- 09/03/2023
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Dedico cada palavra desse texto a qualquer pessoa que estiver disposta a ler até o final.
Antes de comentar como foi a experiência, gostaria de explicar o Set&Setting que eu utilizei.
Minha idéia desde o começo era utilizar a sala. Então peguei algumas coisas do quarto e levei para lá. Foram elas um quadro (anexo), colchão, cobertor, travesseiros (muitos), garrafa de água, a televisão e montei uma Playlist (Bethoven 9 Sinfonia, Sia e Bruno Mars), foram +- 4 horas de músicas. E claro, a alimentação foi bem balanceada, e pelo fato de eu fazer dieta, me ajudou muito. De certa forma, evitei alimentos processados, frituras, refrigerante. Optei pelo típico prato comercial: arroz, feijão, frango e salada.
Também gostaria de pontuar que estava um pouco receoso de ter a experiência sozinho, então chamei uma amiga para me acompanhar, chamaremos ela de bláblá (pediu para que não mencionasse o nome dela). E foi a melhor decisão que eu tive na minha vida, ter essa grande amiga ao meu lado. De certa forma, ela me guiou para uma experiência fantástica.
Agora, gostaria de pontuar um pouco sobre quem é as duas pessoas que vivem dentro da minha cabeça, pode não fazer sentido agora, mas certamente fará mais ao final. E, claro, tornará a leitura muito mais prazerosa, divertida e cheia de verdades.
Dentro da minha mente existem duas personalidades. O Razão e A Emoção.
Pode se imaginar que O Razão seja um homem muito forte, indestrutível, musculoso e extremamente robusto. E A emoção seja uma loira de olhos azuis (imagine uma Giselle Bunchen). Imaginou? Pois é assim que é para mim.
Eles sempre estão juntos e O Razão sempre leva em consideração cada palavra que A Emoção fala. As vezes penso que nessas brigas, A Emoção sempre leva. Sempre. De certa forma eu gosto das discussões dos dois. Aprendo sempre.
Por que digo tudo isso? Porque nossa jornada começa aqui.
Havia tomado a decisão de tomar 3 gramas de cogumelos Psilocibina Cubensis e o universo entendeu a mensagem. E quando digo universo, eu digo Deus.
Cheguei em casa por volta das 13 horas e ao tentar abrir o portão de casa, a chave do cadeado que trancava a garagem simplesmente quebrou (Anexo). Dei risada, peguei a chave reserva e guardei o carro na garagem. Subi as escadas e abri a porta (será importante esse detalhe mais a frente).
Tomei um banho e coloquei uma roupa branca e, por incrível que pareça, eu tinha cismado com a roupa branca. Até tive que tirar do fundo do guarda roupa a camisa. Sei lá, por um segundo eu pensei que seria legal.
Almocei e busquei a blabla no serviço e viemos para casa, chegamos por volta das 16 horas. Pedi para a blabla ir subindo na frente que eu pegaria algumas coisas no carro. Entreguei a chave para ela. No meio da escada a blabla me grita perguntando aonde estava a cabeça da chave.
Lembra da porta? Pois é, a chave estava quebrada dentro da fechadura com a porta aberta (anexo). Ou seja, na hora em que eu abri a porta de casa, a chave ficou presa dentro dela.
Deus fez uma pegadinha comigo e, olhando agora, eu penso que ele me preparou para o que estava por vir.
Uma porta travada aberta sem a possibilidade de trancar.
Ironia do universo? Não sei, mas certamente essa foi só a primeira, ainda tinha a chave do cadeado que tinha quebrado. Acho que Deus me disse: Olha, as portas vão ficar abertas hoje. Nada de trancas.
Aceitei o desafio.
Separei as 3 gramas de cogumelo e virei todas com 6 goles de água (optei por capsulas).
Detalhe interessante foi que optei por digerir uma por uma e somar na minha mente enquanto O Razão tomava a atitude de engolir as cápsulas de 500mg, e A Emoção só observando.
Ficou exatamente assim dentro da cabeça:
500... olha só...
1000... dou conta...
1500... da para parar por aqui ....
2000... até aqui eu fui antes ein....
2500.... O Razão, tu tem certeza disso? -já tomei 2500, o que é mais 500?....
3000... Emoção: Agora não tem volta. Tu é um idiota.
Percebe a conversa? O Razão Levou essa.
3 Gramas para dentro e fé.
Blabla olhou e deu risada. Sentamos e resolvemos jogar uno, super trunfo e truco escutando Bethoven.
De certa forma, eu não queria ficar esperando bater o efeito, simplesmente queria agir normalmente até a hora que eu não agiria mais normalmente. Acho que eu consegui sentir eu indo embora e sobrando só eu. Percebe a loucura?
Aos poucos comecei a sentir as mudanças, extrema atenção em tudo e muita vontade de rir. Eu nunca joguei truco com tanta emoção na minha vida. A propósito, perdi. Apostei meu espadas num grito de 12 e ela me jogou o zap. Eu nunca vibrei tanto, foi mágico.
Depois que acabamos a partida, resolvi andar pela casa e tentar me olhar no espelho...
Eu confesso que estava com muito medo de me olhar no espelho. Mas, no momento que o fiz, a única coisa que eu sentia era: Paz.
Sem ruido. Sem incertezas. Sem medo. Sem amanhã ou o hoje. Sem dia ou noite. Sem roupa confortável. Não tinha nada.
E lá estava eu, de frente para o espelho com um pé no tapete e um no chão.
Era o que era. O chão era maravilhosamente liso e a textura do tapete era uma mágica.
Ali, me olhando no espelho, eu senti que O Razão e A Emoção sentaram em um banquinho juntos e ficaram olhando para aquele globo gigante (Eu acredito que era minha mente) ficando totalmente sem as placas de contenção. E Acredite, eram placas de um bunker nuclear. Eu me recordo de fechar os olhos e me ver pelos olhos deles vendo a cena da mente simplesmente se desfazendo. Cheio de luz e prismas, curvas e mais curvas de cores, era pulsante e vivo. Eu estava vivo.
Sempre acreditei que seria arrancado a força, que me jogaria em um turbilhão infinito e que doeria. Mas não, foi devagar, sútil, educado e cordial. Foi progressivo e contínuo. Foi como um trem muito robusto vindo dentro de um túnel iluminando o caminho. Mas aonde ele passava mantinha tudo aceso.
E eu peguei carona naquele trem.
Depois de me olhar no espelho, resolvi que queria jogar uma água no corpo. E essa foi uma decisão que eu recomendo a todos. Tome um banho com água quente e água gelada em seguida.
Ao entrar no chuveiro eu senti que a água e eu éramos um só. Não existia a água ou eu, éramos os dois juntos. Eu fechei os olhos e podia ver claramente as gotículas de água caindo. Parecia a água escorrendo de um para-brisa de um carro.
E sem pensar duas vezes, desliguei a energia da água e começou a vir água gelada, 1...2....3.... respiro fundo e deu um choque térmico imenso... Foi um arrepio explosivo por todo o corpo. Foi o maior estado de presença da minha vida, lá estava eu, controlando meus impulsos para não sair da água gelada (fará mais sentido mais a frente).
Sai do chuveiro muito revigorado e super agitado, ria como se não houvesse amanhã, corri para a sala e comentei com a blabla do que eu tinha sentido. Trocamos mais algumas informações, ela sempre me perguntava se eu estava bem e sempre abria um sorriso.
Sentei na poltrona e peguei meu quadro e comecei a observar (um desenho feito a mão de uma máscara do V de Vingança com uns traços bem coloridos), senti que aquela máscara escondia uma pessoa e eu senti muita dó, viver uma vida inteira com uma máscara. Quem era aquela pessoa?
Lembra sobre controlar impulsos? Pois é, eu abri um bis e coloquei no meu lado da poltrona e fiquei olhando ele e tentando sentir o impulso de querer comer. Devo ter ficado com ele do lado por uns 30 minutos sem comer. Foi uma experiência muito boa, monitorar o meu sentimento de querer comer e conte-lo. Recomendo a todos para que façam esse teste, mesmo sóbrio. Monitore seus impulsos.
Senhores, infelizmente nem tudo são flores. Aqui entramos em um caminho aonde filho chora e mãe não vê.
Resolvi colocar o clipe do Imagine Dragons – Birds. Erro fatal.
Escrever sobre isso vai ser difícil, mas farei o meu melhor.
Quando tinha uns 5 ou 6 anos eu estudava em uma escola perto de casa. E criança, infelizmente, as vezes podem ser maldosas. Fizeram uma lista dentro da sala com o nome de todas as pessoas feias, e uma menina chegou em mim e me mostrou e fez questão de enfatizar que eu era o último, porque eu era horrível. Todo mundo riu. Foi dolorido para um cacete. E toda a minha vida a partir daquele momento foi um inferno de bullying. Não tinha apoio em casa e na escola era pior ainda. Demorei muito para amadurecer. Foi muito, muito difícil.
Eu tinha costume de chorar escondido no chuveiro, porque ali ninguém ia saber. Me recordo de uma vez que uma menina ruiva abaixou as minhas calças no mezanino da quadra de futebol, estava muito cheio. Ela só riu e ninguém falou nada. As vezes as pessoas olham e falam: há, mas pensando bem, nem foi tão horrível. Mas pega uma criança de 5 anos que não sabe nada da vida e vive uma cena dessa, certamente imagina que o corpo dele é vergonhoso. Pois é, eu cresci e vivi 28 anos da minha vida achando que eu era horroroso.
Comecei a fazer terapia porque queria entender isso, e hoje, 24 anos depois, eu consigo me olhar no espelho e falar: Caralho muleke, você ta monstro porra!! Vamos ir mais longe, não se preocupa!
Enfim, porque dei todo esse contexto?
A blabla resolveu colocar o vídeo do Pabllo Vittar – Indestrutível. E aquilo foi como uma onda gigante. Crescendo, crescendo e crescendo e quando vi eu já estava dentro dela. Não tinha muito o que fazer. Não tinha controle do que pensava.
Eu só Aceitei.
Peguei minhas coisas e pedi para a blabla um minuto. E passei os próximos 20 minutos dentro do quarto debaixo da estante agarrado a um travesseiro chorando tudo o que eu não chorei. Eu havia transbordado. Estava exausto. Eu sentia a imensa solidão daquele menino. Eu sentia o quão triste ele ficou. O quanto ele se achava incapaz. Eu não era ele, eu estava com ele. Eu vi ele no fundo do poço, sozinho e triste. E escrevendo isso nesse exato momento me da vontade de chorar. Ali estava o meu melhor amigo, e o que doía mais era o fato de que era eu mesmo que o havia colocado naquele poço. Todas as vezes que eu me olhava no espelho e chamava aquele menino de idiota, perguntava para ele porque ele não fez ou disse nada? Mas o que um menino de 5 anos poderia dizer ou fazer? Eu fiz o melhor que eu pude.
A Emoção pediu para eu ajudar ele.
Eu parei de chorar com ele, o chamei e falei em voz alta: Ei, vem ver o que você construiu. E eu fiz uma revisão da minha vida toda para ele. Eu nunca me senti tão aliviado e feliz na minha vida. Eu estava orgulhoso da escolha que aquele menino fez. Eu sou o homem que aquele menino queria ser. Nós conseguimos, ele conseguiu. Ele me deu a melhor personalidade que eu poderia ter. Ele me deu coragem e orgulho de mim. Me deu alegria e uma mente que eu acho tão linda e confortável. Ele venceu... Eu venci.
Sai debaixo da estante e peguei a mão daquele menino e nós conversamos. Contei tudo e o levei para sentar com O Razão e A Emoção. Ele estava tão encantado com tudo o que tínhamos construído. A parte mais dolorida foi o momento em que ele perguntou: e o nosso irmão? Como ele está?
Eu respondi, não esta bem, eu acho.
Ele falou: Já cuidou de mim, acho que deveríamos cuidar dele não?
(E pensar nisso agora me fez chorar).
Eu chorei mais ainda. A Emoção Falou para mim que era hora de ele ir para casa. O Razão queria que ele ficasse mais um pouco. Me recordo de ela colocar a mão no ombro e falar: Deixa ele ir para casa, vocês vão conversar pro resto da vida.
O Razão falou: Vai lá e vê o que construímos. Você vai gostar.
E ele me abraçou e foi para casa. Ele estava tão feliz. Ele estava tão orgulhoso. Ele era tão lindo. Eu sinto muito, mais muito pelo o que fizeram com ele. Eu sinto muito o que eu fiz contigo. Me desculpa. Agora você está comigo. Estamos juntos. Te amo.
Ele está em casa.
Sai do quarto e fui para a cozinha, virei um copo gigante de água e comecei a fazer um misto quente para a blabla. Ela veio até a cozinha e perguntou como eu estava.
Nesse momento comecei a entrar em desespero porque eu não queria mais que a blabla estivesse ali. Ofereci para levar ela embora e eu ficar sozinho.
Ela comeu o misto e fui levar ela até a casa dela.
Deixei o celular em casa e fui dirigir. Ainda estava com o efeito do cogumelo, mas estava mais tranquilo. Até porque eu já tinha passado por algo tão pesado, tudo o que viesse depois seria mamão com açúcar.
E foi, deixei a blabla na casa dela e voltando para casa, mais uma vez Deus agiu, a única entrada para o bairro mais fácil estava com um ônibus travado na diagonal e fechou a rotatória e o acesso na via local e, adivinha, fui obrigado a dar uma volta maior e pegar outra entrada e fui obrigado a passar na frente da escola em que todo aquele tormento começou. Eu passei, olhei e acenei. Deus me deu uma oportunidade de me mostrar que estava tudo bem, eu tinha aceitado.
Dirigir o carro com o efeito do cogumelo me deu uma sensação indiscritivel de segurança. Eu podia sentir cada movimento da roda e aceleração. De certa forma, eu senti controle total da situação. Eu ria e ria e ria dirigindo aquele carro. Eu estava lá. A sensação que eu tinha era que eu não estava dirigindo, eu estava assistindo eu dirigir e isso tornou a experiência muito mais emocionante.
E eu chorei.
Chorei por estar no controle, chorei por até que enfim poder escolher qual rua eu iria seguir, chorei por poder escolher a velocidade do carro, chorei por correr com o carro, chorei por ir devagar e chorei por conseguir.
Chegando em casa, coloquei o carro na garagem e agradeci o carro por ter me trazido em segurança. Eu falei com o carro, foi muito divertido haha.
Então subi, deitei no colchão, cobri os olhos e resolvi focar só na respiração e o barulho calmante do ventilador (que aproposito era continuo).
E aqui senhores, foi a reconstrução de tudo.
Imagine comigo um galho de rosa cheio de espinhos e agora imagine um monte desses galhos entrelaçados e conforme eles se movimentavam iam cobrindo todos com uma manta. Depois imagine um enorme campo de trigo e você é uma mosca voando no meio do campo e cada galho que você passa ganha mais dessas mantas e vão se fechando. Foi mais ou menos isso, eu podia sentir tudo voltando a se fechar e, confesso, foi muito gostoso ver tudo voltando aos poucos.
E fica melhor, ao tentar colocar uma estrutura de ferro dentro de um quarto eu senti que não estava encaixando em um dos cantos porque algo atrapalhava e, quando fui ver, tinha um rolo de durex preso no canto, tirei o durex e a estrutura encaixou perfeitamente e eu lembro de pensar: há... está explicado, era isso que atrapalhava o encaixe da estrutura.
Depois eu estava sentado em uma poltrona e um cômodo começou a rodar em cima de mim e eu pensando: cacete, isso vai cair em cima da minha cabeça. E do nada parou, quando olhei para cima, eu percebi que o cômodo era feito de ponta cabeça. GENIAL.
Por fim, voltei para o mesmo banco e encontrei O Razão e A Emoção sentados juntos olhando para aquele enorme globo na frente deles pulsando um monte de prismas coloridos e ondas gigantes de cores. O Razão olhou e falou: É... acho que acabou.
E acabou.
Antes de comentar como foi a experiência, gostaria de explicar o Set&Setting que eu utilizei.
Minha idéia desde o começo era utilizar a sala. Então peguei algumas coisas do quarto e levei para lá. Foram elas um quadro (anexo), colchão, cobertor, travesseiros (muitos), garrafa de água, a televisão e montei uma Playlist (Bethoven 9 Sinfonia, Sia e Bruno Mars), foram +- 4 horas de músicas. E claro, a alimentação foi bem balanceada, e pelo fato de eu fazer dieta, me ajudou muito. De certa forma, evitei alimentos processados, frituras, refrigerante. Optei pelo típico prato comercial: arroz, feijão, frango e salada.
Também gostaria de pontuar que estava um pouco receoso de ter a experiência sozinho, então chamei uma amiga para me acompanhar, chamaremos ela de bláblá (pediu para que não mencionasse o nome dela). E foi a melhor decisão que eu tive na minha vida, ter essa grande amiga ao meu lado. De certa forma, ela me guiou para uma experiência fantástica.
Agora, gostaria de pontuar um pouco sobre quem é as duas pessoas que vivem dentro da minha cabeça, pode não fazer sentido agora, mas certamente fará mais ao final. E, claro, tornará a leitura muito mais prazerosa, divertida e cheia de verdades.
Dentro da minha mente existem duas personalidades. O Razão e A Emoção.
Pode se imaginar que O Razão seja um homem muito forte, indestrutível, musculoso e extremamente robusto. E A emoção seja uma loira de olhos azuis (imagine uma Giselle Bunchen). Imaginou? Pois é assim que é para mim.
Eles sempre estão juntos e O Razão sempre leva em consideração cada palavra que A Emoção fala. As vezes penso que nessas brigas, A Emoção sempre leva. Sempre. De certa forma eu gosto das discussões dos dois. Aprendo sempre.
Por que digo tudo isso? Porque nossa jornada começa aqui.
Havia tomado a decisão de tomar 3 gramas de cogumelos Psilocibina Cubensis e o universo entendeu a mensagem. E quando digo universo, eu digo Deus.
Cheguei em casa por volta das 13 horas e ao tentar abrir o portão de casa, a chave do cadeado que trancava a garagem simplesmente quebrou (Anexo). Dei risada, peguei a chave reserva e guardei o carro na garagem. Subi as escadas e abri a porta (será importante esse detalhe mais a frente).
Tomei um banho e coloquei uma roupa branca e, por incrível que pareça, eu tinha cismado com a roupa branca. Até tive que tirar do fundo do guarda roupa a camisa. Sei lá, por um segundo eu pensei que seria legal.
Almocei e busquei a blabla no serviço e viemos para casa, chegamos por volta das 16 horas. Pedi para a blabla ir subindo na frente que eu pegaria algumas coisas no carro. Entreguei a chave para ela. No meio da escada a blabla me grita perguntando aonde estava a cabeça da chave.
Lembra da porta? Pois é, a chave estava quebrada dentro da fechadura com a porta aberta (anexo). Ou seja, na hora em que eu abri a porta de casa, a chave ficou presa dentro dela.
Deus fez uma pegadinha comigo e, olhando agora, eu penso que ele me preparou para o que estava por vir.
Uma porta travada aberta sem a possibilidade de trancar.
Ironia do universo? Não sei, mas certamente essa foi só a primeira, ainda tinha a chave do cadeado que tinha quebrado. Acho que Deus me disse: Olha, as portas vão ficar abertas hoje. Nada de trancas.
Aceitei o desafio.
Separei as 3 gramas de cogumelo e virei todas com 6 goles de água (optei por capsulas).
Detalhe interessante foi que optei por digerir uma por uma e somar na minha mente enquanto O Razão tomava a atitude de engolir as cápsulas de 500mg, e A Emoção só observando.
Ficou exatamente assim dentro da cabeça:
500... olha só...
1000... dou conta...
1500... da para parar por aqui ....
2000... até aqui eu fui antes ein....
2500.... O Razão, tu tem certeza disso? -já tomei 2500, o que é mais 500?....
3000... Emoção: Agora não tem volta. Tu é um idiota.
Percebe a conversa? O Razão Levou essa.
3 Gramas para dentro e fé.
Blabla olhou e deu risada. Sentamos e resolvemos jogar uno, super trunfo e truco escutando Bethoven.
De certa forma, eu não queria ficar esperando bater o efeito, simplesmente queria agir normalmente até a hora que eu não agiria mais normalmente. Acho que eu consegui sentir eu indo embora e sobrando só eu. Percebe a loucura?
Aos poucos comecei a sentir as mudanças, extrema atenção em tudo e muita vontade de rir. Eu nunca joguei truco com tanta emoção na minha vida. A propósito, perdi. Apostei meu espadas num grito de 12 e ela me jogou o zap. Eu nunca vibrei tanto, foi mágico.
Depois que acabamos a partida, resolvi andar pela casa e tentar me olhar no espelho...
Eu confesso que estava com muito medo de me olhar no espelho. Mas, no momento que o fiz, a única coisa que eu sentia era: Paz.
Sem ruido. Sem incertezas. Sem medo. Sem amanhã ou o hoje. Sem dia ou noite. Sem roupa confortável. Não tinha nada.
E lá estava eu, de frente para o espelho com um pé no tapete e um no chão.
Era o que era. O chão era maravilhosamente liso e a textura do tapete era uma mágica.
Ali, me olhando no espelho, eu senti que O Razão e A Emoção sentaram em um banquinho juntos e ficaram olhando para aquele globo gigante (Eu acredito que era minha mente) ficando totalmente sem as placas de contenção. E Acredite, eram placas de um bunker nuclear. Eu me recordo de fechar os olhos e me ver pelos olhos deles vendo a cena da mente simplesmente se desfazendo. Cheio de luz e prismas, curvas e mais curvas de cores, era pulsante e vivo. Eu estava vivo.
Sempre acreditei que seria arrancado a força, que me jogaria em um turbilhão infinito e que doeria. Mas não, foi devagar, sútil, educado e cordial. Foi progressivo e contínuo. Foi como um trem muito robusto vindo dentro de um túnel iluminando o caminho. Mas aonde ele passava mantinha tudo aceso.
E eu peguei carona naquele trem.
Depois de me olhar no espelho, resolvi que queria jogar uma água no corpo. E essa foi uma decisão que eu recomendo a todos. Tome um banho com água quente e água gelada em seguida.
Ao entrar no chuveiro eu senti que a água e eu éramos um só. Não existia a água ou eu, éramos os dois juntos. Eu fechei os olhos e podia ver claramente as gotículas de água caindo. Parecia a água escorrendo de um para-brisa de um carro.
E sem pensar duas vezes, desliguei a energia da água e começou a vir água gelada, 1...2....3.... respiro fundo e deu um choque térmico imenso... Foi um arrepio explosivo por todo o corpo. Foi o maior estado de presença da minha vida, lá estava eu, controlando meus impulsos para não sair da água gelada (fará mais sentido mais a frente).
Sai do chuveiro muito revigorado e super agitado, ria como se não houvesse amanhã, corri para a sala e comentei com a blabla do que eu tinha sentido. Trocamos mais algumas informações, ela sempre me perguntava se eu estava bem e sempre abria um sorriso.
Sentei na poltrona e peguei meu quadro e comecei a observar (um desenho feito a mão de uma máscara do V de Vingança com uns traços bem coloridos), senti que aquela máscara escondia uma pessoa e eu senti muita dó, viver uma vida inteira com uma máscara. Quem era aquela pessoa?
Lembra sobre controlar impulsos? Pois é, eu abri um bis e coloquei no meu lado da poltrona e fiquei olhando ele e tentando sentir o impulso de querer comer. Devo ter ficado com ele do lado por uns 30 minutos sem comer. Foi uma experiência muito boa, monitorar o meu sentimento de querer comer e conte-lo. Recomendo a todos para que façam esse teste, mesmo sóbrio. Monitore seus impulsos.
Senhores, infelizmente nem tudo são flores. Aqui entramos em um caminho aonde filho chora e mãe não vê.
Resolvi colocar o clipe do Imagine Dragons – Birds. Erro fatal.
Escrever sobre isso vai ser difícil, mas farei o meu melhor.
Quando tinha uns 5 ou 6 anos eu estudava em uma escola perto de casa. E criança, infelizmente, as vezes podem ser maldosas. Fizeram uma lista dentro da sala com o nome de todas as pessoas feias, e uma menina chegou em mim e me mostrou e fez questão de enfatizar que eu era o último, porque eu era horrível. Todo mundo riu. Foi dolorido para um cacete. E toda a minha vida a partir daquele momento foi um inferno de bullying. Não tinha apoio em casa e na escola era pior ainda. Demorei muito para amadurecer. Foi muito, muito difícil.
Eu tinha costume de chorar escondido no chuveiro, porque ali ninguém ia saber. Me recordo de uma vez que uma menina ruiva abaixou as minhas calças no mezanino da quadra de futebol, estava muito cheio. Ela só riu e ninguém falou nada. As vezes as pessoas olham e falam: há, mas pensando bem, nem foi tão horrível. Mas pega uma criança de 5 anos que não sabe nada da vida e vive uma cena dessa, certamente imagina que o corpo dele é vergonhoso. Pois é, eu cresci e vivi 28 anos da minha vida achando que eu era horroroso.
Comecei a fazer terapia porque queria entender isso, e hoje, 24 anos depois, eu consigo me olhar no espelho e falar: Caralho muleke, você ta monstro porra!! Vamos ir mais longe, não se preocupa!
Enfim, porque dei todo esse contexto?
A blabla resolveu colocar o vídeo do Pabllo Vittar – Indestrutível. E aquilo foi como uma onda gigante. Crescendo, crescendo e crescendo e quando vi eu já estava dentro dela. Não tinha muito o que fazer. Não tinha controle do que pensava.
Eu só Aceitei.
Peguei minhas coisas e pedi para a blabla um minuto. E passei os próximos 20 minutos dentro do quarto debaixo da estante agarrado a um travesseiro chorando tudo o que eu não chorei. Eu havia transbordado. Estava exausto. Eu sentia a imensa solidão daquele menino. Eu sentia o quão triste ele ficou. O quanto ele se achava incapaz. Eu não era ele, eu estava com ele. Eu vi ele no fundo do poço, sozinho e triste. E escrevendo isso nesse exato momento me da vontade de chorar. Ali estava o meu melhor amigo, e o que doía mais era o fato de que era eu mesmo que o havia colocado naquele poço. Todas as vezes que eu me olhava no espelho e chamava aquele menino de idiota, perguntava para ele porque ele não fez ou disse nada? Mas o que um menino de 5 anos poderia dizer ou fazer? Eu fiz o melhor que eu pude.
A Emoção pediu para eu ajudar ele.
Eu parei de chorar com ele, o chamei e falei em voz alta: Ei, vem ver o que você construiu. E eu fiz uma revisão da minha vida toda para ele. Eu nunca me senti tão aliviado e feliz na minha vida. Eu estava orgulhoso da escolha que aquele menino fez. Eu sou o homem que aquele menino queria ser. Nós conseguimos, ele conseguiu. Ele me deu a melhor personalidade que eu poderia ter. Ele me deu coragem e orgulho de mim. Me deu alegria e uma mente que eu acho tão linda e confortável. Ele venceu... Eu venci.
Sai debaixo da estante e peguei a mão daquele menino e nós conversamos. Contei tudo e o levei para sentar com O Razão e A Emoção. Ele estava tão encantado com tudo o que tínhamos construído. A parte mais dolorida foi o momento em que ele perguntou: e o nosso irmão? Como ele está?
Eu respondi, não esta bem, eu acho.
Ele falou: Já cuidou de mim, acho que deveríamos cuidar dele não?
(E pensar nisso agora me fez chorar).
Eu chorei mais ainda. A Emoção Falou para mim que era hora de ele ir para casa. O Razão queria que ele ficasse mais um pouco. Me recordo de ela colocar a mão no ombro e falar: Deixa ele ir para casa, vocês vão conversar pro resto da vida.
O Razão falou: Vai lá e vê o que construímos. Você vai gostar.
E ele me abraçou e foi para casa. Ele estava tão feliz. Ele estava tão orgulhoso. Ele era tão lindo. Eu sinto muito, mais muito pelo o que fizeram com ele. Eu sinto muito o que eu fiz contigo. Me desculpa. Agora você está comigo. Estamos juntos. Te amo.
Ele está em casa.
Sai do quarto e fui para a cozinha, virei um copo gigante de água e comecei a fazer um misto quente para a blabla. Ela veio até a cozinha e perguntou como eu estava.
Nesse momento comecei a entrar em desespero porque eu não queria mais que a blabla estivesse ali. Ofereci para levar ela embora e eu ficar sozinho.
Ela comeu o misto e fui levar ela até a casa dela.
Deixei o celular em casa e fui dirigir. Ainda estava com o efeito do cogumelo, mas estava mais tranquilo. Até porque eu já tinha passado por algo tão pesado, tudo o que viesse depois seria mamão com açúcar.
E foi, deixei a blabla na casa dela e voltando para casa, mais uma vez Deus agiu, a única entrada para o bairro mais fácil estava com um ônibus travado na diagonal e fechou a rotatória e o acesso na via local e, adivinha, fui obrigado a dar uma volta maior e pegar outra entrada e fui obrigado a passar na frente da escola em que todo aquele tormento começou. Eu passei, olhei e acenei. Deus me deu uma oportunidade de me mostrar que estava tudo bem, eu tinha aceitado.
Dirigir o carro com o efeito do cogumelo me deu uma sensação indiscritivel de segurança. Eu podia sentir cada movimento da roda e aceleração. De certa forma, eu senti controle total da situação. Eu ria e ria e ria dirigindo aquele carro. Eu estava lá. A sensação que eu tinha era que eu não estava dirigindo, eu estava assistindo eu dirigir e isso tornou a experiência muito mais emocionante.
E eu chorei.
Chorei por estar no controle, chorei por até que enfim poder escolher qual rua eu iria seguir, chorei por poder escolher a velocidade do carro, chorei por correr com o carro, chorei por ir devagar e chorei por conseguir.
Chegando em casa, coloquei o carro na garagem e agradeci o carro por ter me trazido em segurança. Eu falei com o carro, foi muito divertido haha.
Então subi, deitei no colchão, cobri os olhos e resolvi focar só na respiração e o barulho calmante do ventilador (que aproposito era continuo).
E aqui senhores, foi a reconstrução de tudo.
Imagine comigo um galho de rosa cheio de espinhos e agora imagine um monte desses galhos entrelaçados e conforme eles se movimentavam iam cobrindo todos com uma manta. Depois imagine um enorme campo de trigo e você é uma mosca voando no meio do campo e cada galho que você passa ganha mais dessas mantas e vão se fechando. Foi mais ou menos isso, eu podia sentir tudo voltando a se fechar e, confesso, foi muito gostoso ver tudo voltando aos poucos.
E fica melhor, ao tentar colocar uma estrutura de ferro dentro de um quarto eu senti que não estava encaixando em um dos cantos porque algo atrapalhava e, quando fui ver, tinha um rolo de durex preso no canto, tirei o durex e a estrutura encaixou perfeitamente e eu lembro de pensar: há... está explicado, era isso que atrapalhava o encaixe da estrutura.
Depois eu estava sentado em uma poltrona e um cômodo começou a rodar em cima de mim e eu pensando: cacete, isso vai cair em cima da minha cabeça. E do nada parou, quando olhei para cima, eu percebi que o cômodo era feito de ponta cabeça. GENIAL.
Por fim, voltei para o mesmo banco e encontrei O Razão e A Emoção sentados juntos olhando para aquele enorme globo na frente deles pulsando um monte de prismas coloridos e ondas gigantes de cores. O Razão olhou e falou: É... acho que acabou.
E acabou.