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Uma porta para o mundo dos sonhos - 2a parte

mescalitus

Cogumelo maduro
Membro Ativo
28/05/2009
124
76
Uma porta para o mundo dos sonhos
Um relato sobre a pesquisa e a experiência com cogumelos Psilocybe Cubensis.

Segunda parte.

Primeira parte em: https://teonanacatl.org/threads/uma-porta-para-o-mundo-dos-sonhos.7634/

Abrindo a porta

O inverno de 2009 continuava intenso, mas eu continuava minhas pesquisas e saídas a campo em busca de mais cogumelos, sempre com resultados negativos. Já estava sem esperança que fosse ter alguma experiência maior antes do verão. Até que um dia...

Era uma bonita tarde de inverno, o céu estava limpo e o silêncio, que só se ouve longe das cidades, tomava conta de tudo. Já tinha pedalado uns vinte quilômetros por estradas de chão, caminhado em muitos campos, suado muito, estava sujo, com fome e com sede. “Mas ainda dá tempo de ver mais aquele campo ali na frente”, pensava. E lá fui eu ver mais um campo. Falei com o dono, um senhor muito gentil, que permitiu que eu entrasse em suas terras para fazer minhas pesquisas para a ´faculdade´. Uma vaquinha marrom me olhava tranqüila, cuidando de seu pequeno filhote e mascando, mascando... O pasto era pequeno, todo recortado com arbustos e folhagens e nas partes baixas era molhado por alagadiços. O sol banhava tudo com seu dourado vespertino.

Cruzei um muro natural de arbustos e andei um pouco, até que um pontinho dourado no chão chamou minha atenção. Fui até ele, me ajoelhei e parecia que o pequeno cogumelo sorria para mim mais do que eu sorria para ele. Seu irmão, mais tímido, estava escondido sob a grama e ficou ali mesmo, crescendo. Andei mais, achei mais, sorri mais. Os dourados eram visíveis de longe, brilhando ao sol, ou para o sol, espalhados por todo o campo. Nenhum chapéu passava de 7cm de diâmetro, mesmo os velhinhos que já tombavam ao chão. Saí de lá cansado, mas com a sensação de missão cumprida.

Leveis os cubs para a casa, onde foram lavados e colocados para secar no túnel de vento. Depois de secos foram pesados e divididos em cinco porções de 5g cada, que dariam para cinco pessoas. Agora sim, tínhamos cogumelos suficientes para uma experiência positiva. Mostrei os cogs para meu amigo mais velho e marcamos fazer a experiência num sábado próximo, numa lagoa deserta que fica na fazenda de um conhecido nosso, pois era um local pouco freqüentado, mesmo no verão, então no inverno não teríamos surpresas. Levamos 5g crack-dry de cada.

Dia frio de inverno no sul do Brasil, com sol e magia no ar. Fomos cedo para a lagoa, logo após o sol nascer. Chegando lá arrumamos as coisas, uma barraca, um tapetão no chão, cadeiras de praia confortáveis, frutas e água, ninguém na lagoa e em lugar algum, tudo perfeito! Depois de arrumar tudo fomos baixando a poeira, acalmando, relaxando e se interando com o ambiente. Ingerimos os cogs sequinhos com vergamota e ficamos sentados ao sol da manhã, naquele silêncio frio, sob eucaliptos, no gramado que toca a lagoa.

Comecei a me sentir mais calmo, as pernas começaram a pesar. Trinta minutos já haviam se passado e nada. Perguntei a meu amigo se ia ficar só naquilo e, com um sorriso sarcástico no rosto, ele disse para esperar mais um pouco. E não demorou para que começasse a experiência mais forte. De olhos fechados eu via vários fractais em formas diversas. De olhos abertos via mundos de cores destacadas e conseguia ver detalhes de coisas que estavam muito longe. Algumas formações de árvores ao longe pareciam construções da Europa medieval, casas, barracões, castelos simples. De um tronco queimado, que estava a nossa frente, surgiam formas de animais em tons de cinza: um lobo, uma ovelha. Imagens nítidas, definidas, perfeitas! Mas estáticas, sem interagir comigo.

Estávamos em silêncio, cada um na sua, passando pela parte mais intensa e turbulenta da experiência, a decolagem do ônibus espacial, como costumo dizer. De repente do nada, aparece um cara com uma moto Falcon, vestindo uma jaqueta de moto vermelha com preto, usando um capacete colorido. Uma figura totalmente atípica, quase alienígena naquele momento. A moto para perto de nós, um cara desce e vem falar conosco. Era o filho do dono da fazenda, conhecido nosso! “Puts! O que ele veio fazer aqui!”, pensei. Cumprimentamos ele e ficamos conversando trivialidades, tentando parecer o mais ‘normal’ possível. Mas eu estava muito fora de mim! Fiquei sentado na cadeira de praia olhando para ele, que estava escorado em um eucalipto há uns 10/15 metros da gente, vestido com uma jaqueta de motoqueiro vermelha com preto. Ele até achou estranho nos ver ali, mas como já acampei muitas vezes na lagoa e ele sabe que participamos de alguns estudos conscienciais, conversou um pouco mais e nos “deixou em paz”, como ele mesmo disse.

Ele ficou apenas alguns minutos conosco, mas parece que foram duas horas. Durante todo o tempo eu fiquei sentando na cadeira, comendo uma maça, mas meu rosto estava todo dormente e como eu uso aparelho nos dentes, era meio difícil mastigá-la. E para piorar, meu rosto começou a derreter! Diabos, já tinha lido sobre isso, mas nunca tinha experimentado essa sensação. O lado direito do meu rosto derretia como uma borracha mole, o que me lembrava aquele cara do Quarteto Fantástico. E quanto mais eu pensava nisso, mais eu derretia. Cheguei a tocar o rosto e a boca para ver se fisicamente eu não estava reproduzindo a sensação de derretimento que sentia perfeitamente e se não estava que nem um boca mole, me babando todo e com a língua de fora. Mas não, estava tudo no lugar...rs. Então passei a emanar mentalmente para que nosso visitante se fosse! Concentrava minha vontade e projetava nele, no melhor estilo radolkin: “Vai-te amigo!!”. Mas eu fiquei bem preocupado com a presença dele, imaginava que a qualquer momento ele diria: “vocês tão looooco né!” (chapados) e isso seria ruim, devido a nossas profissões, personagens sociais, essas coisas. Mas ele se foi sem desconfiar de nada. Meu amigo confirmou que agimos normalmente, apesar de, internamente, estarmos sendo rachados ao meio!

Ficamos alternando momentos de silêncio e internalização com conversas, compartilhando as experiências, sensações, novas percepções e compreensões sobre as coisas. Percebi um movimento do pensamento: ele parecia feito de várias camadas de imagens, e como tudo na mente, a imagem está carregada de sensações e sentimentos associados. Era como um filme de rolo, onde cada cena é compota por várias fotos, mas devido a velocidade de rotação do filme não é possível ver essas fotos que o compõe. Mas, naquele momento, eu conseguia perceber o movimento do pensamento, seu funcionamento, como um filme de rolo sendo rodado em baixa velocidade (ou eu que estava em alta velocidade?).
Eu via os vários quadros que compõe o filme do pensamento, cada um solto do outro. Cada quadro vinha a minha mente, entrava na tela mental e era reproduzido com suas imagens, emoções e sensações. Percebi que eu podia mudar o quadro quando quisesse, como um aparelho de slides, fosse a imagem/sensação que fosse, e que depois de mudado o slide, somente a imagem/pensamento atual é que existia em minha mente, nada do passado, nada do futuro. Então, entrava um slide, se coreografava com suas imagens e sensações, mas depois saia para dar lugar a outro slide. Ou eu mesmo o mudava propositalmente e ele sumia de vez, com toda sua carga emocional, como se nunca tivessem existido.
Eu conseguia rir um monte pensando ou conversando com meu amigo sobre algo e um segundo depois ficar totalmente sério, sem qualquer lembrança ou fragmento mental/emocional do quadro anterior. Para isso, bastava fixar minha mente no quadro que veio em seguida. Fiquei exercitando meu novo modo de pensar durante um bom tempo e percebi como a mente tende a perpetuar um pensamento ou uma sensação, reproduzindo-a várias vezes, seja ele bom ou mau. Talvez seja por isso que muitas pessoas demoram a se recuperar de traumas.

Saímos para caminhar pelos campos, com casacos e gorros, pois o vento estava bem frio. Mas parece que só sentíamos o frio mesmo quando pegávamos o vento de frente, em nossos rostos. Daí o sensação interna também mudava, ficava mais recolhida, as imagens ficavam mais escuras, sem brilho. Mas quando nos virávamos e pegávamos o sol de frente, a sensação era de conforto, alegria e internamente tudo se abria e expandia. Caminhávamos de vagar, lado a lado, e percebemos como havia uma interação entre a gente. Parávamos ao mesmo tempo, sentíamos o frio ou calor ao mesmo tempo, até a posição do corpo parecia ser a mesma, as idéias surgiam ao mesmo tempo.
Minhas pernas estavam pesadas e enquanto caminhava parecia que minha perna deixava um rastro transparente por onde passava, como uma sombra branca. Entramos em um bosque com figueiras centenárias, de onde caiam barbas-de-velho. Ali dentro era um mundo a parte, uma floresta encantada com árvores gigantes e fadinhas voando entre a gente (borboletas e outros insetos).

Voltamos caminhando pelos gramados, tranquilamente, quando fomos surpreendidos por um vulto vermelho bem atrás de nós. Era um carro, cheio de gente!! Dentro estavam o dono da fazenda e alguns de seus parentes. Outra vez!! Conversamos com ele um pouco e ele disse ter levado os parentes para conhecer a fazenda, pois estava em processo de divisão das terras para os filhos. Mas dessa vez eu estava mais estabilizado. Faz quinze anos que o conheço e que acampo naquela lagoa e apenas uma vez ele foi nos visitar em nosso acampamento, e sozinho, sem filhos de moto, sem parentes de carro. Esse dia foi totalmente atípico, até para eles.
Apesar do outro susto continuamos nossa caminhada pelos campos e nos deparamos com bois na trilha por onde passaríamos. Víamos eles de muito longe, mas pareciam estar ao nosso lado. Parece que podíamos sentir o que sentiam e não pareciam amigáveis. Resolvemos voltar ao nosso acampamento, onde ficamos até o fim da experiência.

Cinco horas depois de ingerir os cogumelos estávamos de volta. Foi engraçado ver que o motoqueiro parou há apenas três metros da gente e não uns dez/quinze como parecia.
Durante todo o tempo senti indisposição estomacal, uma pressão chata no estômago, que transmitia uma sensação ruim se eu focasse a atenção na barriga, então tinha que desviar o pensamento disso.

Fizemos um lanche e passamos o resto da tarde compartilhando nossas experiências e curtindo aquele lugar que se tornou mais mágico do que já é. A mente estava zerada, formatada, calma, íntegra, como deveria ser sempre! Essa sensação de integridade se estendeu por uns quinze dias, mas aos poucos a vidinha rotineira vai tomando seu lugar e o que fica é uma sensação transcendente e inexplicável, que envolve com seu charme de mistério espiritual, consciencial, cósmico, alienígena.
 
Última edição:
abri uma gelada sentei e li.
o suor de gente na pastagem tem cheiro diferente, mais forte, mais humano e menos animal que os outros animais
serve pra avisar os animais que bicho gente chegou, todos se afastam, menos os malditos quero-queros.
esses sim sao perigosos. sao o diabo.
 
atodos se afastam, menos os malditos quero-queros.
esses sim sao perigosos. sao o diabo.


Sempre ouvi e vi os quero-quero ameaçarem muito, mas nunca soube de um caso onde chegaram às vias de fato.

Mas são muito engraçados.
 
Eu adorava fugir dos quero quero quando muleke! rsrs
 
Sempre ouvi e vi os quero-quero ameaçarem muito, mas nunca soube de um caso onde chegaram às vias de fato.

Mas são muito engraçados.
sob efeito, um quero quero eh uma invasao alienigena ao seu proprio corpo.
sua mente sofre ataques da luz do sol/e a sombra que eles geram, rodopiando ao seu redor no ar.
e a posicao instintiva de agachar-se e andar arqueado enquanto gira o pescoco toda hora pra ver se o ataque nao esta vindo pelos flancos acaba misturando o ceu / a terra, e os gritos:
KIAAA KIAA KIAAA com echos infinitos!
 
sob efeito, um quero quero eh uma invasao alienigena ao seu proprio corpo.


Sob efeitos, bem, já viu passar umas daquelas ambulâncias com muitas luzes giratórias, de cores diferentes, com a sirene ligada?

É a própria nave mãe :D
 
Sob efeitos, bem, já viu passar umas daquelas ambulâncias com muitas luzes giratórias, de cores diferentes, com a sirene ligada?

É a própria nave mãe :D
mafufi e parasense me botaram sob FORTES E INTENSOS efeitos dentro do meu del-rey ghia, que maquina impressionante.
E ANDA ainda, eu fiquei tao embasbacado com tanta informacoes, botoes e etc que me amarram com os cintos de seguranca e tocaram (na chuva) os 90 km entre a reserva da pavuna e bauru.
a gente tinha tomado os fungos de manhazinha, com pao e manteiga e um cha de hortela quentinho em cima do morro, comemos um pouquinho so (saco de 5k de arroz cheio de PESA sequinhos do tamanho de um palitinho de fosforo cada...)
eu tava Morto de fome esse dia, comi muito mesmo ehheeh
neles era meio dia tinha passado, tava vindo uma chuva muito forte e o para tinha sido picado por uma abelha.
eu ainda fiquei sob efeitos largado na casa do mafufi ate a meia noite.
mas que maquina impressionante era meu del-rey.
 
Mas então fala tu mescalitus... desta vez você encontrou a chave né? Era compatível com oburaco da fechadura?;)

Em uma onda linda que tive uma vez.. eu consegui ver pelo buraco da fechadura. :eek: Fiquei muito feliz e me sentindo totalmente privilegiado de ter tal oportunidade. Achava, naquele momento, que este era o máximo que nós mortais poderíamos chegar da porta. Mas agora, com os cogus, tirando pela força que os julguei com doses tão pequenas consumidas por mim, estou acreditando que poderei fazer uma visita ao outro lado da porta.. :sneaky: e não apenas ficar bisbilhotando pelo buraco da fechadura. Tomara que eu consiga. Tomara que você tenha conseguido. Tomara que consigamos em diversas oportunidades.
 
muito massa o relato! gostei da sobriedade dos caras!!!
valew! abraços!
 
Fizemos um lanche e passamos o resto da tarde compartilhando nossas experiências e curtindo aquele lugar que se tornou mais mágico do que já é. A mente estava zerada, formatada, calma, íntegra, como deveria ser sempre! Essa sensação de integridade se estendeu por uns quinze dias, mas aos poucos a vidinha rotineira vai tomando seu lugar e o que fica é uma sensação transcendente e inexplicável, que envolve com seu charme de mistério espiritual, consciencial, cósmico, alienígena.

ahhhh que hora boa essa.
 
saudade daquele del rey, e do mafufi e do parasense ao alcance das minhas maos...
mafufi a ultima vez que vi tava vivendo em CUBA, e parasense no para...
saudade irmaos.
TEMPOS QUE FIZERAM CICATRIZES EM EXISTENCIAS.
criaram boa parte do que vemos como realidade agora.
 
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