- 06/01/2023
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Eu comecei a pesquisar sobre os tais "cogumelos mágicos" como um curioso. Nunca tinha experimentado nada parecido. Já experimente maconha uma vez, mas não gostei. Só queria sentir algo como sinestesia, rir um pouco, etc.
Quando comecei a ver vídeos, fóruns, sites sobre os alucinógenos foi que tomei conhecimento do fator terapêutico e espiritual deles. Passei a respeitar mais. Pelo menos eu achava que sim.
Comprei pela internet , comi 1g. Senti um bem-estar bem claro, curti muita música e percebi algumas sensações bem mais aguçadas (tipo fiquei um tempo reparando em como a ponta dos meus dedos era macia). Na segunda vez, comi 1,5g e foi basicamente a mesma coisa, exceto que dessa vez teve um pouco de visuais geométricos de olhos fechados e, no fim da brisa, eu fiquei bastante pensativo sobre a vida, sei lá, tudo e nada.
Esse é o background.
Minha primeira experiência mais profunda foi na semana passada. Comi 3g.
Estava só em casa com minha esposa, como de costume. Era 21h50min quando ingeri. Cerca de 30min depois comecei a me sentir tonto, falei pra ela "bateu, vou me deitar um pouco e ouvir música". Foi o que eu fiz. Um tempo depois me senti meio sozinho e disse isso pra ela. Ela veio, se deitou do meu lado e ficou assistindo a algo no celular enquanto eu ouvia música de olhos fechados. Eu pedi pra ela colocar mais música pra mim e ela pôs umas músicas que eu não conhecia, mas eram bem boas e tranquilas.
A experiência teve 4 fases pelo que percebi.
Primeira fase.
As alucinações visuais que eu tinha experimentado só um gostinho na segunda experiência agora foram significativamente mais intensas. Não chegaram a criar formas bem definidas, mas era um festival de cores dentro dos meus olhos. Lembro de ter visto algumas mandalas, vi alguns olhos coloridos, coisas assim.
É um pouco frustrante pra mim não lembrar bem dessa parte, porque eu lembro de ter sido muito bom. Inclusive, um dia depois, a minha esposa estava ouvindo uma das músicas que eu ouvi durante a trip (como eu disse, eu não conhecia as músicas), e eu me lembrei com muito carinho de como foi. [À propósito as músicas, que agora ouço sempre pra lembrar da sensação, foram The Less I Know The Better - Tame Impala, About You - San Cisco (essa me faz sentir com rosto pra fora da janela do carro, com o vento no rosto e a sensação de plenitude), e Can I Call You Tonight? - Dayglow (essa já foi no finzinho dessa fase).
Durante esse momento, eu lembro de pensar bastante. E parecia um parque de diversões onde eu podia ir brincar onde quisesse com a minha própria mente. Eu lembro que cheguei a pensar "cara, a gente tem tanta coisa pra fazer dentro da nossa própria mente, como alguém ainda consegue se sentir entediado?". Eu pensei em coisas que quero pro meu futuro, pensei em todas as pessoas no mundo e como toda a criação é algo tão belo. Mesmo havendo pessoas boas e outras más, o conjunto da obra é tão bonito.
E em qualquer coisa que eu pensasse, eu simplesmente vivia aquele pensamento. Aquela era minha realidade. E quando abria os olhos, lembrava da "realidade mesmo".
No meio disso eu tentei comer alguma coisa mesmo não estando com fome, mas as batatas fritas não tinha uma textura muito boa, e eu tinha uma consciência tão grande de cada parte da minha boca que parecia um quarto onde eu poderia mover a mobília para lá ou para cá, além disso as uvas estavam meio sem gosto, então desisti disso.
Apesar de ter sido um bom momento, eu acho que estava receoso o tempo todo. Sempre abria os olhos pra ver se estava tudo ali, e pensava que enquanto tudo estivesse normal, eu poderia voltar a mim. Enfim, o medo.
Segunda fase.
Depois de um tempo me divertindo, a minha cabeça começou a ficar bastante confusa. Primeiro minha mente parecia estar tão rápida que eu não conseguia acompanhar. Então parecia que eu não conseguia formular um pensamento. Testei pra ver se me lembrava das palavras...elas pareciam estar ali, mas eu não conseguia organizar elas de uma forma lógica. Eu ficava cada vez mais e mais agoniado.
Ao mesmo tempo parecia ter um outro 'eu' que conseguia pensar, mas ele só pensava em como eu estava agoniado.
Fiquei sentado, bem aflito, sem conseguir pensar e parecia que essa sensação aumentava e aumentava, cada vez mais. Até que ocorreu um ápice disso, um sentimento que eu não teria como explicar, mas é bem parecido com algo gritando dentro de mim por não conseguir se concentrar em uma mínima frase. E então veio a terceira fase.
Terceira fase.
Passada a confusão mental, me veio a forte sensação de que eu estava em um looping temporal. Nessa fase eu não parecia ter mais alucinações visuais. Parecia que eu estava estacionado em um momento. Perguntei para minha esposa algumas vezes "que horas são?". Eu só queria que aquela sensação passasse. Eu me desesperei. Falei pra ela que tava preso ali e comecei a chorar. Eu nunca tinha visto essa mulher tão calma, e eu disse, "tu não tá chorando. Tu é tão forte!". Eu pensei que estava ficando louco, que iria ficar naquilo pra sempre. Lembrando disso, eu penso que não tinha nada de diferente, só era sensação de estar preso em um momento eterno.
A minha esposa teve a brilhante ideia de me mostrar um cronômetro. E de fato o tempo estava passando. (É verdade também que parecia que o tempo que passava no cronometro não era o mesmo que passava no relógio, hauhauh. Sério, parecia que passavam 3 minutos no cronômetro, e no relógio só passava 1). O resto dessa fase foi um carrossel de emoções, eu me desesperava, me acalmava e me desesperava de novo. Minha esposa me acalmou o tempo todo. E isso foi tão bom pra mim. Eu dizia pra ela "eu só tenho duas certezas, Deus existe e eu te amo".
Ela me dizia o tempo todo que tava tudo bem, e que aquilo iria passar. "É uma certeza, não uma esperança". E eu voltava a repetir "vai ficar tudo bem, né?". Parecia um bebê confuso e com medo. Eu dizia "por que eu fui fazer isso comigo? Eu to com muito medo!". E ela respondia "Tu só é curioso. Amanhã vai estar tudo vem. Só relaxa e curte a viagem". Mas curtir a viagem parecia algo impossível pra mim naquele momento. Eu só queria que tudo aquilo acabasse.
No fim fui parando de resistir, e ao mesmo tempo os efeitos foram amenizando. E a sensação de estar vivendo num pesadelo passando foi um dos melhores da vida.
Durante aquilo eu tinha certeza que nunca mais iria usar isso na vida. Quando acabou eu disse pra ela "até que a viagem foi legal". Ela só pôde sorrir e ficar indignada, ahuahu.
Eu disse pra ela "As coisas foram assim por um motivo, eu só preciso descobrir qual".
Quarta e última fase
Depois que a distorção temporal passou, eu estava com muita energia, queria conversar sobre a loucura que eu tinha acabado de passar. Sobre qualquer coisa que eu me propunha a pensar, a minha mente parecia ir mais longe do que de costume. Parecia que meu pensamento tava mais profundo e mais prolífico. A minha esposa me contou sobre um problema dela, e eu entendi muito melhor sobre o que ela estava falando, era quase como se eu conseguisse sentir o que ela tava sentindo.
A coitada tava morrendo de sono, e foi dormir.
Eu ainda fiquei pensando sozinho por mais 1 hora e curtindo uns últimos efeitos visuais de olhos fechados.
Pós-trip
No dia seguinte (e, na verdade, até hoje), a minha perspectiva das coisas ficou diferente. Sei lá, à princípio parecia que nada fazia muito sentido. Que tudo o que controla a nossa sanidade, nossas noções de tempo, de propósito, fazem parte de alguns parâmetros aprendidos. E que a gente meio que coloca a realidade em caixas organizadoras pra poder lidar com ela.
Depois de tudo o que aconteceu, eu sinto um amor ainda maior pela minha esposa. Os momentos sinistros em que ela esteve do meu lado (mesmo que só tenha sido sinistro na minha cabeça) me fizeram ter ainda mais confiança nela e me fizeram querer demonstrar ainda mais amor por ela.
No fim acho que tudo isso me fez ser uma pessoa melhor. Já voltei a pensar sobre usar de novo, mas talvez uma dosagem menor e daqui algum tempo. Não sei se estou preparado.
É isso que consigo lembrar. Nem sei se dá pra dizer que tive um bad trip. Foi ruim, mas sempre penso em bad trip como algo bem mais trash.
Refletindo melhor acho que subestimei a experiência, poderia ter tido um set & setting bem melhor. Ter me preparado mais. Eu já tinha lido muitos relatos aqui e, sabe Deus porque, eu nunca tinha ouvido sobre a distorção temporal, e isso me deixou bem assustado quando aconteceu. Espero que na próxima seja melhor.
Espero que alguém tenha se identificado e, se sim, comenta aqui, por favor.
Quando comecei a ver vídeos, fóruns, sites sobre os alucinógenos foi que tomei conhecimento do fator terapêutico e espiritual deles. Passei a respeitar mais. Pelo menos eu achava que sim.
Comprei pela internet , comi 1g. Senti um bem-estar bem claro, curti muita música e percebi algumas sensações bem mais aguçadas (tipo fiquei um tempo reparando em como a ponta dos meus dedos era macia). Na segunda vez, comi 1,5g e foi basicamente a mesma coisa, exceto que dessa vez teve um pouco de visuais geométricos de olhos fechados e, no fim da brisa, eu fiquei bastante pensativo sobre a vida, sei lá, tudo e nada.
Esse é o background.
Minha primeira experiência mais profunda foi na semana passada. Comi 3g.
Estava só em casa com minha esposa, como de costume. Era 21h50min quando ingeri. Cerca de 30min depois comecei a me sentir tonto, falei pra ela "bateu, vou me deitar um pouco e ouvir música". Foi o que eu fiz. Um tempo depois me senti meio sozinho e disse isso pra ela. Ela veio, se deitou do meu lado e ficou assistindo a algo no celular enquanto eu ouvia música de olhos fechados. Eu pedi pra ela colocar mais música pra mim e ela pôs umas músicas que eu não conhecia, mas eram bem boas e tranquilas.
A experiência teve 4 fases pelo que percebi.
Primeira fase.
As alucinações visuais que eu tinha experimentado só um gostinho na segunda experiência agora foram significativamente mais intensas. Não chegaram a criar formas bem definidas, mas era um festival de cores dentro dos meus olhos. Lembro de ter visto algumas mandalas, vi alguns olhos coloridos, coisas assim.
É um pouco frustrante pra mim não lembrar bem dessa parte, porque eu lembro de ter sido muito bom. Inclusive, um dia depois, a minha esposa estava ouvindo uma das músicas que eu ouvi durante a trip (como eu disse, eu não conhecia as músicas), e eu me lembrei com muito carinho de como foi. [À propósito as músicas, que agora ouço sempre pra lembrar da sensação, foram The Less I Know The Better - Tame Impala, About You - San Cisco (essa me faz sentir com rosto pra fora da janela do carro, com o vento no rosto e a sensação de plenitude), e Can I Call You Tonight? - Dayglow (essa já foi no finzinho dessa fase).
Durante esse momento, eu lembro de pensar bastante. E parecia um parque de diversões onde eu podia ir brincar onde quisesse com a minha própria mente. Eu lembro que cheguei a pensar "cara, a gente tem tanta coisa pra fazer dentro da nossa própria mente, como alguém ainda consegue se sentir entediado?". Eu pensei em coisas que quero pro meu futuro, pensei em todas as pessoas no mundo e como toda a criação é algo tão belo. Mesmo havendo pessoas boas e outras más, o conjunto da obra é tão bonito.
E em qualquer coisa que eu pensasse, eu simplesmente vivia aquele pensamento. Aquela era minha realidade. E quando abria os olhos, lembrava da "realidade mesmo".
No meio disso eu tentei comer alguma coisa mesmo não estando com fome, mas as batatas fritas não tinha uma textura muito boa, e eu tinha uma consciência tão grande de cada parte da minha boca que parecia um quarto onde eu poderia mover a mobília para lá ou para cá, além disso as uvas estavam meio sem gosto, então desisti disso.
Apesar de ter sido um bom momento, eu acho que estava receoso o tempo todo. Sempre abria os olhos pra ver se estava tudo ali, e pensava que enquanto tudo estivesse normal, eu poderia voltar a mim. Enfim, o medo.
Segunda fase.
Depois de um tempo me divertindo, a minha cabeça começou a ficar bastante confusa. Primeiro minha mente parecia estar tão rápida que eu não conseguia acompanhar. Então parecia que eu não conseguia formular um pensamento. Testei pra ver se me lembrava das palavras...elas pareciam estar ali, mas eu não conseguia organizar elas de uma forma lógica. Eu ficava cada vez mais e mais agoniado.
Ao mesmo tempo parecia ter um outro 'eu' que conseguia pensar, mas ele só pensava em como eu estava agoniado.
Fiquei sentado, bem aflito, sem conseguir pensar e parecia que essa sensação aumentava e aumentava, cada vez mais. Até que ocorreu um ápice disso, um sentimento que eu não teria como explicar, mas é bem parecido com algo gritando dentro de mim por não conseguir se concentrar em uma mínima frase. E então veio a terceira fase.
Terceira fase.
Passada a confusão mental, me veio a forte sensação de que eu estava em um looping temporal. Nessa fase eu não parecia ter mais alucinações visuais. Parecia que eu estava estacionado em um momento. Perguntei para minha esposa algumas vezes "que horas são?". Eu só queria que aquela sensação passasse. Eu me desesperei. Falei pra ela que tava preso ali e comecei a chorar. Eu nunca tinha visto essa mulher tão calma, e eu disse, "tu não tá chorando. Tu é tão forte!". Eu pensei que estava ficando louco, que iria ficar naquilo pra sempre. Lembrando disso, eu penso que não tinha nada de diferente, só era sensação de estar preso em um momento eterno.
A minha esposa teve a brilhante ideia de me mostrar um cronômetro. E de fato o tempo estava passando. (É verdade também que parecia que o tempo que passava no cronometro não era o mesmo que passava no relógio, hauhauh. Sério, parecia que passavam 3 minutos no cronômetro, e no relógio só passava 1). O resto dessa fase foi um carrossel de emoções, eu me desesperava, me acalmava e me desesperava de novo. Minha esposa me acalmou o tempo todo. E isso foi tão bom pra mim. Eu dizia pra ela "eu só tenho duas certezas, Deus existe e eu te amo".
Ela me dizia o tempo todo que tava tudo bem, e que aquilo iria passar. "É uma certeza, não uma esperança". E eu voltava a repetir "vai ficar tudo bem, né?". Parecia um bebê confuso e com medo. Eu dizia "por que eu fui fazer isso comigo? Eu to com muito medo!". E ela respondia "Tu só é curioso. Amanhã vai estar tudo vem. Só relaxa e curte a viagem". Mas curtir a viagem parecia algo impossível pra mim naquele momento. Eu só queria que tudo aquilo acabasse.
No fim fui parando de resistir, e ao mesmo tempo os efeitos foram amenizando. E a sensação de estar vivendo num pesadelo passando foi um dos melhores da vida.
Durante aquilo eu tinha certeza que nunca mais iria usar isso na vida. Quando acabou eu disse pra ela "até que a viagem foi legal". Ela só pôde sorrir e ficar indignada, ahuahu.
Eu disse pra ela "As coisas foram assim por um motivo, eu só preciso descobrir qual".
Quarta e última fase
Depois que a distorção temporal passou, eu estava com muita energia, queria conversar sobre a loucura que eu tinha acabado de passar. Sobre qualquer coisa que eu me propunha a pensar, a minha mente parecia ir mais longe do que de costume. Parecia que meu pensamento tava mais profundo e mais prolífico. A minha esposa me contou sobre um problema dela, e eu entendi muito melhor sobre o que ela estava falando, era quase como se eu conseguisse sentir o que ela tava sentindo.
A coitada tava morrendo de sono, e foi dormir.
Eu ainda fiquei pensando sozinho por mais 1 hora e curtindo uns últimos efeitos visuais de olhos fechados.
Pós-trip
No dia seguinte (e, na verdade, até hoje), a minha perspectiva das coisas ficou diferente. Sei lá, à princípio parecia que nada fazia muito sentido. Que tudo o que controla a nossa sanidade, nossas noções de tempo, de propósito, fazem parte de alguns parâmetros aprendidos. E que a gente meio que coloca a realidade em caixas organizadoras pra poder lidar com ela.
Depois de tudo o que aconteceu, eu sinto um amor ainda maior pela minha esposa. Os momentos sinistros em que ela esteve do meu lado (mesmo que só tenha sido sinistro na minha cabeça) me fizeram ter ainda mais confiança nela e me fizeram querer demonstrar ainda mais amor por ela.
No fim acho que tudo isso me fez ser uma pessoa melhor. Já voltei a pensar sobre usar de novo, mas talvez uma dosagem menor e daqui algum tempo. Não sei se estou preparado.
É isso que consigo lembrar. Nem sei se dá pra dizer que tive um bad trip. Foi ruim, mas sempre penso em bad trip como algo bem mais trash.
Refletindo melhor acho que subestimei a experiência, poderia ter tido um set & setting bem melhor. Ter me preparado mais. Eu já tinha lido muitos relatos aqui e, sabe Deus porque, eu nunca tinha ouvido sobre a distorção temporal, e isso me deixou bem assustado quando aconteceu. Espero que na próxima seja melhor.
Espero que alguém tenha se identificado e, se sim, comenta aqui, por favor.