- 22/12/2007
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A Scientific American está publicando uma série sobre cientistas que se tornam suas próprias cobaias.
Não sei se vai sair na edição brasileira, mas uma das matérias, sobre Shulgin, foi traduzida para o site:
http://www2.uol.com.br/sciam/artigo...prias_cobaias_em_nome_da_ciencia_-_cap_8.html

Auto-experimentação – Capítulo 8
Químico psicodélico explora o lado surreal da mente com uma droga por vez
Alexander Shulgin enfrentou o governo americano, vômitos e paralisia em busca de compostos alucinantes
Por David Biello
Alexander Shulgin é o “psiconauta” mais à frente de seu tempo. O químico de 82 anos de idade não apenas criou mais de 300 compostos que alteram a consciência (ou seja, psicoativos), mas já experimentou, por conta própria, entre 200 e 250 dessas substâncias. A maior parte delas foi preparada em um laboratório bolorento atrás de sua casa nas montanhas a leste de Berkeley, na Califórnia, onde compartilhou várias viagens químicas com Ann, sua esposa há 26 anos.
“Eu experimentei tudo isso porque estou interessado na atividade dessas drogas na mente humana. Como você poderia testar isso em um camundongo, ou em um rato?”, pergunta Shulgin, conhecido pelos amigos como “Sasha”.
No entanto, ele pagou caro por essa vocação. Algumas de suas criações induziram vômito incontrolável, paralisia e a sensação de que seus ossos estavam derretendo, entre outros terrores. E embora algumas pessoas acreditem que Shulgin tenha aberto as portas da percepção para uma nova classe de compostos psicoativos potencialmente terapêuticos, outras argumentam que é dele a responsabilidade pelos danos que o abuso contínuo dessas substâncias ilícitas pode causar.
Quando estudava na University of California, em Berkeley, na década de 50, a primeira substância que Shulgin usou foi mescalina, uma droga psicodélica encontrada no peyote e outros cactos. “Ela me apresentou a cores novas que eu nunca tinha visto antes e me permitiu interpretar o que quer que eu visse com um vocabulário totalmente novo... E mesmo assim, que estrutura simples!”, lembra Shulgin.
No anos 60, quando trabalhava como químico na Dow Chemical Co., em San Francisco, ele não resistiu e resolveu brincar um pouco com a poderosa molécula da mescalina. Shulgin sintetizou compostos inteiramente novos que mantinham qualidades “viajantes” similares. Algumas variações eram menos potentes, mas outras eram ainda mais poderosas ou tinham seu próprio toque especial.
Shulgin, que saiu da Dow em 1965 para ser consultor do U.S. Drug Enforcement Administration (DEA), agência norte-americana de combate ao tráfico, ofereceu as melhores amostras de seu trabalho para Ann, sua segunda esposa; as mais promissoras foram distribuídas para um círculo de 10 amigos próximos até a metade da década de 90, quando o DEA, que tinha deixado de pagar por seus serviços, invadiu seu laboratório e revogou sua permissão para trabalhar com drogas ilegais.
A grande favorita de Shulgin, que ele descreve como “extraordinariamente confortável e bem erótica” é conhecida simplesmente como 2C-B, devido à sua composição química.

Shulgin já viu muitos dos compostos que inventou ou experimentou se tornarem ilegais nos Estados Unidos, incluindo alguns que nunca tinham sido sintetizados antes, e outros que para ele tinham potencial terapêutico, como o MDMA (metilenodioximetanfetamina), mais conhecido como ecstasy. “Fiquei muito triste ao ver o MDMA chegar à condição de ‘droga da lista 1’”, designação que proíbe sua fabricação ou uso no país – conta. “Eu sabia que isso inibiria a pesquisa do valor médico dessa substância, e foi exatamente isso que aconteceu.”
Alguns pesquisadores concordam que a resposta do governo a drogas psicoativas os priva do acesso a uma janela única para a consciência humana. Afinal, roedores ingerem sem maiores problemas grande parte dos tóxicos e narcóticos – de maconha a heroína –, mas não as substâncias psicodélicas mais poderosas.
“O mais peculiar é que não apenas tornamos essas drogas ilegais, como também nos afastamos delas cientificamente”, afirma o neurocientista Roland Griffiths da Escola de Medicina da Johns Hopkins University, um dos pesquisadores que está reiniciando uma pesquisa básica de psicodélicos. Seu laboratório demonstrou que a psilocibina, o ingrediente ativo de vários fungos conhecidos como “cogumelos mágicos”, pode produzir uma sensação de bem-estar de longa duração. Isso pode indicar que a droga poderia ser usada para ajudar pacientes deprimidos ou dependentes de substâncias químicas.
Shulgin, que continua estudando cactos em busca de caminhos alternativos para estados alterados da mente, prevê que, até o ano 2060, o número de substâncias psicodélicas conhecidas terá aumentado de 300 para 2.000. Ele pretende descobrir – e talvez experimentar – todas que puder. “É como abrir uma porta para um corredor”, explica, “que tem portas fechadas em toda a sua extensão; atrás de cada uma dessas portas está um mundo totalmente diferente à sua espera”.


Não sei se vai sair na edição brasileira, mas uma das matérias, sobre Shulgin, foi traduzida para o site:
http://www2.uol.com.br/sciam/artigo...prias_cobaias_em_nome_da_ciencia_-_cap_8.html

Auto-experimentação – Capítulo 8
Químico psicodélico explora o lado surreal da mente com uma droga por vez
Alexander Shulgin enfrentou o governo americano, vômitos e paralisia em busca de compostos alucinantes
Por David Biello
Alexander Shulgin é o “psiconauta” mais à frente de seu tempo. O químico de 82 anos de idade não apenas criou mais de 300 compostos que alteram a consciência (ou seja, psicoativos), mas já experimentou, por conta própria, entre 200 e 250 dessas substâncias. A maior parte delas foi preparada em um laboratório bolorento atrás de sua casa nas montanhas a leste de Berkeley, na Califórnia, onde compartilhou várias viagens químicas com Ann, sua esposa há 26 anos.
“Eu experimentei tudo isso porque estou interessado na atividade dessas drogas na mente humana. Como você poderia testar isso em um camundongo, ou em um rato?”, pergunta Shulgin, conhecido pelos amigos como “Sasha”.
No entanto, ele pagou caro por essa vocação. Algumas de suas criações induziram vômito incontrolável, paralisia e a sensação de que seus ossos estavam derretendo, entre outros terrores. E embora algumas pessoas acreditem que Shulgin tenha aberto as portas da percepção para uma nova classe de compostos psicoativos potencialmente terapêuticos, outras argumentam que é dele a responsabilidade pelos danos que o abuso contínuo dessas substâncias ilícitas pode causar.
Quando estudava na University of California, em Berkeley, na década de 50, a primeira substância que Shulgin usou foi mescalina, uma droga psicodélica encontrada no peyote e outros cactos. “Ela me apresentou a cores novas que eu nunca tinha visto antes e me permitiu interpretar o que quer que eu visse com um vocabulário totalmente novo... E mesmo assim, que estrutura simples!”, lembra Shulgin.
No anos 60, quando trabalhava como químico na Dow Chemical Co., em San Francisco, ele não resistiu e resolveu brincar um pouco com a poderosa molécula da mescalina. Shulgin sintetizou compostos inteiramente novos que mantinham qualidades “viajantes” similares. Algumas variações eram menos potentes, mas outras eram ainda mais poderosas ou tinham seu próprio toque especial.
Shulgin, que saiu da Dow em 1965 para ser consultor do U.S. Drug Enforcement Administration (DEA), agência norte-americana de combate ao tráfico, ofereceu as melhores amostras de seu trabalho para Ann, sua segunda esposa; as mais promissoras foram distribuídas para um círculo de 10 amigos próximos até a metade da década de 90, quando o DEA, que tinha deixado de pagar por seus serviços, invadiu seu laboratório e revogou sua permissão para trabalhar com drogas ilegais.
A grande favorita de Shulgin, que ele descreve como “extraordinariamente confortável e bem erótica” é conhecida simplesmente como 2C-B, devido à sua composição química.

Shulgin já viu muitos dos compostos que inventou ou experimentou se tornarem ilegais nos Estados Unidos, incluindo alguns que nunca tinham sido sintetizados antes, e outros que para ele tinham potencial terapêutico, como o MDMA (metilenodioximetanfetamina), mais conhecido como ecstasy. “Fiquei muito triste ao ver o MDMA chegar à condição de ‘droga da lista 1’”, designação que proíbe sua fabricação ou uso no país – conta. “Eu sabia que isso inibiria a pesquisa do valor médico dessa substância, e foi exatamente isso que aconteceu.”
Alguns pesquisadores concordam que a resposta do governo a drogas psicoativas os priva do acesso a uma janela única para a consciência humana. Afinal, roedores ingerem sem maiores problemas grande parte dos tóxicos e narcóticos – de maconha a heroína –, mas não as substâncias psicodélicas mais poderosas.
“O mais peculiar é que não apenas tornamos essas drogas ilegais, como também nos afastamos delas cientificamente”, afirma o neurocientista Roland Griffiths da Escola de Medicina da Johns Hopkins University, um dos pesquisadores que está reiniciando uma pesquisa básica de psicodélicos. Seu laboratório demonstrou que a psilocibina, o ingrediente ativo de vários fungos conhecidos como “cogumelos mágicos”, pode produzir uma sensação de bem-estar de longa duração. Isso pode indicar que a droga poderia ser usada para ajudar pacientes deprimidos ou dependentes de substâncias químicas.
Shulgin, que continua estudando cactos em busca de caminhos alternativos para estados alterados da mente, prevê que, até o ano 2060, o número de substâncias psicodélicas conhecidas terá aumentado de 300 para 2.000. Ele pretende descobrir – e talvez experimentar – todas que puder. “É como abrir uma porta para um corredor”, explica, “que tem portas fechadas em toda a sua extensão; atrás de cada uma dessas portas está um mundo totalmente diferente à sua espera”.

