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Xamanismo

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Cogumelo maduro
Membro Ativo
27/03/2006
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O QUE É XAMANISMO?

:!: Materia da revista SUPERINTERESSANTE

Nos primórdios da humanidade, não havia fronteiras entre ciência, arte e religião. Tudo se fundia em uma única busca: conhecer as forças da natureza e saber usá-las em benefício do homem. Esse era o domínio do xamã, figura tribal que exercia múltiplas funções - de sacerdote e curandeiro, pesquisador do poder de cura das plantas, a músico e poeta, narrador e guardião dos mitos e histórias do seu povo. O termo original saman vem justamente do verbo "conhecer" na língua siberiana manchu-tungus, significando "aquele que conhece" ou, simplesmente, "feiticeiro". Em português (ou melhor, tupi), o exato equivalente seria "pajé". A definição clássica de xamanismo - "técnicas arcaicas de êxtase" - pertence ao filósofo romeno Mircea Eliade (1907-1986), especialista em História das Religiões e um dos vários estudiosos que ficaram impressionados com o modo como as práticas xamânicas se reproduziam identicamente entre nativos de regiões tão distantes quanto Sibéria, Austrália e Amazônia.
A principal delas, como destaca Eliade, é entrar em transe - por meio de ritmos repetitivos tocados em tambores ou de substâncias psicoativas encontradas em fungos ou vegetais. Nesse estado alterado de consciência, o xamã seria capaz de realizar o chamado "vôo mágico": desprender-se do próprio corpo para viajar a outros planos do universo, para o além. "Nesses mundos - alguns celestiais, outros subterrâneos -, ele vai resgatar almas perdidas. Isso porque, na crença desses povos, quando alguém está doente é porque sua alma está perdida", diz o antropólogo Robin Wright, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Outro traço comum às diversas tradições xamânicas é trabalhar com "espíritos aliados" - tanto de seus ancestrais, quanto de bichos selvagens e ervas medicinais. São os chamados animais e plantas de poder, que o ajudam a viajar por outras dimensões e a curar males físicos e psicológicos, além de conduzir rituais que propiciem a caça e a fertilidade da natureza.
Não importa sua origem, todo xamã costuma invocar, em seus rituais, os espíritos do mundo animal e vegetal


Norte-americano

Suas principais práticas são a inipi ("tenda do suor", sauna indígena à base de pedras escaldantes ) e a "busca da visão" - peregrinação em jejum e isolamento. Entre seus "animais de poder" destacam-se o coiote e a águia que, encarnados pelo mago, transmitem ensinamentos à tribo. A "planta de poder" mais comum é o peiote, botão de cacto celebrizado pelos livros do antropólogo transformado em xamã Carlos Castañeda



Sul-ameicano

As plantas da floresta constituem o principal intrumento de cura e conhecimento dos xamãs amazônicos. Duas delas - o cipó Banisteriopsis caapi e o arbusto Psychotria viridis - se combinam na bebida ayahuasca ("vinho dos espíritos"), considerada a grande professora. O tabaco também é usado para afastar maus espíritos e os animais cultuados são a onça e a jibóia. Enquanto seus colegas da América do Norte usam tambores, seu instrumento é a maraca (chocalho de cabaça)



Aborígene

De acordo com os nativos australianos, a dimensão sobrenatural que governa nosso mundo é o chamado Tempo dos Sonhos. Para obter poder e conhecimento, os xamãs têm de viajar a esse universo paralelo e encontrar a Grande Serpente Arco-Íris, símbolo da fertilidade e da vida. Eles também possuem uma forte ligação com cavernas, acreditam entrar em contato com as forças dos reinos subterrâneos



Esquimó

Os xamãs da região ártica usam máscaras de feições aterrorizantes para representar seu poder - capaz de transportá-los, em espírito, ao fundo do mar e atravessar o gelo até o submundo, onde resgatam a alma dos enfermos. Eles também invocam os espíritos dos animais que desejam caçar (baleias, morsas, caribus e ursos), para negociar a alimentação de sua aldeia



Siberiano

Na região de onde vem a palavra "xamã", o animal cultuado é a rena. Seu couro é utilizado na vestimenta de proteção contra ataques de espíritos malignos e na confecção do tambor, principal instrumento de poder dos magos curandeiros da Sibéria. Eles acreditam que a alma do animal sobrevive no tambor e pode guiá-lo em seus transes - muitas vezes induzidos com a ajuda do cogumelo alucinógeno Amanita muscaria
Muitos historiadores, arqueólogos e antropólogos acreditam que a origem do xamanismo está na Europa do final da Idade da Pedra, entre 30 000 e 20 o00 anos atrás. A evidência principal estaria nas magníficas pinturas rupestres encontradas em cavernas da Espanha e da França. A maioria delas representa animais como cavalos, bisões e cervos, provavelmente com a intenção simbólica e ritualística de propiciar a caça, fazendo um pacto com os espíritos desses bichos. Mas a imagem mais enigmática de todas é a figura acima, pintada na parede da caverna de Trois Frères, no sul da França: uma criatura semi-humana, batizada de Feiticeiro Dançarino, com orelhas de lobo, chifres de veado, rabo de cavalo e patas de urso. Há duas interpretações para ela. Para alguns estudiosos, trata-se do registro mais antigo da união de um xamã com seus animais de poder.
Outros acreditam que seja uma entidade sobrenatural: o Grande Espírito da caça e da fertilidade animal. As primeiras esculturas e instrumentos musicais (tambores e flautas feitas de ossos), são da mesma época, reforçando a tese de que os xamãs foram os criadores não só das artes visuais, como da música e da poesia lírica.
Na livraria

O Xamã, Piers Vitebsky, Evergreen, São Paulo, 2001

O Caminho do Xamã, Michael Harner, Editora Cultrix, São Paulo, 1995

Shamanic Voices, Joan Halifax, Penguin Arkana, Estados Unidos, 1979

The Strong Eye of Shamanism, Robert E. Ryan, Inner Traditions, Estados Unidos, 1999


http://www.xamanismo.com/
http://www.sacred-texts.com/sha/index.htm
http://deoxy.org/shaman.htm
http://www.luzcom.com.br/inca/livro/html/Indice.htm
http://toltecnagual.com/toltec/nagual_shaman.html

Para quem já ouviu falar do Carlos Casteneda um texto para REFLEXÃO:


“Quando alguém admira as formidáveis ruínas das culturas do México antigo, penso em Teotihuacan, Monte Alban o Tajin. Quando alguém se maravilha com o incrível esforço para deixar o testemunho de sua grandeza espiritual na matéria. Imediatamente alguém pensa: qual foi a filosofia que orientou e dirigiu este incomensurável trabalho? Ou seguiremos aceitando, às cegas, mansa e colonizadamente que faziam essas imensas pirâmides e essas extraordinárias construções para "adorar o sol, a água e o vento, ou para ter seus "palácios", "fortalezas" e "cidades".

Desde a chegada dos conquistadores, toda a cultura dos Velhos Avós tem sido brutalmente negada e sobre tudo sua sabedoria milenária. Este é o caso da Toltecáyotl, como chamam os especialistas, ou Toltequidade como disse Don Juan Matus. Esta é a herança mais importante que temos, é nossa essência e raíz de tudo que somos.

Com efeito, se os mexicanos não têm desaparecido como povo nestes últimos 500 anos de injustiça e negação, é somente graças a essa portentosa filosofia de vida. O que acontece é que esta sabedoria opera nos campos incoscientes do chamado "conhecimento silencioso", ou poderíamos dizer... "da cultura popular". A "magia da cultura no México é a expressão da Toltecáyotl nos nossos atos, sentimentos e no inconsciente coletivo". Os mexicanos desprezam nossa cultura e a desconhecem, no geral, somos "estrangeiros incultos em nossa própria terra" e, paradoxalmente, é o que nos sustenta.

Este é o problema que enfrenta a Toltecáyotl neste momento. Por um lado, está nas mãos de um punhado de iluminados da nova era, com os "direitos reservados" nos Estados Unidos e se difunde através de custosos seminários. O novos "naguais online" cobram em dólares e falam inglês para ensinar a famosa tensegridade.

No México, um punhado de "esquisotéricos"* estão enfileirados nos ensinamentos de Don Juan para: ter um passaporte para o mundo das drogas, tornarem-se "guerreiros" e usar a quem se põe ao seu alcance, converterem-se em "gurus" de incautos ou simplesmente por uma casualidade e novidade superficial e temporal.

À maioria destes "guerreiros" lhes encanta jogar e criar sua importância pessoal no suposto mundo do nagual. Estão obsecados com as aterradoras descrições que faz Castaneda deste mundo, reservado para muitos poucos, pouquíssimos!!! Em suas mentes fantasiosas, se crêem guerreiros, segundo eles, penetram nos augustos mistérios da Toltecáyotl e o único que fazem é ter truculentas diarréias mentais, perder tempo e se enganar.

Devemos recordar que nem nos melhores tempos do Esplendor Clássico do México Antigo, a Toltecáyotl era para todos. Os iludidos devem entender que esse conhecimento está reservando a uns quantos, mas muitos poucos seres humanos têm a capacidade para se entregar às férreas disciplinas e sacrifícios que implica este caminho, assim como os dos Sufis ou monges tibetanos. Além do mais, como diz o próprio Don Juan, todos os que buscam o ensinamento estão "enjaulados", não servem para esse assunto. Todos os aprendizes têm que ser enganchados a partir de uma armadilha, pois alguém em em seus cinco sentidos não tomaria esse caminho. É por isso que quem o busca... geralmente está "louquinho" ou sensivelmente são desadaptados sociais.

Qual, então, o valor dos ensinamentos de Don Juan ou da Toltecáyotl? Em princípio diremos que há um desígnio do "Poder", que esta milenária e desconhecida filosofia emergeria da luz publica e se traduziria em cultura oral à cultura escrita (esse é o argumento de Castaneda). O mais importante da obra são os 4 primeiros livros onde se expõe os ensinamentos para o lado direito, ou "varrer a ilha do tonal". Com o simples livro de "Viagem a Ixtlan" e suas 17 técnicas, qualquer pessoa coerente poderia levar TODA UMA VIDA para poder aplicar-las "impecavelmente" em sua vida cotidiana, onde está a verdadeira batalha de poder. Transformar a forma de vida e fazê-la um exercício de estratégia através da redução da importância pessoal por meio de uma vida austera, sóbria e impecável deve ser a meta suprema para uma pessoa que trate de aprender a milenar sabedoria. Aprender a ser humilde e entender que nunca seremos "guerreiros", mas atuar como se não o soubéssemos e esforçando-se até o último instante de vida. Tentar viver todos os dias aplicando as 17 técnicas sem medo e sem ambição, pela simples necessidade de sermos responsáveis e coerentes.

A Toltecáyotl, e especialmente o mundo do nagual, não são para todos, mas sim o que nos legaram, no passado e no hoje, os toltecas é uma forma correta de viver.

Quando na época em que o centro de conhecimento estava em seu esplendor e os guerreiros e os homens de conhecimento desenvolviam ao máximo suas técnicas, os "masehuales", "as asas e a cauda da águia", (o povo) tinham uma doutrina e valores que lhes permitiram viver mil anos de paz total, sem sacrifícios humanos, guerras, nem Estados, dirigidos pelos Veneráveis Mestres Toltecas (200 a 850 d.C.). Esta forma correta de viver é a herança que de alguma maneira está viva nas comunidades indígenas campesinas do país. Esta forma de vida é a que tentam erradicar desde 1521, através da cristianização, da civilização ocidental, o progresso, a modernidade, a industrialização, o desenvolvimento e, agora, a globalização. Sempre depreciando o próprio e exaltando o alheio.

O mundo do nagual é para muitos poucos, a mudança no mundo do tonal é para todos. Amável leitor, você se deu conta que os guachupines, criollos e mestiços** durante os últimos 481 anos passaram dizendo que os índios são idiotas, frouxos e incapazes. Mas você deve ter se perguntado como foi possível que tenham sobrevivido a sua morte histórica? Como é possível que se tenha tratado de exterminar e destruir culturalmente e, eles, não somente conseguiram sobreviver ao inferno que lhes deram, mas se fortaleceram e se "apropriaram" de muitos elementos culturais e, se no século XVI quase acabaram com eles até deixá-los em um milhão, agora são mais de dez. De cara, no início do século XXI, são os insurgentes índios maias de Chiapas e do EZLN*** os que nos assinalam o caminho, não somente aos mexicanos, mas também aos povos que querem acabar com o império do Mercado.

Por pura curiosidade, se você que "conhece" as técnicas de Don Juan... já viu um índio falador, com uma desdobrante importância pessoal? Seguramente que não, porque geralmente são pessoas muito austeras, sóbrias, sensíveis, caladas, apegadas à natureza, de maneira cultural mantém "a marcha de poder", o não-fazer (por isso são índios!), são frugais, levam a morte como companheira e um grande etcétera... Na minha juventude, quando comecei a ler a obra de Castaneda e vivia em Oaxaca, visitando as comunidades indígenas, trabalhando e aprendendo com elas, me dei conta que os indígenas eram praticantes "não racionais" da toltequidade e que culturalmente atuavam como guerreiros.

Então entendi completamente "os ensinamentos de Don Juan" e me dei conta que eram mais que uma verdade literária, eram a realidade cotidiana. Somente como guerreiros os índios puderam sobreviver ao genocídio, à exploração e à negação. A cultura dominante e os mestiços tem sido seus melhores "tiranos".

O futuro do México é seu passado. Necessitamos da Toltecáyotl para poder refazer este mundo tão caótico. Os ensinamentos de Don Juan, a Toltecáyotl e a obra de Castaneda, nos podem ajudar a retomar antigos valores, princípios e conhecimentos para sermos "melhores seres humanos", para forjarmos "um rosto próprio e um coração verdadeiro" como diziam os Velhos Avós no Calmécac ou no Telpochcalli**** aos estudantes.

O mundo "esquisotérico" do nagual e dos alucinógenos é somente uma porta falsa, um despenhadeiro inútil. Tomar os ensinamentos de Don Juan, ou a obra de Castaneda ou a Toltecáyotl, como uma moda para fantasiar pode ser um bom caminho para perder tempo e se auto-enganar. A verdadeira magia está na vida por ela mesma, o grande mistério está no nosso interior, a verdadeira batalha está na vida cotidiana, o inimigo a vencer está dentro do nosso coração. Ninguém poderá chegar ao mundo do nagual sem antes ter PLENO DOMÍNIO do mundo do tonal. Quem não vence a si mesmo, jamais poderá sonhar em ser um guerreiro, nem penetrar nos insondáveis mistérios do nagual.

Nota: (Notas do tradutor:

* originalmente o autor usa o termo "azotéricos", fazendo referência à palavra "azote" que significa açoite. Optamos em substituir pelo termo "esquisotéricos" que preenche a mesma função no teor do texto.

** guachupines: aristocracia agrária de origem espanhola não mestiça que controla as melhores terras do país. Na época da Revolução Mexicana eram 3% da população. Criollos: filhos de espanhóis nascidos em território latino-americano(colônia) que tomam parte na administração.

***EZLN: Exército Zapatista de Libertação Nacional.

****Calmécac e Telpochcalli eram escolas onde os jovens eram preparados para a vida e sociedade, nas artes mágico-religiosas, culturais, administrativas e bélicas.

Tradução: Tatiana Meurer (Menkaiká) - Traduzido e publicado com autorização do autor.) “
 
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