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Um aspecto de ocorrência frequente.

brunomg

Cogumelo maduro
Membro Ativo
25/06/2006
314
73
Gostaria de falar sobre um aspecto de ocorrência frequente nas experiências com cogumelos, que é a percepção da imagem alterada.
Uma das mais frequentes em mim é o aumento ou diminuição da capacidade de capturar imagens por um periodo de tempo, equivalente a frequência em hertz de uma exibição.
A sensação é da visão de uma maior ou menor quantidade de imagens por um periodo, ou seja, o melhoramento da clarevidência da realidade.
Essa sensação é responsavel também por um desencadeamento de sensações psicológicas, como distorção do espaço, compressão ou expansão do tempo psicológico, maior atenção sob os detalhes e maior distinção entre os limites de um objeto.
Frequentemente o aumento na capacidade de capturar imagens se apresenta nos primeiros minutos da experiência e ou enquanto o estado físico esta bom e gozando de muita energia, e a diminuição na capacidade de capturar imagens ao final da experiência, quando geralmente o corpo esta ja debilitado pelo cansaço excessivo.
Pode ocorrer mudanças durante a experiências, mas sempre relacionadas a configuração hormonal que determinam o cansaço e a disposição, o sono e a vigília...

Esse aspecto é extremamente positivo na minha opinião e o de maior frequencia também, vocês tem alguma experiência relacionada a isso, algumas opiniões a respeito dessa alteração na capacidade de capturar imagens ?
 
pois é...
600 bilhoes de frames por segundo.
:pos:

É dificil calcular com exatidão a quantidade de frames por segundo que podemos capturar.
Eu identifico este melhoramento na faculdade da visão com um melhoramento na própria experiência visionária do mundo e uma intensificação na contemplação, o que traz um estado emotivo e profunda admiração da realidade, tal que as vezes chega até paralizar.
 
brunomg disse:
maior distinção entre os limites de um objeto.

Perfeito!
Outra coisa que não consigo explicar muito bem é a visão "por cima" que se tem das coisas... Como se eu estivesse jogando Age of Mithology III, sabem?

brunomg disse:
o que traz um estado emotivo e profunda admiração da realidade, tal que as vezes chega até paralizar.

Acho que isso ocorre com todos, Bruno, profunda admiração da realidade ou da ilusão (afinal, qual dos dois é a real realidade? se é que ela existe...)..

Abraços.
 
Acho que isso ocorre com todos, Bruno, profunda admiração da realidade ou da ilusão (afinal, qual dos dois é a real realidade? se é que ela existe...)..

Cara ai tem certas palavras de Nietzsche que devemos pensar sobre.

Do que adiante me nutrir da melhor carne, se vou padecer de fome em outro tempo? (Ele julga o outro tempo ser o verdadeiro, ao menos em minha interpretação, interpretem como quiserem)

É medonho.
 
Acho que isso ocorre com todos, Bruno, profunda admiração da realidade ou da ilusão (afinal, qual dos dois é a real realidade? se é que ela existe...)..

Abraços.

Não deve haver uma partição dessas da realidade enquanto a sua consciência alterada, a realidade não é uma única face da realidade, tal que é vista apenas pela consciência "normal".
A realidade é também vista pelos olhos de uma pessoa alterada pelo cogumelo, porque a realidade é justamente o que se vê fora do Eu, o que não depende do Eu, o não-Eu, e quaisquer que sejam as diferenças entre a realidade vista pela consciência normal e a consciência alterada, só pode ser justificada pela mudança no próprio sujeito.
A realidade também se altera com a alteração da consciência, porque o sujeito faz parte da realidade, e neste sentido sim a realidade foi alterada, ouve na realidade um ente que percebeu as coisas por uma outra perspectiva, e isso agora é real e pode ser presenciado por todos os entes a sua volta - você continua ali junto a eles.

A minha melhor definição de realidade é que ela é aquilo cujos elementos que constituem a realidade de um sujeito concordam com os elementos da realidade de TODOS os outros.
A partir do momento em que experimentamos esta mesma experiência da alteração na visão, isso sem sombra de dúvidas está mais próximo de ser realidade, vejo agora uma maior evidência disso, e suspeito que seja assim sempre e com qualquer que seja a pessoa que experimente essa sensação pelo cogumelo, isto torna real aquele "cenário" diferente da realidade, é apenas um outro modo de ver uma mesma realidade.

PS: Isso me lembrou de uma colocação importante, estas intensificações e perdas de intensidade na percepção da realidade está relacionado com a mudança no irrigamento de energia pela substância do cogumelo.
Tecnicamente a psilocibina deve aumentar as reações de fornecimento de energia pros neuronios e diminuir, de acordo com o estado da molecula e da reação com as outras substâncias, por isso ocorre aumentos e diminuições na intensidade da visão e dos sentidos em geral.
 
Belas e sábias palavras, Bruno.

Mas não me refiro à clássica concepção de realidade (a exterior), até porque isso pode nem mesmo existir... Como diria o Loucomelo, talvez o Japão seja uma invenção da sua mente! Talvez eu seja uma invenção da sua mente! Talvez seu corpo físico seja uma invenção da sua mente... e talvez sua mente não exista. Então, livre dos conceitos "normais", o que é a realidade?

Penso que o que cremos ser a realidade é apenas uma faceta do universo interior (sim, interior) manifesto mais intensamente na maioria do tempo. Quando sob efeito de cogumelos, conhecemos outras facetas de nosso universo, ou contemplamos a faceta "dominante" distorcida.

A metafísica é linda!

Desmistificando... Bem, talvez a sua mente "realmente" exista e tudo seja apenas reações químicas. =/

Abraços!
 
Belas e sábias palavras, Bruno.

Mas não me refiro à clássica concepção de realidade (a exterior), até porque isso pode nem mesmo existir... Como diria o Loucomelo, talvez o Japão seja uma invenção da sua mente! Talvez eu seja uma invenção da sua mente! Talvez seu corpo físico seja uma invenção da sua mente... e talvez sua mente não exista. Então, livre dos conceitos "normais", o que é a realidade?

Penso que o que cremos ser a realidade é apenas uma faceta do universo interior (sim, interior) manifesto mais intensamente na maioria do tempo. Quando sob efeito de cogumelos, conhecemos outras facetas de nosso universo, ou contemplamos a faceta "dominante" distorcida.

A metafísica é linda!

Desmistificando... Bem, talvez a sua mente "realmente" exista e tudo seja apenas reações químicas. =/

Abraços!

Eu sei qual crítica da realidade ingênua é esta, é a crítica de Decartes, a originária da celebre "Cogito, ergo sun".
Essa é a raiz do |Idealismo filosófico, que posteriormente vai vir ser a fonte para as concepções modernas da realidade - o Subjetivismo - que prega a realidade ser parte do sujeito.

Ja o realismo não cai por terra quando Decartes afirma ser possível duvidar de toda realidade pelo simples fato de que nossos sentidos não são competentes e que a realidade pode bem ser um sonho. (argumento dos sonhos - Decartes)

O problema é que estas duas concepções - Idealismo X Realismo tem ambas representantes muito fortes, são ambas opostas mas verdadeiras, a realidade extra-mental existe EEE (porém) a realidade é apenas construção mental.

Como conciliar isso fica a critério de cada um e da parte filosófica que existe em cada um de nós, porque é um absurdo existente!!

Ha uma solução, Schelling da origem a uma idéia chamada "faculdade supra-sensível", onde chama de "real" não os entes extra-mentais, e nem chama "real" toda construção intelectual, mas chama de real a coexistência entre esses dois, entre os objetos e o sujeito, entre o sujeito cognoscente e o objeto de conhecimento, e diz existir uma ligação entre esses dois ultra-sensível, mas que ainda é possível de ser vista segundo uma faculdade supra-sensível que o homem tem de sintetizar os objetos com o sujeito, o SEU próprio sujeito.
 
Muito interessante esse seu último parágrafo (assim como todo o texto e os demais posts de sua autoria que tenho lido)...

Eu não sabia que o que eu tinha dito era Descartes, mas agora fiquei ansioso para ler!

Bem, eu sou um mero aprendiz do universo, tenho muito ainda sobre o que pensar. Obrigado pela atenção, Bruno, é ótimo ser rebatido por alguém mais bem informado.

Abraços!
 
É dificil calcular com exatidão a quantidade de frames por segundo que podemos capturar.
.
é nada!
eu contei esses dias atras.
tinha a eternidade nas maos, e o tempo era manipulável.
contei a frequencia.
pode colocar à prova.
:)
Eu identifico este melhoramento na faculdade da visão com um melhoramento na própria experiência visionária do mundo e uma intensificação na contemplação, o que traz um estado emotivo e profunda admiração da realidade, tal que as vezes chega até paralizar
eu fico pouquissimo tempo nesse estado contemplativo onde ainda é possivel interagir com coisas "comuns" táteis, visuais e sonoras.
Fale mais pra mim sobre isso que é a parte que me interesso mais das experiencias.
Nao vejo tanto as coisas derretendo, ou photoshopadas.
No maximo meu rosto se transformando em reptil, as vezes, ou o braço se tornando arvore, mas é algo tao natural que nao estranha a atençao.
 
Ah! Mais uma pergunta... Waking Life (o filme) é baseado em idéias de Descartes?
 
sobre a percepção de imagens, creio que aumentam os frames por segundo, e as imagens em primeiro plano (geralmente pessoas, animais), ficam mais detalhadas, algo parecido com GTA Vice City.

Já sobre a realidade, depois dos coguns pude perceber que como passamos a maior parte do tempo trancados em nós mesmos ao invés de interagir com o mundo, ou seja, pensamos mais do que agimos, criamos uma realidade própria. A realidade é individual.

A realidade é a imagem deformada de um objeto que nunca vemos, projetada no espelho imperfeito que é a mente de cada um. Alguém pode vir e dizer que somos loucos e que o que é real é real, mas a palavra realidade é usada tanto e erramos tanto quando dizemos que algo é real que a palavra realidade já não serve. Esse objeto que nunca vemos pode ser denominado como o presente da iluminação total. Na verdade nem sei se ela existe. Mas quando usamos coguns podemos ver que o mundo pode parecer beeeeeem diferente. O que é amor vira ódio, o que era ódio vira amor, o que eram teorias loucas viram dogmas irrevogáveis.

Alguém pode vir dizer que 1+1=2, ou coisa assim, mas vc entenderia um sistema de numeração vigesimal? Ou compreende por que, em algumas culturas indígenas não existe o zero? E o efeito placebo? E as controversas perante as vantagens da vitamina C? E OS ÁTOMOS? E O TEMPO?

eu to doido...

impossible_cube.jpg
 
CordeiroImolado disse:
A realidade é a imagem deformada de um objeto que nunca vemos, projetada no espelho imperfeito que é a mente de cada um.

Teoria da caverna de Platão?

Quanto ao tempo, ele não existe. Essa teoria que formulei indo de ônibus de Chapecó a Pinhalzinho já estava em minha mente ha um certo tempo, surgiu em uma viagem de cogumelos e foi amadurecendo até se tornar extremamente claro pra mim: o tempo não existe!

Não tenho como explicá-la em palavras agora, tentarei semana que vem, prometo, mas basicamente, o que chamamos de tempo foi inventado pelos seres humanos para facilitar a vida. Atribuímos uma dimensão ao tempo e nos condicionamos a pensar que ele faz parte do universo, mas em meu pensamento não faz. Ciclos existem, o dia, a noite, as estações... O tempo não.
 
Há muitos anos um dos dogmas da biologia é de que as bactérias produziriam sua energia numa pequena usina chamada mesossomo, uma dobra da membrana celular repleta de enzimas. Recentemente vieram a observar que bactérias que eram observadas sem a presença da lamínula não apresentavam mesossomo, o mesossomo seria uma dobra ocasionada pelo contato da bactéria com a lamínula, e ele não existiria em condições naturais.

É uma teoria cheia de controvérsias, mas é impressionante como algo tão velho pôde ser contestado. Será que não vemos o mundo em cima de uma lamínula? ^^
 
Ah! Mais uma pergunta... Waking Life (o filme) é baseado em idéias de Descartes?

Pela minha interpretação do filme Greenomo, eu penso que o filme tenha influências baseadas nas idéias de Sartre e Descartes.
Grande abraço, grande Greenomo. :)
 
Muito interessante esse seu último parágrafo (assim como todo o texto e os demais posts de sua autoria que tenho lido)...

Eu não sabia que o que eu tinha dito era Descartes, mas agora fiquei ansioso para ler!

Bem, eu sou um mero aprendiz do universo, tenho muito ainda sobre o que pensar. Obrigado pela atenção, Bruno, é ótimo ser rebatido por alguém mais bem informado.

Abraços!

Na verdade, Decartes foi o primeiro a elucidar esta questão por uma perspectiva filosófica, em seu livro "Discurso do Método" ele narra toda tragetória que o fez parar de crer na realidade ingênua e propoe um novo método pelo qual podemos chegar a conhecer o mundo, que é segundo a dúvida quanto as existências dúbias e crença apenas no conhecimento de coisas certas.
No ápice da obra acontece a grande revelação da principal idéia dele, no momento em que ele se vê duvidando de absolutamente tudo, percebe que jamais pode duvidar de que existe uma coisa que está duvidando, então começa por definir como a primeira certeza universal uma coisa que duvida - res cogitans.
A partir daí começa a fundar o conhecimento apenas em certezas absolutas que seriam extensão desta pequena certeza da res cogitans, e vai além, conclui que não se pode também duvidar de que existimos, porque se existe uma res cogitans, existe uma coisa que pensa, e se alguma coisa pensa, ela ja existe - cogito, ergo sum (penso, logo existo).

Na verdade essa foi a primeira vez na história que essa questão foi mais bem elaborada, inverte-se o sentido do conhecimento, o conhecimento passa a partir do sujeito e ir em direção ao objeto (ao contrário do realismo, onde os objetos existem e portanto o conhecimento deles parte dos objetos e atingem o sujeito).
Isso veio a se chamar idealismo, por se tratar de conceber o mundo, a existência e todas as coisas como idéias e não como entes reais.

Porém antes, em Platão, ja se via pequenos fragmentos desse idealismo em sua teoria do Mundo Platonico, a filosofia é assim, um desenvolvimento e um desdobramento, nunca um filósofo tira da "cartola" uma teoria ou uma representação metafísica, ele adquiri conhecimento e desenvolve ele, foi isso que se viu também nesse ponto, Decartes desenvolveu um pouco as idéias de platão, que por sua vez desenvolveu as idéias de Sócrates, Parmenides, Heráclito, etc.. Até infindável antiguidade onde se perde na história do homem a origem... A tão questionada origem...

Se vocês ja acham impressionante esta revira-volta na realidade das coisas em Decartes, então eu digo que não chega nem aos pés do feito IMPRESSIONANTE que Immanuel Kant provoca na história do conhecimento, ele simplismente desmonta de trás pra frente o conhecimento racional e o conhecimento empírico, encontra 12 formas lógicas de se pensar, resumidamente, ele acha as únicas 12 ferramentas das quais o homem havia usado na razão, e portanto cria uma divisão de aguas ABSURDAMENTE grande, ao tornar possível novas formas de pensar.
Não é só isso, mas simplismente me limito a dizer isso porque eu me considero incompentente pra reproduzir o seu feito metafísico, de tão grandioso que é, mas só digo que é muito mais, entra na esféra da estética dos objetos e das coisas, nomenos e fenomenos, coisa que precisa de MUUUUITO tempo pra discutir e visualizar...
 
Não só Waking Life, mas muitos filmes tem bases em conceitos filosóficos e no idealismo, tal como Matrix é um ótimo exemplo...
Olha só a concepção do mundo de matrix, como uma ilusão criada virtualmente e gerada de acordo com uma matrix de valores métricos que constituem as formas geométricas e imagens reais, introduzidas diretamente no sistema nervoso do sujeito, reproduzindo assim a realidade.
Puro Idealismo, e isso nasceu a mais de 600 anos...
 
Grande explicação, Bruno!
Dá uma coceira pra ler Kant e Descartes!
mas agora to lendo Nietzsche, cada coisa em seu tempo!

Abraços.
 
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