- 16/12/2013
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Salve!
Acompanho o fórum há uns anos, mas nunca tive algo para compartilhar. Meu primeiro relato será sobre a minha segunda experiência com Psilocybe Cubensis, que aconteceu na noite de sábado para domingo (14 e 15/12). Acredito que já li bastante sobre o assunto, tenho experiências com outros psicodélicos/enteógenos desde 2007 e sempre (depois de aprender com mancadas) busquei levar em consideração o ambiente, a companhia, o meu estado mental e a qualidade da substância para uma experiência saudável. Ou seja, Set e Setting.
Minha primeira experiência com cogumelos foi em Amsterdã, em fevereiro desse ano. Comi uma trufa de 15g em um quarto de hotel com um amigo (que comeu a mesma quantidade). Começamos com 5g pelas 11h da manhã e uns 40min depois, quando os efeitos começaram a surgir, tomamos as outras 10g - conforme indicação dos (vários) vendedores e dos diversos panfletos informativos (que são obrigatoriamente distribuidos nas lojas pelos fabricantes das trufas) que lemos ao longo de uns 4 dias de preparação. Tenho os panfletos aqui comigo, se quiserem posso escanear e postar, talvez até em outro tópico. Achei a experiência bem forte, caótica, profunda, percebi que não tinha o poder de controlá-la, mas considerei positiva. De olhos abertos, a distorção das formas me inspirava clareza. De olhos fechados, formas geométricas me eram belas. Vi o mundo de outro ângulo.
Então, ontem, minha segunda experiência me pegou completamente de surpresa. Eu estava me planejando há uns meses para iniciar o meu primeiro cultivo em casa, mas como ainda não moro sozinho, acabei optando pelo Kit de Cultivo. Sei que os participantes aqui do fórum são contra o Kit, mas optei por uma questão de espaço, discrição, agilidade e para adquirir uma primeira experiência. Não pretendo usar o Kit novamente. Aprendi a fazer a secagem e conservação em sílica aqui no fórum e deu tudo certo. Segui o método de secagem de um vídeo do Beraldo. Agradeço pelas informações detalhadas.
Convidei um amigo para comer os cogus aqui na minha casa, estávamos sozinhos, era de noite. Colocamos colchões no chão, ligamos as caixas de som e ligamos no www.stereodose.com. Comemos pouco ao longo do dia, basicamente frutas e salada, seguido de umas 3-4 horas de jejum. Os cogus secos pesavam ao todo 6g, dividimos e cada um comeu 3g. Pelo que li aqui no fórum e no www.erowid.org, achei que era uma dose média e fiquei tranquilo quanto a isso. Comemos os cogumelos pelas 23h com um pouco de água para ajudar a tirar o gosto e logo deitamos para curtir a música.
Em cerca de 20min, os efeitos começaram. Tudo estava indo maravilhosamente bem, mas se intensificando rápida e exponencialmente. Começou com uma sensação de leveza, relaxamento, seguida de risadas, coração levemente acelerado, fusão dos sentidos, visualização de formas geométricas intensas com os olhos fechados... Meu amigo parecia em sintonia comigo, mas ele queria conversar em alguns momentos que eu queria apenas ficar em silêncio e de olhos fechados contemplando as formas. Nesse momento, me questionei sobre a validade de tomar cogumelo acompanhado - o fiz mais por uma questão de segurança. Até que num momento, deitado sozinho no colchão, comecei a sentir falta da minha namorada. Temos uma relação boa, mas ela não se interessa por cogumelos nem nada do tipo. Careta (na falta de uma palavra melhor), mas sensível e tolerante quanto a minha busca. Então preferi falar para ela ficar na casa dela, em vez de ficar 6 horas massantes me observando com o meu amigo. Isso acabou me causando um leve mal estar, daí pra frente minha memória passou a não registrar a experiência com nitidez. Até que, de repente, me lembro de me acordar no dia seguinte às 6h da manhã, com a minha namorada ligando, após uma noite de um suposto "pesadelo" intenso e real. Para a minha surpresa, meu amigo não estava ali no colchão dele. Os pertences dele também não, nem a minha chave de casa. Fiquei chocado e comecei a ligar os pontos na minha memória - tudo em poucos segundos. Minha mãe estava dormindo no quarto dela - diferente do planejado, pois minha mãe estava dormindo na casa do meu padrasto e só voltaria no dia seguinte, de noite. Comecei a lembrar com clareza tudo que havia ocorrido de noite, durante o efeito dos cogumelos. Quis dar uma de avestruz e enfiar a minha cabeça num buraco, na esperança de que ninguém me visse. Não de medo, mas de vergonha.
Minha memória se recompondo, pude lembrar de, logo após ficar encucado com essa questão da minha namorada, ouvir uma ambulância passar pela minha rua. A sirene da ambulância imediatamente remeteu meu pensamento à minha vó que está doente. "Minha vó morreu e estão indo buscá-la", pensei. Desliguei a música e falei para o meu amigo: minha vó morreu. Aquele pensamento colou em mim e fez todo o sentido do mundo. Detalhe: minha vó está doente, mas nada de estado terminal. Estava convicto que a minha vó havia morrido, não havia espaço para dúvida. Levantei, peguei o meu celular e liguei para a minha namorada para avisar que a minha vó havia morrido. Depois liguei de novo para falar que a minha mãe havia morrido. No fundo, eu nem sabia quem havia morrido, só sabia que alguém havia morrido. Ligava, desligava, ela me retornava, eu ligava de novo, várias vezes durante uns 20 minutos. Falei que ia ligar para minha mãe, e ela disse para eu não fazer isso. Liguei para a minha mãe em seguida para dizer, entre outras coisas, que a minha vó morreu. Liguei diversas vezes para ela também, com segundos de intervalo entre as ligações. No dia seguinte, minha mãe me disse que eu falei palavras pela metade, uma mistura de idiomas, um dialeto. Ela não entendia nada, gritava comigo no telefone perguntando o que estava acontecendo e eu não respondia. Eu via o que estava acontecendo, mas me parecia um filme, algo alheio a minha pessoa. Uma realidade que acontecia independente de mim - mesmo eu sendo o autor daquela situação.
Não me lembro de levantar para pegar o telefone. Só me lembro de estar um tempão no banheiro ligando para a minha namorada e minha mãe, mas não de maneira racional. Eu parecia algo a parte de tudo aquilo que estava acontecendo diante dos meus olhos. Eu parecia estar fazendo apenas o que eu deveria fazer, inquestionavelmente. Lembro de estar atordoado, pois todo esse momento do banheiro com o telefone eu estava de frente para o espelho e com uma luz forte ligada. Lembro de ser uma mudança brusca de ambiente, pois antes do banheiro eu estava na sala com o meu amigo, no escuro, de olhos fechados e com música.
Algumas horas depois, me lembro de estar deitado de novo no colchão, minha mãe chegando em casa com o meu padrasto, olhando para mim com espanto, falando comigo e eu não respondia. Mesma sensação de antes, de estar alheio ao que eu via, imerso nas profundezas do meu pensamento. Depois lembro de dormir no chão, ao lado do colchão, de barriga para baixo para fugir da luz. Meu corpo estava meu dolorido por estar no chão, mas como eu só olhava para baixo e só via o chão, achei que estava sonhando e não tinha o poder de sair dali.
Até que eu acordei às 6h da manhã, como falei no início desse texto, com a minha namorada me ligando. Comecei a andar pela casa, assimilar tudo e querer sumir da face da Terra por vergonha, por ter mobilizado tantas pessoas por causa da minha experiência. Fiquei sentado na sala meditando, até que a minha mãe apareceu e falou, sonolenta: "Filho, tu viajou legal". Me explicou brevemente o que eu fiz e voltou a dormir. Para minha sorte, minha mãe cresceu na geração hippie e andava com pessoas que tomavam cogumelo, mas ela tinha medo de tomar por causa dos relatos de amigos.
Depois liguei para a minha namorada e para o meu amigo, que foi embora da minha casa por medo do meu estado e medo de vir a ficar como eu. Entendo ele, era a primeira experiência dele com os cogumelos. Ele disse que me sacudia, pedia para eu não ligar para ninguém, dizia que estava tudo bem, mas eu olhava e não respondia. Ainda no banheiro, ele me deu um pedaço de abacaxi (antes de tomarmos os cogumelos, eu havia sugerido o abacaxi como fonte de vitamina C para ajudar no caso de uma experiência muito forte), mas em vez de comer, fiquei esfregando o abacaxi no meu corpo.
Ontem passei o dia chocado, envergonhado, me lamentando, com juras de não repetir a experiência jamais. Minha mãe e a minha namorada ainda estavam meio assustadas.
Hoje acordei super disposto, uma nova pessoa, pronto para outra e dando risada com a minha mãe sobre o ocorrido. Que coisa!
Gostaria de uma opinião sobre a experiência. Quais foram os fatores que mudaram totalmente o rumo da minha experiência? A dosagem? A ambulância? A minha companhia? Me olhar no espelho com a luz ligada? Muito planejamento? Tomar longe da minha namorada? Fiquei bem surpreso sobre a proporção que tudo tomou.
Abraço!
Acompanho o fórum há uns anos, mas nunca tive algo para compartilhar. Meu primeiro relato será sobre a minha segunda experiência com Psilocybe Cubensis, que aconteceu na noite de sábado para domingo (14 e 15/12). Acredito que já li bastante sobre o assunto, tenho experiências com outros psicodélicos/enteógenos desde 2007 e sempre (depois de aprender com mancadas) busquei levar em consideração o ambiente, a companhia, o meu estado mental e a qualidade da substância para uma experiência saudável. Ou seja, Set e Setting.
Minha primeira experiência com cogumelos foi em Amsterdã, em fevereiro desse ano. Comi uma trufa de 15g em um quarto de hotel com um amigo (que comeu a mesma quantidade). Começamos com 5g pelas 11h da manhã e uns 40min depois, quando os efeitos começaram a surgir, tomamos as outras 10g - conforme indicação dos (vários) vendedores e dos diversos panfletos informativos (que são obrigatoriamente distribuidos nas lojas pelos fabricantes das trufas) que lemos ao longo de uns 4 dias de preparação. Tenho os panfletos aqui comigo, se quiserem posso escanear e postar, talvez até em outro tópico. Achei a experiência bem forte, caótica, profunda, percebi que não tinha o poder de controlá-la, mas considerei positiva. De olhos abertos, a distorção das formas me inspirava clareza. De olhos fechados, formas geométricas me eram belas. Vi o mundo de outro ângulo.
Então, ontem, minha segunda experiência me pegou completamente de surpresa. Eu estava me planejando há uns meses para iniciar o meu primeiro cultivo em casa, mas como ainda não moro sozinho, acabei optando pelo Kit de Cultivo. Sei que os participantes aqui do fórum são contra o Kit, mas optei por uma questão de espaço, discrição, agilidade e para adquirir uma primeira experiência. Não pretendo usar o Kit novamente. Aprendi a fazer a secagem e conservação em sílica aqui no fórum e deu tudo certo. Segui o método de secagem de um vídeo do Beraldo. Agradeço pelas informações detalhadas.
Convidei um amigo para comer os cogus aqui na minha casa, estávamos sozinhos, era de noite. Colocamos colchões no chão, ligamos as caixas de som e ligamos no www.stereodose.com. Comemos pouco ao longo do dia, basicamente frutas e salada, seguido de umas 3-4 horas de jejum. Os cogus secos pesavam ao todo 6g, dividimos e cada um comeu 3g. Pelo que li aqui no fórum e no www.erowid.org, achei que era uma dose média e fiquei tranquilo quanto a isso. Comemos os cogumelos pelas 23h com um pouco de água para ajudar a tirar o gosto e logo deitamos para curtir a música.
Em cerca de 20min, os efeitos começaram. Tudo estava indo maravilhosamente bem, mas se intensificando rápida e exponencialmente. Começou com uma sensação de leveza, relaxamento, seguida de risadas, coração levemente acelerado, fusão dos sentidos, visualização de formas geométricas intensas com os olhos fechados... Meu amigo parecia em sintonia comigo, mas ele queria conversar em alguns momentos que eu queria apenas ficar em silêncio e de olhos fechados contemplando as formas. Nesse momento, me questionei sobre a validade de tomar cogumelo acompanhado - o fiz mais por uma questão de segurança. Até que num momento, deitado sozinho no colchão, comecei a sentir falta da minha namorada. Temos uma relação boa, mas ela não se interessa por cogumelos nem nada do tipo. Careta (na falta de uma palavra melhor), mas sensível e tolerante quanto a minha busca. Então preferi falar para ela ficar na casa dela, em vez de ficar 6 horas massantes me observando com o meu amigo. Isso acabou me causando um leve mal estar, daí pra frente minha memória passou a não registrar a experiência com nitidez. Até que, de repente, me lembro de me acordar no dia seguinte às 6h da manhã, com a minha namorada ligando, após uma noite de um suposto "pesadelo" intenso e real. Para a minha surpresa, meu amigo não estava ali no colchão dele. Os pertences dele também não, nem a minha chave de casa. Fiquei chocado e comecei a ligar os pontos na minha memória - tudo em poucos segundos. Minha mãe estava dormindo no quarto dela - diferente do planejado, pois minha mãe estava dormindo na casa do meu padrasto e só voltaria no dia seguinte, de noite. Comecei a lembrar com clareza tudo que havia ocorrido de noite, durante o efeito dos cogumelos. Quis dar uma de avestruz e enfiar a minha cabeça num buraco, na esperança de que ninguém me visse. Não de medo, mas de vergonha.
Minha memória se recompondo, pude lembrar de, logo após ficar encucado com essa questão da minha namorada, ouvir uma ambulância passar pela minha rua. A sirene da ambulância imediatamente remeteu meu pensamento à minha vó que está doente. "Minha vó morreu e estão indo buscá-la", pensei. Desliguei a música e falei para o meu amigo: minha vó morreu. Aquele pensamento colou em mim e fez todo o sentido do mundo. Detalhe: minha vó está doente, mas nada de estado terminal. Estava convicto que a minha vó havia morrido, não havia espaço para dúvida. Levantei, peguei o meu celular e liguei para a minha namorada para avisar que a minha vó havia morrido. Depois liguei de novo para falar que a minha mãe havia morrido. No fundo, eu nem sabia quem havia morrido, só sabia que alguém havia morrido. Ligava, desligava, ela me retornava, eu ligava de novo, várias vezes durante uns 20 minutos. Falei que ia ligar para minha mãe, e ela disse para eu não fazer isso. Liguei para a minha mãe em seguida para dizer, entre outras coisas, que a minha vó morreu. Liguei diversas vezes para ela também, com segundos de intervalo entre as ligações. No dia seguinte, minha mãe me disse que eu falei palavras pela metade, uma mistura de idiomas, um dialeto. Ela não entendia nada, gritava comigo no telefone perguntando o que estava acontecendo e eu não respondia. Eu via o que estava acontecendo, mas me parecia um filme, algo alheio a minha pessoa. Uma realidade que acontecia independente de mim - mesmo eu sendo o autor daquela situação.
Não me lembro de levantar para pegar o telefone. Só me lembro de estar um tempão no banheiro ligando para a minha namorada e minha mãe, mas não de maneira racional. Eu parecia algo a parte de tudo aquilo que estava acontecendo diante dos meus olhos. Eu parecia estar fazendo apenas o que eu deveria fazer, inquestionavelmente. Lembro de estar atordoado, pois todo esse momento do banheiro com o telefone eu estava de frente para o espelho e com uma luz forte ligada. Lembro de ser uma mudança brusca de ambiente, pois antes do banheiro eu estava na sala com o meu amigo, no escuro, de olhos fechados e com música.
Algumas horas depois, me lembro de estar deitado de novo no colchão, minha mãe chegando em casa com o meu padrasto, olhando para mim com espanto, falando comigo e eu não respondia. Mesma sensação de antes, de estar alheio ao que eu via, imerso nas profundezas do meu pensamento. Depois lembro de dormir no chão, ao lado do colchão, de barriga para baixo para fugir da luz. Meu corpo estava meu dolorido por estar no chão, mas como eu só olhava para baixo e só via o chão, achei que estava sonhando e não tinha o poder de sair dali.
Até que eu acordei às 6h da manhã, como falei no início desse texto, com a minha namorada me ligando. Comecei a andar pela casa, assimilar tudo e querer sumir da face da Terra por vergonha, por ter mobilizado tantas pessoas por causa da minha experiência. Fiquei sentado na sala meditando, até que a minha mãe apareceu e falou, sonolenta: "Filho, tu viajou legal". Me explicou brevemente o que eu fiz e voltou a dormir. Para minha sorte, minha mãe cresceu na geração hippie e andava com pessoas que tomavam cogumelo, mas ela tinha medo de tomar por causa dos relatos de amigos.
Depois liguei para a minha namorada e para o meu amigo, que foi embora da minha casa por medo do meu estado e medo de vir a ficar como eu. Entendo ele, era a primeira experiência dele com os cogumelos. Ele disse que me sacudia, pedia para eu não ligar para ninguém, dizia que estava tudo bem, mas eu olhava e não respondia. Ainda no banheiro, ele me deu um pedaço de abacaxi (antes de tomarmos os cogumelos, eu havia sugerido o abacaxi como fonte de vitamina C para ajudar no caso de uma experiência muito forte), mas em vez de comer, fiquei esfregando o abacaxi no meu corpo.
Ontem passei o dia chocado, envergonhado, me lamentando, com juras de não repetir a experiência jamais. Minha mãe e a minha namorada ainda estavam meio assustadas.
Hoje acordei super disposto, uma nova pessoa, pronto para outra e dando risada com a minha mãe sobre o ocorrido. Que coisa!
Gostaria de uma opinião sobre a experiência. Quais foram os fatores que mudaram totalmente o rumo da minha experiência? A dosagem? A ambulância? A minha companhia? Me olhar no espelho com a luz ligada? Muito planejamento? Tomar longe da minha namorada? Fiquei bem surpreso sobre a proporção que tudo tomou.
Abraço!
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