- 21/05/2016
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Experiência que ocorreu no final da noite do dia 07/01 até o início da manhã do dia 08/01.
Depois de 9 dias fora de casa (29/12 até 07/01) cheguei de viagem cheio de energia e com a intenção de ingerir os cogus.
Essa foi realmente bastante forte e diferente da experiência que ocorreu no dia 20/12. Os fornecedores são diferentes. Confesso que não esperava por essa potência toda. Ingeri a mesma quantidade que ingeri dia 20/12 (4g) e foi algo totalmente diferente!
Comi os cogumelos às 23:45h (aproximadamente 12 cogumelos strain Thai Pink Buffalo). Fui tomar um banho frio. Em poucos minutos já senti como que um campo em volta da cabeça. Algo em mim estava ligado ou aceso. Uma vontade irresistível de deitar. Não era possível ficar de pé. Como de costume, estiquei o tapete de exercícios na sala (já devia ser meia noite) e deitei. Rapidamente meu corpo estava mole. Por um breve momento tive um acesso de medo. "Vi" um ser, um bicho, não sei...que parecia com uma aranha com vários olhos. Os olhos estavam dispostos como que em um enorme U de cabeça para baixo e no meio um enorme buraco. Em certo momento virou como se fossem penas e artefatos indígenas. Então vi alguns indígenas utilizando artefatos, cocares, vestimentas ..que se assemelhavam a bichos e pensei no valor de sobrevivência dessa "camuflagem".
Em seguida fechei os olhos e vi uns seres medonhos. Abri os olhos...vi o ambiente físico intacto. Pensei "Viu...são coisas de outra esfera e não estão aqui fisicamente". Fechei novamente os olhos e respirando eu senti minha coluna e ao mesmo tempo ouvi um barulho como se passasse o dedo em cada um dos dentes de um pente (tac tac tac tac...). O barulho acontecia enquanto eu respirava e sentia minha coluna como tendo vários desses dentes. Até que esse objeto (minha coluna) se transformou em uma espécie de dragão chinês que deu a volta na minha coluna e ficou me encarando. Logo sumiu. Senti então que eu respirei e destravei pontos de energia na coluna. Estava "emperrada".
Fiquei pensando na volta da viagem. A família da minha esposa é bastante religiosa (evangélica) e encontro uma série de coisas que sinto dificuldade em aceitar. Por exemplo, ao orar, pede-se apenas pelos seus, dizendo até o nome das pessoas, um por um, como se fosse uma lista mesmo. "Deus, nos leve em segurança até em casa...". Isso é sempre. Mas e as outras pessoas do ônibus, e a humanidade? Comecei a refletir sobre isso mais profundamente, até que "vi" todos nós no ônibus algumas horas antes, voltando para casa. "Vi" que não fazia sentido pedir pra Deus proteger fulano, beltrano e ciclano. "Vi" de repente o universo todo luminoso, emitindo fios finos de luz. Tudo parecia estar "pocando" com raios de luz. Vi que eu próprio era também parte disso tudo e todas as pessoas do ônibus e senti que não fazia o menor sentido pedir por proteção num universo desses ...mas que só podia agradecer mesmo, visto que estamos vivos enquanto tantos estão morrendo. Só restava agradecer. Essa visão de tudo brilhando foi demais pra mim. Improvável conseguir descrever. Foi tão estonteante que depois que a primeira onda veio, eu pensei...nossa, só tem poucos minutos, talvez uma hora ..ainda tem muito mais para acontecer. Cada vez que a onda voltava eu tinha uma sequência de visões que me impediam de formular em palavras o que eu via. Não era possível explicar nem pra mim mesmo.
Em dado momento eu fui transportado para uma cidade onde passei 12 anos da minha vida, desde a pré-adolescência até o início da fase adulta (10-22 anos). A lembrança dessa cidade e das pessoas com quem tinha contato existe na memória normalmente, mas dessa vez o valor da lembrança estava diferente. A qualidade de ver e saber e recordar estavam diferentes. Eu fui transportado para a casa de um desses colegas. Estudávamos até na mesma escola. Não era um colega que eu sempre andava junto, mas volta e meia eu o via. Fui à casa dele algumas vezes. De repente lembrei do cheiro peculiar que tinha a casa dele e todos da família! Eu senti o cheiro novamente! Acho que era de talco. Achei impressionante o valor e qualidade diferentes de lembrar das coisas dessa forma. Depois desse momento de imersão e recordação total, voltei a mim por uns instantes, um pouco ofegante, e tentei formular algo, mas não conseguia. Quando ia falar, começava a rir. Era impossível falar.
Em certo momento senti fios na minha boca. Achei que eram pêlos da gatinha e fiquei tentando tirar com os dedos. Levantei e fui ao banheiro, cuspi na pia...não tinha pêlos. Era energia! Energia "formigando" na língua e pela boca. Eu estava totalmente energizado, mas não podia falar. As ondas começaram a vir como avalanches que me deixavam ofegante. Eu estava perplexo. Eu não podia mais pensar igual penso normalmente. Esse tipo de pensamento estava interrompido.
Então eu vi e soube que o meu diálogo interno estava desligado e que eu estava 'sonhando', como diria Don Juan/Castaneda. E que eu não deveria desanimar da busca e dos exercícios de sonhar com os sonhos comuns, porque é assim que começa. É um dos caminhos. Senti com todas as células do meu ser que eu sou um 'sonhador' e que a mera intenção de adentrar nesse reino já desencadeia uma série de mudanças na nossa percepção. Fiquei horas sem poder formular o que eu via. Quando consegui levantar - antes eu havia sentado e fiquei encostado no sofá - era 2h da manhã. Levantei e me senti ainda muito tonto. Minha visão estava colorida. Não é que as cores estavam mais nítidas que o normal. Isso também! Mas minha visão tinha pontinhos coloridos, como pequenos pixels, como se tivesse uma tela cheia de pontinhos/furinhos na minha visão. Quando levantei senti meu corpo maior e extremamente relaxado. Bebi um pouco de água e fiquei em pé na cozinha, parado. Em vão me esforcei para formular o que eu via. Ainda não podia falar. E toda vez que tentava, acabava rindo, talvez da impossibilidade desse ato ocorrer naquele momento. Era hilário a tentativa de descrever aquilo usando itens, palavras e conceitos de nossa percepção cotidiana. Eu poderia então elaborar ou utilizar novos termos com novos conceitos, mas naquele momento essa nova descrição seria tão inútil quanto a descrição que já se tem e que alimenta nosso diálogo interno (sendo um bocado simplista, supondo que existe apenas um enorme diálogo interno, quando sabemos que existem também outros diálogos e até monólogos!) . Agora, depois da experiência, a utilização de novos conceitos pode ser útil. Entretanto, todos precisam partilhar da mesma semântica (o significado das palavras utilizadas). Caso contrário não existe uma comunicação de verdade. E o difícil é que isso não acontece só falando. É preciso ter a experiência e ver por si mesmo e sentir na própria consciência e no próprio corpo. O bizarro é que vendo tudo isso, não é apenas uma nova semântica, mas também uma nova sintaxe. O relacionamento entre as estruturas do mundo é diferente do relacionamento dessas mesmas estruturas quando estamos em nosso estado cotidiano.
Eu senti não como se tudo isso fosse fabricado pelo cogumelo, mas sim que o papel chave do cogumelo foi abrir a porta, levantar o véu, desvelar o mundo por trás do mundo. Senti que esse é nosso estado essencial. Mas quem aguentaria viver assim? Não dá. É muito intenso e forçado. Por maior que seja o bem estar provocado pelo cogu, não deixa de ser algo forçado/provocado. Por isso existem meios de se alcançar naturalmente essas percepções. Uma delas é a Arte do Sonhar.
Em dado momento eu fiquei na janela, olhando o céu. Estava limpo e estrelado, também sem Lua. Já devia ser umas 4h da manhã. Levantei um pouco mais a cabeça e vi a Lua surgindo no horizonte, atrás dos telhados. Logo ao lado e mais abaixo, Vênus, brilhando muito, pois em breve o Sol já iria nascer. Não conseguia focar direito a Lua, Vênus e as estrelas. Tudo brilhava muito. Minha reação automática foi forçar os olhos e propositadamente diminuir o brilho desses objetos a fim de perceber suas formas. Mas então algo em mim pensou "Pera lá, por que você quer racionalizar as coisas para seu padrão usual, de todo dia? Deixe que o brilho das coisas chegue em você como são e contemple de verdade!" Nesse momento pensei em nossos ancestrais consumindo enteogenos e observando o céu à noite. Pensei até 'ja que o brilho está amplificado, isso não ajudaria a identificar as estrelas, apenas pelo brilho?' O brilho tem identidade! Independente das variáveis físicas (distância, ângulo, etc) e químicas (composição do objeto), tudo isso causa uma impressão específica que é possível identificar através do brilho. Me veio uma resposta "as pessoas também emitem esse brilho, só que mais fraco. Tudo emite esse brilho. Treine seus olhos a contemplar de verdade como a Lua, Vênus e as estrelas são no momento em que vc as percebe agora e vc poderá contemplar qualquer coisa." Lembrei de uma frase que Dom Juan diz ao Castaneda:
"[...] Assim, deixe seus olhos serem
livres; que sejam janelas de verdade. Os olhos podem ser as janelas para
espiar para dentro do tédio ou para espiar para aquele infinito."
Fiquei bastante tempo olhando o céu. Parecia um quadro que só eu estava vendo, com significado, com beleza. Senti como um presente. Estava agradecido. Quando foi diminuindo a intensidade, comecei a sentir um calor incomum pelo corpo. Um calor gostoso. Meu corpo estava gostoso de ser sentido! Gostei do meu corpo. Me abracei. Senti meu próprio cheiro. Estava tudo muito agradável. As ondas de estupefação estavam cessando e o que restava era um êxtase pacífico em que podia observar e contemplar as coisas por momentos que pareciam ser eternos. Uma falta total de pressa. Eu podia observar sem aquela voz na cabeça que diz o que eu estou vendo. Eu sabia que meu diálogo interno ainda estava desligado. Deitei no tapete e fiz exercícios de alongamento. Que maravilha ter um corpo e poder senti-lo! Quando era aproximadamente 5h eu fui tomar um banho e deitar. Dormi até às 11h.
Levantei sem ressaca alguma. Estava ainda energizado. Sentia como que a mesma sensação na cabeça do início da experiência. Sentia, por assim dizer, que o cogu ainda estava circulando (e sabemos que fica dias assim). Mas estava bem intenso. Como os demais componentes da experiência não estavam mais presentes, restava apenas esse enorme silêncio. Eu já podia falar, mas algo estava diferente. O dia todo eu sentia como se não pudesse mais pensar. À noite fui comprar um lanche e fiquei aguardando ali mesmo, na esquina. Fiquei observando tudo. Pessoas, carros, gatos, cachorros, casas. Achei que estava tento um rebote em relação a euforia e alegria da madrugada e que estava ficando triste. Algo em mim analisou mais a fundo essa sensação e eu pude ver que a pequena voz que roda em background em tudo o que fazemos estava desligada. Fiquei dividido entre a paz, liberdade e sensação incomum de não precisar carregar a descrição das coisas como se carrega um armário e a familiaridade com a descrição usual, que me fez desejar por uns momentos voltar a ser como antes. Mas eu parei e ponderei mais e fiquei feliz em poder contemplar de verdade!
Ainda hoje sinto que posso acessar esse silêncio interno, onde as atividades de raciocínio usuais são suspensas por um momento. Uma impressão que me ficou foi a de decaimento. O início da experiência, na verdade um pouco depois do início...no pico, a visão mais estonteante (que nesse caso foi ver o universo luminoso) foi como um big-bang. Ali tudo foi criado novamente. Isso é apenas uma figura de linguagem. Ali tudo era novo e foi decaindo, decaindo...ficando cada vez menos abstrato e mais sólido e palpável, restando apenas um silêncio e um repouso.
Depois de 9 dias fora de casa (29/12 até 07/01) cheguei de viagem cheio de energia e com a intenção de ingerir os cogus.
Essa foi realmente bastante forte e diferente da experiência que ocorreu no dia 20/12. Os fornecedores são diferentes. Confesso que não esperava por essa potência toda. Ingeri a mesma quantidade que ingeri dia 20/12 (4g) e foi algo totalmente diferente!
Comi os cogumelos às 23:45h (aproximadamente 12 cogumelos strain Thai Pink Buffalo). Fui tomar um banho frio. Em poucos minutos já senti como que um campo em volta da cabeça. Algo em mim estava ligado ou aceso. Uma vontade irresistível de deitar. Não era possível ficar de pé. Como de costume, estiquei o tapete de exercícios na sala (já devia ser meia noite) e deitei. Rapidamente meu corpo estava mole. Por um breve momento tive um acesso de medo. "Vi" um ser, um bicho, não sei...que parecia com uma aranha com vários olhos. Os olhos estavam dispostos como que em um enorme U de cabeça para baixo e no meio um enorme buraco. Em certo momento virou como se fossem penas e artefatos indígenas. Então vi alguns indígenas utilizando artefatos, cocares, vestimentas ..que se assemelhavam a bichos e pensei no valor de sobrevivência dessa "camuflagem".
Em seguida fechei os olhos e vi uns seres medonhos. Abri os olhos...vi o ambiente físico intacto. Pensei "Viu...são coisas de outra esfera e não estão aqui fisicamente". Fechei novamente os olhos e respirando eu senti minha coluna e ao mesmo tempo ouvi um barulho como se passasse o dedo em cada um dos dentes de um pente (tac tac tac tac...). O barulho acontecia enquanto eu respirava e sentia minha coluna como tendo vários desses dentes. Até que esse objeto (minha coluna) se transformou em uma espécie de dragão chinês que deu a volta na minha coluna e ficou me encarando. Logo sumiu. Senti então que eu respirei e destravei pontos de energia na coluna. Estava "emperrada".
Fiquei pensando na volta da viagem. A família da minha esposa é bastante religiosa (evangélica) e encontro uma série de coisas que sinto dificuldade em aceitar. Por exemplo, ao orar, pede-se apenas pelos seus, dizendo até o nome das pessoas, um por um, como se fosse uma lista mesmo. "Deus, nos leve em segurança até em casa...". Isso é sempre. Mas e as outras pessoas do ônibus, e a humanidade? Comecei a refletir sobre isso mais profundamente, até que "vi" todos nós no ônibus algumas horas antes, voltando para casa. "Vi" que não fazia sentido pedir pra Deus proteger fulano, beltrano e ciclano. "Vi" de repente o universo todo luminoso, emitindo fios finos de luz. Tudo parecia estar "pocando" com raios de luz. Vi que eu próprio era também parte disso tudo e todas as pessoas do ônibus e senti que não fazia o menor sentido pedir por proteção num universo desses ...mas que só podia agradecer mesmo, visto que estamos vivos enquanto tantos estão morrendo. Só restava agradecer. Essa visão de tudo brilhando foi demais pra mim. Improvável conseguir descrever. Foi tão estonteante que depois que a primeira onda veio, eu pensei...nossa, só tem poucos minutos, talvez uma hora ..ainda tem muito mais para acontecer. Cada vez que a onda voltava eu tinha uma sequência de visões que me impediam de formular em palavras o que eu via. Não era possível explicar nem pra mim mesmo.
Em dado momento eu fui transportado para uma cidade onde passei 12 anos da minha vida, desde a pré-adolescência até o início da fase adulta (10-22 anos). A lembrança dessa cidade e das pessoas com quem tinha contato existe na memória normalmente, mas dessa vez o valor da lembrança estava diferente. A qualidade de ver e saber e recordar estavam diferentes. Eu fui transportado para a casa de um desses colegas. Estudávamos até na mesma escola. Não era um colega que eu sempre andava junto, mas volta e meia eu o via. Fui à casa dele algumas vezes. De repente lembrei do cheiro peculiar que tinha a casa dele e todos da família! Eu senti o cheiro novamente! Acho que era de talco. Achei impressionante o valor e qualidade diferentes de lembrar das coisas dessa forma. Depois desse momento de imersão e recordação total, voltei a mim por uns instantes, um pouco ofegante, e tentei formular algo, mas não conseguia. Quando ia falar, começava a rir. Era impossível falar.
Em certo momento senti fios na minha boca. Achei que eram pêlos da gatinha e fiquei tentando tirar com os dedos. Levantei e fui ao banheiro, cuspi na pia...não tinha pêlos. Era energia! Energia "formigando" na língua e pela boca. Eu estava totalmente energizado, mas não podia falar. As ondas começaram a vir como avalanches que me deixavam ofegante. Eu estava perplexo. Eu não podia mais pensar igual penso normalmente. Esse tipo de pensamento estava interrompido.
Então eu vi e soube que o meu diálogo interno estava desligado e que eu estava 'sonhando', como diria Don Juan/Castaneda. E que eu não deveria desanimar da busca e dos exercícios de sonhar com os sonhos comuns, porque é assim que começa. É um dos caminhos. Senti com todas as células do meu ser que eu sou um 'sonhador' e que a mera intenção de adentrar nesse reino já desencadeia uma série de mudanças na nossa percepção. Fiquei horas sem poder formular o que eu via. Quando consegui levantar - antes eu havia sentado e fiquei encostado no sofá - era 2h da manhã. Levantei e me senti ainda muito tonto. Minha visão estava colorida. Não é que as cores estavam mais nítidas que o normal. Isso também! Mas minha visão tinha pontinhos coloridos, como pequenos pixels, como se tivesse uma tela cheia de pontinhos/furinhos na minha visão. Quando levantei senti meu corpo maior e extremamente relaxado. Bebi um pouco de água e fiquei em pé na cozinha, parado. Em vão me esforcei para formular o que eu via. Ainda não podia falar. E toda vez que tentava, acabava rindo, talvez da impossibilidade desse ato ocorrer naquele momento. Era hilário a tentativa de descrever aquilo usando itens, palavras e conceitos de nossa percepção cotidiana. Eu poderia então elaborar ou utilizar novos termos com novos conceitos, mas naquele momento essa nova descrição seria tão inútil quanto a descrição que já se tem e que alimenta nosso diálogo interno (sendo um bocado simplista, supondo que existe apenas um enorme diálogo interno, quando sabemos que existem também outros diálogos e até monólogos!) . Agora, depois da experiência, a utilização de novos conceitos pode ser útil. Entretanto, todos precisam partilhar da mesma semântica (o significado das palavras utilizadas). Caso contrário não existe uma comunicação de verdade. E o difícil é que isso não acontece só falando. É preciso ter a experiência e ver por si mesmo e sentir na própria consciência e no próprio corpo. O bizarro é que vendo tudo isso, não é apenas uma nova semântica, mas também uma nova sintaxe. O relacionamento entre as estruturas do mundo é diferente do relacionamento dessas mesmas estruturas quando estamos em nosso estado cotidiano.
Eu senti não como se tudo isso fosse fabricado pelo cogumelo, mas sim que o papel chave do cogumelo foi abrir a porta, levantar o véu, desvelar o mundo por trás do mundo. Senti que esse é nosso estado essencial. Mas quem aguentaria viver assim? Não dá. É muito intenso e forçado. Por maior que seja o bem estar provocado pelo cogu, não deixa de ser algo forçado/provocado. Por isso existem meios de se alcançar naturalmente essas percepções. Uma delas é a Arte do Sonhar.
Em dado momento eu fiquei na janela, olhando o céu. Estava limpo e estrelado, também sem Lua. Já devia ser umas 4h da manhã. Levantei um pouco mais a cabeça e vi a Lua surgindo no horizonte, atrás dos telhados. Logo ao lado e mais abaixo, Vênus, brilhando muito, pois em breve o Sol já iria nascer. Não conseguia focar direito a Lua, Vênus e as estrelas. Tudo brilhava muito. Minha reação automática foi forçar os olhos e propositadamente diminuir o brilho desses objetos a fim de perceber suas formas. Mas então algo em mim pensou "Pera lá, por que você quer racionalizar as coisas para seu padrão usual, de todo dia? Deixe que o brilho das coisas chegue em você como são e contemple de verdade!" Nesse momento pensei em nossos ancestrais consumindo enteogenos e observando o céu à noite. Pensei até 'ja que o brilho está amplificado, isso não ajudaria a identificar as estrelas, apenas pelo brilho?' O brilho tem identidade! Independente das variáveis físicas (distância, ângulo, etc) e químicas (composição do objeto), tudo isso causa uma impressão específica que é possível identificar através do brilho. Me veio uma resposta "as pessoas também emitem esse brilho, só que mais fraco. Tudo emite esse brilho. Treine seus olhos a contemplar de verdade como a Lua, Vênus e as estrelas são no momento em que vc as percebe agora e vc poderá contemplar qualquer coisa." Lembrei de uma frase que Dom Juan diz ao Castaneda:
"[...] Assim, deixe seus olhos serem
livres; que sejam janelas de verdade. Os olhos podem ser as janelas para
espiar para dentro do tédio ou para espiar para aquele infinito."
Fiquei bastante tempo olhando o céu. Parecia um quadro que só eu estava vendo, com significado, com beleza. Senti como um presente. Estava agradecido. Quando foi diminuindo a intensidade, comecei a sentir um calor incomum pelo corpo. Um calor gostoso. Meu corpo estava gostoso de ser sentido! Gostei do meu corpo. Me abracei. Senti meu próprio cheiro. Estava tudo muito agradável. As ondas de estupefação estavam cessando e o que restava era um êxtase pacífico em que podia observar e contemplar as coisas por momentos que pareciam ser eternos. Uma falta total de pressa. Eu podia observar sem aquela voz na cabeça que diz o que eu estou vendo. Eu sabia que meu diálogo interno ainda estava desligado. Deitei no tapete e fiz exercícios de alongamento. Que maravilha ter um corpo e poder senti-lo! Quando era aproximadamente 5h eu fui tomar um banho e deitar. Dormi até às 11h.
Levantei sem ressaca alguma. Estava ainda energizado. Sentia como que a mesma sensação na cabeça do início da experiência. Sentia, por assim dizer, que o cogu ainda estava circulando (e sabemos que fica dias assim). Mas estava bem intenso. Como os demais componentes da experiência não estavam mais presentes, restava apenas esse enorme silêncio. Eu já podia falar, mas algo estava diferente. O dia todo eu sentia como se não pudesse mais pensar. À noite fui comprar um lanche e fiquei aguardando ali mesmo, na esquina. Fiquei observando tudo. Pessoas, carros, gatos, cachorros, casas. Achei que estava tento um rebote em relação a euforia e alegria da madrugada e que estava ficando triste. Algo em mim analisou mais a fundo essa sensação e eu pude ver que a pequena voz que roda em background em tudo o que fazemos estava desligada. Fiquei dividido entre a paz, liberdade e sensação incomum de não precisar carregar a descrição das coisas como se carrega um armário e a familiaridade com a descrição usual, que me fez desejar por uns momentos voltar a ser como antes. Mas eu parei e ponderei mais e fiquei feliz em poder contemplar de verdade!
Ainda hoje sinto que posso acessar esse silêncio interno, onde as atividades de raciocínio usuais são suspensas por um momento. Uma impressão que me ficou foi a de decaimento. O início da experiência, na verdade um pouco depois do início...no pico, a visão mais estonteante (que nesse caso foi ver o universo luminoso) foi como um big-bang. Ali tudo foi criado novamente. Isso é apenas uma figura de linguagem. Ali tudo era novo e foi decaindo, decaindo...ficando cada vez menos abstrato e mais sólido e palpável, restando apenas um silêncio e um repouso.