- 18/11/2008
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Juntando o feriado de Tiradentes com o de S. Jorge (só pros privilegiados do RJ), fiquei numa mini-férias de 5 dias. Juntei com uns amigos e voltei ao cenário de minha última experiência com cogumelos, já relatada neste fórum(LINK).
Como a última experiência foi meio fraca, decidi descacetar de vez para desvendar o mundo arcaico dos cogumelos.
Depois de um dia de muita brincadeira adulta (inclusive, com o apanhar de 3 maluquetes no vilarejo mais próximo) voltamos pro sítio acompanhados de mulheres (duas das 3) mais bebida e ganja!
Já no final da tarde, saímos eu e o dono do sítio a cavalo(!) para procurar enteógenos. Ele me mostrou uma árvore de onde pendiam dezenas de trombetas de cor avermelhada e colhemos algumas - só pro caso de querermos um algo a mais na mistura. Depois cavalgamos com força por uns dois km até um descampado, onde só tinha boi e vaca e - como ele disse que tinha visto - mais de vinte cogumelos crescendo juntos. Descemos dos cavalos e cortamos todos menos uns dois muito pequenos.
No caminho de volta, fomos por uma margem de rio enquanto mastigávamos uns pedaços de cogu e íamos bem devagar observando as águas. Paramos e observamos o põr-do-sol. Mascavamos os cogus como se fossem capim. Eram cogus bem potentes em psilo, já que depois de uma meia hora mascando já observava mudanças dramáticas de cor na paisagem: nas nuvens violeta, onde pingavam chamas douradas e laranjas do Sol, e no rio, agora de um verde esmeralda que corria e voltava ao mesmo ponto, uma cobra verde e imensa que se avolumava sobre a linha do horizonte. A paisagem tornava-se chapada, 2-d.
Então, em total sincronia, chicoteamos os cavalos e disparamos seguindo, perseguindo a cobra gigante que se fundia, se perdia num ponto negro muito além. E eu me fundia a vento, ao movimento e ao cavalo, para me tornar um dragão transparente, aquático e alado, ondulando meu longo corpo transparente como o de uma anêmona ao sabor do vento.
Por um momento tive medo de cair, mas deixe a coisa ir, não pensei no pior. Parecia que estava assim faziam horas, muitas horas. Senti-me voando, o cavalo parecia agora escalar uma escada para o céu. Meu peito encheu-se da energia de Deus, do Tudo, Energia Criadora. Assim continuou pelo que parecia horas. Já não ouvia mais o galope, nem sabia mais onde meu amigo estava.
Até que o caminho acabou; estava já proximo a estrada asfaltada. Tive medo de olhar para a direita e ver-me a sós com a grande e verde serpente. Fiquei de cabeça baixa. O cavalo estava cansado e parou para comer um pouco de grama seca (parecia seca pra mim). Então vi que todo campo estava seco e saltei do cavalo. Sentei numa pedra abri a bolsa com os cogus e masquei um inteiro. Um zunido agudo começou a irromper vindo de longe. Tive medo, pois lembrei-me de uma noite que pensei ter visto uma ameaçadora sombra negra na parede da casa onde estava hospedado. Quando fui dormir minha sensação era que a sombra negra me engolia, como uma grande mancha de petróleo, sugando meu ar. Me deu enjôo e tentei vomitar numa árvore proxima à pedra onde estava.
O sol era abrasador. Tomava conta da paisagem como uma grande bola de fogo. Tudo parecia seco, cor de palha e âmbar. Levantei-me sobre a "palha"; meus pés pareciam afundar, senti mesmo agulhadas nos tornozelos como se milhares de serezinhos cravassem suas unhas em mim. Olhei a paisagem e parecia ver seres de calor vindo em minha direção.
Vi um homem de chapéu num cavalo ao longe. Só ouvia o som das vacas e comeceia me sentir no fim do mundo, solitário e triste. A canção monótona das vacas me deu sono, e me sentei na grama, recostado na pedra. Fiquei ali sem lutar contra nada, sem quere mais nada, secando como um galho ao sol. Dormi. Acordei com o som de meu amigo saltando do cavalo. "E aí, vamos voltar?" Ao som da voz humana me recompus. Minha vitalidade e senso comum estavam intactos. Subi no cavalo e voltamos vagarosamente para a casa. A paisagem... eu não tinha coragem de olhar a princípio. Mas puxei conversa com meu amigo e assim fomos aos poucos voltando a uma certa normalidade.
Já sabia que seria estranho voltar a lidar com as pessoas que não estavam "loucas".
Então deite-me numa rede e dormi. Mais um pouco me deu fome e comi a comida que tinha no local.
Sentei com as garotas e um amigo que tocava violão e fumei um cigarrinho. Fui até uma banheira sob chuveiro "natural" e fiquei imerso até a cintura naquela água gelada, me banhando vagarosamente.
A noite, como já tinhamos combinado, fizemos uma fogueira e sentamos em volta, meu amigo - o dono do sítio - trouxe a mistura cogumelos + uma ou duas flores de trombeta, com vinho. A mistura, num garrafão de plásticoa, foi passando de mão em mão. Aos poucos o efeito veio: passeia observar as fagulhas da fogueira multicolorida, que se formava a minha frente.
Um amigo estava meio descontrolado depois de alguns goles: sua face parecia de um bode louco com a luz do fogo em seus olhos. Ele revolvia a areia, levantando poeira e falava palavras desconexas. A garota ao meu lado tinha um cheiro muito bom. Aspirei aquele cheiro e fechei os olhos. Visualizei as estrelas sobre mim e me senti voltando ao espaço: estrelas, o sol, uma grande fonte de luz branca. Tateei o garrafão e tomei um farto gole e mais um. Senti que girava na velocidade da Terra em torno do Sol: eu estava sobre a terra pela primeira vez, sem gravidade.
AS palavras do "amigo descontrolado" transformara-se num cântico que outros também cantavam "não somos mais do que vacas e bois sob o sol, sob o imenso peso do céu", foi o que ouvi cantarem.
Começamos a caminhar em círculos em volta da fogueira de mãos dadas. Padrões geométricos, triângulos verdes, espoucavam repetidamente quando olhava para a mata escura em volta. Éramos mariposas em volta da luz/conhecimento.
Senti vontade de beber mais da mistura, mas o garrafão jazia vazio no chão. Fomos pra mata. Novamente senti aquele cheiro gostoso da garota. Ela seguia à minha frente. Ela segurou na munha mão e caminhamos tentando não tropeçar ou qualquer coisa do tipo. Enquanto entravamos no mato, uivavamos como um bando de caçadores pré-históricos. Sentamos em volta de uma fonte, eu e a garota mais afastados, e assim esperamos o sol nascer. Troquei idéias profundas com aquela garota, mas que no dia seguinte não me lembrava mais. Não me lembrei mais de muita coisa a partir daí...
Como a última experiência foi meio fraca, decidi descacetar de vez para desvendar o mundo arcaico dos cogumelos.
Depois de um dia de muita brincadeira adulta (inclusive, com o apanhar de 3 maluquetes no vilarejo mais próximo) voltamos pro sítio acompanhados de mulheres (duas das 3) mais bebida e ganja!
Já no final da tarde, saímos eu e o dono do sítio a cavalo(!) para procurar enteógenos. Ele me mostrou uma árvore de onde pendiam dezenas de trombetas de cor avermelhada e colhemos algumas - só pro caso de querermos um algo a mais na mistura. Depois cavalgamos com força por uns dois km até um descampado, onde só tinha boi e vaca e - como ele disse que tinha visto - mais de vinte cogumelos crescendo juntos. Descemos dos cavalos e cortamos todos menos uns dois muito pequenos.
No caminho de volta, fomos por uma margem de rio enquanto mastigávamos uns pedaços de cogu e íamos bem devagar observando as águas. Paramos e observamos o põr-do-sol. Mascavamos os cogus como se fossem capim. Eram cogus bem potentes em psilo, já que depois de uma meia hora mascando já observava mudanças dramáticas de cor na paisagem: nas nuvens violeta, onde pingavam chamas douradas e laranjas do Sol, e no rio, agora de um verde esmeralda que corria e voltava ao mesmo ponto, uma cobra verde e imensa que se avolumava sobre a linha do horizonte. A paisagem tornava-se chapada, 2-d.
Então, em total sincronia, chicoteamos os cavalos e disparamos seguindo, perseguindo a cobra gigante que se fundia, se perdia num ponto negro muito além. E eu me fundia a vento, ao movimento e ao cavalo, para me tornar um dragão transparente, aquático e alado, ondulando meu longo corpo transparente como o de uma anêmona ao sabor do vento.
Por um momento tive medo de cair, mas deixe a coisa ir, não pensei no pior. Parecia que estava assim faziam horas, muitas horas. Senti-me voando, o cavalo parecia agora escalar uma escada para o céu. Meu peito encheu-se da energia de Deus, do Tudo, Energia Criadora. Assim continuou pelo que parecia horas. Já não ouvia mais o galope, nem sabia mais onde meu amigo estava.
Até que o caminho acabou; estava já proximo a estrada asfaltada. Tive medo de olhar para a direita e ver-me a sós com a grande e verde serpente. Fiquei de cabeça baixa. O cavalo estava cansado e parou para comer um pouco de grama seca (parecia seca pra mim). Então vi que todo campo estava seco e saltei do cavalo. Sentei numa pedra abri a bolsa com os cogus e masquei um inteiro. Um zunido agudo começou a irromper vindo de longe. Tive medo, pois lembrei-me de uma noite que pensei ter visto uma ameaçadora sombra negra na parede da casa onde estava hospedado. Quando fui dormir minha sensação era que a sombra negra me engolia, como uma grande mancha de petróleo, sugando meu ar. Me deu enjôo e tentei vomitar numa árvore proxima à pedra onde estava.
O sol era abrasador. Tomava conta da paisagem como uma grande bola de fogo. Tudo parecia seco, cor de palha e âmbar. Levantei-me sobre a "palha"; meus pés pareciam afundar, senti mesmo agulhadas nos tornozelos como se milhares de serezinhos cravassem suas unhas em mim. Olhei a paisagem e parecia ver seres de calor vindo em minha direção.
Vi um homem de chapéu num cavalo ao longe. Só ouvia o som das vacas e comeceia me sentir no fim do mundo, solitário e triste. A canção monótona das vacas me deu sono, e me sentei na grama, recostado na pedra. Fiquei ali sem lutar contra nada, sem quere mais nada, secando como um galho ao sol. Dormi. Acordei com o som de meu amigo saltando do cavalo. "E aí, vamos voltar?" Ao som da voz humana me recompus. Minha vitalidade e senso comum estavam intactos. Subi no cavalo e voltamos vagarosamente para a casa. A paisagem... eu não tinha coragem de olhar a princípio. Mas puxei conversa com meu amigo e assim fomos aos poucos voltando a uma certa normalidade.
Já sabia que seria estranho voltar a lidar com as pessoas que não estavam "loucas".
Então deite-me numa rede e dormi. Mais um pouco me deu fome e comi a comida que tinha no local.
Sentei com as garotas e um amigo que tocava violão e fumei um cigarrinho. Fui até uma banheira sob chuveiro "natural" e fiquei imerso até a cintura naquela água gelada, me banhando vagarosamente.
A noite, como já tinhamos combinado, fizemos uma fogueira e sentamos em volta, meu amigo - o dono do sítio - trouxe a mistura cogumelos + uma ou duas flores de trombeta, com vinho. A mistura, num garrafão de plásticoa, foi passando de mão em mão. Aos poucos o efeito veio: passeia observar as fagulhas da fogueira multicolorida, que se formava a minha frente.
Um amigo estava meio descontrolado depois de alguns goles: sua face parecia de um bode louco com a luz do fogo em seus olhos. Ele revolvia a areia, levantando poeira e falava palavras desconexas. A garota ao meu lado tinha um cheiro muito bom. Aspirei aquele cheiro e fechei os olhos. Visualizei as estrelas sobre mim e me senti voltando ao espaço: estrelas, o sol, uma grande fonte de luz branca. Tateei o garrafão e tomei um farto gole e mais um. Senti que girava na velocidade da Terra em torno do Sol: eu estava sobre a terra pela primeira vez, sem gravidade.
AS palavras do "amigo descontrolado" transformara-se num cântico que outros também cantavam "não somos mais do que vacas e bois sob o sol, sob o imenso peso do céu", foi o que ouvi cantarem.
Começamos a caminhar em círculos em volta da fogueira de mãos dadas. Padrões geométricos, triângulos verdes, espoucavam repetidamente quando olhava para a mata escura em volta. Éramos mariposas em volta da luz/conhecimento.
Senti vontade de beber mais da mistura, mas o garrafão jazia vazio no chão. Fomos pra mata. Novamente senti aquele cheiro gostoso da garota. Ela seguia à minha frente. Ela segurou na munha mão e caminhamos tentando não tropeçar ou qualquer coisa do tipo. Enquanto entravamos no mato, uivavamos como um bando de caçadores pré-históricos. Sentamos em volta de uma fonte, eu e a garota mais afastados, e assim esperamos o sol nascer. Troquei idéias profundas com aquela garota, mas que no dia seguinte não me lembrava mais. Não me lembrei mais de muita coisa a partir daí...
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