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Uma porta para o mundo dos sonhos - 1a parte

mescalitus

Cogumelo maduro
Membro Ativo
28/05/2009
124
76
Uma porta para o mundo dos sonhos
Um relato sobre a pesquisa e a experiência com cogumelos Psilocybe Cubensis.

A procura da chave

Depois de buscar conhecimento teórico sobre os cogumelos, pesquisando e trocando idéias com membros do site e com amigos mais velhos que já haviam experimentado os cogumelos, parti para o campo em busca dos Psilocybe Cubensis. Já sabia que seria difícil encontrá-los no inverno, ainda mais com as ondas de frio que tem assolado o sul do país nesse inverno de 2009. Mesmo assim saí em buscas pelos muitos campos que existem nos arredores da cidade onde moro. Devo ter andando alguns bons quilômetros a pé, por dentro de potreiros diversos, em zigue-zague, scanniando toda a área delimitada para as buscas.
Numas dessas saídas a campo achei dois pequenos cubs, já entrando na terceira idade. No dia seguinte, em outro pasto, achei dois pequenos jovens. Sequei-os atrás da geladeira e os deixei num pote bem fechado, com um pouco de sílica que veio num eletrodoméstico. Ficaram crack-dry, mas pesavam apenas umas 1,5g, não mais que isso. Fiquei animado e esperançoso de achar mais, o que não aconteceu. Andei mais, gastei mais tempo, e nada. Então resolvi experimentar esse pouco que tinha achado. Mas pude apenas espiar pelo buraco da fechadura. A chave era essa, a porta era essa, mas eu precisava de uma chave maior. Enquanto isso, pensando nas coletas futuras, fiz um túnel de vento e comprei 1kg de sílica azul.

Espiando pelo buraco da fechadura

Durante toda minha pesquisa sobre os cogumelos, sempre troquei informações com dois amigos mais velhos, que já tiveram experiências muito fortes com cogumelos há uns 30 anos atrás. Seus relatos e experiências, somados as informações obtidas no site, contribuíam para a quebra de mitos e a consolidação de conhecimentos. As expedições em busca da ‘chave’ já tinham sido realizadas com sucesso. Bastava agora a experimentação.
Meu primeiro contato com os Cubensis foi feito na casa de um desses amigos, pois é um lugar reservado e tranqüilo. Ingeri a pequena quantidade de cogumelos crack-dry com suco de laranja. Ele não ingeriu nada. Ficamos conversando e monitorando os efeitos, que foram chegando muito lentamente. Passei a ficar mais calmo, falar menos e a bocejar bastante. O campo visual ficou um pouco mais brilhante e qualquer detalhe prendia minha atenção. Ficava um tempão olhando para um só ponto, imaginando figuras nas texturas da parede. Senti muito peso nas pernas, pressão no estômago e indisposição física.

Internamente minha mente estava agitada. O pensamento vinha solto e em forma de imagens confusas, que surgiam a todo tempo. Travei conflitos internos, com pensamentos dispersos e tive algumas compreensões sobre os processos mentais. O mundo dos devaneios, de idéias que sempre se associam a outras, que puxam outras e mais outras, num processo interminável. Uma região de nossa mente que serve para nos manter afastados do pensamento claro, da verdade, pois nos aprisiona num mundo de ilusão infinita. A Matrix, claramente explicada na minha frente. O inconsciente coletivo? Percebi que era por ali que as pessoas eram ‘pegas’ pelo Sistema, onde elas deixavam de ser o que são em sua essência, e passavam a ser conceitos, dogmas e valores sociais, criados e mantidos por alguns grupos para seu próprio benefício (religião, moda, consumo, dinheiro, símbolos de poder, etc). Grupos esses que nos dizem o que fazer, o que pensar, o que consumir, no que acreditar... Aliás, hoje em dia isso não é feito abertamente, eles estão mais espertos, o processo hoje é mais sutil e eles nos levam a pensar e ter nossas ‘próprias idéias e convicções’ em vez de nos darem prontas. Se antes nos davam a erva daninha já crescida, hoje eles nos plantam a semente...

As imagens que vi internamente nem sempre eram claras e definidas, principalmente as que estavam nas áreas marginais do campo de visão, que pareciam difusas, como que envoltas em um leve nevoeiro. Em todas as cenas havia muito movimento, nada era estático e fixo e parecia que estava ventando constantemente “naquele local”. Durante minhas observações internas, das cenas de milhões de coisas, percebi que surgiu um veículo da esquerda, fez uma curva e parou bem na minha frente, a uma certa distância. Não consegui ver bem o que era, era como uma grua, uma cabine de guincho, trator escavadeira, uma cabine simples, amarelada, onde cabia apenas uma pessoa. Dentro havia um homem, com queixo e nariz finos e compridos, cabelo cheio, penteado para trás e meio para cima. Era uma mistura de Coringa com Máscara e Bobo da corte. Não tinha cara de anjo, também não transparecia maldade, mas em seu rosto era evidente um sorriso sarcástico. Ele me olhou e perguntou o que eu queria ali? Não respondi nada, apenas fiquei observando e não lembro agora o que fiz. Na hora percebi que aquele era o reino dele ou que ele era um guardião do lugar. Esse foi o único momento em que interagi com um elemento daquele ‘mundo’. Durante todo o processo, eu apenas observava as cenas que surgiam a minha frente, como em um filme, onde você é apenas o espectador.

Depois disso eu e meu amigo saímos para caminhar. Senti o corpo bem mais pesado e precisava me esforçar mais que o comum para me movimentar. As estrelas chamavam atenção, o vento chamava a atenção. Poderia sentar na areia da praia e ficar olhando as estrelas o resto da noite. O desconforto físico e estomacal, somado as imagens carregadas de meus processos internos, me fizeram experimentar sensações desagradáveis durante a experiência. Não as defini como ruins, bad trips que tanto falam, mas não era uma sensação de euforia e alegria experimentada por bebidas alcoólicas, por exemplo. Se eu fosse definir a experiência, diria que não fui passear no condado dos Hobbits e sim espiar Isengard...

Segunda parte em: https://teonanacatl.org/threads/uma-porta-para-o-mundo-dos-sonhos.7661/
 
Última edição:
Obrigado por compartilhar.

Fica a dica, da próxima vez troque o suco de laranja por um chá de gengibre, bem forte e fresco, um poderossísimo remédio anti-nauseas.

Aumentar a dose te fará passar da porta que sustenta a fechadura :teo_ninja:
 
Sensacional, parabéns pela trip, é vivendo que a gente aprende, na próxima possívelmente você se sairá melhor! :)
 
Fica a dica, da próxima vez troque o suco de laranja por um chá de gengibre, bem forte e fresco, um poderossísimo remédio anti-nauseas.


Acho que o suco de laranja, se for fresco, é bom por causa da vitamina C, tupy.

Eu sou fã da vitamina C na preparação da ingestão de cogumelos.
 
Acho que o suco de laranja, se for fresco, é bom por causa da vitamina C, tupy.

Eu sou fã da vitamina C na preparação da ingestão de cogumelos.

Com certeza, mal não faz.
Mas para os que tem um estômago mais sensível é interessante dar uma chance ao gengibre!
 
Fica a dica, da próxima vez troque o suco de laranja por um chá de gengibre, bem forte e fresco, um poderosíssimo remédio anti-náuseas.
Aumentar a dose te fará passar da porta que sustenta a fechadura :teo_ninja:

Valeu pela dica tupy, vou experimentar o chá de gengibre.Mas você diz ingerir os cogs tomando o chá ou fazer um chá com gengibre e cogs juntos?
 
Mas você diz ingerir os cogs tomando o chá ou fazer um chá com gengibre e cogs juntos?

Você pode optar tanto por um quanto por outro método, mas creio que o segundo é mais aconselhado. Você também pode fazer o chá de gengibre, e bater junto com os cogumelos no liquidificador.

A criatividade é o que vale, mas claro, sem inventar muito para não dar problemas com a eliminação dos princípios ativos, é claro.
 
Mescalitus, eu tenho essa mesma idéia da "chave" para o mundo místico... agora não dá mais para voltar né? abra a porta e sinta a brisa psicodélica!
 
eu faço um chá bem gostoso de gengibre com mel, tomo 30min antes de ingerir os frutos, assim já fico "vacinado" contra eventuais náuseas que os frutos possam vir a querer causar.
 
Eu achei que 2,5g fosse muito pouco e não era. Agora já vi que 1,5g também não é.. apesar de que eram selvagens que, como reza a lenda por aqui, são mais fortes.

Agora, uma coisa não entendi bem mescalitus... 2009????
 
apesar de que eram selvagens que, como reza a lenda por aqui, são mais fortes.


Só se for lenda mesmo.

Há sérias controvérsias se selvagens são mais fortes. Talvez inclusive sejam mais fracos.

O Stamets, por exemplo, cita em algum livro que são menos potentes que os cultivados.
 
Senhores, obrigado pelas dicas quanto ao gengibre e sua preparação/combinação com os cogs. Vou testar na próxima experiência.

Agora, uma coisa não entendi bem mescalitus... 2009????
Você notou? Sim, isso foi em 2009. Estava com ela escrita, registrada, mas só agora decidi publicar. Vou postar os relatos da segunda experiência em seguida.
 
Mescalitus disse:
Internamente minha mente estava agitada. O pensamento vinha solto e em forma de imagens confusas, que surgiam a todo tempo. Travei conflitos internos, com pensamentos dispersos e tive algumas compreensões sobre os processos mentais. O mundo dos devaneios, de idéias que sempre se associam a outras, que puxam outras e mais outras, num processo interminável. Uma região de nossa mente que serve para nos manter afastados do pensamento claro, da verdade, pois nos aprisiona num mundo de ilusão infinita. A Matrix, claramente explicada na minha frente. O inconsciente coletivo? Percebi que era por ali que as pessoas eram ‘pegas’ pelo Sistema, onde elas deixavam de ser o que são em sua essência, e passavam a ser conceitos, dogmas e valores sociais, criados e mantidos por alguns grupos para seu próprio benefício (religião, moda, consumo, dinheiro, símbolos de poder, etc). Grupos esses que nos dizem o que fazer, o que pensar, o que consumir, no que acreditar... Aliás, hoje em dia isso não é feito abertamente, eles estão mais espertos, o processo hoje é mais sutil e eles nos levam a pensar e ter nossas ‘próprias idéias e convicções’ em vez de nos darem prontas. Se antes nos davam a erva daninha já crescida, hoje eles nos plantam a semente...

S.A.C. :fumar:
E assim a fantasia se forma, assim o camaleão se disfarça, assim se é feliz, perdido e aprisionado na condição de um fluxo de incosciência! Com o tempo começamos a receber sinais da formação de uma nova fantasia", tudo voltando aos conformes do funcionamento do ego, da "matrix".
O cogumelo te deixa nú, como um camaleão que acabou de sair de seu ovo, em sua cor original. Com o olhar da criança que um dia você já foi, mas menos ingênua.

Vai encontrar-se em grandes lutas querido, vai descobrir muito, mas volte, volte para casa afirme junto de nós o que você é!

Mescalitus disse:
Era uma mistura de Coringa com Máscara e Bobo da corte. Não tinha cara de anjo, também não transparecia maldade, mas em seu rosto era evidente um sorriso sarcástico. Ele me olhou e perguntou o que eu queria ali?

Acho que conheci o irmão dele!

https://teonanacatl.org/threads/o-sexto-relato-o-palhaço.4190/
 
Daew figurinha! Essa minha experiência foi em julho de 2009, um mês antes da sua do palhaço. :)
Lembro que na época li seu relato e que você usou, durante um tempo, uma imagem de um palhaço sério e sombrio. O meu tava mais para TrollFace...rs

Pode ser que eles sejam irmãos mesmo heim, devem ter o mesmo fundo, podemos pesquisar. Porque em ambos os casos eles se manifestaram como um ser próprio, falaram conosco como se fossem um outro alguém.
Em minha segunda experiência (postada aqui no fórum) vi, num toco de uma árvore meio queimada, a figura perfeita de um lobo e de uma ovelha, ora um ora outro, em tons de cinza e preto (a cor do toco meio queimado). Mas essas figuras não emitiam pensamento, movimento, nada.
Em outras experiências também não tive contato com seres senscientes, tudo estava lá mas nada vinha falar comigo ou perguntar o que eu tava fazendo ali.
São os mistérios da mente mentirosa.
 
Última edição:
Eu acho que não falou, apenas pensei que falou, minha mente criou aquilo porque aquilo tem alguma importância mesmo que inconsciênte para meu eu (ego). Palhaços sempre foram sinais de grande incomodo para mim, que me causavam medo desde a infância ou algum tipo de rejeição... Eu precisava de um palhaço do meu lado, em uma noite escura, desprotegido da morada ou de companheiros, eu precisava de me sentir seguro sem ter onde me esconder, ao lado do palhaço que ali "estava". Cara a cara com o símbolo do medo de tempos de infância...

Um pouco diferente do seu caso, porque eu sabia a minha ligação com aquela figura que sempre rejeitei, evitei. Era um ser comum em minha história. Não era misterioso, mas foi durante minha vida rejeitado por mim.

Muito bom, cogumelos sempre apresentando as "surprezas" interiores.
 
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