Salve amigos! Quarta viagem, desta vez com 5g de cubensis desidratados. É maluquice pensar que encontrei este Fórum em março deste ano, comecei a ler com bastante curiosidade e com certo receio de mergulhar nas experiências com psicodélicos e agora estou eu aqui, já na minha quarta experiência. Comecei com 4g, depois fui para 5g, voltei para 4g e finalmente tive esta de 5g novamente.
Preciso dizer que desta vez tive uma viagem bastante desafiadora, com momentos bons no início e bastante dificuldade na minha volta. Querem saber? Acho que foi a agitação dos últimos dias, incluindo eleições e correria em casa. Talvez eu devesse ter esperado por dias mais calmos para fazer a experiência.
O começo foi como de costume. Adoro a decolagem. A sensação de relaxamento e as alterações gradativas são muito gostosas. Desta vez foi um pouco diferente. Não tive a impressão de que o quarto estivesse respirando comigo, em vez disso, vi ondulações nas paredes e no teto. O padrão marmorizado do piso daqui de casa ficou com um brilho cintilante muito lindo. Pergunta para os psiconautas veteranos: vocês sentem a sensação de estarem se molhando? Pela segunda vez, depois de ter urinado, tive a impressão de ter me mijado todo. Jurava que tinha perdido o controle da bexiga, mas minha esposa me garantiu que eu estava seco. O engraçado é que além disso, tinha sensação de gotículas de água pulando pela minha pele.
No começo das trips, curto demais andar pelo apartamento para sentir as alterações sensoriais. Fiz isso. Falei com a minha esposa, olhei as coisas ao redor. Como as cores ficam mais vivas! É legal demais! Voltei pro quarto, me deitei e decidi que era hora de fechar os olhos e me deixar levar.
De olhos fechados, comecei a enxergar uma paisagem que parecia um imenso bolsão com malhas coloridas trançadas em padrões lindos que me lembravam uma colmeia de abelhas. Essa malha trançada dançava no ritmo da música que estava tocando na minha playlist (opera naquele momento). Fui voando pela paisagem até encontrar um furo na malha de onde jorravam faíscas luminosas de várias cores. Depois de um tempo, a paisagem mudou para algo mais escuro e aí eu vi algo que me impressionou. Era um ser de cabeça ovalada, brilhante, na cor roxa. Ele tinha vários braços com pontos de luz na terminação de cada membro. Era uma criatura linda, imponente e intimidadora. Abri meus olhos e fiquei viajando na sensação física, que estava muito boa.
Quando fechei os olhos novamente, viajei por vários lugares lindos. Tinha uma floresta com uma luz muito clara. Engraçado que tem um trecho desse momento que virou um borrão. Eu não me lembro muito bem de todos os detalhes, mas tenho uma sensação boa dessa parte da viagem.
Lá pela metade começou o que eu mais temia: o looping. Caraca, como eu tenho dificuldade com ele. Fui pra sala e sentei do lado da minha esposa. Tentei falar com ela, mas as palavras não saiam direito. Me lembro de ela perguntar infinitas vezes se eu queria comer ou me deitar na cama, ou mudar de música. Eu não conseguia responder. Lembro de ter sede e não conseguir beber água. Comecei a viajar na sensação que tinha quando eu sentia minhas unhas com as pontas dos dedos. Teve uma hora que eu senti como se minha unha estivesse virando ao avesso e eu estivesse desossando meus dedos. Foi horrível. Não senti dor, mas foi angustiante.
Nessa hora, as coisas começaram a se repetir muito. Eu olhava pra porta da sacada, os gatos faziam o mesmo trajeto passando pela minha frente. Surgiu um gato a mais do que nós temos em casa. Comecei a me perguntar se minha vida real era real mesmo. Será que eu estava vivendo a realidade durante o cogumelo e a verdadeira trip não estaria do lado de fora? Achei que estivesse ficando maluco. Perguntei pra minha esposa se ela era eu mesmo. As respostas dela começaram a se encaixar com o que eu estava pensando, como se a minha mente estivesse controlando a conversa. Fiquei com um pouco de medo.
Passou um instante, minha esposa ficou sem paciência e foi dormir e pouco depois eu fiquei preso num looping indo de um lado pro outro no apartamento. Pensei no Samsara e cheguei à conclusão de que o looping era uma visão clara do que é o Samsara (o ciclo de morte e renascimento como ensinado no Budismo). Pensei em como era importante procurar atingir o Nirvana e que ter consciência desse ciclo de sofrimento era fundamental, para que a gente não vivesse em sofrimento por causa da ignorância própria a respeito da realidade das coisas. Depois de pensar nisso tudo, eu perdi a linguagem. Não conseguia pensar com palavras que fizessem sentido.
No final da experiência, quando era perto de 03h da manhã, comecei a sentir que a realidade estava se formando de novo. O looping estava menos intenso. Fui até a minha gatinha pra testar se ela ia fazer o que ela queria ou se ela ia fazer o que eu estava pensando que ela ia fazer. Fiquei feliz quando ela começou a fazer coisas diferentes do que eu esperava. Consegui beber água. Estava com muita sede de novo. Logo no final, antes de conseguir ir para cama, percebi como a realidade parecia absurdamente real. As cores vivas. Parecia até mesmo que eu estava enxergando melhor.
Hoje acordei tranquilo. Maior paz.
Desta experiência tiro alguns aprendizados:
Mais uma vez, obrigado pelos leitores pacientes que chegaram até aqui. Até a próxima experiência! Espero que até lá seja com meu primeiro cultivo próprio, que estou relatando aqui. Abraços!
Preciso dizer que desta vez tive uma viagem bastante desafiadora, com momentos bons no início e bastante dificuldade na minha volta. Querem saber? Acho que foi a agitação dos últimos dias, incluindo eleições e correria em casa. Talvez eu devesse ter esperado por dias mais calmos para fazer a experiência.
O começo foi como de costume. Adoro a decolagem. A sensação de relaxamento e as alterações gradativas são muito gostosas. Desta vez foi um pouco diferente. Não tive a impressão de que o quarto estivesse respirando comigo, em vez disso, vi ondulações nas paredes e no teto. O padrão marmorizado do piso daqui de casa ficou com um brilho cintilante muito lindo. Pergunta para os psiconautas veteranos: vocês sentem a sensação de estarem se molhando? Pela segunda vez, depois de ter urinado, tive a impressão de ter me mijado todo. Jurava que tinha perdido o controle da bexiga, mas minha esposa me garantiu que eu estava seco. O engraçado é que além disso, tinha sensação de gotículas de água pulando pela minha pele.
No começo das trips, curto demais andar pelo apartamento para sentir as alterações sensoriais. Fiz isso. Falei com a minha esposa, olhei as coisas ao redor. Como as cores ficam mais vivas! É legal demais! Voltei pro quarto, me deitei e decidi que era hora de fechar os olhos e me deixar levar.
De olhos fechados, comecei a enxergar uma paisagem que parecia um imenso bolsão com malhas coloridas trançadas em padrões lindos que me lembravam uma colmeia de abelhas. Essa malha trançada dançava no ritmo da música que estava tocando na minha playlist (opera naquele momento). Fui voando pela paisagem até encontrar um furo na malha de onde jorravam faíscas luminosas de várias cores. Depois de um tempo, a paisagem mudou para algo mais escuro e aí eu vi algo que me impressionou. Era um ser de cabeça ovalada, brilhante, na cor roxa. Ele tinha vários braços com pontos de luz na terminação de cada membro. Era uma criatura linda, imponente e intimidadora. Abri meus olhos e fiquei viajando na sensação física, que estava muito boa.
Quando fechei os olhos novamente, viajei por vários lugares lindos. Tinha uma floresta com uma luz muito clara. Engraçado que tem um trecho desse momento que virou um borrão. Eu não me lembro muito bem de todos os detalhes, mas tenho uma sensação boa dessa parte da viagem.
Lá pela metade começou o que eu mais temia: o looping. Caraca, como eu tenho dificuldade com ele. Fui pra sala e sentei do lado da minha esposa. Tentei falar com ela, mas as palavras não saiam direito. Me lembro de ela perguntar infinitas vezes se eu queria comer ou me deitar na cama, ou mudar de música. Eu não conseguia responder. Lembro de ter sede e não conseguir beber água. Comecei a viajar na sensação que tinha quando eu sentia minhas unhas com as pontas dos dedos. Teve uma hora que eu senti como se minha unha estivesse virando ao avesso e eu estivesse desossando meus dedos. Foi horrível. Não senti dor, mas foi angustiante.
Nessa hora, as coisas começaram a se repetir muito. Eu olhava pra porta da sacada, os gatos faziam o mesmo trajeto passando pela minha frente. Surgiu um gato a mais do que nós temos em casa. Comecei a me perguntar se minha vida real era real mesmo. Será que eu estava vivendo a realidade durante o cogumelo e a verdadeira trip não estaria do lado de fora? Achei que estivesse ficando maluco. Perguntei pra minha esposa se ela era eu mesmo. As respostas dela começaram a se encaixar com o que eu estava pensando, como se a minha mente estivesse controlando a conversa. Fiquei com um pouco de medo.
Passou um instante, minha esposa ficou sem paciência e foi dormir e pouco depois eu fiquei preso num looping indo de um lado pro outro no apartamento. Pensei no Samsara e cheguei à conclusão de que o looping era uma visão clara do que é o Samsara (o ciclo de morte e renascimento como ensinado no Budismo). Pensei em como era importante procurar atingir o Nirvana e que ter consciência desse ciclo de sofrimento era fundamental, para que a gente não vivesse em sofrimento por causa da ignorância própria a respeito da realidade das coisas. Depois de pensar nisso tudo, eu perdi a linguagem. Não conseguia pensar com palavras que fizessem sentido.
No final da experiência, quando era perto de 03h da manhã, comecei a sentir que a realidade estava se formando de novo. O looping estava menos intenso. Fui até a minha gatinha pra testar se ela ia fazer o que ela queria ou se ela ia fazer o que eu estava pensando que ela ia fazer. Fiquei feliz quando ela começou a fazer coisas diferentes do que eu esperava. Consegui beber água. Estava com muita sede de novo. Logo no final, antes de conseguir ir para cama, percebi como a realidade parecia absurdamente real. As cores vivas. Parecia até mesmo que eu estava enxergando melhor.
Hoje acordei tranquilo. Maior paz.
Desta experiência tiro alguns aprendizados:
- Me sinto melhor fazendo experiências durante o dia. A noite me pareceu um pouco assustadora tanto na primeira vez que usei de noite quanto agora.
- Não dá pra brincar com set e setting. No meu caso, desta vez o meu mindset não estava em sua melhor forma. Fui pra trip angustiado com assuntos do cotidiano e isso me fez ter uma experiência tensa.
- Talvez 5g seja uma dose desafiadora para mim. Até o pico da viagem é divertido e lindo demais, mas a volta se parece com aqueles filmes de viagem espacial, quando estão entrando na atmosfera terrestre. É bem turbulento. Quero revisitar essa dosagem com um melhor preparo. Aceito ideias.
- De alguma maneira, sinto que existe um chamado espiritual. Essa viagem teve algumas questões existenciais profundas que acho difícil até mesmo colocar em palavras neste momento.
Mais uma vez, obrigado pelos leitores pacientes que chegaram até aqui. Até a próxima experiência! Espero que até lá seja com meu primeiro cultivo próprio, que estou relatando aqui. Abraços!