Concordo plenamente com a questão da lição de humildade... não tem como escapar dessa parte quando se trata de plantas de poder. Mas quanto ao assunto em questão, fui fardado do daime por vários anos, no início dos anos 2000. É claro que cada igreja e cada linhagem é um caso (tem o daime da barquinha, diferentes graus de apuração, daime pra trabalho de cura de são miguel, plantas que podem se acrescentar, aqueles daimes apuradíssimos que mandam pras igrejas do japão etc. etc. etc.), mas de uma maneira geral no daime se utiliza uma ayahuasca mais suave que no xamanismo peruano. Dois pequenos exemplos (para não dizer que é apenas algo baseado numa opinião pessoal) são os fatos de que no daime se serve mais de uma vez a bebida e há quem consiga até manter a coordenação para tocar acordeom, enquanto dificilmente uma pessoa com uma sensibilidade normal conseguiria sequer ficar sentada numa cadeira depois de tomar essas ayahuascas a que me referi no meu post (e muito menos cogitar ingerir mais da bebida). É claro que entra na questão uma série de considerações relativas à fé, ao fato do daime ser um ritual que funciona com base na energia coletiva (algo similar a um dessea rituais indígenas do xingu, como se evidencia no bailado e no feitio), mas foi só mesmo pra exemplificar fora de um perspectiva subjetiva. Por tudo isso, vou sublinhar o que eu já disse: não acreditaria se não houvesse visto com meus próprios olhos as pessoas tomando. Ainda assim, não é demais dizer que só vi isso acontecer com, digamos, uma em cada trezentas pessoas (e sempre americanos ou europeus, o que me leva a pensar que é a distância de um estilo de vida natural o que leva a essa resistência psicológica toda). Geralmente os estrangeiros que procuram o daime já são pessoas com interesse na atividade enteógena (seja por uma questão de cura ou interesse “psiconáutico”), e não simples turistas que “caem de pára-quedas” na cerimônia sem nunca haver ouvido falar de plantas de poder. O que acontece é que no Peru é comum agentes de turismo que nunca tomaram ayahuasca levarem estrangeiros a xamãs que servem ayahuasca braba como se fosse um passeio numa roda gigante ou um bungee-jump (e pro xamã tanto fez tanto faz, pois, afinal, ayahuasca é uma medicina e faz bem pra quem a usa). Curiosamente, essas pessoas que são pegas de surpresa ocasionalmente têm essa “barreira mental de concreto”. Um mero cidadão comum e normal (tipo eu) depois de tomar essas ayahuascas não quer ver ayahuasca nem pintada na frente por um bom tempo... fica só aquela veneração pela força, pela beleza e pela ultrasupermagnanimidade da bebida, mas nem vontade de chegar perto tão cedo!