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Primeira Experiência; problemas com personalidade

Chumba

Cogumelo maduro
Cadastrado
16/06/2009
2
46
Meses antes de usar os cogumelos eu e meus amigos havíamos pesquisado, inclusive nesse fórum, e estávamos preparados(ou ao menos achávamos) com a experiência das outras pessoas. Eu particularmente, me desliguei do meu mundo nesse dia. Infelizmente meu amigo cabeça dura havia colocado um carro à venda no jornal no dia anterior, e... vocês podem imaginar o que aconteceu hehe.
Depois de muito trabalho para conseguir os cogumelos, trazidos de longe por um colega, percebemos que a maioria dos exemplares que estavam na sacola já estavam pretos e estragados. A história da obtenção já é longa e complicada demais, portanto vou resumir da seguinte forma: Separamos dois cogumelos inteiros pra comer e fizemos um chá com os restos dos outros estragados. Éramos em 3, mas um de nós desistiu diante de tantas adversidades, e portanto apenas eu e meu amigo saímos andando pelas ruas do bairro em direção à praia, tomando o chá numa garrafa e comendo cada um um cogumelo. Ao serem quebrados os cogumelos ficavam azuis no ponto da 'fratura'. Comemos por volta das 10:00h, e em pouco menos de meia hora começamos a sentir os efeitos, gradativamente, quando estávamos chegando na praia e precisávamos atravessar o último sinal. O dia era nublado, cinza e ameaçava chover.

Chegando na praia, nos sentíamos mais leves, o coração batendo forte pela expectativa, as mãos ficando insensíveis.... nos sentamos na areia quando o chão começou a ondular(isso não foi sentido pelo meu amigo) e ficamos conversando olhando o mar. Na beira do mar havia um declive, portanto ficávamos escondidos das pessoas que andavam lá em cima, e só víamos as pessoas que andavam na beira-mar. Sem que percebêssemos exatamente quando, entramos em outra esfera de percepção. O mar estava mais bonito, brilhante, minha visão alcançava com clareza as embarcações longe... o verde das ilhas e vegetação dos morros perto da praia ficou mais intenso... Aos poucos o dia deixou de ser cinza e se tornou um belo domingo ensolarado. Ficamos muito felizes, começamos a rir a tôa de qualquer besteira, o vermelho do pacote de biscoitos estava queimando de um jeito vermelho que nós concordamos na hora: "Nunca vimos um vermelho tão vermelho quanto esse!" Da mesma forma o vermelho dos toldos na praia estavam irradiantes. Foi a parte boa da trip, com muitas risadas. Minha cabeça ficava repetindo uma música inventada na hora: "Cogumelo, cogumelo, cogumelo, tunts tunts" Eu gesticulava excessivamente, parecia o personagem "Máscara", cheio de movimentos e passos bem coordenados. Daí o celular do meu amigo começou a tocar - eram os interessados em comprar o carro. No início ele conseguia conversar numa boa, mas depois começou a repetir coisas que já tinha dito... um princípio de bad trip foi quando ele se desesperou por ter dado o número de casa para um dos compradores como se fosse uma coisa ruim, quando no dia anterior ele mesmo havia posto no jornal! Eu fui na onda dele e fiquei reclamando, falando pra ele nao atender celular para que coisas como essas não acontecessem. Se eu contar nossas trapalhadas o texto fica muito grande e enfadonho, mas vale a pena citar que um grupo de palhaços coloridos veio em nossa direção, e quando percebemos, eram na realidade catadores de tesouros nas areias da praia. Usavam detectores de metal e tudo o mais, porém muito coloridos, mais que o normal. Também fui comprar picolés, com uma enorme dificuldade de contar o dinheiro(contar nada, entreguei 10 reais pro vendedor e confiei que o troco tava certo), voltei com três e ao perceber que éramos dois, arremessei o terceiro picolé para bem longe irritando meu amigo. Eu queria procurar e falar com minha mãe que eu estava sob efeito de cogumelos e que isso era bom, que ela devia usar também, que todas as pessoas do mundo deveriam usar! Não haveriam guerras, o mundo seria maravilhoso! O céu estava azul, o sol brilhava, as pessoas passeavam pela praia. Eu pensei que queria viver numa trip eternamente. Comecei a me achar tão chato, com minhas correntes, roupas escuras, cara fechada... eu queria ser alegre; daquele momento em diante decidi comprar roupas coloridas e ser uma pessoa extrovertida e legal com todo mundo. Ríamos demais, de qualquer pessoa que passava pela nossa frente.

Mas o que me marcou na trip foi a minha percepção da consciência. No início eu comecei a andar e saltitar pela praia como um personagem da Disney, com gestos bem coreografados, mãos para trás, danças e giros sem me importar com as pessoas. Eu me sentia muito bem, como uma criança, principalmente quando sentado na areia com as pernas esticadas. Concluí que somos feitos de cicatrizes e reações às agressões da vida que se acumulam moldando nossa personalidade amargurada conforme o tempo passa, mas na trip eu estava me despindo pouco a pouco de cada cicatriz dessas, e tornava a ser puro e alegre como uma criança. Nesses passeios comecei a pensar que estava em outro mundo, em uma outra dimensão, onde as várias pessoas da praia eram apenas felizes num domingo ensolarado. Eu queria mesmo era passear de carro no calçadão ouvindo ska, estava muito feliz! Tentava conversar sobre isso com meu amigo que ficou sentado praticamente a trip inteira, e concordava comigo sem entender exatamente o meu sentimento. Isso nos separou um pouco, cada um foi para sua trip particular, e nossas conversas não faziam mais muito sentido. Um queria falar ao mesmo tempo que o outro, eu esquecia o assunto anterior e conversávamos sobre mil coisas diferentes. Então comecei a perceber que eu estava sendo muito chato, diferente do meu eu original. Eu pensei "Estou com uma personalidade diferente, sou eu mesmo, porém com outra personalidade". Para mim, naquele momento as personalidades eram acessórios, e eu estava mais despido do meu eu original do que nunca. Pensei que talvez eu nunca mais voltasse a ser eu mesmo ainda depois que a trip acabasse, porque desde criança eu me questionava sobre ter ou não dupla ou múltiplas personalidades. Talvez o cogumelo tivesse dado o 'estalo' qua faltava pra minha loucura. E pensei que minha mãe, minha família, ficaria horrorizada ao perceber que o meu eu que eles haviam conhecido e criado por 20 anos havia morrido, e que outra personalidade estava nesse corpo, para sempre! Uma personalidade muito chata e tagarela, diga-se de passagem. Me imaginava desse jeito diferente sentado à mesa com minha família, olhando para mim como se eu fosse um estranho.

Então de uma personalidade diferente, fui me despindo de mais traços ainda, até me tornar uma pessoa diferente. Essa nova pessoa resolveu se acalmar e pensou que quando a trip acabasse, ela deixaria de existir e eu voltaria a controlar o corpo. Meu amigo se desesperou quando percebeu que eu não era mais eu, e entrou numa bad trip particular, sentado onde estava. A pessoa no meu corpo resolveu deixá-lo ali e passear pela praia um pouquinho, aproveitando sua breve existência que terminaria no fim da trip. Eu não iria gostar nada disso, ele se repetia constantemente, e se ele fizesse besteira, eu nunca mais ia usar cogumelos novamente, e ele nunca mais tornaria a existir. Portanto estrategicamente, ele devia se comportar. Começou a filosofar sobre sua existência. "Seria ele um demônio possuindo o meu corpo?" "Bom, se fosse, ele o saberia. Mas não sabia. Então não era." Logo, essa pessoa diferente perdeu toda a sexualidade, vontade, ambição, emoção ou pessoalidade, tudo o que torna alguém humano. E nesse momento, acho que meu corpo estava sob o comando da mais pura essência da existência, da alma eterna que as religiões pregam. Eu, apenas um acessório animal, estava escondido em algum lugar, inativo. Não sei se poderia descrever com palavras o vazio de pessoalidade que ele sentia, mas tenho a memória e a consciência de toda a trip, de todos os pensamentos dele. Até hoje fico meditando nesse momento, durou praticamente a metade da trip, se é que eu era capaz de mensurar o tempo.

Depois sim veio a verdadeira bad, quando minha personalidade, eu que aqui escrevo, voltei a habitar meu corpo. "Me sinto mais eu perto de você", ele disse quando se sentou perto do meu amigo. A partir de então, voltei aos poucos, às vezes ia embora de novo, mas enfim, voltei, degrau por degrau. Então alterei momentos de desespero, caso minha família descobrisse. Fiquei paranóico, pensei que a praia estava cheia de conhecidos que iriam me denunciar. Imaginei minha tia me dando sermão, minha mãe chorando... Quando eu melhorava, meu amigo me levava de volta para a bad trip. Quando ele melhorava, eu é quem o levava de volta... minha pele queimava, ardia, formigava. Por mais de meia hora, fiquei deitado sem poder me levantar, meu corpo não obedecia, e eu pensei que fui sábio por não entrar na água em momento algum. Eu já estava agoniado com aquele mundo colorido, vermelho, amarelado, verde intenso.... eu queria voltar e jurei nunca mais comer de novo. Ficávamos repetindo um pro outro, deitados na areia: "Quem usa isso de novo é doido, cara... é doido... Fulano usa todo fim de semana... ele é DOIDO, cara!" Nesse tempo eu lambi a areia, vi o chão respirar e fluir como um rio... quando foquei nessas alterações visuais, fui melhorando, era como no início da trip. Fui lavar a língua na beira da água, consciente de que não deveria entrar. Quando ergui as mãos molhadas, elas estavam cheias de longos fios de cabelo, bem liso. Como se a água estivesse suja de cabelos. Foi uma das últimas viagens, sentei e fiquei esperando.

Enfim, ao mesmo tempo, o mundo ficou cinza. O mar voltou a ficar verde escuro, o céu nublado, a areia pálida, o vento frio. Pouca gente na praia, menos do que a gente imaginava. 16:00h. Parecia que eu estive fora do nosso mundo por dias, DIAS! Entendi o porquê de se chamar "trip". Foi realmente como pegar as malas e sair do país ou do planeta por uns tempos. O verde da vegetação e o vermelho dos prédios ainda estavam um pouco intensos. Estar de volta foi como acordar de um sonho; sabe quando a gente acorda de repente e dá um suspiro profundo?
Fomos caminhando de volta para casa, comentando timidamente sobre a viagem, mas os dois, meio calados, relembrando toda a experiência da trip. Não deu pra contar tudo nos mínimos detalhes, senão viraria um livro. Acho que todo mundo que escreve aqui também deve se conter para não escrever um romance de 200 páginas, cada situação descrita continha vários detalhes adicionais.
Hoje em dia eu me conheço melhor, desencanei desse lance de múltiplas personalidades, sei lidar melhor com minhas sequelas alucinógenas causadas pelo uso de benflogin anos atrás e sou menos rabugento. Mas não comprei roupas coloridas. :D
 
Gostei da viagem!!
Mas deveria comprar roupas coloridas sim!! o mundo anda muito sobrio e um colorido sempre cai bem!!!haha
Passamos a vida toda criando regras de conduta para nós mesmo e os cogumelos aniquilam essas regras, ai ficamos meio perdidos mesmo, mas é maravilhoso poder se sentir livre dessas amarras inventadas.....é como se na altura da cabeça de todos nós existisse uma nevoa que bloqueia nossa visão, sensação, sentimentos, pensamentos e etc. mas quando estamos cogumelados pegamos uma banquinho subimos nele e olhando pra baixo conseguimos ver aquela neblina que nos cegava!
E na próxima vez, quando se sentir pronto de novo, planeje tudo com antecedencia e carinho, pra não te que entrar em vibrações pesadas de preocupação........e ficar saltitando todo tempo!!!haha
Se bem que as vezes precisamos apanhar um pouco pra aprender!!

Grande abraço e boa sorte
 
Chumba: seja bem-vindo a você mesmo!

... tudo o que você vivenciou foi um encontro com você mesmo... sem máscaras, dogmas de criação, conceitos pré-existentes... você "zerou" e se encontrou... talvez tenha se assustado com a sua verdadeira essência... viu como a simplicidade é complexa?

... na vida normal (careta) nós nos anulamos... somos obrigados a interpretar papéis o tempo todo para podermos ser aceitos pelos outros.... egos descontrolados... máscaras constantes... e durante anos (para alguns a vida toda) perdemos a conexão com a nossa verdadeira essência... felizmente você conquistou isso nessa trip...

Gostei muito da tua trip.. me lembrou as minhas primeiras.... não sentiu uma "conexão" com o universo como se você fosse parte do "todo"?

... excelente dosagem para uma primeira trip!

... ótimo setting: natureza... espaço de sobra sem claustrofobia... paisagem inspiradora...

Dê um tempo agora... reflita sobre o que aprendeu... quando se sentir pronto novamente coma 2 cogumelos... e entregue-se... deixe fluir e aceite tudo o que sentir...

outra coisa: se quiser algo realmente mágico e intenso dê um jeito de ser envolvido por música ao ar livre... não fone de ouvido... sentirá coisas incríveis...

Parabéns! :pos:


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Chumba: seja bem-vindo a você mesmo!

... tudo o que você vivenciou foi um encontro com você mesmo... sem máscaras, dogmas de criação, conceitos pré-existentes... você "zerou" e se encontrou... talvez tenha se assustado com a sua verdadeira essência... viu como a simplicidade é complexa?

... na vida normal (careta) nós nos anulamos... somos obrigados a interpretar papéis o tempo todo para podermos ser aceitos pelos outros.... egos descontrolados... máscaras constantes... e durante anos (para alguns a vida toda) perdemos a conexão com a nossa verdadeira essência... felizmente você conquistou isso nessa trip...

Gostei muito da tua trip.. me lembrou as minhas primeiras.... não sentiu uma "conexão" com o universo como se você fosse parte do "todo"?
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Exatamente, cara! Exatamente! Poucos meses depois da trip, estou sendo bem sucedido em abandonar as bebidas destiladas, me sinto muito melhor comigo mesmo e com a vida! Infelizmente ainda vivo usando máscaras, minha vida é cheia de submundos, profissional/acadêmico, religioso, familiar.... Cada submundo exige um perfil diferente, e graças à minha camuflagem me dou bem em todos eles. Cada pessoa de cada mundo conhece um Chumba diferente, é chato... Prejudica quando quero ter um relacionamento mais profundo com alguém de um desses submundos. Só posso ser eu mesmo com meus poucos verdadeiros amigos, e 98% deles são junkies!
 
Bom dia a todos !

Bela TRIP cara , na parte que vc fala do vermelho relembrei uma trip junto com um amigo meu , a gente sentado de frente de um peh de limao olhando para um limao e falando um para ou outro '' nossa veio essi limao eh muito verde cara , eh um limao mutante ,eh o limao dos deuses e varias outras baboseiras sobre essi limao'' , ficamos uma hora e meia analisando o limao e trocando ideia sobre eli dai eu fui lah e apanhei eli coisa que rendeu lagrimas pra nois dois pq eu tinha destruido o ciclo da vida do limao e outras teorias malucas que nois dois inventamos , mais dai passo pq a gente viu uma rosa que era muitooo brilhante foi d mais essa trip, hoje essi limao ta dentro de um vidro aqui en casa bem seco coitadinho junto com a rosa q tbm esta super seca.

Agora sequelas alucinogenas de BEN eh uma porcaria quando eu uzava cocaina voltava a brisa do BEN sempre e nas 3 primeira TRIPS tive varios flash de ben moh coisa ruim , hj naum uzo mais ben e nem coca grassas a deus e aos cogus e as plantas magicas .

Sobre as tais mascaras vc deveria deixar elas cairem e ser vc mesmo sem elas quem for de verdade seu amigo e gostar de vc vai saber aceitar bem isso , comigo foi assim , e vc deveria comprar roupas com mais cores .

Um grande abraço a todos !
 
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