- 28/05/2009
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Uma porta para o mundo dos sonhos
Um relato sobre a pesquisa e a experiência com cogumelos Psilocybe Cubensis.
A procura da chave
Depois de buscar conhecimento teórico sobre os cogumelos, pesquisando e trocando idéias com membros do site e com amigos mais velhos que já haviam experimentado os cogumelos, parti para o campo em busca dos Psilocybe Cubensis. Já sabia que seria difícil encontrá-los no inverno, ainda mais com as ondas de frio que tem assolado o sul do país nesse inverno de 2009. Mesmo assim saí em buscas pelos muitos campos que existem nos arredores da cidade onde moro. Devo ter andando alguns bons quilômetros a pé, por dentro de potreiros diversos, em zigue-zague, scanniando toda a área delimitada para as buscas.
Numas dessas saídas a campo achei dois pequenos cubs, já entrando na terceira idade. No dia seguinte, em outro pasto, achei dois pequenos jovens. Sequei-os atrás da geladeira e os deixei num pote bem fechado, com um pouco de sílica que veio num eletrodoméstico. Ficaram crack-dry, mas pesavam apenas umas 1,5g, não mais que isso. Fiquei animado e esperançoso de achar mais, o que não aconteceu. Andei mais, gastei mais tempo, e nada. Então resolvi experimentar esse pouco que tinha achado. Mas pude apenas espiar pelo buraco da fechadura. A chave era essa, a porta era essa, mas eu precisava de uma chave maior. Enquanto isso, pensando nas coletas futuras, fiz um túnel de vento e comprei 1kg de sílica azul.
Espiando pelo buraco da fechadura
Durante toda minha pesquisa sobre os cogumelos, sempre troquei informações com dois amigos mais velhos, que já tiveram experiências muito fortes com cogumelos há uns 30 anos atrás. Seus relatos e experiências, somados as informações obtidas no site, contribuíam para a quebra de mitos e a consolidação de conhecimentos. As expedições em busca da ‘chave’ já tinham sido realizadas com sucesso. Bastava agora a experimentação.
Meu primeiro contato com os Cubensis foi feito na casa de um desses amigos, pois é um lugar reservado e tranqüilo. Ingeri a pequena quantidade de cogumelos crack-dry com suco de laranja. Ele não ingeriu nada. Ficamos conversando e monitorando os efeitos, que foram chegando muito lentamente. Passei a ficar mais calmo, falar menos e a bocejar bastante. O campo visual ficou um pouco mais brilhante e qualquer detalhe prendia minha atenção. Ficava um tempão olhando para um só ponto, imaginando figuras nas texturas da parede. Senti muito peso nas pernas, pressão no estômago e indisposição física.
Internamente minha mente estava agitada. O pensamento vinha solto e em forma de imagens confusas, que surgiam a todo tempo. Travei conflitos internos, com pensamentos dispersos e tive algumas compreensões sobre os processos mentais. O mundo dos devaneios, de idéias que sempre se associam a outras, que puxam outras e mais outras, num processo interminável. Uma região de nossa mente que serve para nos manter afastados do pensamento claro, da verdade, pois nos aprisiona num mundo de ilusão infinita. A Matrix, claramente explicada na minha frente. O inconsciente coletivo? Percebi que era por ali que as pessoas eram ‘pegas’ pelo Sistema, onde elas deixavam de ser o que são em sua essência, e passavam a ser conceitos, dogmas e valores sociais, criados e mantidos por alguns grupos para seu próprio benefício (religião, moda, consumo, dinheiro, símbolos de poder, etc). Grupos esses que nos dizem o que fazer, o que pensar, o que consumir, no que acreditar... Aliás, hoje em dia isso não é feito abertamente, eles estão mais espertos, o processo hoje é mais sutil e eles nos levam a pensar e ter nossas ‘próprias idéias e convicções’ em vez de nos darem prontas. Se antes nos davam a erva daninha já crescida, hoje eles nos plantam a semente...
As imagens que vi internamente nem sempre eram claras e definidas, principalmente as que estavam nas áreas marginais do campo de visão, que pareciam difusas, como que envoltas em um leve nevoeiro. Em todas as cenas havia muito movimento, nada era estático e fixo e parecia que estava ventando constantemente “naquele local”. Durante minhas observações internas, das cenas de milhões de coisas, percebi que surgiu um veículo da esquerda, fez uma curva e parou bem na minha frente, a uma certa distância. Não consegui ver bem o que era, era como uma grua, uma cabine de guincho, trator escavadeira, uma cabine simples, amarelada, onde cabia apenas uma pessoa. Dentro havia um homem, com queixo e nariz finos e compridos, cabelo cheio, penteado para trás e meio para cima. Era uma mistura de Coringa com Máscara e Bobo da corte. Não tinha cara de anjo, também não transparecia maldade, mas em seu rosto era evidente um sorriso sarcástico. Ele me olhou e perguntou o que eu queria ali? Não respondi nada, apenas fiquei observando e não lembro agora o que fiz. Na hora percebi que aquele era o reino dele ou que ele era um guardião do lugar. Esse foi o único momento em que interagi com um elemento daquele ‘mundo’. Durante todo o processo, eu apenas observava as cenas que surgiam a minha frente, como em um filme, onde você é apenas o espectador.
Depois disso eu e meu amigo saímos para caminhar. Senti o corpo bem mais pesado e precisava me esforçar mais que o comum para me movimentar. As estrelas chamavam atenção, o vento chamava a atenção. Poderia sentar na areia da praia e ficar olhando as estrelas o resto da noite. O desconforto físico e estomacal, somado as imagens carregadas de meus processos internos, me fizeram experimentar sensações desagradáveis durante a experiência. Não as defini como ruins, bad trips que tanto falam, mas não era uma sensação de euforia e alegria experimentada por bebidas alcoólicas, por exemplo. Se eu fosse definir a experiência, diria que não fui passear no condado dos Hobbits e sim espiar Isengard...
Segunda parte em: https://teonanacatl.org/threads/uma-porta-para-o-mundo-dos-sonhos.7661/
Um relato sobre a pesquisa e a experiência com cogumelos Psilocybe Cubensis.
A procura da chave
Depois de buscar conhecimento teórico sobre os cogumelos, pesquisando e trocando idéias com membros do site e com amigos mais velhos que já haviam experimentado os cogumelos, parti para o campo em busca dos Psilocybe Cubensis. Já sabia que seria difícil encontrá-los no inverno, ainda mais com as ondas de frio que tem assolado o sul do país nesse inverno de 2009. Mesmo assim saí em buscas pelos muitos campos que existem nos arredores da cidade onde moro. Devo ter andando alguns bons quilômetros a pé, por dentro de potreiros diversos, em zigue-zague, scanniando toda a área delimitada para as buscas.
Numas dessas saídas a campo achei dois pequenos cubs, já entrando na terceira idade. No dia seguinte, em outro pasto, achei dois pequenos jovens. Sequei-os atrás da geladeira e os deixei num pote bem fechado, com um pouco de sílica que veio num eletrodoméstico. Ficaram crack-dry, mas pesavam apenas umas 1,5g, não mais que isso. Fiquei animado e esperançoso de achar mais, o que não aconteceu. Andei mais, gastei mais tempo, e nada. Então resolvi experimentar esse pouco que tinha achado. Mas pude apenas espiar pelo buraco da fechadura. A chave era essa, a porta era essa, mas eu precisava de uma chave maior. Enquanto isso, pensando nas coletas futuras, fiz um túnel de vento e comprei 1kg de sílica azul.
Espiando pelo buraco da fechadura
Durante toda minha pesquisa sobre os cogumelos, sempre troquei informações com dois amigos mais velhos, que já tiveram experiências muito fortes com cogumelos há uns 30 anos atrás. Seus relatos e experiências, somados as informações obtidas no site, contribuíam para a quebra de mitos e a consolidação de conhecimentos. As expedições em busca da ‘chave’ já tinham sido realizadas com sucesso. Bastava agora a experimentação.
Meu primeiro contato com os Cubensis foi feito na casa de um desses amigos, pois é um lugar reservado e tranqüilo. Ingeri a pequena quantidade de cogumelos crack-dry com suco de laranja. Ele não ingeriu nada. Ficamos conversando e monitorando os efeitos, que foram chegando muito lentamente. Passei a ficar mais calmo, falar menos e a bocejar bastante. O campo visual ficou um pouco mais brilhante e qualquer detalhe prendia minha atenção. Ficava um tempão olhando para um só ponto, imaginando figuras nas texturas da parede. Senti muito peso nas pernas, pressão no estômago e indisposição física.
Internamente minha mente estava agitada. O pensamento vinha solto e em forma de imagens confusas, que surgiam a todo tempo. Travei conflitos internos, com pensamentos dispersos e tive algumas compreensões sobre os processos mentais. O mundo dos devaneios, de idéias que sempre se associam a outras, que puxam outras e mais outras, num processo interminável. Uma região de nossa mente que serve para nos manter afastados do pensamento claro, da verdade, pois nos aprisiona num mundo de ilusão infinita. A Matrix, claramente explicada na minha frente. O inconsciente coletivo? Percebi que era por ali que as pessoas eram ‘pegas’ pelo Sistema, onde elas deixavam de ser o que são em sua essência, e passavam a ser conceitos, dogmas e valores sociais, criados e mantidos por alguns grupos para seu próprio benefício (religião, moda, consumo, dinheiro, símbolos de poder, etc). Grupos esses que nos dizem o que fazer, o que pensar, o que consumir, no que acreditar... Aliás, hoje em dia isso não é feito abertamente, eles estão mais espertos, o processo hoje é mais sutil e eles nos levam a pensar e ter nossas ‘próprias idéias e convicções’ em vez de nos darem prontas. Se antes nos davam a erva daninha já crescida, hoje eles nos plantam a semente...
As imagens que vi internamente nem sempre eram claras e definidas, principalmente as que estavam nas áreas marginais do campo de visão, que pareciam difusas, como que envoltas em um leve nevoeiro. Em todas as cenas havia muito movimento, nada era estático e fixo e parecia que estava ventando constantemente “naquele local”. Durante minhas observações internas, das cenas de milhões de coisas, percebi que surgiu um veículo da esquerda, fez uma curva e parou bem na minha frente, a uma certa distância. Não consegui ver bem o que era, era como uma grua, uma cabine de guincho, trator escavadeira, uma cabine simples, amarelada, onde cabia apenas uma pessoa. Dentro havia um homem, com queixo e nariz finos e compridos, cabelo cheio, penteado para trás e meio para cima. Era uma mistura de Coringa com Máscara e Bobo da corte. Não tinha cara de anjo, também não transparecia maldade, mas em seu rosto era evidente um sorriso sarcástico. Ele me olhou e perguntou o que eu queria ali? Não respondi nada, apenas fiquei observando e não lembro agora o que fiz. Na hora percebi que aquele era o reino dele ou que ele era um guardião do lugar. Esse foi o único momento em que interagi com um elemento daquele ‘mundo’. Durante todo o processo, eu apenas observava as cenas que surgiam a minha frente, como em um filme, onde você é apenas o espectador.
Depois disso eu e meu amigo saímos para caminhar. Senti o corpo bem mais pesado e precisava me esforçar mais que o comum para me movimentar. As estrelas chamavam atenção, o vento chamava a atenção. Poderia sentar na areia da praia e ficar olhando as estrelas o resto da noite. O desconforto físico e estomacal, somado as imagens carregadas de meus processos internos, me fizeram experimentar sensações desagradáveis durante a experiência. Não as defini como ruins, bad trips que tanto falam, mas não era uma sensação de euforia e alegria experimentada por bebidas alcoólicas, por exemplo. Se eu fosse definir a experiência, diria que não fui passear no condado dos Hobbits e sim espiar Isengard...
Segunda parte em: https://teonanacatl.org/threads/uma-porta-para-o-mundo-dos-sonhos.7661/
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