
 
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