Interessante, li apenas a introdução mas da pra ver claramente o teor da tese.
Porém, como eu sempre apregoo aqui, e você parece tangenciar, mas não assumir com toda responsabilidade que isso implica, um ponto de vista parecido: O conhecimento proveniente da experiência psicodélica é uma classe de conhecimentos sensíveis, que se opoêm com frequência ao conhecimento racional.
De que modo um conhecimento sensível pode traduzir-se como uma evolução no seu modo de Ser e agir ? Como um conhecimento sensível pode te trazer a compreensão da Vida ?
Esse é o ponto, uma vez que é prache na própria psicologia, que a compreensão se opôem aos estados afectivos e emotivos, nos quais acaba caindo a experiência psicodélica, eu não vou entrar no mérito dessa questão.
Compreender a Vida não tem muito a ver com a experiência psicodélica e nem é resultado do conhecimento proveniente dela de modo central, mas é do contrário, silenciar os mais profundos instintos de desejo, renegar essa vontade por colocar-se novamente em estados de agitação afetiva, conduzida pelas lembranças das experiências anteriores, o que caracteriza o vício, no sentido mais metafísico da palavra, ou seja, no sentido Grego.
O vício é o mecanismo destrutivo da Moral, (mores, do grego, costume)
A virtude aqui também se caracteriza como o contrário, aquilo que age em nós, verdadeiramente trancendente: quebrar toda sua velha tábua de valores morais e valores naturais, por decidir uma coisa inédita na atitude, e na vida.
"Jamais encontrará a verdade aquele que, por sendas ja perscrutadas pretende encontrar outra coisa, ao que ja foi revelado."
Uma única experiência psicodélica ja é suficiente, por dedução da inteligência, para chegar a conhecer essa profunda mudança de carater psicológico em si mesmo da substância.
Mais que isso, pra fazer uma analogia com Heidegger, é "como caminhar numa trilha ja conhecida, no intúito de que leve para outro lugar".
Viver, e mais amplamente, existir e conhecer o existir, ou auto-conhecer, é como adentrar numa imensa floresta: Existem mil tilhas ja marcadas, todas levam para lugares conhecidos...
Trancender, não é necessariamente abrir uma nova trilha, (ou, como é moda agora o "exótico", seguir uma que poucos conhecem) mas é justamente a autenticidade com que escolhe a trilha que irá seguir, ainda que seja uma que ja foi seguida por outros.
E nesse intento, só existem dois tipos de pessoa: As que são autênticas, e as que não são; e isso reflete nos seus olhos.
A responsabilidade que vejo aqui omitida (e por isso a falta de autenticidade nas pessoas) é o dever de censurar o uso de psicoativos uma vez que ja conhece seu potencial de risco, e sua relação de benefícios e inconvenientes.
Toda situação inusitada é uma fonte de conhecimento, não só a nova coleção de conhecimentos sensíveis; O simples olhar para um canto da casa que nunca mereceu atenção, é uma fonte de conhecimento.
Se quisessemos uma nova experiência e isso for uma vontade autêntica, simplismente conduziriamo-nos para situações verdadeiramente inusitadas, como o simples caminhar no parque, a leitura do poeta antigo, e coisas simples das quais ainda não tivemos experiência, por mais "espiritualmente evoluidos" que julguemos nós... dar bom dia ao porteiro, sorrir pra velhinha na rua.
Para evoluir seu espírito, pergunte-se primeiro: "Quantas vezes ja superei a mim mesmo, hoje?" E se indignará com o ritmo ordinário e o engessamento que se encontra o seu Ser: tabalho, estudo, comer, dormir....
São todas coisas, pequenas coisas que demandam da mais profunda vontade da vida virtuosa, é dificil e dói todo instante de que decide por essas escolhas, mas são as coisas que dão direito à pessoa reclamar sua autenticidade... embora sejam só pequenas coisas.
Quero que avaliem o tamanho dessas coisas... Será mesmo que insistir na repetição de um habito, é uma grande coisa ?
Mas como disse, para não ser paradoxal devo lembrar, não li a tese inteira, apenas a introdução, e espero profundamente que no desenrolar contenha as devidas ressalvas sobre os malefícios da substância em questão, o que garantiria muito mais a credibilidade da tese, como um conhecimento verdadeiramente científico, isto é, neutro.
Abraços.