- 14/04/2015
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Sento-me agora perante o computador após chegar do trabalho. O almoço será servido em breve, mas antes paro pra degustar uma cerveja puro malte, da mesma marca que tomei há três dias atrás a partir da quarta hora da última experiência que tive. Esta foi no dia 18/07/2016, e como sempre com um chá que preparei com cogumelos de meus cultivos na dosagem total de 21 gramas frescas.
No caso, este chá foi preparado e armazenado na geladeira numa garrafinha pet de 250 ml e esta dentro de um pote totalmente opaco daqueles de batatas assadas, a fim de evitar qualquer contato com luminosidade. Em comparação com as duas últimas experiências (Variação na Trilha Sonora), pude notar uma clara influência na conservação das propriedades principalmente dos outros alcaloides dos cogumelos frescos que não são a psilocibina - os quais me causam pulsações de luz branca no começo do pico e em minha maior dosagem até esta data já me levaram a ser Arrebatado pela Luz. :apontar: Em suma: ao conservar na geladeira por uma semana ou mais, não basta que o recipiente seja fosco, tem que ser opaco, ou se perdem elementos psicoativos com a luminosidade incidente ao abrir a geladeira. Não houve uma diferença apenas na potência da onda em relação às duas experiências anteriores - estas realizadas com chá que ficou em recipiente fosco na geladeira - mas também na qualidade dela devido à conservação destes outros alcaloides.
Dito isto, pra minha felicidade consegui uma janela na minha vida em que encaixei a possibilidade de fazer esta trip. Resolvi inovar um pouco e coloquei primeiramente Ummagumma do Pink Floyd desde antes de tomar o chá. Tinha eu ainda de preparar o gengibre que não tinha adicionado quando fiz o bendito. Em suma, resolvi separar o chá em dois momentos. Tomei a primeira metade dele às 17:31 h e a segunda metade às 17:46 h numa experimentação sobre o que daria de diferença numa duração dos efeitos, baseado em algo que o insigne @Ecuador disse no chat aqui do CM certa vez, sobre quando a dosagem é alta ser mais fácil a mente acompanhar os efeitos quando se divide o chá, com a ressalva da nobre @Malahov de que isso ainda alongaria os efeitos. Neste meio tempo, terminei e tomei o gengibre e tomei banho. Após a segunda metade do chá, me deitei e aguardei pela chegada da força com as luzes apagadas.
A última experiência tinha sido há 3 semanas atrás exatamente, uma semana a mais do meu planejado para a realização da minha enteogenia psilocibina. E estava definitivamente precisando mergulhar novamente na espiritualidade, isso com certeza, e nos recantos da minha mente, isso quem sabe. Além disso, vou reiniciar a escalada de dosagens em direção a experiências mais profundas.
Bem, na altura em que chegou Meddle na lista de músicas eu já estava bem alterado e com luz branca piscando no total da minha visão como se fossem estrobos. Apenas a chegada de Echoes e sua sonoridade era o que faltava pra iniciar toda o lado "macumbístico" de minha atual religião. Antes dela já estava eu na tradicional posição agachado sobre a cama com a cabeça no colchão, como se fosse um muçulmano rezando - é a posição a que sou levado pelo cogumelo quando começam os efeitos espirituais para não me sentir tão mal e também funciona como uma forma de concentração mental. Baseado nas experiências anteriores, após o término da fase "sombria" de Echoes eu sabia que retornaria mais tranquilo para os trabalhos espirituais.
Pude notar nesta experiência um cão infernal junto a mim na hora em que terminava a parte sombria de Echoes. Ele funcionava literalmente como que espantando na direção certo espíritos que queriam se dirigir a outro lugar. Rosnei e passei a pata na cama com veemência pra cima. Relembrei então que este cão do Inferno era um pedaço da minha própria alma - a qual já tinha visto em outra situação onde notei que o meu eu em certo nível é composto pela união entre um cão demoníaco com uma corrente de aço amarrada no pescoço e acorrentado a um senhor de meia-idade com aspecto divino também acorrentado a ele, sendo eu o conjunto da mescla dos dois - mas sem com eles me confundir! Foi a primeira vez que este meu pedaço cão apareceu numa viagem de cogumelos, e retornou em outro momento.
Ao fim de Meddle chegou Dark Side of The Moon, sem grandes inovações. Na metade pra frente deste último, já conseguia mudar de posição na cama e aliviar minha coluna de ficar daquele jeito por tanto tempo. Daí se iniciaram cadeias de pensamentos sobre mim e a minha vida em uma velocidade tão grande - permanecendo assim até o meio do álbum seguinte - que eu mal acreditei no tanto de coisa que se passou em minha mente - esta sem problemas pra acompanhar - em um período tão curto de tempo. O que foi uma hora no relógio, pra mim foram três horas nos pensamentos. Foi uma fase de muita auto-crítica e reflexão, onde consegui elaborar alguns nós que queria trabalhar.
Finalmente chegou o álbum Animals na lista. Fiquei surpreso como o tema do álbum coincidiu com as coisas que eu estava pensando naquele instante. Veio a música Dogs que me fez refletir sobre o comportamento humano ocasionado por fatores externos, e então chegou Pigs (Three Different Ones) que me fez notar como os cachorros de Dogs são criados pelos Pigs e sua avareza por dinheiro e poder. Neste momento a cigana que trabalha muito comigo desde que a deixei vir no Jardim de Infância do Inferno começou a acumular energia com a minha mão esquerda. Eu lhe disse: "que isso, Cigana, você sempre usa a outra mão, por que essa dessa vez? Avareza nem é meu defeito e estou sentindo toda essa energia ruim acumulando dentro de mim", e continuei tagarelando até que quando atrapalhei os movimentos dela com as mãos me deu uma puta de uma pontada dolorida no pé que era pra eu parar de atrapalhar: "porra, tá, eu paro." lhoroxo:
Até que ela ergueu a minha mão direita e começou a dispersar a energia. Francamente não entendo exatamente o que ela tava fazendo, mas me disse algo bem claramente: "quem quer te derrubar tá envolvido com poder político, meu filho".
Finalizado Animals fui pro computador e verifiquei que tinham se passado pouco mais de duas horas que pra mim tinham sido bem mais. Sentei no computador e, após um esforço pra mudar o cenário (setting), coloquei finalmente minhas músicas católicas e evangélicas com temáticas e melodias positivas. Nossa! Novamente meu coração se encheu de luz. Era a segunda metade do pico, ou o começo do fim deste, e aderi definitivamente a estas músicas agora em meu ritual. Cantava de coração. Em especial desta vez achei perfeita a música Ressuscita-me de Aline Barros - apesar de eu não acreditar em ressurreição, o significa é simbólico. Enfim, que letra e em especial que sonoridade crescente indescritível! Pude sentir que se Deus pudesse escolher hinos a serem cantados por anjos (não, não acredito que haja Céu propriamente nem que seja assim!, mas...), seriam assim, felizes, pra cima. Fiquei até com pena de tirar quando terminou, mas prossegui e consegui um efeito legal de redução da intensidade até finalizar a parte religiosa da experiência com Amar como Jesus amou.
Apesar das músicas tipicamente religiosas não terem um efeito tão pronunciado enteogênico como Pink Floyd que adoto como hino da minha liturgia na sintonização com o mundo espiritual e com os recantos do subconsciente, essa segunda fase que estabeleci de hinos e músicas faz um trabalho próprio de conexão com a divindade que começa a aproximar minha religião das experiências mais típicas de religiões de sacramentos enteogênicos de Ayahuasca, nos locais deste em que se cantam muitos hinos. Poder cantar e refletir é muito bom e profundo - além de renovador de uma forma que Pink Floyd por seu termo não consegue ser em certo sentido. Só me irrita quando os cantores falam no meio, que atrapalha de ouvir a música em si.
Bem, mas o que tem a ver a face de Jesus com isso tudo? Acontece que minha esposa chegou mais cedo em casa do que o previsto, então resolvi terminar a fase religiosa da experiência com mais algumas músicas. Na última, já citada acima, resolvi virar pros meus guias e pedir pra que me mostrassem mentalmente como era o rosto de Jesus de verdade - porque vi uma ridícula versão dele loiro com olhos azuis e sorriso de galã. Pra minha surpresa, tive uma visão bem límpida de como ele seria, e é uma pena que eu mal saiba desenhar um círculo. Mas a descrição seria a seguinte: rosto de muçulmano lembrando algo de indiano por ser bem arredondado, pele grossa pelo sol e bem morena, cabelo bem curto e um tipo de barba também curta que lembra um cavanhaque curto mas com uma tênue e ao mesmo tempo densa linha de pelos na bochecha; por fim, não sorria mas tinha um semblante que transmitia paz e empatia verdadeiras. E esta visão foi o que determinou classificar esta experiência como mística. Nem preciso falar como fiquei feliz com essa revelação!
Bem, finalizada a última canção ainda antes das 4 horas desde a dosagem, fui pra parte de ouvir músicas e tocar violão e gaita - enfim, fui curtir um pouco. Nesta hora, minha esposa até me serviu um refrigerante, mas estava intragável. Era muito ruim sentir os corantes e todas as coisas artificiais ali dentro. O que fiz? Lembrei da cerveja na geladeira, puro malte, e abri. De início, o olfato antes de tomar, maravilhoso. E depois a degustação, também excelente. E aqui é mais uma percepção que tive, de como as cervejas são de longe muito - mas muito - mais saudáveis que os refrigerantes, isso aplicável apenas às de puro malte que só possuem elementos naturais: malte, lúpulo e água. A diferença é tão grande que refrigerantes são intragáveis quando os efeitos ainda estão pronunciados, enquanto a cerveja - fruto também de um fungo - era gostosa, em especial por não ter químicos nela.
E daí fui tocando Unpluged do Eric Clapton. Um gole aqui da cerva, outro ali, muito violão e alguma gaita. Mas devo confessar no entanto que a cerveja me deu dor de cabeça desde o primeiro gole! Mas tava boa! Além disso, a influência do álcool me levou a alguns pensamentos de raiva depois durante o banho devido a alguns eventos do dia, que demorei pra elaborar e entender - o que finalizou numa conversa com minha esposa sobre o que me afligia. Ao fim desta conversa, terminavam as 6 horas dos efeitos e fomos ver algum seriado.
Confesso que inicialmente me preocupei de que o álcool da cerveja fosse prejudicar o efeito limpante da psilocibina, mas não ocorreu isso. No dia seguinte estava tranquilo e me sentindo muito bem.
Em relação a suceder um momento de descontração e prazer logo após o fim do rito, não consigo ver nisso qualquer problema. Apenas um ascetismo exacerbado e fora da realidade pode realmente implicar com tal conduta - e caracteriza muito mais um problema do crítico consigo mesmo do que qualquer erro meu no caso dos ascetas, e hipocrisia nos demais casos. Minha religião não condena o prazer terreno pois isto não gera karma eis que a vida existe para ser vivida, mas apenas o abuso deve ser combatido. Além do que, muita gente não sai da Igreja no domingo e vai tomar um chopp? No Natal, festa (hipocritamente tida como) religiosa o mundo quase inteiro não enche a cara? E por fim, Jesus botou os apóstolos pra beber vinho e encher a cara na festa de comemoração da Nova Aliança - por mais que os pastores evangélicos, em franco abuso da ignorância de seus fiéis, teimem em mentir a estes que não havia vinho na época de Jesus... :facewall:
Então é isso. Por enquanto minhas experiências tradicionais com vistas enteogênicas têm tomado esta tonalidade: Pink Floyd no pico, gospel no fim do pico e começo da descida, fechamento do rito e então curtir o fim dos efeitos e seu lado prazeroso, em especial com músicas.
Por fim, agradeço também à limpeza que tive com os cogumelos durante a maré de pensamentos ao som de Pink Floyd que me fizeram rever alguns erros e pude corrigir e me acertar melhor com a minha esposa, resolvendo uma crise que vinha se arrastando nas últimas semanas.
Também observei que as músicas gospel tendem a produzir um forte poder de auto-crítica e até medo de sentir culpa em relação a condutas injustas (que no entanto não eram injustas) com quem está à volta, algo que senti em exagero nas primeiras músicas no sentido de super-preocupar-me em não errar com o próximo a ponto de quase ignorar a culpa exclusiva do outro em se prejudicar me impossibilitando de ser justo, e que depois pude regular à realidade e ser mais razoável. Acho que aflorou naquele momento um resquício da minha religiosidade católica da adolescência, que era sempre pautada pela culpa, palavra que basicamente define a coerção moral católica em especial. Hoje em dia, por outro lado, não sinto mais culpa de nada. Tem mais de um ano que desconheço esse sentimento, inclusive. O que sinto perante um erro meu é apenas responsabilidade e daí força pra mudar se possível; e, no máximo, contrição, que é o direito de chorar pelos erros, apesar de não sentir culpa, pra poder lavar a alma.
Com isso, creio que não haverá mais essa tendência nas próximas experiências com música gospel, pois compreendi mais um âmbito de exagero sob psicodelia.
É por isso que digo: pense tudo na experiência, mas não aja. Espere voltar à consciência normal e então reavalie o que pensou, ficando apenas com o que realmente for útil - ao que chamo de Princípio da Não-ação sob Psicodelia. A enteogenia dá vazão a muitos pensamentos que estão lá, mas que não são verdadeiros necessariamente, os quais no entanto precisam ter essa vazão para que a consciência consiga então elaborar definitivamente e superar. Não acredite em tudo que pensar durante a trip, em especial o que for perturbador - e isso em especial com os cogumelos.
No caso, este chá foi preparado e armazenado na geladeira numa garrafinha pet de 250 ml e esta dentro de um pote totalmente opaco daqueles de batatas assadas, a fim de evitar qualquer contato com luminosidade. Em comparação com as duas últimas experiências (Variação na Trilha Sonora), pude notar uma clara influência na conservação das propriedades principalmente dos outros alcaloides dos cogumelos frescos que não são a psilocibina - os quais me causam pulsações de luz branca no começo do pico e em minha maior dosagem até esta data já me levaram a ser Arrebatado pela Luz. :apontar: Em suma: ao conservar na geladeira por uma semana ou mais, não basta que o recipiente seja fosco, tem que ser opaco, ou se perdem elementos psicoativos com a luminosidade incidente ao abrir a geladeira. Não houve uma diferença apenas na potência da onda em relação às duas experiências anteriores - estas realizadas com chá que ficou em recipiente fosco na geladeira - mas também na qualidade dela devido à conservação destes outros alcaloides.
Dito isto, pra minha felicidade consegui uma janela na minha vida em que encaixei a possibilidade de fazer esta trip. Resolvi inovar um pouco e coloquei primeiramente Ummagumma do Pink Floyd desde antes de tomar o chá. Tinha eu ainda de preparar o gengibre que não tinha adicionado quando fiz o bendito. Em suma, resolvi separar o chá em dois momentos. Tomei a primeira metade dele às 17:31 h e a segunda metade às 17:46 h numa experimentação sobre o que daria de diferença numa duração dos efeitos, baseado em algo que o insigne @Ecuador disse no chat aqui do CM certa vez, sobre quando a dosagem é alta ser mais fácil a mente acompanhar os efeitos quando se divide o chá, com a ressalva da nobre @Malahov de que isso ainda alongaria os efeitos. Neste meio tempo, terminei e tomei o gengibre e tomei banho. Após a segunda metade do chá, me deitei e aguardei pela chegada da força com as luzes apagadas.
Edit: tomar o chá em duas fases foi interessante, pois os efeitos vieram de uma forma mais apta à minha mente acompanhar, mesmo com dosagem mediana, e tenho a impressão de que duraram de forma mais consistente no tempo.
A última experiência tinha sido há 3 semanas atrás exatamente, uma semana a mais do meu planejado para a realização da minha enteogenia psilocibina. E estava definitivamente precisando mergulhar novamente na espiritualidade, isso com certeza, e nos recantos da minha mente, isso quem sabe. Além disso, vou reiniciar a escalada de dosagens em direção a experiências mais profundas.
A Fase Litúrgica
Bem, na altura em que chegou Meddle na lista de músicas eu já estava bem alterado e com luz branca piscando no total da minha visão como se fossem estrobos. Apenas a chegada de Echoes e sua sonoridade era o que faltava pra iniciar toda o lado "macumbístico" de minha atual religião. Antes dela já estava eu na tradicional posição agachado sobre a cama com a cabeça no colchão, como se fosse um muçulmano rezando - é a posição a que sou levado pelo cogumelo quando começam os efeitos espirituais para não me sentir tão mal e também funciona como uma forma de concentração mental. Baseado nas experiências anteriores, após o término da fase "sombria" de Echoes eu sabia que retornaria mais tranquilo para os trabalhos espirituais.
Pude notar nesta experiência um cão infernal junto a mim na hora em que terminava a parte sombria de Echoes. Ele funcionava literalmente como que espantando na direção certo espíritos que queriam se dirigir a outro lugar. Rosnei e passei a pata na cama com veemência pra cima. Relembrei então que este cão do Inferno era um pedaço da minha própria alma - a qual já tinha visto em outra situação onde notei que o meu eu em certo nível é composto pela união entre um cão demoníaco com uma corrente de aço amarrada no pescoço e acorrentado a um senhor de meia-idade com aspecto divino também acorrentado a ele, sendo eu o conjunto da mescla dos dois - mas sem com eles me confundir! Foi a primeira vez que este meu pedaço cão apareceu numa viagem de cogumelos, e retornou em outro momento.
Ao fim de Meddle chegou Dark Side of The Moon, sem grandes inovações. Na metade pra frente deste último, já conseguia mudar de posição na cama e aliviar minha coluna de ficar daquele jeito por tanto tempo. Daí se iniciaram cadeias de pensamentos sobre mim e a minha vida em uma velocidade tão grande - permanecendo assim até o meio do álbum seguinte - que eu mal acreditei no tanto de coisa que se passou em minha mente - esta sem problemas pra acompanhar - em um período tão curto de tempo. O que foi uma hora no relógio, pra mim foram três horas nos pensamentos. Foi uma fase de muita auto-crítica e reflexão, onde consegui elaborar alguns nós que queria trabalhar.
Finalmente chegou o álbum Animals na lista. Fiquei surpreso como o tema do álbum coincidiu com as coisas que eu estava pensando naquele instante. Veio a música Dogs que me fez refletir sobre o comportamento humano ocasionado por fatores externos, e então chegou Pigs (Three Different Ones) que me fez notar como os cachorros de Dogs são criados pelos Pigs e sua avareza por dinheiro e poder. Neste momento a cigana que trabalha muito comigo desde que a deixei vir no Jardim de Infância do Inferno começou a acumular energia com a minha mão esquerda. Eu lhe disse: "que isso, Cigana, você sempre usa a outra mão, por que essa dessa vez? Avareza nem é meu defeito e estou sentindo toda essa energia ruim acumulando dentro de mim", e continuei tagarelando até que quando atrapalhei os movimentos dela com as mãos me deu uma puta de uma pontada dolorida no pé que era pra eu parar de atrapalhar: "porra, tá, eu paro." lhoroxo:
Até que ela ergueu a minha mão direita e começou a dispersar a energia. Francamente não entendo exatamente o que ela tava fazendo, mas me disse algo bem claramente: "quem quer te derrubar tá envolvido com poder político, meu filho".
Finalizado Animals fui pro computador e verifiquei que tinham se passado pouco mais de duas horas que pra mim tinham sido bem mais. Sentei no computador e, após um esforço pra mudar o cenário (setting), coloquei finalmente minhas músicas católicas e evangélicas com temáticas e melodias positivas. Nossa! Novamente meu coração se encheu de luz. Era a segunda metade do pico, ou o começo do fim deste, e aderi definitivamente a estas músicas agora em meu ritual. Cantava de coração. Em especial desta vez achei perfeita a música Ressuscita-me de Aline Barros - apesar de eu não acreditar em ressurreição, o significa é simbólico. Enfim, que letra e em especial que sonoridade crescente indescritível! Pude sentir que se Deus pudesse escolher hinos a serem cantados por anjos (não, não acredito que haja Céu propriamente nem que seja assim!, mas...), seriam assim, felizes, pra cima. Fiquei até com pena de tirar quando terminou, mas prossegui e consegui um efeito legal de redução da intensidade até finalizar a parte religiosa da experiência com Amar como Jesus amou.
Apesar das músicas tipicamente religiosas não terem um efeito tão pronunciado enteogênico como Pink Floyd que adoto como hino da minha liturgia na sintonização com o mundo espiritual e com os recantos do subconsciente, essa segunda fase que estabeleci de hinos e músicas faz um trabalho próprio de conexão com a divindade que começa a aproximar minha religião das experiências mais típicas de religiões de sacramentos enteogênicos de Ayahuasca, nos locais deste em que se cantam muitos hinos. Poder cantar e refletir é muito bom e profundo - além de renovador de uma forma que Pink Floyd por seu termo não consegue ser em certo sentido. Só me irrita quando os cantores falam no meio, que atrapalha de ouvir a música em si.
Bem, mas o que tem a ver a face de Jesus com isso tudo? Acontece que minha esposa chegou mais cedo em casa do que o previsto, então resolvi terminar a fase religiosa da experiência com mais algumas músicas. Na última, já citada acima, resolvi virar pros meus guias e pedir pra que me mostrassem mentalmente como era o rosto de Jesus de verdade - porque vi uma ridícula versão dele loiro com olhos azuis e sorriso de galã. Pra minha surpresa, tive uma visão bem límpida de como ele seria, e é uma pena que eu mal saiba desenhar um círculo. Mas a descrição seria a seguinte: rosto de muçulmano lembrando algo de indiano por ser bem arredondado, pele grossa pelo sol e bem morena, cabelo bem curto e um tipo de barba também curta que lembra um cavanhaque curto mas com uma tênue e ao mesmo tempo densa linha de pelos na bochecha; por fim, não sorria mas tinha um semblante que transmitia paz e empatia verdadeiras. E esta visão foi o que determinou classificar esta experiência como mística. Nem preciso falar como fiquei feliz com essa revelação!
A Hora do Relaxamento
Bem, finalizada a última canção ainda antes das 4 horas desde a dosagem, fui pra parte de ouvir músicas e tocar violão e gaita - enfim, fui curtir um pouco. Nesta hora, minha esposa até me serviu um refrigerante, mas estava intragável. Era muito ruim sentir os corantes e todas as coisas artificiais ali dentro. O que fiz? Lembrei da cerveja na geladeira, puro malte, e abri. De início, o olfato antes de tomar, maravilhoso. E depois a degustação, também excelente. E aqui é mais uma percepção que tive, de como as cervejas são de longe muito - mas muito - mais saudáveis que os refrigerantes, isso aplicável apenas às de puro malte que só possuem elementos naturais: malte, lúpulo e água. A diferença é tão grande que refrigerantes são intragáveis quando os efeitos ainda estão pronunciados, enquanto a cerveja - fruto também de um fungo - era gostosa, em especial por não ter químicos nela.
E daí fui tocando Unpluged do Eric Clapton. Um gole aqui da cerva, outro ali, muito violão e alguma gaita. Mas devo confessar no entanto que a cerveja me deu dor de cabeça desde o primeiro gole! Mas tava boa! Além disso, a influência do álcool me levou a alguns pensamentos de raiva depois durante o banho devido a alguns eventos do dia, que demorei pra elaborar e entender - o que finalizou numa conversa com minha esposa sobre o que me afligia. Ao fim desta conversa, terminavam as 6 horas dos efeitos e fomos ver algum seriado.
Confesso que inicialmente me preocupei de que o álcool da cerveja fosse prejudicar o efeito limpante da psilocibina, mas não ocorreu isso. No dia seguinte estava tranquilo e me sentindo muito bem.
Em relação a suceder um momento de descontração e prazer logo após o fim do rito, não consigo ver nisso qualquer problema. Apenas um ascetismo exacerbado e fora da realidade pode realmente implicar com tal conduta - e caracteriza muito mais um problema do crítico consigo mesmo do que qualquer erro meu no caso dos ascetas, e hipocrisia nos demais casos. Minha religião não condena o prazer terreno pois isto não gera karma eis que a vida existe para ser vivida, mas apenas o abuso deve ser combatido. Além do que, muita gente não sai da Igreja no domingo e vai tomar um chopp? No Natal, festa (hipocritamente tida como) religiosa o mundo quase inteiro não enche a cara? E por fim, Jesus botou os apóstolos pra beber vinho e encher a cara na festa de comemoração da Nova Aliança - por mais que os pastores evangélicos, em franco abuso da ignorância de seus fiéis, teimem em mentir a estes que não havia vinho na época de Jesus... :facewall:
Então é isso. Por enquanto minhas experiências tradicionais com vistas enteogênicas têm tomado esta tonalidade: Pink Floyd no pico, gospel no fim do pico e começo da descida, fechamento do rito e então curtir o fim dos efeitos e seu lado prazeroso, em especial com músicas.
Conclusões
Por fim, agradeço também à limpeza que tive com os cogumelos durante a maré de pensamentos ao som de Pink Floyd que me fizeram rever alguns erros e pude corrigir e me acertar melhor com a minha esposa, resolvendo uma crise que vinha se arrastando nas últimas semanas.
Também observei que as músicas gospel tendem a produzir um forte poder de auto-crítica e até medo de sentir culpa em relação a condutas injustas (que no entanto não eram injustas) com quem está à volta, algo que senti em exagero nas primeiras músicas no sentido de super-preocupar-me em não errar com o próximo a ponto de quase ignorar a culpa exclusiva do outro em se prejudicar me impossibilitando de ser justo, e que depois pude regular à realidade e ser mais razoável. Acho que aflorou naquele momento um resquício da minha religiosidade católica da adolescência, que era sempre pautada pela culpa, palavra que basicamente define a coerção moral católica em especial. Hoje em dia, por outro lado, não sinto mais culpa de nada. Tem mais de um ano que desconheço esse sentimento, inclusive. O que sinto perante um erro meu é apenas responsabilidade e daí força pra mudar se possível; e, no máximo, contrição, que é o direito de chorar pelos erros, apesar de não sentir culpa, pra poder lavar a alma.
Com isso, creio que não haverá mais essa tendência nas próximas experiências com música gospel, pois compreendi mais um âmbito de exagero sob psicodelia.
É por isso que digo: pense tudo na experiência, mas não aja. Espere voltar à consciência normal e então reavalie o que pensou, ficando apenas com o que realmente for útil - ao que chamo de Princípio da Não-ação sob Psicodelia. A enteogenia dá vazão a muitos pensamentos que estão lá, mas que não são verdadeiros necessariamente, os quais no entanto precisam ter essa vazão para que a consciência consiga então elaborar definitivamente e superar. Não acredite em tudo que pensar durante a trip, em especial o que for perturbador - e isso em especial com os cogumelos.
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