Teonanacatl.org

Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

Cadastre-se para virar um membro da comunidade! Após seu cadastro, você poderá participar deste site adicionando seus próprios tópicos e postagens.

  • Por favor, leia com atenção as Regras e o Termo de Responsabilidade do Fórum. Ambos lhe ajudarão a entender o que esperamos em termos de conduta no Fórum e também o posicionamento legal do mesmo.

O predador e o Ponto de Aglutinação

Alma

Cogumelo maduro
Membro Ativo
21/10/2005
130
73
Aloha amigos!

Finalmente posso compartilhar esse texto com vcs, é meio longo mais vale a pena ser lido até o final, comentem!


Predador e Ponto de Aglutinação
por: Julio Cesar Guerrero

Originalmente, esta era uma mensagem enviada para a lista de discussão de Xamanismo "Ventania". Foi escrita por Nuvem que Passa, como um comentário ao texto Sombras de Lama, que consta nesta seção sobre os Predadores.

O texto do Fernando foi excelente, um dos temas mais complexos e polêmicos dos não menos polêmicos tópicos apresentados pelo Doutor Carlos Castañeda.

Elaborando o texto sobre o "ponto de aglutinação" que em breve enviarei para a lista , pude apreciar o trabalho hercúleo que o Doutor Carlos Castañeda teve em trazer conceitos tão singulares ao alcance de nossa limitada mentalidade ocidentalizada, gerada dentro desta cultura bitolada e consumista.

Com a banalização do chamado esoterismo, quando a fantasia corre solta e o comércio desenfreado transforma o xamanismo em lucrativo meio de alguns ganharem dinheiro, sem a correspondente qualidade do produto apresentado, quando o estilo do povo nativo é deturpado em idéias totalmente cristianizadas e ocidentalizadas sob a capa de termos ancestrais é um bálsamo ler as obras de Charles Spider (um dos nomes do novo nagual) e de suas companheiras.

Mas também é profundamente inquietante pois eles nos trazem de volta a questões que fazemos de tudo para fugir.

Primeiro ponto que lutamos para esquecer é que esta posição confortável que temos na vida, este estar numa casa, com comida, cercado de distrações, tudo isto, é de uma ilusão ímpar.

Para manter tudo isso temos que de alguma forma doar nossa energia a este sistema.

E dia após dia, a tal luta pela sobrevivência pode nos tirar a energia da vida, pouco a pouco, nos sugando.

Este nosso primeiro desafio, aprender a responder as demandas do meio sem nos destruirmos para isso.

Isso não é uma metáfora.

MATRIX não é mera metáfora, é descritiva da condição humana.

Apenas a realidade é pior, pois nossos dominadores, a espécie predadora que nos pastoreia é uma espécie consciente de si, com toda a complexidade que a vida consciente de si é capaz de gerar.

Eu tive acesso a esse tema muito novo, por meios que num outro momento comentarei.

O fato que comecei a escrever um livro, que estou para lançar agora, onde chamo tais seres de "Sombrios".

Isso começou há 16 anos, quando comecei o livro.

Sempre considerei esse tema o mais difícil de colocar em qualquer lugar que ia ser facilitador de alguma vivência, dar palestras ou mesmo escrever sobre o tema xamanismo. Sempre considerei esse tema impossível de falar com as pessoas.

E ao mesmo tempo me sentia culpado de não falar sobre algo tão sério, tão fundamental.

Quando, há coisa de ano e meio, li as indicações sobre isso na obra do Novo Nagual, um novo horizonte se abriu, um peso enorme saiu de minha consciência.

Não era culpa, era um senso de responsabilidade.

Em vários momentos da minha jornada a obra dos naguais Toltecas forneceu subsidio para que eu desse crédito, entendesse ou mesmo não perdesse a sanidade mental, devido a resultantes do caminho que trilhando ainda estou.

Mas a única coisa que eu mesmo não sabia como transmitir, por ser inacreditável era a tal idéia de sermos mero rebanho de uma espécie alienígena que nos pastoreia ativamente, consumindo nossa energia de forma completa, que nada sobra para requisitarmos nossas reais conexões com a realidade que nos cerca, com a Eternidade.

Este texto coloca uma coisa muito importante.

A mente que usamos no nosso cotidiano é a prisão.

Esta mente não é nossa.

É uma instalação alienígena no mais puro sentido dessa palavra.

E é através dela que nossos pastores nos mantém em seu rebanho aguardando a tosquia 'sazonal e ao final a degola.

Portanto é claro que uma parte de nosso ser vai gritar que isso é viagem pura.

Tolice sem par, coisa sem sentido e quando menos percebermos já vamos estar pensando em outra coisa, querendo ir a algum lugar, uma ansiedade brota no peito e nos dissipamos, deixamos de ter foco na principal questão.

A mente que usamos normalmente é uma instalação .

O segredo é que podemos ir além dela e então vamos nos libertar, ganhando como bônus tal instalação.

Essa mente gera uma relação com a realidade estática, temos uma realidade apenas, um mundo no qual ficamos fixos.

Agora podemos entrar num tema amplo.

A forma que certos povos compreendem a realidade.

Para alguns povos a realidade é composta em essência de infinitas linhas de energia se estendendo ao infinito em todas as direções mas sem nunca se cruzarem.

Percebam que essa imagem é inacessível a mente usual.

Não temos experiência em perceber um cenário assim. Linhas em todas as direções mas nunca se cruzam.

Nós seres humanos somos aglomerados de pedaços dessas linhas.

Dizer pedaços seria uma aproximação.

O fato é que somos igual uma bexiga cheia de fios de fibra ótica.

Mas a quase totalidade dos fios está apagada, está adormecida.

Nesta bola toda, só um feixe de fios está aceso.

Um feixe de fios que ocupa um posição central na bola, no sentido longitudinal e na altura de 2 / 3 da bola há um ponto de brilho intenso.

Esse ponto tem ao seu redor um halo, um brilho.

É esse brilho que ativa esse feixe único que está aceso.

Esse feixe está em ressonância com um feixe externo, com um dos grandes feixes que existem.

Os feixes, internos e externos em ressonância assim estão porque dos incontáveis fios de energia que passam por esta bola de fibras óticas, apenas um pequeno feixe passa por esse ponto, esse ponto que "aglutina" a percepção.

É o brilho ao redor do ponto que estimula a "consciência" nas fibras que estão dentro da bola.

Assim as fibras selecionadas pelo ponto que aglutina a percepção acendem fibras iguais no interior do casulo, com o brilho da consciência.

E nos tornamos conscientes de um mundo.

Como emitir um som numa corda de violão e outra afinada no mesmo tom, ressonar.

Enquanto o ponto continuar aglutinando as mesmas fibras vamos viver na mesma realidade.

O que chamamos educação quer formal quer informal, é uma tática para forçar o ponto de aglutinação a se fixar numa freqüência, isto é, num conjunto de fibras, que é o "campo comum" onde foi criada essa civilização dominante.

Fixados nessas fibras, estamos com nossa consciência presa a mesma descrição da realidade de todos a nossa volta.

Se deslocarmos esse ponto que aglutina a percepção para outras fibras, ou seja para outra área da nossa bola luminosa, da bola luminosa que somos, vamos alterar completamentea percepção temos da realidade e se mudarmos o suficiente, o mundo que chamamos de real vai desaparecer e estaremos noutro mundo.

Sonhando a princípio, mas se mudarmos profundamente o ponto de aglutinação de sua posição vamos entrar com toda nossa fisicalidade, integralmente, em outros mundos, vamos sumir desse mundo.

Segundo Mariano Aureliano contou a Isidoro Baltazar temos 600 mundos inteiros que podemos ir, ou seja , 600 pontos dentro da bola luminosa que somos, que ao deslocar o ponto de aglutinação para lá, vamos entrar em mundos outros.

O que surpreende nessa abordagem da realidade é sua amplitude e simplicidade.

Os físicos quando descobriram o comportamento das subpartículas e da luz, ficaram perdidos tentando adaptar suas observações da realidade a teoria newtoniana, até que perceberam que o problema não era no comportamento do mundo que lhes era desvendado em seus ciclotrons, mas o modelo que usavam de paradigma.

Esse modelo de realidade apresentado pelo Doutor Carlos Castañeda, um cientista social que foi noutra cultura, julgada extinta, recuperar uma abordagem da realidade que está para a magia e o esoterismo convencional, como a física quântica está para a física Newtoniana.

No entanto pontes se constróem com física newtoniana. O homem foi a lua usando física newtoniana nos cálculos da rota e manobras.

Por isso o chamado a este caminho é para poucos (as)...

É para quem já sentiu a busca do mais que humano em nós.

Além do humano, além de nossa forma humana estão as metas desse caminho.

Ele existe em muitas tradições, os Taoistas, Andarilhos do deserto, descendente dos Aesires, discípulos do Tathagata, nos que usam o Arco íris, Bifrost, enfim em muitos ramos esse antigos conhecimentos vicejaram e amadureceram até chegar ao nosso momento, ao nosso tempo espaço.

O xamanismo guerreiro pretende, antes de mais nada, liberdade sobre si mesmo.

Liberdade dessa força alienígena que comentávamos linhas atrás, a qual você já deve ter esquecido, pois é essa uma das melhores artimanhas dessa força predadora, não se fazer notar.

E assim, ficamos presos a uma condição existencial que torna permanente esse vampirizar funesto de nossa energia durante toda nossa vida.

O corpo humano metaboliza a energia telúrica e a energia do sol.

Também as energias estelares e planetárias são processadas pelo corpo, mas em doses mínimas, pois o tipo de limitação perceptual ao qual estamos presos, nos impede de perceber plenamente as energias cósmicas que incidem sobre nós, tanto quanto a luz do sol.

Físicos sabem que neutrinos passam por nós a todo instante e por vezes se surpreendem quando em seus experimentos partículas vindas do espaço, que chama de raios cósmicos, atravessam anteparos e afetam seus experimentos.

Nós recebemos energias das mais diversas em nossos corpos.

Ao metabolizarmos estas energias inconscientemente, respondemos com emocionalismos ou pensamentos a tais estímulos.

Assim, racionalismos e emocionalismos, nos levam a agir e agindo acreditamos que estamos fazendo, quando na realidade está tudo acontecendo, estamos apenas respondendo ao que os astros, nossas influências genéticas, a alma coletiva da Terra, o tonal dos tempos e tantos outros fatores, 48 em nosso mundo, nos levam a fazer.

E enquanto apenas respondemos mecanicamente, nossa energia é levada embora.

Sim, a energia destinada a fazer de nós navegantes da Eternidade, exploradores dos mistérios da existência, não em teoria ou "filosofiações " mas na prática, numa viagem empolgante pelos mistérios da existência, esta energia é sugada e levada embora para alimentar seres de outro mundo.

E nós nos limitamos a este mundo a este tempo, crendo que os objetivos reais da vida é ter o carro do ano, ter status, representar papeis para ser bem quisto, querido(a) e aprovado pelo meio.

Com a desculpa que mais tarde teremos tempo para nós passamos a vida correndo atrás de uma das formas de prisão desse sistema.

"Dinheiro".
Dinheiro é um meio, mas quando ele se torna um fim em si mesmo, passamos a colocar toda a energia nele, na sua busca.

Assim vive a maior parte do mundo, preocupado (a) com dinheiro, atrás de dinheiro.

Mas o dinheiro é algo simbólico, não tem valor em si.

Portanto colocamos uma energia tremenda em algo que em si não tem valor.

Para onde vai essa montanha de energia que dedicamos ao "dinheiro".

Deus, no sentido que este termo foi construído nessa cultura dominante e Dinheiro, são os dois conceitos vazios aos quais a maior parte da humanidade dedica sua energia.

E dedicando sua energia a conceitos vazios em si esta energia acaba indo para algum lugar.

Portanto o caminho do xamanismo guerreiro é um caminho de liberdade.

Um dia quiçá, liberdade total, mas aqui e agora a liberdade mínima necessária para trilharmos de fato o Caminho e não apenas fantasiarmos em achismos e desculpas mil que nos levam a um semi agir, a um mecanicismo servil.

Como na lenda da tigresa, temos que nos recordar que somos tigres criados entre ovelhas e por isso deturpados em nossa realidade.

Urge que despertemos para nossa real condição, urge que voltemos, discreta e sobriamente, a nossa realidade essencial.

Esse é o começo de tudo para quem busca a Liberdade.

Deixar o rebanho e fazer isso com tal sutileza que ninguém perceba o fato.

Fonte: http://www.imagick.org.br/pagmag/guerreir/predador.html

Abraços!

Liberdade Aventura e Vida Longa!
 
Já tive algumas experiencias anos atras onde, em transe, desenhei algo parecido com o que você escreveu. A terra com varios seres sentados de pernas cruzadas em orbita da terra, todos emitindo um raio de luz que passava exatamente por seus meios. E todos esses traços de luz, de energia, se cruzavam em um mesmo ponto. Ou seja, para atingir esse ponto, se comunicar com esse desconhecido, você também deveria alinhar o seu eixo de energia com o ponto em comum.

Também, em um transe semelhante, escrevi textos enormes sobre uma tal matriz (com Z mesmo), detalhe é que o filme ainda nao tinha sido lançado, eu não sabia da história do filme. E escrevi algo semenlhante, lógico que sem a parte hollywoodana.

Bom, é isso, citando os antigos, " existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia..."
 
Segundo o nagual os "vuadores"(predador) são seres que não são da Terra, são alienigenas, se alimentam de um tipo de "escudo" de energia que todo ser humano tem revestindo o corpo luminoso, "escudo" o qual originalmente vai desde o calcanhar até o topo da cabeça. Essa capa de energia diminui de tamanho ficando somente pouco acima dos calcanhares e isso nos impede de realizar manobras perceptivas indescritíveis e inacessiveis a mente racional que é a mente instalada em nos pelo "vuador". Por isso que o "silencio interior" é a chave mestra na feitiçaria.

A águia é a fonte de tudo, a energia que flui do infinito e da origem a tudo. Os Videntes toltecas que "observavam" essa energia viam algo parecido a uma águia negra. Ela nos cria pra enrriquecermos a consciência com nossa "experiência de vida" para que no final ela devorar essa consciência enrriquecida, esse é seu alimento.

Gerações de Videntes "observando" a águia descobriram uma "passagem" para a liberdade total, não precisariam mais serem devorados, e com a intenção de atravessar essa passagem eles desenvolveram o "caminho do guerreiro", que é um conjunto de técnicas que desenvolvem a percepção, técinicas como o "sonhar", "espreita".

Ou seja, para chegarmos a essa passagem a "liberdade total de percepção" antes temos que derrotar os vuadores.

Se quiserem saber mais a respeito vou postando mais material sobre o tema, abraços!
 
psilocibec disse:
.....seres sentados de pernas cruzadas em orbita da terra, todos emitindo um raio de luz que passava exatamente por seus meios. E todos esses traços de luz, de energia, se cruzavam em um mesmo ponto. Ou seja, para atingir esse ponto, se comunicar com esse desconhecido, você também deveria alinhar o seu eixo de energia com o ponto em comum.
"

Fala psilo! Creio que vc "viu" o ponto de aglutinação, é exatamente isso, para acessar certos "desconhecidos" temos que fixar esse ponto no mesmo ponto em comum.
A primeira atenção é responsável pelo mundo conhecido do dia a dia, o mundo da razão. A segunda atenção é responsavel por nossa consciência como seres luminosos, e creio que foi nessa atenção que vc teve essas visões, a "segunda atenção" tbm é produto de um movimento do ponto de aglutinação, alguns traumas deslocam o ponto de aglutinação de sua posição costumeira, nos dando acesso a outros niveis de conscientização. Por acaso isso tem a ver com seu coma?

psilocibec disse:
Bom, é isso, citando os antigos, " existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia..."

Concordo, mesmo pq qualquer filosofia é a mente do "vuador" instalada e agindo. rss

Abraços!
 
Foi bem antes que o coma, vou me comunicar com voce por mp, das duas umas, ou to ficando loco de vez ou to vendo
 
Logo posto sim Neuro, dexa só eu ver direito o q tá acontecendo :)
 
Com intuito de compartilhar com vcs o caminho do guerreiro vou postando aqui alguns textos, quem tiver interesse vamos descutindo e ampliando a compreensão.

O lado prático:
O que é Tensegridade?


Tensegridade é a versão modernizada de alguns movimentos conhecidos como passes mágicos desenvolvidos por índios xamãs que moraram no México em épocas anteriores à Conquista Espanhola.

Épocas anteriores à Conquista Espanhola é um termo usado por Dom Juan, um índio mexicano xamã que apresentou Carlos Castaneda, Carol Tiggs, Florinda Donner-Grau e Taisha Abelar ao mundo cognitivo dos xamãs que viveram no México nos tempos antigos que, segundo Dom Juan, foram de 7000 a 10.000 anos atras.

Dom Juan explicou a seus estudantes que aqueles xamãs descobriram que, através de práticas que ele mesmo não podia penetrar, é possível para os seres humanos perceber a energia diretamente como ela flui no universo. Em outras palavras, segundo Dom Juan, aqueles xamãs diziam que qualquer um de nos pode se livrar por um momento do nosso sistema de transformar o influxo de energia em informação sensorial própria ao tipo de organismo que somos. Os xamãs afirmam que, transformar o influxo de energia em informação sensorial cria um sistema de interpretação que transforma o fluxo de energia do universo no mundo da vida cotidiana que conhecemos.

Dom Juan explicou ainda que uma vez que os xamãs dos tempos antigos estabeleceram a validade da percepção direta de energia, que chamaram visão, eles a refinaram usando-a neles mesmos, isso quer dizer que eles percebiam uns aos outros, sempre que queriam, como um conglomerado de campos energéticos. Para aquele que “viam”, os seres humanos percebidos de tal modo eram como esferas luminosas gigantes. O tamanho de tais esferas luminosas é o comprimento dos braços abertos.

Quando os seres humanos são percebidos como conglomerados de campos energéticos, um ponto de luminosidade intensa pode ser percebido nas costas, na altura da clavícula a uma distância de um braço. Antigamente, as pessoas que vêem, que descobriram esse ponto de luminosidade, o chamavam de ponto de aglutinação, porque eles concluíram que é aí que a percepção se aglutina. Eles perceberam, auxiliados pela sua visão, que naquele ponto de luminosidade, o local que é homogêneo para a humanidade, convergem zilhões de campos energéticos na forma de filamentos luminosos que constituem o universo. Ao se convergirem para lá, eles se tornam informações sensoriais, que são utilizadas pelos seres humanos como organismos. Esta utilização da energia convertida em informação sensorial foi considerada pelos xamãs como um ato de magia pura...energia transformada pelo ponto de aglutinação em um mundo verdadeiro, global no qual os seres humanos como organismos podem viver e morrer. O ato de transformar o influxo de pura energia num mundo perceptível era atribuído pelos xamãs a um sistema de interpretação. Sua conclusão arrasadora, arrasadora para eles, é claro, e talvez para alguns de nós que temos a energia para ter atenção, era que o ponto de aglutinação não era unicamente o local onde a percepção é aglutinada pela transformação do influxo de energia pura em informação sensorial, mas é também o local onde ocorre a interpretação da informação sensorial.

A observação seguinte deles foi que esse ponto de aglutinação é deslocado de modo muito natural e não obstrutivo da sua posição habitual durante o sono. Eles descobriram que quanto maior a deslocação, mais estranhos os sonhos que acompanhavam. Destas experiências de ver, esses xamãs pularam para a ação pragmática de deslocar voluntariamente o ponto de aglutinação. Eles chamaram esses resultados concludentes a arte de sonhar.

Essa arte foi definida por aqueles xamãs como a utilização pragmática de sonhos comuns para criar uma entrada para outros mundos pelo ato de deslocar o ponto de aglutinação pela própria vontade e manter essa nova posição, também pela própria vontade. As observações desses xamãs ao praticar a arte de sonhar eram uma mistura de razão e de ver diretamente a energia do universo enquanto flui. Eles perceberam que na sua posição habitual, o ponto de aglutinação é o local para onde converge uma porção específica e minúscula dos filamentos de energia que formam o universo, mas se o ponto de aglutinação muda de local, dentro do ovo luminoso, uma porção minúscula diferente de campos energéticos se convergem nele, tendo como resultado um novo influxo de informação sensorial.: campos energéticos diferentes dos comuns se tornam informações sensoriais, e os campos energéticos diferentes são interpretados como um mundo diferente.

A arte de sonhar se tornou para aqueles xamãs a prática mais absorvente. Durante aquela prática, eles experimentaram estados não igualados de força física e bem-estar, e no seu esforço de duplicar esses estados nas horas de vigília descobriram que podiam repeti-los seguindo certos movimentos do corpo. Os esforços culminaram com a descoberta e desenvolvimento de grande número de tais movimentos, que são chamados de passes mágicos.

Os Passes Mágicos daqueles xamãs do antigo México se tornaram sua possessão mais preciosa. Eles os rodearam com rituais e mistérios e somente os ensinaram as pessoas que eles iniciavam em meio a um enorme segredo. Esta foi a maneira na qual Dom Juan Matus os ensinou a seus discípulos. Seus discípulos, sendo o último elo de sua linhagem chegaram a conclusão unânime de que qualquer outro segredo, sobre os passes mágicos seria contra o interesse que tinham em tornar o mundo de Dom Juan disponível aos outros homens. Eles decidiram, portanto, resgatar os passes mágicos de seu estado obscuro. Eles criaram desse modo a Tensegridade, que é um termo na arquitetura que significa a propriedade das estruturas esqueléticas que empregam elementos de tensão contínua e elementos de compressão descontínua de tal forma que cada elemento opera com o máximo de eficiência e economia. Este é o nome mais apropriado porque é uma mistura de dois termos: tensão e integridade, termos que conotam as duas forças motrizes dos passes mágicos.
 
Tenho a fortissima impressão que já li esse texto. E mais forte ainda é a impressão que foi em outra "dimensão" perceptiva.
 
A RECAPITULAÇÃO

Expressões pesquisadas:
- Recapitulação
- Recapitular

RESUMO DAS CITAÇÕES (livros e páginas):

1 – A Erva do Diabo -
2 – Uma Estranha Realidade -
3 – Viagem a Ixtlan -
4 – Porta para o Infinito -
5 – O Segundo Circulo do Poder -
6 – O Presente da Águia 227-228-228-229-230
7 – O Fogo Interior -
8 – O Poder do Silêncio 129-187
9 – A Arte de Sonhar 166-167-168
10 – Passes mágicos 99-112 a 125
11 – A Roda do Tempo 11-230
12 – O Lado Ativo do Infinito 180-183-184-186-186-199-208-219-295
13 – Encontros com o Nagual 72-78-79-79-80-80-82-83-83-85-95-104-157-173-237

Considerações:

Recapitular é uma atividade especializada dos espreitadores pela qual suas rotinas de vida e relacionamento são impiedosamente expostas. A componente da socialização em nossas vidas, ao fixar o ponto de aglutinação numa posição específica, nos torna padronizados e monotonamente repetitivos no nosso relacionamento com as pessoas e com o mundo que nos cerca.. É um círculo vicioso sem fim. A recapitulação traz isso à tona e inicia gradualmente o processo de transformação.
Já que é um trabalho “para a vida inteira e mais além”, a recapitulação exige no início muita energia, determinação e paciência. Nossa tendência é sempre adiar, procurar uma ocasião mais propícia para iniciar a prática, mas o Nagual deixa claro que o melhor momento para começar é agora..
Ele diz abaixo que “a totalidade de um caminho se resume em seu primeiro passo. Isso significa que as condições ideais são aqui e agora".
Se atentarmos para o fato de que através da recapitulação o espreitador engendra um meio de atender uma exigência inexorável do ”mar escuro da consciência” dando a ele as experiências pessoais reivindicadas e espertamente ficando com a vida (consciência), não há dúvida de que essa é a atividade mais importante de nossas vidas, ou seja, manter a sua consciência individual em evolução mesmo sem o organismo humano.
Com a passagem dos anos, o inevitável sentimento de urgência que sutilmente começa a aparecer, vai deixar claro que não estamos atendendo nesta vida a nossa mais alta vocação e potencialidade de “ser humano” que é levar nossa consciência ao infinito.
A recapitulação é uma oportunidade e como tal não deve ser ignorada ou subestimada, pois é um privilégio ter tido nesta existência contato com tal ensinamento.






Citações

Nota:
Diferentemente dos dois primeiros, o presente estudo usou como primeira citação o trecho inteiro da introdução dos passes mágicos referentes ao tema recapitulação no livro Passes Mágicos (págs. 112 a 118). A razão disso é que o trecho reproduz o tema de forma clara e didática, e esclarece de pronto muitas dúvidas que nós aprendizes temos apresentado sobre o assunto, quando tomamos o contato inicial com ele. Na seqüência, as demais citações dos outros livros vão apenas enfatizar, aprimorar e dar um colorido ao entendimento deste núcleo básico apresentado.

• A Recapitulação

“De acordo com o que Dom Juan ensinava a seus discípulos, a recapitulação era uma técnica descoberta pelos feiticeiros do antigo México e usada por todos os xamãs praticantes dali por diante, de examinar e reviver todas as experiências de suas vidas para alcançar dois objetivos transcendentais:
- o objetivo abstrato de cumprir um código universal que exige que a consciência seja abandonada no momento da morte e
- o objetivo extremamente pragmático de adquirir fluidez perceptiva.
Ele dizia que a formulação do primeiro objetivo era o resultado de observações que os feiticeiros fizeram através da sua capacidade de ver a energia diretamente como ela flui no universo. Eles tinham visto que no universo existe uma força gigantesca, um imenso conglomerado de campos de energia que eles chamaram a águia ou o mar escuro da consciência Eles observaram que o mar escuro da consciência é a força que empresta consciência a todos os seres vivos, do vírus ao homem. Acreditavam que a força empresta consciência a um ser recém-nascido e que este ser aumenta aquela consciência através das suas experiências de vida até um momento em que a força exige sua devolução.
No entendimento dos feiticeiros, todos os seres vivos morrem porque são forçados a devolverem a consciência que lhes foi emprestada. Através das eras, os feiticeiros têm entendido que não existe nenhuma maneira do que o homem moderno chama de o nosso modo linear de pensamento explicar um fenômeno como esse, porque, para uma linha de raciocínio de causa e efeito, não há como explicar por que e como a consciência é emprestada e depois retomada. Os feiticeiros do antigo México viam isso como um fato energético do universo, um fato que não pode ser explicado em termos de causa e efeito ou em termos de um propósito que pudesse ser determinado a priori.
Os feiticeiros da linhagem de Dom Juan acreditavam que recapitular significava dar ao mar escuro da consciência o que ele estava buscando: as suas experiências de vida. Entretanto acreditavam que, através da recapitulação, poderiam adquirir um grau de controle que lhes permitiria separar as experiências de vida da sua força vital. Para eles, as duas não estavam insoluvelmente entrelaçadas; só estavam unidas circunstancialmente.
Esses feiticeiros afirmavam que o mar escuro da consciência não quer tirar a vida dos seres humanos; só quer as experiências de vida. A falta de disciplina nos seres humanos os impede de separar as duas forças e,
Pág 112

no final, eles perdem suas vidas, onde se esperava que perdessem apenas a força das experiências de vida. Os feiticeiros viam a recapitulação como o procedimento através do qual eles poderiam dar ao mar escuro da consciência um substituto para as suas vidas. Eles abriam mão das suas experiências de vida relatando-as, mas retinham a sua força vital.
Quando examinadas em termos dos conceitos lineares do nosso mundo ocidental, as alegações perceptivas dos feiticeiros não fazem absolutamente nenhum sentido. A civilização ocidental tem estado em contato com os xamãs do Novo Mundo há quinhentos anos e nunca houve, por parte dos acadêmicos, uma tentativa genuína de formular um discurso filosófico sério baseado nas declarações feitas pelos xamãs. Por exemplo, para qualquer membro do mundo ocidental, a recapitulação pode parecer coerente com a psicanálise, algo na linha de um procedimento psicológico, uma espécie de técnica de auto-ajuda. Nada poderia estar mais distante da verdade.
De acordo com Dom Juan Matus, o homem sempre perde por negligência. No caso das premissas da feitiçaria, ele acreditava que o homem ocidental está perdendo uma tremenda oportunidade para intensificar a sua consciência e que a maneira como o homem ocidental se relaciona com o universo, a vida e a consciência é apenas uma entre múltiplas opções.
Para os xamãs praticantes, recapitular significava dar a uma força incompreensível - o mar escuro da consciência - a própria coisa que ela parecia estar procurando: as suas experiências de vida, isto é, a consciência que eles ampliaram através daquelas próprias experiências de vida. Já que provavelmente Dom Juan não poderia me explicar esses fenômenos em termos de lógica clássica, ele dizia que tudo o que os feiticeiros podiam desejar fazer era realizar a façanha de reter sua força vital sem saber como isso era feito. Também dizia que havia milhares de feiticeiros que tinham conseguido fazer isso. Tinham conservado a sua força vital após terem dado ao mar escuro da consciência a força das suas experiências de vida. Para Dom Juan, isso significava que esses feiticeiros não morreram no sentido usual como entendemos a morte, mas transcenderam-na retendo sua força vital e desaparecendo da face da terra, embarcando em uma viagem definitiva de percepção.
A crença dos xamãs da linhagem de Dom Juan era que, quando a morte acontece dessa forma, todo o nosso ser transforma-se em energia, um tipo especial de energia que conserva a marca da nossa individualidade. Dom Juan tentava explicar isso em um sentido metafórico dizendo que nós somos compostos de um número de nações unitárias: a nação dos pulmões, a nação do coração, a nação do estômago,
113
a nação dos rins e assim por diante. Às vezes cada uma dessas nações funciona independentemente das outras, mas no momento da morte todas elas são unificadas em uma única entidade. Os feiticeiros da linhagem de Dom Juan chamavam esse estado de liberdade total. Para os feiticeiros, a morte é uma unificadora e não uma exterminadora, como ela o é para o homem comum.
- Esse estado é a imortalidade, Dom Juan? - perguntei.
- Isso de modo algum é a imortalidade - respondeu ele. - É simplesmente a entrada em um processo evolucionário, usando o único meio para a evolução que o homem tem à sua disposição: a consciência. Os feiticeiros da minha linhagem estavam convencidos de que, biologicamente, o homem não poderia evoluir mais; conseqüentemente, consideravam a consciência do homem o único meio para evoluir. No momento de morrer os feiticeiros não são aniquilados pela morte, mas transformados em seres inorgânicos: seres que têm consciência, mas não um organismo. Para eles, serem transformados em um ser inorgânico era evolução e isso significava que um novo tipo indescritível de consciência lhes era emprestado, uma consciência que permaneceria por verdadeiramente milhões de anos, mas que algum dia também precisaria ser devolvida ao doador: o mar escuro da consciência.
Uma das descobertas mais importantes dos xamãs da linhagem de Dom Juan foi que, como todas as outras coisas no universo, o nosso mundo é uma combinação de duas forças opostas e ao mesmo tempo complementares. Uma dessas forças é o mundo que conhecemos, que os feiticeiros chamavam o mundo dos seres orgânicos. A outra força é algo que eles chamavam o mundo dos seres inorgânicos.
- O mundo dos seres inorgânicos - dizia Dom Juan - é povoado por seres que possuem consciência, mas não um organismo. Eles são conglomerados de campos de energia, exatamente como nós o somos. Aos olhos de um vidente, em vez de seres luminosos, como os seres humanos o são, eles são bastante opacos. Não são configurações energéticas arredondadas, mas sim alongadas, como uma vela. Em essência, são conglomerados de campos de energia que, assim como nós, têm coesão e limites. São mantidos unidos pela mesma força aglutinadora que mantém os nossos campos de energia unidos.
- Onde fica esse mundo inorgânico, Dom Juan? - perguntei.
- É o nosso mundo gêmeo - respondeu ele. - Ocupa o mesmo tempo e o mesmo espaço que o nosso mundo, mas o tipo de consciência do nosso mundo é tão diferente do tipo de consciência do mundo inorgânico que nós nunca notamos a presença dos seres inorgânicos, embora eles notem a nossa.
114

Os seres inorgânicos são seres humanos que evoluíram? perguntei.
- Absolutamente não! - exclamou ele. - Os seres inorgânicos do nosso mundo gêmeo têm sido intrinsecamente inorgânicos desde o início, do mesmo modo como temos sido sempre intrinsecamente seres orgânicos, também desde o início. Eles são seres cuja consciência pode evoluir exatamente como a nossa, e sem dúvida o faz, mas não tenho nenhum conhecimento direto de como isso acontece. Entretanto o que sei é que um ser humano cuja consciência evoluiu é um ser inorgânico brilhante, luminescente e arredondado de um tipo especial.
Dom Juan me deu uma série de descrições desse processo evolucionário, que eu sempre assumi como metáforas poéticas. Eu escolhia a que me agradava mais, que era a da liberdade total. Imaginava um ser humano que entra em liberdade total como sendo o ser mais corajoso, mais imaginativo possível. Dom Juan dizia que eu não estava fantasiando absolutamente nada - que, para entrar em liberdade total, um ser humano deve invocar o seu lado sublime que, dizia ele, os seres humanos têm mas que nunca lhes ocorre usar.
Dom Juan descrevia o segundo, o objetivo pragmático da recapitulação, como a aquisição de fluidez. O fundamento lógico dos feiticeiros por trás disso tinha a ver com um dos assuntos mais evasivos da feitiçaria: o ponto de aglutinação, um ponto de intensa luminosidade, do tamanho de uma bola de tênis, perceptível quando os feiticeiros vêem um ser humano como um conglomerado de campos de energia.
Feiticeiros como Dom Juan vêem que trilhões de campos de energia na forma de filamentos de luz vindos de todo o universo convergem ao ponto de aglutinação e o atravessam. Essa confluência de filamentos dá ao ponto de aglutinação a sua luminosidade. O ponto de aglutinação possibilita que um ser humano perceba aqueles trilhões de filamentos de energia transformando-os em dados sensoriais. Depois o ponto de aglutinação interpreta esses dados como o mundo da vida cotidiana, isto é, em termos da socialização e do potencial humano.
Recapitular é reviver todas ou quase todas as experiências que tivemos e, fazendo isso, deslocar o ponto de aglutinação, ligeiramente ou bastante, impelindo-o pela força da memória a adotar a posição que tinha quando o acontecimento que está sendo recapitulado ocorreu. Esse ato de ir de um lado para o outro de posições anteriores à atual proporciona aos xamãs praticantes a fluidez necessária para suportarem diferenças extraordinárias em suas viagens pelo infinito. Para os praticantes da Tensegridade, a recapitulação proporciona a fluidez
115

necessária para suportarem diferenças que não fazem parte, de modo algum, de sua cognição habitual.
Como um procedimento formal, a recapitulação era feita nos tempos antigos recordando-se de cada pessoa que os praticantes conheciam e de cada experiência em que tomaram parte. Dom Juan sugeria que, no meu caso, que é o caso do homem moderno, eu fizesse uma lista por escrito de todas as pessoas que eu tinha conhecido em minha vida, como um estratagema mnemônico. Uma vez que eu tivesse escrito a lista, ele continuaria a me dizer como usá-la. Eu precisava pegar a primeira pessoa da minha lista, que retrocedia no tempo do presente até a época da minha primeiríssima experiência de vida, e, na minha memória, estabelecer a minha última interação com aquela primeira pessoa. Essa ação é chamada de organizar o acontecimento a ser recapitulado.
Uma detalhada recordação de minúcias é requerida como o meio apropriado de afiar a capacidade de lembrar. Essa recordação envolve obter todos os detalhes físicos pertinentes, tal como o ambiente no qual o acontecimento recordado ocorreu. Uma vez que o acontecimento está organizado, a pessoa deve realmente entrar no local em si, prestando especial atenção a quaisquer configurações físicas relevantes. Por exemplo, se a interação aconteceu em um escritório, o que deve ser lembrado é o chão, as portas, as paredes, os quadros, as janelas, as mesas, os objetos sobre as mesas, todas as coisas que poderiam ter sido observadas em um relance e depois esquecidas.
Como um procedimento formal, a recapitulação deve começar pelo relato minucioso de acontecimentos que acabaram de ocorrer. Dessa forma, a primazia da experiência tem precedência. Alguma coisa que acabou de ocorrer é algo que a pessoa pode se lembrar com grande precisão. Os feiticeiros sempre confiaram no fato de que os seres humanos são capazes de armazenar informações detalhadas das quais não estão conscientes e de que aquele detalhe é o que o mar escuro da consciência procura.
A verdadeira recapitulação do acontecimento requer que a pessoa respire profundamente, abanando a cabeça, por assim dizer, muito lenta e delicadamente, de um lado para o outro, começando por qualquer que seja o lado, esquerdo ou direito. Esse abano da cabeça era feito tantas vezes quantas fossem necessárias, enquanto a pessoa se lembrava de todos os detalhes acessíveis. Dom Juan dizia que os feiticeiros falavam sobre esse ato como inalar todos os sentimentos que a pessoa teve no acontecimento sendo recordado e expelir todos os humores indesejáveis e os sentimentos irrelevantes que permaneceram nela.
Os feiticeiros acreditam que o mistério da recapitulação reside no ato de inalar e exalar. Uma vez que a respiração é uma função de
116

manutenção da vida, os feiticeiros têm certeza de que através dela a pessoa também pode entregar ao mar escuro da consciência o fac-símile das suas experiências de vida. Quando eu pressionava Dom Juan por uma explicação racional sobre essa idéia, sua posição era que coisas como a recapitulação só podiam ser experimentadas e não explicadas. Ele dizia que no ato de fazer a pessoa pode encontrar a libertação e que explicar isso era dissipar nossa energia em esforços infrutíferos. Seu convite era coerente com todas as coisas relacionadas ao seu conhecimento: o convite para entrar em ação.
Na recapitulação, a lista de nomes é usada como um estratagema mnemônico que impele a memória em uma viagem inconcebível. A posição dos feiticeiros a esse respeito é que relembrar acontecimentos que acabaram de ocorrer prepara o solo para a recordação de acontecimentos mais distantes no tempo com a mesma clareza e proximidade. Recordar experiências desse modo é revivê-las e extrair dessa recordação um ímpeto extraordinário que é capaz de despertar a energia dispersada dos nossos centros de vitalidade e fazê-la retornar para eles. Os feiticeiros se referem a essa redistribuição de energia que a recapitulação causa como obter fluidez após dar ao mar escuro da consciência o que ele está procurando.
Em um nível mais mundano, a recapitulação proporciona aos praticantes a capacidade de examinar a repetição em suas vidas. A recapitulação pode convencê-los, além de qualquer sombra de dúvida, de que todos nós estamos à mercê de forças que definitivamente não fazem nenhum sentido, embora à primeira vista pareçam perfeitamente razoáveis; como, por exemplo, ficar à mercê do galanteio. Parece que para algumas pessoas o galanteio é a busca de toda uma existência. Pessoalmente, tenho ouvido falar de pessoas com idade avançada cujo único ideal era encontrar uma companhia perfeita e cuja aspiração era terem talvez um ano de felicidade no amor.
Dom Juan Matus costumava me dizer, sob meus veementes protestos, que o problema era que ninguém queria realmente amar alguém, mas que cada um de nós queria ser amado. Ele dizia que para nós essa obsessão pelo galanteio, tomado pelo significado visível, era a coisa mais natural do mundo. Ouvir um homem ou uma mulher de 75 anos dizer que ainda está à procura de um companheiro perfeito é uma afirmação de algo idealista, romântico e belo. No entanto, examinar essa obsessão no contexto das repetições intermináveis de uma existência faz com que ela apareça como realmente é: algo grotesco.
Dom Juan me assegurava que, se alguma mudança comportamental está para ser realizada, precisa ser feita através da recapitulação, já que
117

ela é o único veículo que pode intensificar a consciência liberando a pessoa das exigências não expressas da socialização, que são tão automáticas, tão desvalorizadas, que não são sequer notadas sob condições normais e muito menos examinadas.
O verdadeiro ato de recapitular é um empreendimento de toda uma vida. Demora anos para esgotar a lista de pessoas, especialmente para aqueles que conheceram e interagiram com milhares de indivíduos. Essa lista é aumentada pela lembrança de acontecimentos impessoais nos quais nenhuma pessoa está envolvida, mas que precisam ser examinados porque de algum modo estão relacionados à pessoa sendo recapitulada.
Dom Juan afirmava que o que os feiticeiros do antigo México procuravam avidamente ao recapitularem era a lembrança da. interação porque, na interação, residem os efeitos profundos da socialização, que eles lutavam para superar por quaisquer meios disponíveis.
Passes Mágicos, págs. 112 a 118


• “Florinda riu, descrevendo o choque que teve. O velho a tinha levado a uma participação ativa na sua própria cura. Além do mais, com o pretexto da exigência da curandeira, ele a colocava dentro do engradado diariamente durante seis horas pelo menos, a fim de que ela realizasse uma tarefa específica a que ele dava o nome de "recapitulação".
O Presente da Águia, pág. 227

• “Por isso seu benfeitor teve de se mudar para outra região do México e ela teve de ficar escondida na casa dele durante anos; essa situação favoreceu Florinda, pois ela tinha de realizar a tarefa de "recapitular" e necessitava de absoluto silêncio e solidão.
Explicou que a recapitulação é o ponto forte dos espreitadores, como o corpo sonhador é o ponto forte dos sonhadores. Consistia em recordar sua vida até os mínimos detalhes. Para isso seu benfeitor lhe tinha dado aquele engradado como um instrumento e um símbolo. Era um instrumento que lhe permitia aprender a se concentrar, pois tinha de se sentar lá durante anos até que toda sua vida tivesse passado diante dos seus olhos. E era um símbolo dos estreitos limites da nossa pessoa. Seu benfeitor lhe disse que quando terminasse a recapitulação quebrasse o engradado para simbolizar que não mais mantinha as limitações da sua pessoa. “
O Presente da Águia, pág. 228

• “Florinda me deu então os fundamentos da recapitulação. Disse que o primeiro estágio é um breve relato de todos os incidentes da nossa vida, que se apresentam de uma maneira óbvia para exame.
O segundo estágio é uma recordação mais detalhada, que sistematicamente vai desde a época anterior ao espreitador ter se sentado dentro do engradado, e teoricamente se estende ao momento do nascimento.
Ela me assegurou que uma recapitulação perfeita pode mudar um guerreiro tanto, se não mais, quanto o controle total do corpo sonhador. Nesse particular, o sonho e a espreita têm a mesma finalidade, entrar na terceira atenção. É importante, entretanto, que o guerreiro saiba e pratique os dois. Disse que para a mulher há configurações diferentes do corpo luminoso para se aperfeiçoar em uma ou em outra. Os homens, ao contrário, podem realizar os dois com facilidade, mas ao mesmo tempo não podem nunca chegar ao grau de eficiência que as mulheres atingem em cada arte.”
O Presente da Águia, pág. 228

• “Florinda explicou que o elemento-chave na recapitulação é a respiração. Respirar para ela era uma mágica, por ser uma função que produz a vida. Disse que essa recordação é fácil se se consegue reduzir a área de estímulo em volta do corpo. Por isso existia o engradado; a partir daí a respiração produz memórias cada vez mais profundas. Teoricamente, os espreitadores têm de se lembrar de cada sentimento que tiveram na vida, e esse processo se inicia com uma respiração. Ela me avisou que o que estava me ensinando eram apenas preliminares, que mais tarde, em condições diferentes, me ensinaria as complexidades do processo.
Florinda disse que seu benfeitor lhe orientou a escrever uma 1ista de acontecimentos a serem revividos. Falou que a técnica se iniciava com uma respirada inicial. Os espreitadores começam com o queixo sobre o ombro direito e lentamente inspiram à medida que viram a cabeça num ângulo de cento e oitenta graus. A respirada termina no ombro esquerdo. Uma vez terminada a inspiração, a cabeça volta a ficar relaxada. Eles expiram olhando para a frente.
O espreitador então pega o primeiro acontecimento da lista e se concentra, até que todos os sentimentos que nele se encerram tenham sido recontados. Enquanto se lembram dos sentimentos que tiveram durante o acontecimento recordado, inspiram lentamente, movendo a cabeça do ombro direito para o esquerdo. A função dessa respiração é restaurar energia. Florinda disse que o corpo luminoso está constantemente criando filamentos semelhantes a teias de aranha, que são projetados para fora da massa luminosa, impulsionados por qualquer tipo de emoções. Portanto, cada situação de interação ou cada situação que envolve sentimentos é potencialmente drenada para o corpo luminoso. Respirando da direita para a esquerda enquanto se lembram de um sentimento, os espreitadores, através da mágica da respiração, pegam os filamentos que foram deixados para trás. A próxima respirada imediata é da esquerda para a direita e é uma expiração. Com ela os espreitadores soltam os filamentos deixados neles por outros corpos luminosos envolvidos no acontecimento que está sendo recordado.
Ela declarou que essas eram as preliminares essenciais da espreita que todos os membros do seu grupo tinham passado como introdução a exercícios mais apurados da arte. Sem fazer os exercícios preliminares para recuperar os filamentos deixados no mundo, e particularmente para desprezar os que os outros deixaram neles, não há possibilidade de manipular a loucura controlada, pois esses filamentos estranhos são a base da capacidade ilimitada de auto-importância de uma pessoa. Para exercitar a loucura controlado, já que ela não visa a enganar ou punir as pessoas ou se sentir superior a elas, tem-se de ser capaz de rir de si próprio. Florinda disse que um dos resultados de uma recapitulação detalhada é a graça de se ver face a face com a repetição monótona da auto-estima de alguém, que está no cerne de toda a interação humana.
Ela enfatizou que o regulamento definia a espreita e o sonho como artes, portanto, a serem representadas. Disse que a natureza produtora de vida da respiração é também o que dá sua capacidade de limpeza. É essa capacidade que faz da recapitulação uma questão prática.”
O Presente da Águia, pág. 229

• “Disse que seu benfeitor considerava as três técnicas básicas da espreita - o engradado, a lista de acontecimentos a serem recapitulados, e a respiração do espreitador - como sendo as tarefas talvez mais importantes de um guerreiro. Ele achava que uma recapitulação profunda era o meio mais eficiente para se perder a forma humana. Portanto, seria fácil para os espreitadores, depois de recapitularem suas vidas, fazer uso de todos os não fazeres do seu eu, tais como apagar sua história pessoal, perder a auto-importância, quebrar as rotinas, e assim por diante.”
O Presente da Águia, pág. 230

• “- Recordar não é o mesmo que relembrar - continuou. - Relembrar é ditado pelo tipo de pensamento cotidiano, enquanto recordar é ditado pelo movimento do ponto de aglutinação. Uma recapitulação de suas vidas, que os feiticeiros fazem, é a chave para mover seus pontos de aglutinação. Os feiticeiros começam sua recapitulação pensando, relembrando os atos mais importantes de suas vidas. Após apenas pensar a respeito deles, movem-se então para estar realmente no local do evento. Quando conseguem fazer isso, estar no local do evento, foi porque moveram com sucesso seu ponto de aglutinação ao lugar preciso onde estava quando o evento teve lugar. Trazer de volta o evento total por meio do movimento do ponto de aglutinação é conhecido como a recordação dos feiticeiros.
Olhou para mim por um instante, como se tentando assegurar-se de que eu estava escutando.
- Nossos pontos de aglutinação estão constantemente se movendo, movimentos imperceptíveis. Os feiticeiros acreditam que, para fazer seus pontos de aglutinação se moverem a pontos precisos, devemos empenhar por intento. Uma vez que não há maneira de saber o que é o intento, os feiticeiros deixam que seus olhos o chamem.
- Tudo isso é de fato incompreensível para mim - retruquei.”
O Poder do Silêncio, pág. 129

• “Morri naquele campo. Senti minha consciência fluindo para fora de mim e dirigindo-se na direção da Águia. Mas como eu havia recapitulado impecavelmente minha vida, a Águia não me devorou a consciência. A Águia cuspiu-me para fora. Porque meu corpo estava morto no campo, ela não me deixou seguir diretamente para a liberdade. Era como se me dissesse para voltar e tentar outra vez.”
O Poder do Silêncio, pág. 187

• “. Eu chegara ao ponto de ter medo de dormir nos dias em que sabia que teria aquele sonho.
- Você ainda não está verdadeiramente pronto para fundir sua realidade de sonho com sua realidade cotidiana. Precisa recapitular mais a sua vida.
- Mas eu já fiz toda a recapitulação possível - protestei.
- Venho recapitulando há anos. Não há mais nada que eu possa lembrar sobre minha vida.
- Deve haver muito mais - ele disse, inflexível. – De outro modo não acordaria gritando.
Não gostei da idéia de ter de recapitular outra vez. Eu tinha feito isso, e acreditava que fizera tão bem que não precisaria nunca mais tocar no assunto.
- A recapitulação de nossa vida nunca termina, não importa que tenhamos recapitulado direito - disse Dom Juan. - O motivo das pessoas comuns não terem vontade própria nos sonhos é nunca terem recapitulado, e suas vidas ficam cheias até a borda de emoções como lembranças, esperanças, medos etc. etc.
"Os feiticeiros, por outro lado, são relativamente livres de emoções pesadas e opressivas, por causa da recapitulação. E se alguma coisa faz com que eles fiquem bloqueados, como está acontecendo com você, a suposição é que ainda existe alguma coisa neles que não está suficientemente clara.”
- Recapitular é um negócio envolvente demais, Dom Juan.
- Talvez exista alguma outra coisa que eu possa fazer.
- Não, não existe. Recapitular e sonhar andam lado a lado. À medida que regurgitamos nossas vidas nós ficamos mais e mais leves.
Dom Juan me dera instruções detalhadas e explícitas sobre a recapitulação. Consistia em reviver a totalidade das experiências de vida lembrando-se de cada detalhe possível. Ele via a recapitulação como o fator essencial na redefinição e reestruturação da energia do sonhador.
- A recapitulação liberta a energia aprisionada dentro de nós, e sem essa energia liberada o sonhar não é possível.”
A Arte do Sonhar, pág. 166

• “Anos antes Dom Juan me levara a fazer uma lista de todas as pessoas que conhecera na vida, começando no presente. Ele me ajudou a arrumar a lista de modo ordenado, separando-a por áreas de atividade, como os empregos que eu tivera, as escolas onde estudara. Em seguida guiou-me para ir, sem qualquer desvio, da primeira pessoa em minha lista até a última, revivendo cada uma das interações que eu tivera com elas.
Explicou que a recapitulação de um evento começa com a mente arrumando tudo que tem a ver com o que está sendo recapitulado. Arrumar significa reconstruir o evento, peça por peça, começando pela lembrança dos detalhes físicos ao redor, e em seguida passando à pessoa com quem compartilhamos a interação, e em seguida para nós mesmos; para o exame de nossos sentimentos.
Dom Juan me ensinou que a recapitulação é realizada junto com uma respiração natural e rítmica. São feitas longas expirações enquanto a cabeça se move devagar e suavemente da direita para a esquerda; e são tomadas longas inalações quando a cabeça se move da esquerda para a direita. Ele chamava de "arejar o evento", esse ato de mover a cabeça de um lado para o outro. A mente examina o evento do princípio ao fim, enquanto o corpo ventila tudo em que a mente se concentra.
Dom Juan disse que os feiticeiros da antigüidade, os inventores da recapitulação, viam a respiração como um ato mágico, vivificante, e usavam-na como um veículo de magia; a expiração era usada para ejetar a energia estranha deixada neles enquanto a interação era recapitulada, e a inalação servia para recuperar a energia que eles tinham deixado para trás durante a interação.
Devido ao meus estudos acadêmicos eu tomei a recapitulação como o processo de analisar a própria vida. Mas Dom Juan insistiu que havia mais coisa envolvida do que uma psicanálise intelectual. Ele postulava a recapitulação como uma manobra dos feiticeiros para induzir um deslocamento minúsculo, porém firme, do ponto de aglutinação. Disse que, sob o impacto de rever sentimentos e ações do passado, o ponto de aglutinação fica indo e voltando do posicionamento atual para o que ele ocupava quando aconteceu o evento que está sendo recapitulado.”
A Arte do Sonhar, pág. 167

• “Dom Juan afirmava que o raciocínio dos feiticeiros antigos, para explicar a recapitulação, era sua convicção de que existe uma inconcebível força de dissolução no universo, que faz os organismos viverem emprestando-lhes consciência. A mesma força também faz os organismos morrerem, para extrair deles a mesma consciência emprestada, que os organismos aprimoraram através de suas experiências de vida. Dom Juan explicou o raciocínio dos feiticeiros antigos. Eles acreditavam que, como essa força estava atrás de nossa experiência de vida, era de suprema importância o fato de que ela poderia se satisfazer com um fac-símile de nossa experiência de vida: a recapitulação. Ao receber o que deseja, a força de dissolução deixa os feiticeiros livres para expandir sua capacidade de perceber e de chegar com ela aos confins do tempo e do espaço.
Quando comecei a recapitular de novo tive a grande surpresa de ver meus treinamentos de sonhar suspensos automaticamente. Perguntei a Dom Juan sobre esse recesso indesejado.
- O sonhar exige toda a energia disponível - respondeu ele. - Se houver uma preocupação profunda em sua vida, não existe possibilidade de sonhar.
- Mas eu já estive profundamente preocupado antes, e meus treinamentos nunca se interromperam.
- Pode ser então que, toda vez que você achou que estava preocupado, estivesse apenas egomaniacamente perturbado - ele disse rindo. - Para os feiticeiros, estar preocupado significa que todas as nossas fontes de energia foram utilizadas. Essa é a primeira vez que você envolve a totalidade de suas fontes de energia. No resto do tempo, mesmo quando recapitulou antes, você não estava completamente absorvido.
Dessa vez Dom Juan me deu outro padrão de recapitulação. Eu deveria construir um quebra-cabeça recapitulando, sem qualquer ordem, diferentes fatos de minha vida.
- Mas vai ser uma confusão - protestei.
- Não, não vai - ele assegurou. - Será uma confusão se você deixar sua mesquinharia escolher os eventos a serem recapitulados. Em vez disso deixe o espírito decidir. Silencie, e em seguida vá até o evento que o espírito escolher.
Os resultados desse padrão de recapitulação foram chocantes em muitos níveis. Achei impressionante descobrir que, toda vez que silenciava meus pensamentos, uma força que parecia independente lançava-me de imediato numa lembrança detalhada de algum evento de minha vida. Mas foi ainda mais impressionante descobrir que daquilo resultava uma configuração bastante ordenada. O que imaginei que seria caótico acabou mostrando-se extremamente eficaz.
Perguntei a Dom Juan por que ele não me fizera recapitular daquele jeito desde o início. Ele respondeu que existem dois ciclos básicos para a recapitulação: o primeiro era chamado de formalidade e rigidez, e o segundo de fluidez.
Eu não tinha a menor idéia de como minha recapitulação seria diferente. A capacidade de concentração, que eu adquirira através dos treinamentos de sonhar, permitiu-me examinar minha vida numa profundidade que nunca imaginaria possível. Demorei mais de um ano para ver e rever tudo que podia sobre minhas experiências. No final precisei concordar com Dom Juan: eu tinha uma imensidão de emoções escondidas tão profundamente a ponto de se tornarem virtualmente inacessíveis.”
A Arte do Sonhar, pág. 168

• “Tudo que esses feiticeiros faziam girava em torno de cinco preocupações:

- primeira, os passes mágicos;
- segunda, o centro energético no corpo humano chamado de centro para decisões;
- terceira, a recapitulação - as maneiras para aumentar o campo de ação da consciência humana;
- quarta, sonhar, a arte genuína de romper os parâmetros da percepção normal;
- quinta, o silêncio interior - o estágio da percepção humana do qual esses feiticeiros empreendiam cada uma das suas consecuções perceptivas.
Essa seqüência das cinco preocupações foi um conjunto moldado na compreensão que aqueles feiticeiros tinham do mundo ao seu redor.
De acordo com o que Dom Juan ensinava, uma das descobertas estarrecedoras daqueles xamãs foi a existência no universo de uma força aglutinadora que une campos de energia em unidades concretas e funcionais. Os feiticeiros que descobriram a existência dessa força descreveram-na como uma vibração ou condição vibratória que permeia grupos de campos de energia e os mantém unidos.
Em termos desse conjunto de cinco preocupações dos xamãs do antigo México, os passes mágicos preenchem a função da condição vibratória da qual falavam os xamãs. Quando aqueles feiticeiros juntaram essa seqüência xamanística das cinco preocupações, copiaram
O padrão da energia que lhes era revelado quando eles eram capazes de ver a energia como ela flui no universo. A força de ligação eram os passes mágicos. Os passes mágicos eram a unidade que permeava as quatro unidades restantes e as agrupava em um único todo funcional.”
Passes Mágicos, pág. 99

• “OS PASSES MÁGICOS PARA A RECAPITULAÇÃO
A recapitulação afeta algo que Dom Juan chamava de corpo energético. Ele explicava formalmente o corpo energético como um conglomerado de campos de energia que são a imagem espelhada dos campos de energia que constituem o corpo humano quando ele é visto diretamente como energia. Dizia que no caso dos feiticeiros o corpo físico e o corpo energético são uma única unidade. Os passes mágicos para a recapitulação trazem o corpo energético para o corpo físico, o que é essencial para navegar no desconhecido:
13. Forjando o Tronco do Corpo Energético
14. Esbofeteando o Corpo Energético
15. Estendendo Lateralmente o Corpo Energético
16. Estabelecendo o Núcleo do Corpo Energético
17. Forjando os Calcanhares e as Panturrilhas do
18. Forjando os Joelhos do Corpo Energético
19. Forjando as Coxas do Corpo Energético
20. Despertando a História Pessoal Tomando-a Flexível
21. Despertando a História Pessoal Batendo Repetidamente com o Calcanhar no Chão
22. Despertando a História Pessoal Sustentando o Calcanhar no Chão
23. As Asas da Recapitulação
24. A Janela da Recapitulação
25. As Cinco Respirações Profundas
26. Extraindo Energia dos Pés”
Passes Mágicos, págs.118 a 125

• “No mundo dos xamãs, perceber a energia de tal maneira é o primeiro passo obrigatório para uma visão mais livre, mais abrangente, de um sistema diferente de conhecimento. Para provocar em mim a resposta de ver, Dom Juan utilizou outras estranhas unidades de cognição. Uma das mais importantes chamava-se recapitulação, que consistia em um escrutínio sistemático da própria vida, segmento por segmento, um exame feito não à luz da crítica e da descoberta de falhas, mas à luz de um esforço para entender a própria vida e mudar o seu curso. O argumento de Dom Juan era que, uma vez que o praticante visse sua vida da maneira distanciada que a recapitulação exige, não havia mais a possibilidade de voltar à mesma vida.”
A Roda do Tempo, pág. 11

• “Para Dom Juan Matus, recapitular significava reviver e remanejar tudo de nossa vida numa única ação. Ele nunca se preocupou com as minúcias das elaboradas variações daquela antiga técnica. Florinda, por sua parte, tinha uma meticulosidade totalmente diferente. Ela gastava meses treinando-me em aspectos da recapitulação que até hoje sou incapaz de explicar.
- É a vastidão do guerreiro o que você está experimentando - ela explicou. - As técnicas estão aí. Grande coisa. O que é de suprema importância é o homem que as usa e seu desejo de ir até o fim com elas.”
A Roda do Tempo, pág. 230

• “- A premissa dos feiticeiros é que para se introduzir algo, precisa-se de espaço para colocá-lo - disse ele. - Se você estiver cheio até a borda com itens da vida cotidiana, não há espaço para nada novo. Esse espaço precisa ser construído. Percebe o que eu quero dizer? Os feiticeiros dos tempos antigos acreditavam que a recapitulação da sua vida abria esse espaço. Ela faz isso e muito mais, claro.
“A maneira como os feiticeiros realizam a recapitulação é muito formal. Consiste em fazer uma lista de todas as pessoas que conheceram, desde o presente até o início de suas vidas. Uma vez feita essa lista, pegam a primeira pessoa dela e lembram-se de tudo o que puderem sobre essa pessoa. E quero dizer tudo, cada detalhe. É melhor recapitular do presente para o passado, porque as memórias do presente estão frescas e dessa maneira a capacidade de lembrar é afiada. O que os praticantes fazem é lembrar e respirar. Inspiram lenta e deliberadamente, girando a cabeça da direita para a esquerda, num balanço quase imperceptível, e expiram da mesma forma?
Disse que o inspirar e o expirar devem ser naturais; se forem rápidos demais, uma pessoa entraria no que se chama de respiração cansativa: respirações que depois precisam de respirações lentas a fim de acalmar os músculos.
- E o que devo fazer, Dom Juan, com tudo isso? - perguntei. - Comece a fazer a sua lista hoje - disse ele. - Divida-a por anos, por ocupações, organize-a da maneira que quiser, porém faça-a em seqüência, com a pessoa mais recente primeiro e terminando com a sua mãe e o seu pai. Depois, lembre-se de tudo sobre elas. Não há mais nada para se fazer além disso. A medida que você pratica, perceberá o que está fazendo.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 180

• “- O poder da recapitulação - disse Dom Juan - é que revolve todo o lixo das nossas vidas e o traz para a superfície.
Depois Dom Juan delineou as complexidades da consciência e percepção, que eram as bases da recapitulação. Começou dizendo que ia apresentar um conjunto de conceitos que sob nenhuma condição deveriam ser tomados como teorias de feiticeiros, porque era um conjunto formulado pelos xamãs do México antigo como um resultado de ver a energia diretamente enquanto ela flui no universo. Ele me preveniu que iria me apresentar as unidades desse conjunto sem qualquer tentativa de classificá-las ou categorizá-las por qualquer padrão predeterminado.
- Não estou interessado em classificações - continuou ele. - Você tem classificado tudo na sua vida. Agora vai ser forçado a ficar longe das classificações. Outro dia, quando lhe perguntei se sabia alguma coisa sobre nuvens, você me deu os nomes de todas as nuvens e o percentual de umidade que se deve esperar de cada uma delas. Foi um verdadeiro meteorologista. Porém, quando lhe perguntei se sabia o que poderia fazer pessoalmente com as nuvens, não teve a menor idéia do que eu estava falando.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 183

• “Explicou que os feiticeiros do México antigo viram que o universo como um todo é composto de campos energéticos na forma de filamentos luminosos. Viram milhões deles, onde quer que se virassem para ver. Também viram que esses campos energéticos se organizam em correntes de fibras luminosas, fluxos que são constantes, forças perenes no universo, e que a corrente ou o fluxo de filamentos que está relacionado com a recapitulação foi chamado por esses feiticeiros o mar escuro da consciência, e também a Águia.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 184

• “- Os feiticeiros acreditam - Dom Juan continuou - que à medida que recapitulamos as nossas vidas, todo o entulho, como lhe disse, chega à superfície. Percebemos as nossas inconsistências, nossas repetições, mas algo em nós coloca uma tremenda resistência para recapitularmos. Os feiticeiros dizem que o caminho fica livre somente depois de uma revolução gigantesca, depois de aparecer na nossa tela da memória um evento que mexe com as nossas bases com uma clareza de detalhes aterrorizadora. É o evento que nos arrasta para o momento exato em que o vivemos. Os feiticeiros chamam aquele evento de condutor, porque daí em diante cada evento que mencionamos é revivido, não meramente lembrado.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 186

• "Caminhar é sempre algo que precipita as memórias. Os feiticeiros do México antigo acreditavam que tudo o que vivemos armazenamos como uma sensação na parte posterior de nossas pernas. Consideravam a parte posterior das nossas pernas como o armazém da história pessoal do homem. Portanto, vamos agora caminhar nas montanhas.
Caminhamos até quase escurecer.
- Acho que já o fiz caminhar longe o suficiente - Dom Juan disse, quando voltamos para a sua casa - para que já esteja pronto para começar essa manobra dos feiticeiros de encontrar um condutor: um evento na sua vida que você lembrará com tal clareza que servirá como holofote para iluminar todo o resto da sua recapitulação com a mesma clareza, ou com clareza comparável. Faça o que os feiticeiros chamam de recapitulando peças de um quebra-cabeça. Alguma coisa o levará a se lembrar do evento que servirá como o seu condutor.
Dando-me um último aviso, me deixou só.
- Dedique a isso o seu melhor - disse ele. - Faça o seu melhor.
Fiquei extremamente silencioso por um momento, talvez devido ao silêncio à minha volta. Experimentei então uma vibração, um tipo de solavanco em meu peito. Tive dificuldade em respirar, mas de repente algo abriu caminho em meu peito, permitindo que eu respirasse profundamente, e uma visão total de um evento esquecido de minha infância irrompeu em minha memória, como se tivesse ficado preso e de repente fosse libertado.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 186

• “A claridade do condutor trouxe um novo ímpeto para a minha recapitulação. Uma nova disposição substituiu a antiga. Dali em diante, comecei a relembrar eventos de minha vida com uma clareza enlouquecedora. Era exatamente como se uma barreira tivesse sido construída dentro de mim, que me manteve rigidamente preso a lembranças pobres e embaçadas, e o condutor a derrubou.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 199

• “- Há uma opção secreta para a recapitulação - disse Dom Juan. - Assim como lhe disse que há uma opção secreta para morrer, uma opção que somente os feiticeiros fazem. No caso de morrer, a opção secreta é que os seres humanos podem reter a sua força vital e renunciar somente à sua consciência, o produto de suas vidas. No caso da recapitulação, a opção secreta que somente os feiticeiros fazem é escolher intensificar as suas mentes verdadeiras.
A memória inquietante de suas recordações só poderia vir de sua mente verdadeira. A outra mente que todos temos e compartilhamos, eu diria, é um modelo barato: um poder econômico, o mesmo tamanho serve para todos. Porém, esse é um assunto que discutiremos mais tarde. O que está em jogo agora é o advento de uma força desintegradora. Mas não a força que o está desintegrando, não é isso que quero dizer. Ela está desintegrando o que os feiticeiros chamam de instalação forânea, que existe em você e em todo o ser humano. O efeito da força que está surgindo em você, que está desintegrando a instalação forânea, é que puxa os feiticeiros para fora da sintaxe delas."
O Lado Ativo do Infinito, pág. 208

• “- As circunstâncias a sua volta fizeram com que fosse possível para você ter mais energia - continuou ele. - Você começou a recapitulação de sua vida; olhou para seus amigos pela primeira vez como se estivessem numa vitrine; chegou ao seu ponto de ruptura, completamente sozinho, levado pelas suas próprias necessidades; se desfez do seu negócio; e acima de tudo acumulou suficiente silêncio interior. Tudo isso fez com que fosse possível para você fazer essa viagem através do mar escuro da consciência.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 219

• “Dom Juan tinha incutido um axioma de feiticeiros em mim: "Os guerreiros-viajantes pagam elegantemente, generosamente e com inigualável facilidade cada favor, cada serviço prestado a eles. Dessa maneira, livram-se do peso de estar endividados."
Tinha pago, ou estava em processo de pagar, a todos que me
honraram com seus cuidados ou preocupações. Tinha recapitulado minha vida a tal ponto que não deixara nem uma pedra sem tocar. Naquela época, acreditava verdadeiramente que não devia nada a ninguém. Expressei minhas crenças e hesitações para Dom Juan.
Dom Juan disse que com certeza eu tinha recapitulado minha vida minuciosamente, mas acrescentou que eu estava longe de estar livre de dívidas.
- E os seus fantasmas? - continuou ele. - Aqueles que não pode mais tocar?
Ele sabia o que estava falando. Durante minha recapitulação, contei-lhe cada incidente de minha vida. Das centenas de incidentes que lhe relatei, ele isolara três como exemplos de dívidas que contraí no início de minha vida, e somado a isso minha dívida para com a pessoa que tinha sido fundamental para que eu o encontrasse. Agradeci ao meu amigo profusamente, e tive a sensação de que algo lá fora reconheceu os meus agradecimentos. Os outros três permaneceram histórias de minha vida, histórias de pessoas que me deram um presente inconcebível, a quem eu nunca agradecera”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 295

• "Percebam o que vocês têm e não o desperdicem! O sexo é dinheiro, dinheiro vivo! Nosso destino cósmico é expandir a consciência, por isso fomos dotados com uma porção do poder criativo da águia. O sexo foi feito para ensonhar".
Afirmou que, teoricamente, o intercâmbio sexual dos casais não tem porque afetar a disponibilidade luminosa de cada um dos participantes, já que o homem toma da mulher tanto quanto ela toma dele. E o resultado é um equilíbrio neutro. Em todo caso, o indesejável da operação é que a energia se mistura, razão pela qual são gerados laços de dependência que restringe nossa liberdade e que exigem longos anos de recapitulação para serem desfeitos.”
Encontros com o Nagual, pág. 72

• “Em uma determinada ocasião, comentou que apesar da drenagem de energia a que a interação social nos expõem, todos nós temos uma opção, pois a característica lacrada de nossa constituição luminosa nos permite reiniciar continuamente do zero para recuperar nossa totalidade.
"Nunca é tarde afirmou. Enquanto nós estivermos vivos, sempre há um modo de conquistar qualquer tipo de bloqueio. O melhor modo para recuperar as fibras luminosas que temos dissipado é chamando de regresso à nossa energia. A parte mais importante é dar o primeiro passo. Para esses que estão interessados na economia e recuperação da energia, o único caminho aberto é a recapitulação.”
Encontros com o Nagual, pág. 78

• "Os compromissos emocionais que contraímos com as pessoas são como investimentos feitos ao longo do caminho. É preciso ser muito insensato para deixar nosso patrimônio jogado por aí!
"A única forma através da qual podemos estar completos de novo é recolhendo esse investimento, reconciliando-nos com nossa energia e dissipando a carga dos sentimentos. O melhor método que os bruxos descobriram para isto, é recordando os eventos de nossa história pessoal até a sua completa digestão. A recapitulação nos ajuda a sair do passado e nos insere no agora.
"Não podemos evitar o fato de termos nascido como resultado de sexo aborrecido, e nem ter investido a maioria de nossa luminosidade em fazer filhos ou manter relações extenuantes. Mas nós podemos recapitular; isso cancela o efeito energético desses atos.”
Encontros com o Nagual, pág. 79

• "Recapitular é espreitar nossas rotinas, submetendo-a a um escrutínio sistemático e impiedoso. É a atividade que nos permite visualizar nossa vida como totalidade e não como uma sucessão eventual de momentos. Porém, e ainda que isto possa parecer estranho, só os bruxos recapitulam como norma; o resto das pessoas apenas o faz por casualidade.”
Encontros com o Nagual, pág. 79

• “Em outra conferência, Carlos se referiu à estagnação luminosa que descreveu como uma fixação de nossa atenção que bloqueia o fluxo da energia. Ele disse que isto acontece quando nós nos recusamos a enfrentar os fatos e nos escondemos atrás de ações evasivas. E também quando deixamos assuntos pendentes ou contraímos compromissos que nos amarram.
A conseqüência da estagnação é que a pessoa deixa de ser ela mesma. Ao ficar pressionada pela cadeia de decisões pela qual foi tomada durante sua vida, já não pode agir de um modo deliberado e se emaranha nas circunstâncias. Esta situação pode chegar ao ponto de se transformar em uma doença mental ou física, e só se pode resolver isso através da recapitulação.”
Encontros com o Nagual, pág. 80

• “Sustentou que, em essência, recapitular consiste em fazer uma lista das feridas causadas por nossas interações. O passo seguinte é viajar de retorno ao momento quando aconteceram os fatos para absorver de volta o que nos pertence e devolver o alheio.
"O guerreiro começa a rebobinar seu dia. Reconstrói as conversações, decifra os significados, recorda os rostos e os nomes, procura matizes, insinuações, disseca as reações emocionais próprias e das outras pessoas. Não deixa nada ao acaso, agarra as lembranças do dia uma por uma e as limpa através da respiração.
"Também examina capítulos e categorias completas de sua vida. Por exemplo, as namoradas que teve, as casas onde viveu, escolas, lugares de trabalho, amigos e inimigos, brigas e momentos felizes, e assim por diante. O ideal é atacar a tarefa por ordem cronológica, da memória mais recente até a mais distante que for possível evocar. Mas, para começar, é mais fácil fazê-lo por tópicos.
"Uma forma muito rentável do exercício, acessível a todos nós, é a recapitulação fortuita. Se vocês perceberem, nós estamos constantemente recapitulando. Todas as recordações que conformam nosso diálogo interno podem ser classificadas como tal. Porém, nós os evocamos de forma involuntária. Em vez de os observar em silêncio, nós os julgamos, interagimos visceralmente com eles. Isso é lamentável. Um guerreiro tira proveito da oportunidade, porque essas recordações, aparentemente ao acaso, são avisos de nosso lado silencioso".
Mostrou que para recapitular não são necessárias condições especiais. A pessoa pode tentar o exercício em qualquer momento e lugar em que se sinta animado a fazê-lo.
"Os guerreiros recapitulam quando vão caminhando, no banheiro, ao trabalhar ou ao comer, quando for possível! O importante é fazê-lo".
Acrescentou que não há uma posição definida. O único requisito é estar confortável, de forma que o corpo físico não demande atenção nem interfira com as recordações.”
Encontros com o Nagual, pág. 80

• "A recapitulação parte de dentro e se sustenta sozinha. É uma questão de silenciar a mente e então nosso corpo energético toma o controle, fazendo o que para ele é uma delícia fazer. Você se sente bem, confortado; longe de dar trabalho, o deixa descansado. Seu corpo percebe isso como uma ducha inefável de energia.
"Mas você deve ter a atitude correta. Não confunda o exercício com uma questão psicológica. Se o que você necessita são interpretações, vá até o psiquiatra! Ele dirá o que fazer para que você continue sendo o idiota que é. E menos ainda você deveria andar atrás de uma lição. As histórias com moral só existem nos contos para crianças.
A recapitulação é uma forma especializada de espreita e vocês devem empreender isto com um alto sentido de estratégia. Trata-se de entender e pôr em ordem nossas existências, vendo-as tal e qual são, sem remorsos, repreensões ou felicitações, com desapego total e um ânimo leve, até de humor, porque nada em nossa história é mais importante que nada e todas as relações, afinal, são efêmeras.
"O importante é começar, porque a energia que nós recuperamos desde o primeiro intento nos dará forças para continuar recapitulando aspectos mais e mais intrincados de
nossas vidas. Primeiro, é necessário começar pelo investimento mais forte que são os sentimentos mais desgarrados. Depois seguimos por aquelas memórias tão profundas que nós já acreditávamos esquecidas, mas que estão ali.”
Encontros com o Nagual, pág. 82

• "No princípio, recapitular pode nos dar algum trabalho, porque nossa mente não está acostumada à disciplina. Mas, depois de fechar as feridas mais dolorosas, a energia se reconhece a si mesma e nós vamos ficando viciados no exercício. Dessa maneira, cada partícula de luz que recuperamos nos ajuda a ganhar mais.
"No momento em que vocês se disponham a desemaranhar voluntariamente o enredo das suas histórias pessoais, estarão dando o passo decisivo".
"No momento em que vocês se disponham a desemaranhar voluntariamente o enredo das suas histórias pessoais, estarão dando o passo decisivo".
Respondendo a outra pergunta, ele disse que a recapitulação não tem fim, deve durar até o final de nossos dias e mais adiante.
"Eu estiro minhas fibras ao rememorar cada noite o que ocorreu durante o dia. Assim, minha lista de eventos se mantém atualizada. Mas uma vez por ano eu realizo um exercício mais completo e total, para o qual eu me distancio de tudo durante várias semanas".
Encontros com o Nagual, pág. 83

• “Outras das perguntas que lhe fizeram foi concernente aos efeitos da recapitulação sobre a consciência.
Sustentou que o exercício tem dois efeitos principais.
"De imediato, corta nosso diálogo interno. Quando um guerreiro consegue parar seu diálogo está estreitando relações com sua energia. Isso o libera da obrigação da memória e da carga dos sentimentos, e deixa um resíduo energético que pode ser investido no aumento das fronteiras da percepção. O guerreiro começa a apreciar a coisa genuína, não a interpretação. Pela primeira vez, faz contato com o consenso dos bruxos que é a descrição de uma realidade inconcebivelmente integrada.
"É normal que um guerreiro nesta fase ria à toa, porque a energia provê alegria. Graças à recapitulação, está contente, transbordante, salta como um menino. Por outro lado, começa a ser uma pessoa temível, já que, ao ter intacta sua luminosidade e sua vida limpa, as decisões já não serão um obstáculo para ele. Vai decidir o que seja necessário no momento em que queira e isso assusta aos outros.
"Também é aqui que se requer do guerreiro uma dose extra de sobriedade e sensatez, porque do contrário ele correrá riscos desnecessários, pondo em perigo a segurança dele e de outros.
"Outro efeito da recapitulação é que funciona como um convite ao espirito para que venha e faça morada conosco. Dito em outros termos, relembrar nosso passado é o método mais efetivo para unificar os corpos físico e energético que estiveram separados durante anos".
Continuou dizendo que o bruxo que logra recompactar o mais grosso de sua energia está em condições de se propor uma proeza perceptual: intentar uma cópia de sua experiência vital para enganar a morte.
"Tal é o objetivo final da recapitulação: criar um duplo e se preparar para ir. Não é necessário ser um bruxo para entender a importância de tudo isso. Morrer em dívida é uma forma lamentável de morrer. Por outro lado, ter um duplo para oferecer à águia é a garantia de seguir adiante.”
Encontros com o Nagual, pág. 83

• “Em outra de suas conversas, referiu-se a um método desenhado pelos novos videntes que pode ajudar no exercício da recapitulação.
Afirmou:
"Uma das tarefas dos bruxos é analisar constantemente as insinuações do espírito. Para isto, eles costumam elaborar um livro de eventos memoráveis, um mapa das ocasiões em que o espirito interveio em suas vidas, obrigando-lhes a tomarem decisões de um modo voluntário ou involuntário".
Explicou que a vantagem desta técnica é que, ao escrever, nós nos desapegamos um mínimo das coisas e conseguimos focalizá-las com mais objetividade.
"Não se trata de descrever nossa rotina diária, mas de estar atentos aos raros momentos em que o intento se manifesta. Essas são conjunturas mágicas, porque produzem mudanças e nos põem diante do sentido de nossa existência".
A pedidos, apresentou alguns exemplos de eventos desse tipo.
"Embora os sinais do espirito sejam um assunto do mais pessoal, há eventos comuns que em geral marcam a vida das pessoas, como nascer, escolher uma carreira, entrelaçar o destino com o de outra pessoa ou ter filhos. Também as doenças e acidentes graves, porque eles estabelecem uma ligação com a morte. Para aqueles que têm a fortuna de achar um conduto do espírito sob a forma de um nagual, este é sem dúvidas o evento mais memorável de todos.”
Encontros com o Nagual, pág. 85

• "Porém, o método favorito dos guerreiros é a recapitulação. A recapitulação para a mente de um modo natural.
"O principal combustível de nossos pensamentos são os assuntos pendentes, as expectativas e a defesa do ego. É muito difícil de achar uma pessoa cujo diálogo interno seja sincero; o comum é que nós dissimulemos nossas frustrações indo até o extremo oposto. Deste modo, o conteúdo de nossa mente se torna uma ode ao eu.
"Recapitular acaba com tudo isso. Depois de um tempo de esforço contínuo, algo cristaliza aí dentro. O diálogo habitual fica incoerente, incômodo; não existe outro remédio senão pará-lo.
"É normal que um aprendiz nesta fase se depare com um fogo cruzado. Por um lado, está a homogeneização do seu ponto de aglutinação; e por outro, uns enormes parênteses de silêncio que se metem em sua mente, fragmentando-a.
"Quando se esgota a inércia do diálogo interno, o mundo se refaz novamente. A onda de energia se sente como um insuportável vazio que se abre debaixo dos pés. Por tal motivo, o guerreiro pode passar anos de instabilidade mental. A única coisa que o conforta em tal situação é manter claro o propósito do seu caminho e não perder, de nenhuma maneira, sua perspectiva de liberdade. Um guerreiro impecável jamais perde a sensatez.”
Encontros com o Nagual, pág. 95

• “Como vai sua recapitulação?"
A pergunta dele me pegou desprevenido. Respondi que ainda não havia intentado o exercício porque estava esperando para ter condições favoráveis em minha casa.
Lançou-me um olhar muito sério, quase de repreensão, e comentou que, para os bruxos, a totalidade de um caminho se resume em seu primeiro passo.
"Isso significa que as condições ideais são aqui e agora".
Encontros com o Nagual, pág. 104

• "Os bruxos manipulam a mente forasteira tornando-se caçadores de energia. É com essa finalidade que minhas companheiras e eu desenhamos para as massas os exercícios de tensegridade que têm a virtude de nos libertar da mente do voador.
"Nesse sentido, o bruxo é um oportunista. Aproveita o empurrão que lhe deram e diz a seu captores: 'Obrigado por tudo, nos vemos por aí! O acordo que vocês fizeram foi com meus antepassados, não comigo!'. Ao recapitular sua vida, literalmente está tirando a comida da boca do voador. É como se você chegasse à uma loja e devolvesse o produto ao negociante, exigindo-lhe: 'Devolva-me o dinheiro!'. Os inorgânicos não gostam disso, mas não podem fazer nada.
"Nossa vantagem é que somos dispensáveis, há muita comida por aí! Uma posição de alerta total, que não é outra coisa senão disciplina, cria tais condições em nossa atenção que nós deixamos de ser saborosos para esses seres. Em tal caso, eles dão meia volta e nos deixam tranqüilos".
Encontros com o Nagual, pág. 157

• "Considerando que há duas formas de viver e de morrer, há também dois tipos de pessoas: aqueles que pensam que são imortais e aqueles que já estão mortos. Os primeiros guardam esperanças, os últimos não. Um guerreiro é alguém que sabe que o tempo dele já terminou, mas continua lutando, porque essa é sua natureza. Se você olhar nos olhos dele, contemplará o vazio".
"Então, em que consiste realmente a alternativa do bruxo?".
"Há uma única forma na qual o homem pode se adiantar ao seu fim: através da manipulação de sua energia. Esse trabalho consiste de ensonho, espreita e recapitulação. As três técnicas se fundem em um mesmo resultado: o complemento do corpo energético.
"Em um sentido geral, a duração de nossa existência depende em grande medida de como tratamos nossa energia. Nós deixamos a vida por assim dizer 'grudada' nos assuntos diários, vamos nos desgastando nas coisas que vemos e tocamos, e por isso morremos. Mas se nós chamarmos de volta toda essa força vital através da recapitulação, a morte já não poderá ser a mesma, porque teremos nossa totalidade.”
Encontros com o Nagual, pág. 173

• “Tanto o sonho como a recapitulação torna possível a criação do "duplo" energético, uma entidade praticamente indestrutível, capaz de atuar por conta própria.
Um dos descobrimentos mais relevantes dos videntes toltecas, foi que os seres humanos possuem uma configuração luminosa ou campo de energia ao redor de nosso corpo físico. Eles também viram que algum poucos vinham com uma configuração especial dividida em duas partes. A estes chamaram naguais, quer dizer, "pessoas duplicadas". Por sua particular conformação, o nagual tem maiores recursos do que a maioria das pessoas. Eles também viram que, por causa de sua duplicidade e excepcional energia, eles são líderes naturais.”
Encontros com o Nagual, pág. 237
 
Lindo texto, Alma...

Estou relendo todos os livros do Castaneda com muita calma...

É incrível o que significa liberdade total... E incrível os poucos que a percebem. E ainda mais os que se dispõem a pagar o preço por ela...

Sempre em frente! :mad:
Cada vez mais impecáveis! :pos:
Mas na minha opinião: sem perder a ternura :eek:
 
Fala Kurix.

"É incrível o que significa liberdade total... E incrível os poucos que a percebem. E ainda mais os que se dispõem a pagar o preço por ela..."


São poucos que compreendem a ideia de liberdade total por que uma das coisas mais difíceis de se compreender é que podemos entender o funcionamente de tudo sem usar o intelécto, e o sentimento de liberdade total só aparece no silencio interior.

Realmente, o preço a se pagar por trilhar esse caminho é altíssimo.
É viver dia a dia se preparando pra morte, estudando, conhecendo e ajustando a máquina humana.

Um abraço!
 
São textos meio longos, mas pra quem tiver interesse ai vc:

A ESPREITA

Expressões pesquisadas:
- Espreita
- Espreitar

RESUMO DAS CITAÇÕES (livros e páginas):

1 – A Erva do Diabo -
2 – Uma Estranha Realidade - 171
3 – Viagem a Ixtlan -
4 – Porta para o Infinito -
5 – O Segundo Circulo do Poder - 78-167-167-168-180
6 – O Presente da Águia - 221-230
7 – O Fogo Interior - 27-163-164-166-167-178
8 – O Poder do Silêncio - 16-53-78-80-91-92-233
9 – A Arte de Sonhar - 86-94-181-205
10 – Passes mágicos - -
11 – A Roda do Tempo - 198-217-218-219-220-221
12 – O Lado Ativo do Infinito - 223-224
13 – Encontros com o Nagual - 39-79-82-120-125-140-142-143-144-145-146

Considerações:

As habilidades da espreita e do sonhar são os dois pilares do caminho de evolução dos toltecas do Antigo México.
A espreita se relaciona fortemente, além do sonhar, com muitas outras “unidades de significado” deste conhecimento a saber: o tonal, o ponto de aglutinação, o pequeno tirano, a impecabilidade, a importância pessoal, os hábitos e rotinas, a loucura controlada, a energia sexual, a consciência intensificada, a recapitulação, e por aí afora...
A arte da espreita, já que lida com pessoas e comportamento, por um lado é aparentemente exterior, mas por outro lado tem raízes profundas com o lado “oculto” do ser humano, incompreensível à razão habitual, que é o corpo energético.
A arte da espreita está ligada ao coração, assim como a mestria da consciência está ligada á mente, e a mestria do intento ao espírito.
O seu propósito é deslocar gradual, firme e seguramente o ponto de aglutinação e fixá-lo além do chamado inventário humano.
A espreita pode ser aplicada a tudo, mas espreitar a sí mesmo é a sua expressão mais fina e valiosa.
Se fôssemos resumir os pontos importantes das considerações sobre a espreita, diríamos:
- É a habilidade de fixar o ponto de aglutinação numa nova posição
- É uma batalha silenciosa para “conseguir os objetivos” da melhor forma em cada situação.
- É um controle sistemático do comportamento
- É uma forma de relacionar-se com as pessoas, mas sua atuação objetiva “afinar o próprio praticante”.
- É colocar-se em situações limite (perigo, medo, saturação sensorial, agressão)
- A espreita é ligada ao tonal, corpo direito, primeira atenção. O sonho é o oposto (nagual, corpo esquerdo, segunda atenção)
- Ela move devagar e mantém o ponto de aglutinação na nova posição (coesão). O sonho é o oposto
- As mulheres são naturalmente mais afeitas á espreita que os homens
- É regida por 7 princípios (vide abaixo)
- Tem 4 passos de aprendizado: implacabilidade, esperteza, paciência e doçura
- Sua estratégia mais eficaz tem 6 pontos: controle, disciplina, paciência, oportunidade, vontade e o pequeno tirano
- Espreita-se tudo, até as próprias fraquezas, mas o “estado da arte” é espreitar a sí mesmo
- Seus resultados são: rir de si mesmo, não se levar a sério, capacidade infinita de improvisação
- A espreita é o enigma do coração; a consciência é o da mente; o intento é o do espírito
- É um comportamento secreto, furtivo e enganoso para produzir um choque (em si mesmo)
- Para espreitar é preciso ter um propósito, ser impecável, sair da auto-importância, banir hábitos e praticar a loucura controlada (fingir-se imerso na ação, mas sem se identificar, nem ser notado)
- A recapitulação é o ponto forte dos espreitadores. É uma forma especializada de espreitar as rotinas internas.
- A espreita é melhor aprendida em consciência intensificada, sem o inconveniente do inventário
- Liga-se á energia sexual de forma individual. O sonhador usa a energia sexual para sonhar. O espreitador é o oposto

Citações

• “A arte da espreita é um conjunto de procedimentos e atitudes que possibilita a um guerreiro
conseguir o melhor de qualquer situação concebível. “
A Roda do Tempo, pág. 198

1. “O primeiro princípio da arte da espreita é que os guerreiros escolhem o campo de batalha. Um guerreiro nunca vai para a batalha sem saber o que o cerca.
2. Descartar tudo que não é necessário é o segundo princípio da arte da espreita. Um guerreiro não complica as coisas. Seu objetivo é ser simples.
3. Ele aplica toda a concentração que tem para decidir se entra ou não na batalha, pois qualquer batalha é uma batalha por sua vida. Este é o terceiro princípio da arte da espreita. Um guerreiro deve estar disposto e pronto para travar sua última batalha aqui e agora. Mas não de uma maneira descuidada.
4. Um guerreiro relaxa e se abandona; ele nada teme. Só então os poderes que guiam os seres humanos abrem o caminho para o guerreiro e o ajudam. Só então. Este é o quarto princípio da arte da espreita.
5. Quando diante de dificuldades com as quais não podem lidar, os guerreiros recuam por um momento. Eles deixam a mente vagar. Ocupam seu tempo com alguma outra coisa. Qualquer coisa serve. Este é o quinto princípio da arte da espreita.
6. Os guerreiros comprimem o tempo este é o sexto princípio da arte da espreita. Mesmo um instante conta. Numa batalha por sua vida, um segundo é uma eternidade, uma eternidade que pode decidir o resultado final. Os guerreiros visam ao sucesso, portanto comprimem o tempo. Os guerreiros não desperdiçam um só instante.
7. Para aplicara sétimo princípio da arte da espreita, é preciso aplicar os outros seis; um espreitador nunca se lança para a frente. Ele sempre olha para frente por detrás das cenas.”
A Roda do Tempo, págs. 217 a 221
.
• “Disse que seu benfeitor considerava as três técnicas básicas da espreita - o engradado, a lista de acontecimentos a serem recapitulados, e a respiração do espreitador - como sendo as tarefas talvez mais importantes de um guerreiro. Ele achava que uma recapitulação profunda era o meio mais eficiente para se perder a forma humana. Portanto, seria fácil para os espreitadores, depois de recapitularem suas vidas, fazer uso de todos os não fazeres do seu eu, tais como apagar sua história pessoal, perder a auto-importância, quebrar as rotinas, e assim por diante.
Informou que seu benfeitor deu a todos eles exemplos do que queria dizer, primeiro demonstrando suas premissas, e depois expondo os princípios do guerreiro nas suas ações. No seu caso, como ele era um mestre na arte de espreitar, engendrou o plano da sua doença e sua cura, que não só foi coerente com o método do guerreiro mas também foi uma introdução magistral aos sete princípios da arte de espreitar. Primeiro atraiu Florinda a seu próprio campo de batalha, onde ela ficou à sua mercê; forçou-a a descartar-se do que não fosse essencial; ensinou-lhe a colocar sua vida nos eixos, através de uma decisão; ensinou-lhe a relaxar; fez com que ela desenvolvesse um espírito diferente de otimismo e autoconfiança para que pudesse reorganizar seus recursos; ensinou-lhe a condensar o tempo; e finalmente mostrou-lhe que um espreitador nunca se põe à frente das coisas.
Florinda se impressionava muito com o último princípio. Para ela ele resumia tudo o que ela queria dizer a mim nas suas instruções de última hora.
- Meu benfeitor era o chefe - disse Florinda. - Assim mesmo, olhando para ele ninguém acreditaria. Sempre usava uma de suas guerreiras como fachada, misturando-se livremente entre os doentes, fingindo ser um deles, ou fazendo-se passar por um velho idiota varrendo as folhas secas com uma vassoura improvisada.
Florinda explicou que para aplicar o sétimo princípio da arte de espreitar, tem-se de aplicar os outros seis. Assim, seu benfeitor ficava sempre por trás dos bastidores. Graças a isso ele era capaz de evitar ou aparar conflitos. Se houvesse discórdia, nunca era com ele e sim com a guerreira que estivesse servindo de fachada.
- Espero que você tenha percebido a essa altura - continuou ela - que só um mestre em espreita pode ser um mestre em loucura controlada. A loucura controlado não significa o estudo das pessoas. Significa, como meu benfeitor explicou, que os guerreiros aplicam os sete princípios básicos da arte de espreitar a tudo o que fazem, desde os atos mais simples até situações sérias de vida e de morte. A aplicação desses princípios redunda em três resultados. O primeiro é que os espreitadores aprendem a nunca se levarem a sério; aprendem a rir de si próprios. Se não se importam de parecer bobos, podem enganar a qualquer um. O segundo é que aprendem a ter uma paciência sem fim. Nunca estão com pressa, nunca se desesperam. E o terceiro é que aprendem a desenvolver uma capacidade infinita de improvisação.”
O Presente da Águia, pág. 230

• “Em seu esquema de ensino, o qual foi desenvolvido por feiticeiros de tempos antigos, havia duas categorias de instrução. Uma era chamada "ensinamentos para o lado direito", desenvolvida no estado normal de consciência. A outra era chamada "ensinamentos para o lado esquerdo" , posta em prática apenas em estados de consciência intensificada.
Essas duas categorias permitiam que os professores ensinassem a seus aprendizes em três áreas de habilidades: a mestria da consciência, a arte da espreita e a mestria do intento.
Essas três áreas de habilidade, são os três enigmas que os feiticeiros encontram em sua busca ao conhecimento.
A mestria da consciência é o enigma da mente, a perplexidade que os feiticeiros experimentam quando reconhecem o espantoso mistério e propósito da consciência e da percepção.
A arte da espreita é o enigma do coração o desconcerto que os feiticeiros sentem ao se tornarem conscientes de duas coisas: primeiro, que o mundo parece para nós inalteravelmente objetivo e factual, por causa das peculiaridades de nossa consciência e percepção segundo, que se diferentes peculiaridades de percepção entram em jogo, as próprias coisas do mundo que parecem tão inalteravelmente objetivas e factuais mudam.
A mestria do intento é o enigma do espírito, ou o paradoxo do abstrato - os pensamentos e ações dos feiticeiros projetados além de nossa condição humana.
A instrução de Don Juan quanto à arte da espreita e à mestria do intento dependia de sua instrução sobre a mestria da consciência, que era a pedra fundamental de seus ensinamentos, que consistem das seguintes premissas básicas:
1. O universo é uma aglomeração infinita de campos de energia, semelhantes a filamentos de luz
2. Esses campos de energia, chamados de "emanações da Águia" , radiam de uma fonte de proporções inconcebíveis, metaforicamente denominada Águia
3. Os seres humanos também são compostos de um número incalculável dos mesmos campos de energia filamentosos. Essas emanações da Águia formam uma aglomeração encapsulada que se manifesta como uma bola de luz do tamanho do corpo da pessoa com os braços estendidos lateralmente, como um ovo luminoso gigante
4. Apenas um grupo muito pequeno de campos de energia no interior dessa bola luminosa são acesos por um ponto de intenso brilho localizado na superfície da bola
5. A percepção ocorre quando os campos de energia desse pequeno grupo imediatamente ao redor do ponto de brilho estendem sua luz para iluminar campos de energia idênticos no exterior da bola. Uma vez que os únicos campos de energia perceptíveis são aqueles iluminados pelo ponto brilhante, esse ponto é chamado "o ponto onde a percepção é aglutinada" , ou simplesmente "o ponto de aglutinação"
6. O ponto de aglutinação pode ser movido de sua posição usual sobre a superfície da bola luminosa para outra posição na superfície ou no interior. Uma vez que o brilho do ponto de aglutinação pode iluminar qualquer campo de energia com o qual entrar em contato, quando se move para uma nova posição ilumina de imediato novos campos de energia, tornando-os perceptíveis. Esta percepção é conhecida como ver
7. Quando o ponto de aglutinação se desloca, torna possível a percepção de um mundo inteiramente diferente – tão objetivo e factual como aquele que normalmente percebemos. Os feiticeiros entram nesse outro mundo para obter energia, poder, soluções para problemas gerais e particulares, ou para encarar o inimaginável
8. Intento penetrante que nos faz perceber. Não nos tornamos conscientes porque percebemos antes, percebemos como resultado da pressão e intrusão do intento
9. O objetivo dos feiticeiros é atingir um estado de consciência total de modo a experimentar todas as possibilidades de percepção disponíveis ao homem. Esse estado de consciência implica mesmo uma maneira alternativa de morrer.”
O Poder do silêncio, pág. 16

• “- O primeiríssimo princípio da espreita é que um guerreiro espreita a si mesmo. Espreita a si mesmo implacavelmente, com esperteza, paciência e docilmente.
Eu queria rir mas ele não me deu tempo. De modo muito sucinto definiu a espreita como a arte de usar o comportamento de maneiras novas para propósitos específicos. Disse que o comportamento humano normal no mundo da vida cotidiana era rotina. Qualquer comportamento que escapava à rotina causava um efeito incomum em nosso ser total. Esse efeito incomum era o que os feiticeiros buscavam, porque era cumulativo.
Explicou que os feiticeiros videntes dos tempos antigos, através de sua visão, primeiro haviam notado que o comportamento incomum produzia um tremor no ponto de aglutinação. Breve descobriram que se o comportamento incomum era praticado sistematicamente e dirigido com sabedoria, forçava no final o movimento do ponto de aglutinação.
- O desafio real para aqueles feiticeiros videntes - continuou Don Juan - era encontrar um sistema de comportamento que não fosse mesquinho nem caprichoso, mas que combinasse a moralidade e o senso de beleza que diferencia os videntes feiticeiros das bruxas comuns.
Parou de falar, e todos olharam para mim como que buscando sinais de fadiga em meus olhos ou rosto.
- Qualquer um que tenha sucesso em mover seu ponto de aglutinação para uma nova posição é um feiticeiro - continuou Don Juan. - E a partir dessa nova posição, pode fazer todos os tipos de coisas boas e más aos seus semelhantes. Ser um feiticeiro, portanto, pode ser o mesmo que ser um sapateiro, ou um padeiro. A causa dos feiticeiros videntes é ir além dessa posição. E para fazê-lo necessitam de moralidade e beleza.
Disse que, para os feiticeiros, a espreita era o alicerce sobre o qual tudo o mais que faziam era construído.”
O Poder do Silêncio, pág. 92

• “- A espreita é uma das duas maiores realizações dos novos videntes. Eles decidiram que deveria ser ensinada ao nagual dos dias modernos quando seu ponto de aglutinação já se tivesse deslocado bem profundamente para o lado esquerdo. O motivo desta decisão é que um nagual precisa aprender os princípios da espreita sem o incômodo do inventário humano. Afinal, o nagual é o líder de um grupo, e para liderá-lo deve agir rapidamente, sem ter que pensar primeiro.
"Outros guerreiros podem aprender a espreitar em sua consciência normal, embora seja aconselhável que o façam em consciência intensificada... não tanto por causa do valor da consciência intensificada, mas porque isto imbui a espreita de um mistério que ela na verdade não possui; espreitar é meramente um comportamento diante das pessoas."
Disse ainda que eu podia agora compreender que mudar o ponto de aglutinação era a razão pela qual os novos videntes atribuíam um valor tão alto à interação com os pequenos tiranos. Os pequenos tiranos forçavam os videntes a usar os princípios da espreita e, ao fazê-lo, ajudavam-nos a deslocar seus pontos de aglutinação. .
Perguntei-lhe se os antigos videntes sabiam alguma coisa sobre os princípios da espreita.
- A espreita foi desenvolvida exclusivamente pelos novos videntes - falou, sorrindo. - São os únicos videntes que tiveram de lidar com pessoas. Os antigos estavam tão enredados em seu sentido de poder que só foram perceber que as pessoas existiam quando elas começaram a bater-lhes nas cabeças. Mas você já sabe de tudo isso. .
Dom Juan disse em seguida que o domínio da intenção, juntamente com o domínio da espreita são as duas obras-primas dos novos videntes, que marcam o advento dos videntes dos dias de hoje.”
O Fogo Interior, pág. 164


• "Uma das grandes manobras dos espreitadores é contrapor o mistério à estupidez que há em cada um de nós."
Explicou que as práticas da espreita não são coisas para alguém se rejubilar; na verdade, são completamente censuráveis.
Sabendo disso, os novos videntes percebem que seria contra o interesse geral discutir ou praticar os princípios de espreita em consciência normal.
Apontei-lhe uma incongruência. Ele dissera que não há meios de os guerreiros agirem no mundo enquanto se encontram em consciência intensificada, e também que espreitar é simplesmente comportar-se diante de pessoas de maneiras específicas. As duas afirmações contradiziam-se mutuamente.
- Por não ensiná-la em consciência normal referia-me apenas a ensiná-la a um nagual - disse ele. - O propósito de espreitar é duplo: primeiro, deslocar o ponto de aglutinação tão firmemente e a salvo quanto possível, e nada pode fazê-lo tão bem quanto a espreita; segundo, imprimir seus princípios a um nível tão profundo que o inventário humano seja ultrapassado, assim como a reação natural de recusar e julgar algo que possa ser ofensivo à razão.
Falei que duvidava sinceramente que eu conseguisse julgar ou recusar algo dessa forma. Riu e disse que eu não podia ser uma exceção, que iria reagir como todos os outros quando ouvisse sobre os feitos de um mestre espreitador, como seu benfeitor, o nagual Julian.
- Não estou exagerando quando lhe digo que o nagual Julian era o mais extraordinário espreitador que jamais conheci disse Dom Juan. - Você já ouviu de todos sobre seus talentos de espreita. Mas nunca lhe contei o que ele fez comigo.”
O Fogo Interior, pág. 178

• “- A arte de espreitar é aprender todos os truques de seu disfarce - retrucou Belisário, não dando atenção ao que Don Juan lhe dizia. - E devem ser apreendidos com tanta eficiência que ninguém perceba o seu disfarce. Para isso, você precisa ser implacável, esperto, paciente e agradável.”
O Poder do Silêncio, pág. 78

• “- Essa sensação de estar arrolhado é experimentada por todo ser humano. É um lembrete da existência de nossa conexão com o intento. Para os feiticeiros essa sensação é ainda mais aguda, precisamente porque seu objetivo é sensibilizar seu elo de conexão até que possam fazê-lo funcionar à vontade.
"Quando a pressão de seu elo de conexão é grande demais, os feiticeiros aliviam-na espreitando a si mesmos.”
- Ainda acho que não compreendo o que quer dizer por espreitar - falei. - Mas em certo nível penso que sei exatamente o que quer dizer.
- Tentarei ajudar você a esclarecer o que sabe, então. Espreitar é um procedimento, um procedimento muito simples. Espreitar é comportamento especial que segue certos princípios.
É um comportamento secreto, furtivo, enganoso, designado a provocar um choque. E quando você espreita a si mesmo, você choca a si mesmo, usando seu próprio comportamento de um modo implacável e astucioso.
Explicou que quando a consciência de um feiticeiro ficava enredada pelo peso de suas aquisições perceptivas, o que estava acontecendo comigo, o melhor, ou talvez o único remédio, era usar a idéia da morte para proporcionar esse choque de espreita.
- A idéia da morte, portanto, é de importância monumental na vida de um feiticeiro - continuou Don Juan. - Mostrei-lhe coisas inumeráveis a respeito da morte para convencê-lo de que o conhecimento de nosso fim pendente e inevitável é o que nos dá sobriedade. Nosso engano mais caro como homens comuns é não se importar com o senso de imortalidade. É como se acreditássemos que, se não pensássemos a respeito da morte, nos pudéssemos proteger dela.”
O Poder do Silêncio, pág. 115

• “- O primeiro princípio da arte de espreitar é que os guerreiros escolhem seu campo de batalha - disse. - Um guerreiro nunca entra na batalha sem saber o que o cerca. A curandeira tinha me mostrado, na sua batalha com Celestino, o princípio da espreita. Depois ela veio para onde eu me encontrava deitada. Eu estava chorando. Era a única coisa que podia fazer. Ela pareceu preocupada; cobriu meus ombros com o cobertor, sorriu e piscou o olho para mim. "O trato continua - disse. - Volte assim que puder, se quiser viver. Mas não traga seu mestre com você, sua putinha. Venha com os que forem absolutamente necessários".
Florinda fixou os olhos em mim por algum tempo. Pelo seu silêncio concluí que ela esperava comentários da minha parte.
- Descartar tudo o que for necessário é o princípio da arte de espreitar - disse ela, sem me dar tempo de dizer nada.
O Presente da Águia, pág. 221

• “- Ela está treinando a arte de espreitar - disse Lídia. – O Nagual ensinou-nos a confundir as pessoas, para elas não nos notarem. Josefina é muito bonita e quando anda sozinha de noite, ninguém a importuna, se for feia e fedorenta, mas se ela sair como realmente é, bem, você mesmo pode dizer o que vai acontecer.
Josefina concordou com a cabeça e depois fez a careta mais feia do mundo.
- Ela consegue ficar com essa cara o dia inteiro - disse Lídia.
Argumentei que se eu morasse por ali, certamente havia de reparar mais depressa em Josefina com o seu disfarce do que se ela não estivesse disfarçada.
- Aquele disfarce foi só para você - disse Lídia, e as três se riram. - E veja como o enganou. Você reparou mais no seu filho do que nela mesma.
Lídia foi para o quarto e trouxe um embrulho de trapos que parecia uma criança embrulhada e jogou-o na mesa diante de mim.
Eu ri às gargalhadas junto com elas.
- Vocês todas têm disfarces especiais? - perguntei.
- Não. Só Josefina. Ninguém por aqui a conhece como ela é
mesmo - respondeu Lídia.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 78

• “- Diga-me agora, qual é a arte de espreitar? - perguntei.
- O Nagual era um espreitador - disse ela, e olhou para mim. - Você deve saber disso. Ele lhe ensinou a espreitar desde o princípio.
Ocorreu-me que aquilo a que ela se referia era o que Dom Juan chamava de caçador. Certamente ele me ensinara a ser caçador. Eu lhe disse que Dom Juan me ensinara a caçar e fazer armadilhas. Porém o uso que ela fazia do termo espreitador era mais preciso.
- Um caçador apenas caça - disse ela. - Um espreitador espreita qualquer coisa, inclusive a si mesmo.
- Como é que ele faz isso?
- Um espreitador impecável pode transformar qualquer coisa em presa. O Nagual me disse que podemos espreitar até as nossas próprias fraquezas.
Parei de escrever e procurei lembrar-me se Dom Juan algum dia me apresentara uma possibilidade tão nova: espreitar as minhas fraquezas. Não me recordava que ele jamais tivesse dito a coisa nesses termos.
- Como é que podemos espreitar nossas fraquezas, Gorda? - Do mesmo modo que você espreita a caça. Você estuda os seus hábitos até conhecer todos os atos de suas fraquezas e depois salta sobre elas e as pega como coelhos dentro de uma gaiola.
Dom Juan me ensinara a mesma coisa sobre os hábitos, mas no sentido de um princípio geral de que os caçadores devem ter consciência. Porém a compreensão e a aplicação que ela tinha daquilo eram mais pragmáticas do que as minhas.
Dom Juan dissera que qualquer hábito era, em essência, um "ato" e que um "ato" precisava de todas as suas partes para poder funcionar. Se faltassem algumas partes, um ato se desmoronava. Por ato ele queria dizer qualquer série coerente e significativa de ações. Em outras palavras, um hábito precisava de todas as suas ações componentes para poder ser uma atividade viva.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 167

• “Depois a Gorda descreveu como ela espreitara a sua própria fraqueza de comer exageradamente. Disse que o Nagual sugerira que ela primeiro atacasse a parte maior desse hábito, que se ligava ao seu trabalho como lavadeira; ela comia tudo o que os fregueses lhe davam, enquanto ia de casa em casa entregando a roupa lavada. Ela esperava que o Nagual lhe dissesse o que devia fazer, mas ele apenas riu e caçoou dela, dizendo que assim que ele disse para ela fazer alguma coisa, ela havia de lutar para não fazê-lo. Ele disse que os seres humanos são assim; adoram que se diga o que devem fazer, mas adoram mais ainda lutar e não fazer o que se manda, e assim se confundem e detestam aquele que lhes falou em primeiro lugar.
Durante muitos anos ela não conseguiu pensar em nada para espreitar sua fraqueza. Mas um dia ela ficou tão farta de ser gorda que se recusou a comer durante 23 dias. Aquele foi o ato inicial que rompeu a sua fixação. Depois ela teve a idéia de meter uma esponja na boca, para fazer os fregueses acreditarem que ela tinha um dente infeccionado e que não podia comer. O subterfúgio deu certo não apenas com os fregueses, que pararam de lhe dar comida, mas também com ela mesma, pois ela tinha a impressão de estar comendo, ao mastigar a esponja. A Gorda riu ao contar que passou anos com uma esponja metida na boca, até acabar com o hábito de comer demais.
- Foi só isso que você teve de fazer para perder o hábito? - perguntei.
- Não. Também tive de aprender a comer como uma guerreira. - E como é que uma guerreira come?
- Uma guerreira come com calma e devagar e muito pouco de cada vez. Eu costumava falar enquanto comia e comia muito depressa e uma porção de comida de cada vez. O Nagual me disse que um guerreiro come quatro bocados de comida de cada vez. Um pouco depois ele come mais quatro bocados e assim por diante.
"Um guerreiro também caminha vários quilômetros por dia. A minha fraqueza de comer nunca me deixava caminhar. Eu a venci comendo quatro bocados de hora em hora e caminhando. Às vezes eu caminhava o dia inteiro e a noite inteira. Foi assim que perdi a gordura nas minhas nádegas.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 167

• ”- Mas espreitar as suas fraquezas não é suficiente para perdê-las - disse ela. - Você pode espreitá-las até o dia do juízo e não vai alterar nada. É por isso que o Nagual não quis dizer-me o que fazer.
O que o guerreiro precisa mesmo a fim de ser um espreitador impecável é ter um propósito.
A Gorda contou como tinha vivido à-toa antes de conhecer o Nagual, sem nenhum objetivo. Não tinha esperanças, nem sonhos, nem desejo de nada. Porém a oportunidade de comer estava sempre à mão, para ela; por algum motivo que ela não sabia explicar, sempre houvera bastante comida para ela, desde que nascera. Tanta mesmo que em certa ocasião ela chegou a pesar 107 quilos.
- Comer era a única coisa de que eu gostava na vida”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 168

• “- Um feiticeiro é um tolteca quando recebeu os mistérios de espreitar e sonhar - disse ela, com displicência. - Nagual e Genaro receberam esses mistérios dos benfeitores deles e depois os conservaram em seus corpos. Nós estamos fazendo a mesma coisa, e devido a isso somos toltecas como o Nagual e Genaro.
"O Nagual ensinou a você e a mim a sermos igualmente desapaixonados. Eu sou mais desapaixonada do que você porque não tenho forma. Você ainda tem a sua forma e é vazio, de modo que fica preso em cada armadilha. Mas um dia você será completo de novo e então compreenderá que o Nagual tinha razão. Ele disse que o mundo dos homens sobe e desce e as pessoas sobem e descem com seu mundo: como feiticeiros, não temos nada de acompanhá-las em suas subidas e descidas.
" A arte dos feiticeiros é estar por fora de tudo e passar despercebido. E mais que tudo, a arte dos feiticeiros é nunca desperdiçar o seu poder. O Nagual me disse que o seu problema é que sempre fica preso em besteiras, como o que está fazendo agora. Tenho certeza de que vai perguntar a todos nós a respeito dos tolteca, mas não vai perguntar a nenhum de nós sobre a nossa atenção.
O riso dela era cristalino e contagioso. Confessei que ela tinha razão. Os pequenos problemas sempre me fascinaram. Também lhe disse que não compreendia o uso que ela fazia da palavra atenção.
- Já lhe disse o que o Nagual me ensinou sobre a atenção - disse ela. - Seguramos as imagens do mundo com a nossa atenção. Um feiticeiro homem é muito difícil de treinar porque a atenção dele está sempre fechada, focalizada sobre alguma coisa. A mulher, ao contrário, está sempre aberta porque a maior parte do tempo ela não focaliza sua atenção sobre nada. Especialmente durante a menstruação.”
O Segundo Círculo do Poder, pág. 180

• “A aprendizagem do ensonho não ofende, o máximo que você pode fazer é não acreditar que tal coisa é possível. Por outro lado, a espreita, da maneira como praticam os bruxos, é muito ofensiva para a razão. Muitos guerreiros evitam falar sobre isso, porque não têm estômago para agüentá-lo. Na fase inicial, o aprendiz fica no fogo cruzado e se sente frustrado, não consegue sair do seu ego.
"A espreita é como uma moeda, tem duas caras. Por um lado, é a coisa mais fácil que há, e por outro, é uma técnica muito difícil, não porque seja complexa, mas porque trata de aspectos sobre si mesmas que as pessoas normalmente não querem tratar.
"A espreita induz movimentos minúsculos, mas muito sólidos, do ponto de aglutinação; não é como o ensonho que o move profundamente; mas retrai como um elástico e volta imediatamente ao que você era. Quando espreita, você segue vendo tudo igual como sempre, por isso você tentará aplicar critérios cotidianos às coisas. Se em uma dada circunstância como esta, você é forçado a alguma mudança por seu instrutor, a coisa mais certa é que você ficará ofendido ou ferido em seu orgulho e se afastará do ensino".
Perguntei qual era, então, o modo como os bruxos transmitiam essa arte.
Respondeu que, tradicionalmente, é ensinado em estado de consciência acrescentada e é deixada para o fim.
"Isso não é algo que possa ser dito logo de cara. É necessário entendê-lo nas entrelinhas. Esta parte da aprendizagem pertence aos ensinamentos para o lado esquerdo. Leva muitos anos para ser lembrado em que consiste, e outros tantos mais para poder levá-lo à prática.
"No nível em que você está agora, a única coisa que lhe permite agüentar a espreita é abordar isto com métodos de ensonho. Se em algum momento você sente que estou tocando tópicos demasiado pessoais ou as suspeitas o tomam, olhe para suas mãos ou use qualquer outro convocador que você tenha escolhido. A atenção dos ensonhos ajudará a mover sua fixação".
Encontros com o Nagual, pág. 140

• "A espreita é a atividade central de um rastreador de energia. Embora possa ser aplicado com resultados surpreendentes a nosso tratamento com as pessoas, está desenhado principalmente para afinar o próprio praticante. Manipular e dominar os outros é uma tarefa árdua, mas é incomparavelmente mais difícil dominar a nós mesmos. Por isso a espreita é a técnica que distingue o nagual.
"A espreita pode ser definida como a habilidade de fixar o ponto de aglutinação em novas posições.
"O guerreiro que espreita é um caçador. Mas, ao contrário do caçador ordinário que tem a visão fixa em seus interesses materiais, o guerreiro persegue uma presa maior: sua importância pessoal. Isso o prepara para enfrentar o desafio de lidar com seus semelhantes - algo que o ensonho não pode resolver por si só. Os bruxos que não aprendem a espreitar se transformam em pessoas mal humoradas".
"Porque?"
"Porque eles não têm a paciência para tolerar as bobagens das pessoas.
"A espreita é natural para nós devido a uma característica.de nossa herança animal: para sobreviver, todos desenvolvemos hábitos de comportamento que moldam nossa energia e nos adaptam ao meio. Estudando essas rotinas, um observador atento pode predizer com precisão o comportamento de um animal ou um ser humano em um determinado momento.
"Os guerreiros sabem que toda forma de hábito é um vício. Pode amarrá-lo ao consumo de drogas ou ir para a igreja todos os domingos; a diferença é de forma, não de essência. Da mesma maneira, quando pensamos que o mundo é razoável ou que as coisas em que acreditamos é a única verdade, estamos sendo as vítimas de um hábito que oblitera nossos sentidos, fazendo com que só vejamos o que nos seja familiar.
"As rotinas são padrões de comportamento que seguimos de um modo mecânico, embora já não tenham sentido. Para espreitar é necessário sair do imperativo da sobrevivência.
"Devido ao fato de que ele é o dono de suas decisões, um guerreiro espreitador é uma pessoa que baniu da vida dele todo o vestígio de hábito. Só tem que recuperar sua integridade energética para ser livre. E como ele tem liberdade de escolher, pode envolver-se em formas calculadas de comportamento, seja para tratar com as pessoas ou com outras entidades conscientes.
Encontros com o Nagual, pág. 142

• "Não se complique. Você está tentando caricaturizar o ensinamento. Se você quiser espreitar, observe-se a si mesmo. Todos nós somos uns excelentes caçadores, a espreita é nosso dom natural. Quando a fome aperta, ficamos mais atentos; as crianças choram e alcançam o que querem; as mulheres enrodilham os homens e os homens se vingam entre si, enganando-se em seus negócios. Espreitar é conseguir seu objetivo.
"Se você se dá conta do mundo em que vive, entenderá que manter-se atento a ele, é um tipo de espreita. Considerando que nós aprendemos isso antes que a nossa capacidade de discriminação se desenvolvesse, o damos como um fato natural e quase nunca o questionamos. Porém, todas as nossas ações, até mesmo as mais altruístas, estão, no fundo, impregnadas do instinto do caçador.
"O homem comum não sabe que espreita porque seu caráter foi subjugado pela socialização. Está convencido de que sua existência é importante; dessa forma, suas ações estão a serviço de sua importância pessoal, não do aumento de sua consciência"-
Encontros com o Nagual, pág. 145

• “Não é possível viver estrategicamente o tempo todo - respondi. - Imagine que alguém o esteja esperando, com uma carabina possante, de mira telescópica; ele poderia avistá-lo com precisão a cem metros de distância. O que você faria?
Dom Juan olhou para mim com um ar de descrença e depois deu uma gargalhada.
- O que você faria? - insisti.
- Se alguém me estiver esperando com uma carabina de mira telescópica? - disse ele, evidentemente zombando de mim.
- Se alguém estiver escondido, à sua espreita. Você não terá uma chance. Não pode deter uma bala.
- Não. Não posso. Mas ainda não entendi o que você quer provar.
- Quero provar que toda a sua estratégia não o pode ajudar, numa situação dessas.
- Mas pode, sim. Se alguém estiver à minha espreita com uma carabina possante de mira
telescópica, eu simplesmente não vou aparecer.
Uma estranha realidade, pág. 171

• “As Atlantas são o nagual; são sonhadoras. Representam a ordem da segunda atenção transportada; é por isso que são tão ameaçadoras e misteriosas. São criaturas em conflito, mas não destroem. A outra fileira de colunas, as retangulares, representa a ordem da primeira atenção, a tonal. São espreitadoras, por isso são cobertas de inscrições. São muito pacíficas e sábias, o oposto da fileira da frente.”
O Presente da Águia, pág. 18

• “As espreitadoras eram as que recebiam o impacto do mundo diário; as gerentes de negócios, as que lidavam com as pessoas. Tudo que se relacionava ao mundo de assuntos comuns passava por elas. As espreitadoras eram praticantes da loucura controlado, assim como as sonhadoras eram praticantes do sonho. Em outras palavras, a loucura controlado é a base da espreita, e os sonhos são a base do sonhar. Dom Juan disse que, de um modo geral, a maior realização de um guerreiro na segunda atenção era sonhar, e na primeira atenção, espreitar”
O Presente da Águia, pág. 169

• “Explicou que a recapitulação é o ponto forte dos espreitadores, como o corpo sonhador é o ponto forte dos sonhadores. Consistia em recordar sua vida até os mínimos detalhes. Para isso seu benfeitor lhe tinha dado aquele engradado como um instrumento e um símbolo. Era um instrumento que lhe permitia aprender a Se concentrar, pois tinha de se sentar lá durante anos até que toda sua vida tivesse passado diante dos seus olhos. E era um símbolo dos estreitos limites da nossa pessoa. Seu benfeitor lhe disse que quando terminasse a recapitulação quebrasse o engradado para simbolizar que não mais mantinha as limitações da sua pessoa.
Ela disse que os espreitadores usam engradados ou caixões de
terra a fim de se trancarem dentro enquanto estão revivendo, mais que simplesmente rememorando, todos os momentos de suas vidas. Os espreitadores devem recapitular suas vidas completamente, porque a dádiva da Águia ao homem inclui a disposição de aceitar uma conscientização substituta, em vez de verdadeira, se tal substituição for uma réplica perfeita. Florinda explicou que como a consciência é o alimento da Águia, ela pode se satisfazer com uma recapitulação perfeita em lugar da consciência.
Florinda me deu então os fundamentos da recapitulação. Disse que o primeiro estágio é um breve relato de todos os incidentes da nossa vida, que se apresentam de uma maneira óbvia para exame.
O segundo estágio é uma recordação mais detalhada, que sistematicamente vai desde a época anterior ao espreitador ter se sentado dentro do engradado, e teoricamente se estende ao momento do nascimento.
Ela me assegurou que uma recapitulação perfeita pode mudar um guerreiro tanto, se não mais, quanto o controle total do corpo sonhador. Nesse particular, o sonho e a espreita têm a mesma finalidade, entrar na terceira atenção. É importante, entretanto, que o guerreiro saiba e pratique os dois. Disse que para a mulher há configurações diferentes do corpo luminoso para se aperfeiçoar em uma ou em outra. Os homens, ao contrário, podem realizar os dois com facilidade, mas ao mesmo tempo não podem nunca chegar ao grau de eficiência que as mulheres atingem em cada arte.”
O Presente da Águia, pág. 228

• “Teoricamente, os espreitadores têm de se lembrar de cada sentimento que tiveram na vida, e esse processo se inicia com uma respiração. Ela me avisou que o que estava me ensinando eram apenas
preliminares, que mais tarde, em condições diferentes, me ensinaria as complexidades do processo.
Florinda disse que seu benfeitor lhe orientou a escrever uma
1ista de acontecimentos a serem revividos. Falou que a técnica se iniciava com uma respirada inicial. Os espreitadores começam com o queixo sobre o ombro direito e lentamente inspiram à medida que viram a cabeça num ângulo de cento e oitenta graus. A respirada termina no ombro esquerdo. Uma vez terminada a inspiração, a cabeça volta a ficar relaxada. Eles expiram olhando para a frente.
O espreitador então pega o primeiro acontecimento da lista e se concentra, até que todos os sentimentos que nele se encerram tenham sido recontados. Enquanto se lembram dos sentimentos que tiveram durante o acontecimento recordado, inspiram lentamente, movendo a cabeça do ombro direito para o esquerdo. A função dessa respiração é restaurar energia. Florinda disse que o corpo luminoso está constantemente criando filamentos semelhantes a teias de aranha, que são projetados para fora da massa luminosa, impulsionados por qualquer tipo de emoções. Portanto, cada situação de interação ou cada situação que envolve sentimentos é potencialmente drenada para o corpo luminoso. Respirando da direita para a esquerda enquanto se lembram de um sentimento, os espreitadores, através da mágica da respiração, pegam os filamentos que foram deixados para trás. A próxima respirada imediata é da esquerda para a direita e é uma expiração. Com ela os espreitadores soltam os filamentos deixados neles por outros corpos luminosos envolvidos no acontecimento que está sendo recordado.
Ela declarou que essas eram as preliminares essenciais da espreita”
O Presente da Águia, pág. 229

• “Dom Juan disse então que, nas listas estratégicas dos guerreiros, a vaidade figura como atividade que consome a maior quantidade de energia, daí seu esforço para erradicá-la.
- Uma das primeiras preocupações dos guerreiros é libertar aquela energia para poder encarar o desconhecido com ela continuou Dom Juan. - A ação de recana1izar aquela energia é a impecabilidade.
Disse, ainda, que a estratégia mais eficaz foi elaborada pelos videntes da Conquista, mestres inquestionáveis da espreita. Consiste de seis elementos que interagem entre si. Cinco deles são chamados de atributos do guerreiro: controle, disciplina, paciência, oportunidade e vontade. Estes dizem respeito ao mundo do guerreiro que está lutando para perder a vaidade. O sexto elemento, talvez o mais importante de todos, pertence ao mundo exterior, e é chamado de pequeno tirano.
Olhou-me como se perguntasse silenciosamente se eu compreendera ou não.
- Estou realmente intrigado - disse eu. - Você está sempre dizendo que La Gorda é o pequeno tirano de minha vida.
O que é exatamente um pequeno tirano?
- Um pequeno tirano é um atormentador - explicou. - Alguém que ou mantém poder de vida e morte sobre guerreiros ou simplesmente os perturba, levando-os à distração.”
O Fogo Interior, pág. 27

• “Dom Juan parou de falar, e olhou-me fixamente. Houve um silêncio desajeitado; então começou a falar sobre a espreita. Disse que a espreita teve origens muito humildes e acidentais. Partiu da observação feita pelos novos videntes de que, quando os guerreiros se comportam por algum tempo de modo fora do habitual, as emanações não usadas no interior de seus casulos começam a brilhar. E seus pontos de aglutinação se deslocam de maneira suave, harmoniosa, muito pouco perceptível.
Estimulados por essa observação, os novos videntes começaram a praticar o controle sistemático do comportamento. Chamaram a essa prática arte da espreita. Dom Juan comentou que, embora discordasse do nome, ele era apropriado, porque a
espreita envolvia um tipo específico de comportamento diante das pessoas, um comportamento que poderia ser categorizado como sub-reptício.
Os novos videntes, armados com essa técnica, sondaram o conhecido de uma maneira sóbria é frutífera. Pela prática contínua, fizeram seus pontos de aglutinação se deslocar constantemente.
- A espreita é uma das duas maiores realizações dos novos videntes. Eles decidiram que deveria ser ensinada ao nagual dos dias modernos quando seu ponto de aglutinação já se tivesse deslocado bem profundamente para o lado esquerdo. O motivo desta decisão é que um nagual precisa aprender os princípios da espreita sem o incômodo do inventário humano. Afinal, o nagual é o líder de um grupo, e para liderá-lo deve agir rapidamente, sem ter que pensar primeiro.
"Outros guerreiros podem aprender a espreitar em sua consciência normal, embora seja aconselhável que o façam em consciência intensificada... não tanto por causa do valor da consciência intensificada, mas porque isto imbui a espreita de um mistério que ela na verdade não possui; espreitar é meramente um comportamento diante das pessoas."
Disse ainda que eu podia agora compreender que mudar o ponto de aglutinação era a razão pela qual os novos videntes atribuíam um valor tão alto à interação com os pequenos tiranos. Os pequenos tiranos forçavam os videntes a usar os princípios da espreita e, ao fazê-lo, ajudavam-nos a deslocar seus pontos de aglutinação. .
O Fogo Interior, pág. 163

• “Assim que as mulheres partiram, Dom Juan retomou abruptamente sua explicação. Disse que à medida que o tempo passava e os novos videntes estabeleciam suas práticas, perceberam que, sob as condições prevalecentes da vida, espreitar deslocava muito pouco os pontos de aglutinação. Para efeito máximo, a espreita necessitava de uma localização ideal; necessitava de pequenos tiranos em posições de grande autoridade e poder. Tomou-se cada vez mais difícil para os novos videntes se colocarem a si próprios em tais situações; a tarefa de improvisá-las ou procurá-las tomou
se uma carga insuportável.
Os novos videntes julgaram imperativo ver as emanações da Águia para encontrar uma maneira mais adequada de deslocar o ponto de aglutinação. Quando tentaram ver as emanações, foram confrontados com um problema sério. Descobriram que não há maneira de ver as emanações sem correr um risco mortal, e no entanto tinham de vi-las. Essa foi a época em que usaram a técnica
de sonhar dos antigos videntes como um escudo para proteger-se do golpe mortal das emanações da Águia. E, ao agir assim, perceberam que sonhar era na verdade o modo mais eficiente de deslocar o ponto de aglutinação.”
O Fogo Interior, pág. 166

• "Os novos videntes perceberam que em nosso estado normal de consciência temos incontáveis defesas que podem resguardar-nos contra a força de emanações inusuais, que subitamente se alinham durante o sonho."
Dom Juan explicou que sonhar, assim como espreitar, começava com uma simples observação. Os antigos videntes tiveram consciência de que nos sonhos o ponto de aglutinação se desloca ligeiramente para a esquerda; de maneira natural. Com efeito, o ponto de aglutinação relaxa quando o homem dorme, e todos os tipos de emanações inusuais começam a brilhar.
Os antigos videntes ficaram imediatamente intrigados com esta observação e começaram a trabalhar com esse deslocamento natural até se tomarem capazes de controlá-lo. Chamaram esse controle de sonhar, ou a arte de manejar o corpo sonhador.
O Fogo Interior, pág. 167

• “Você é um sonhador. Se não tiver cuidado com sua energia sexual, pode muito bem se acostumar à idéia de movimentos erráticos de seu ponto de aglutinação. Há um momento você estava espantado por suas reações. Bem, seu ponto de aglutinação move-se quase erraticamente, porque sua energia sexual não está equilibrada.
Fiz um comentário estúpido e inoportuno sobre a vida sexual dos machos adultos.
- Nossa energia sexual é o que governa sonhar - explicou. - O nagual Elias ensinou-me, e eu ensinei a você, que você ou faz amor com sua energia sexual ou sonha com ela. Não há outra maneira. A razão pela qual menciono tudo isto é porque você está encontrando grande dificuldade em mover seu ponto de aglutinação para aprender nosso último tópico: o abstrato.
"A mesma coisa aconteceu comigo. Só depois que minha energia sexual foi libertada do mundo é que tudo se encaixou no lugar. Esta é a regra para sonhadores. Os espreitadores são o oposto. Meu benfeitor era, você poderia dizer, um libertino sexual tanto como homem comum quanto como nagual.”
O Poder do Silêncio, pág. 53

• “Explicou a Don Juan que espreitar era uma arte aplicável a tudo, e que havia quatro passos para aprendê-la: implacabilidade, esperteza, paciência e doçura.
Senti-me compelido a interromper seu relato mais uma vez. - Mas a espreita não é ensinada em profunda consciência intensificada? - perguntei.
- É claro - replicou com um sorriso. - Mas você pode compreender que para alguns homens usar roupas de mulheres é a porta para a consciência intensificada. Com efeito, tais meios são mais efetivos que empurrar o ponto de aglutinação, mas são muito difíceis de arranjar.
Don Juan contou que seu benfeitor afiava-o diariamente nas quatro disposições da espreita e insistia que Don Juan compreendesse que implacabilidade não deveria ser rudeza, esperteza não deveria ser crueldade, paciência não deveria ser negligência e doçura não deveria ser tolice.”
O Poder do Silêncio, pág. 80

• “Numa voz muito baixa, Don Juan disse que por eu estar num estado de consciência intensificada, podia compreender mais de imediato o que ia contar-me acerca das duas mestrias: espreita e intento. Chamou-as a glória culminante dos feiticeiros antigos e novos, a própria coisa com a qual os feiticeiros estavam preocupados atualmente, preocupação semelhante à dos feiticeiros há milhares de anos. Assegurou que espreitar era o princípio, e que antes de tudo ser tentado no caminho do guerreiro, os guerreiros precisam aprender a espreitar em seguida devem aprender a intentar, e apenas então podiam mover seu ponto de aglutinação à vontade.”
O Poder do Silêncio, pág. 91

• “Na arte de espreitar - continuou Don Juan - há uma técnica que os feiticeiros usam muito: loucura controlada. Segundo eles, a loucura controlada é a única maneira que têm de
lidar consigo mesmos, em seu estado de consciência e percepção expandidas, e com todos e tudo no mundo dos afazeres diários.
Don Juan explicou a loucura controlada como a arte do engano controlado ou a arte de fingir estar profundamente imerso na ação - fingindo tão bem que ninguém pudesse distingui-lo da coisa real. A loucura controlada não é um engano direto, mas um modo sofisticado, artístico, de estar separado de tudo permanecendo ao mesmo tempo uma parte de tudo.
- A loucura controlada é uma arte - continuou Don Juan. - Uma arte que causa muitas preocupações, e muito difícil para se aprender. Muitos feiticeiros não suportam isso, não porque haja alguma coisa inerentemente errada com a arte, mas porque é preciso muita energia para exercê-la.
Don Juan admitiu que a praticava conscienciosamente, embora não gostasse particularmente de fazê-lo, talvez porque seu benfeitor fosse tão adepto a ela. Ou talvez fosse porque sua personalidade - que ele disse ser basicamente tortuosa e mesquinha - simplesmente não tinha agilidade necessária para praticar a loucura controlada.
Olhei para ele com surpresa. Parou de falar e fixou-me com seus olhos maliciosos.
- Na época em que chegamos à feitiçaria, nossa personalidade já está formada - disse, e encolheu os ombros em sinal de resignação -, e tudo que podemos fazer é praticar a loucura controlada e rir de nós mesmos.”
O Poder do Silêncio, pág. 233

• “Dom Juan mostrou seu espanto com o fato de, dentre todas as coisas maravilhosas que os feiticeiros antigos aprenderam explorando esses milhares de posicionamentos, somente a arte de sonhar e a arte de espreitar permanecem hoje em dia. Reiterou que a arte de sonhar tem a ver com o deslocamento do ponto de aglutinação. E então definiu a espreita como a arte que lida com a fixação do ponto de aglutinação em qualquer posicionamento para o qual ele foi deslocado.
- Fixar o ponto de aglutinação em qualquer novo posicionamento para o qual foi deslocado significa adquirir coesão falou. - Você esteve fazendo exatamente isso em seus exercícios de sonhar.
- Achei que estava aperfeiçoando minha atenção sonhadora - falei, um tanto surpreso com sua afirmação.
- Você está fazendo isso e muito mais; está aprendendo a ter coesão. Sonhar faz isso forçando os sonhadores a fixar o ponto de aglutinação. A atenção sonhadora, o corpo energético, a segunda atenção, o relacionamento com seres inorgânicos, o emissário do sonho, são apenas subprodutos do processo de adquirir coesão; em outras palavras, são todos subprodutos de fixar o ponto de aglutinação em várias posições do sonhar.
- O que é uma posição do sonhar, Dom Juan?
- Qualquer novo posicionamento para onde o ponto de aglutinação tenha se deslocado durante o sono.”
A Arte do Sonhar, pág.86

• "A arte de espreitar, como já disse, tem a ver com a fixação do ponto de aglutinação. Através da prática os feiticeiros antigos descobriram que ainda mais importante do que deslocar o ponto de aglutinação é fazer com que ele fique no novo posicionamento, onde quer que seja.
Explicou que, se o ponto de aglutinação não ficar estacionário, não há possibilidade de percebermos coerentemente. O que perceberíamos seria um caleidoscópio de imagens desassociadas. Por isso os feiticeiros antigos punham tanta ênfase no sonhar quanto na espreita. Uma arte não pode existir sem a outra, especialmente para o tipo de atividade em que eles estavam envolvidos.
- Quais eram essas atividades?
- Os feiticeiros antigos chamavam-nas de complexidades da segunda atenção e de grande aventura do desconhecido.
Dom Juan disse que essas atividades eram resultantes dos deslocamentos do ponto de aglutinação. Os feiticeiros antigos aprenderam não somente a deslocar seu ponto de aglutinação para milhares de posicionamentos na superfície ou no interior de sua massa energética, como também a fixar o ponto de aglutinação nessas posições, e assim manter indefinidamente a coesão.
- Qual é o benefício disso, Dom Juan?
- Não podemos falar sobre benefícios. Só podemos falar sobre resultados finais.
Explicou que a coesão dos feiticeiros antigos era tamanha a ponto de permitir que se tornasse perceptivo e fisicamente tudo que fosse ditado pelo posicionamento específico de seu ponto de aglutinação. Podiam transformar-se em qualquer coisa para a qual tivessem um inventário específico. Segundo ele um inventário era a relação de todos os detalhes de percepção envolvidos em tornar-se, por exemplo, jaguares, pássaros, insetos etc. etc.
A Arte do Sonhar, pág.94

• Explicou que, como tudo que é relacionado ao corpo energético depende do posicionamento adequado do ponto de aglutinação, e como o sonhar nada mais é do que um meio de deslocá-lo, espreitar - conseqüentemente - é o meio de fazer o ponto de aglutinação fixar-se na posição ideal; neste caso, a posição onde o corpo energético pode ser consolidado, e da qual ele finalmente emerge.
Dom Juan disse que, no momento em que o corpo energético consegue se movimentar sozinho, os feiticeiros presumem que foi encontrado o posicionamento ideal do ponto de aglutinação. O passo seguinte é espreitá-lo, isto é, fixá-lo naquela posição para completar o corpo energético. Observou que o procedimento é de uma simplicidade total. Basta intentar espreitá-lo.
Silêncio e olhares de expectativa seguiram-se a essa afirmação. Esperei que ele dissesse mais, e ele esperou que eu tivesse compreendido o que dissera. Não tinha.
- Deixe seu corpo energético intentar a chegada ao melhor posicionamento de sonhar - ele explicou. - Em seguida, deixe seu corpo energético intentar a permanência naquele posicionamento, e você estará espreitando.
A Arte do Sonhar, pág.181

• “- Vou propor uma linha de ação para você- falou num tom cortês, quando terminamos o almoço. - É a última tarefa do terceiro portão do sonhar, e consiste em espreitar os espreitadores; uma manobra misteriosíssima. Espreitar os espreitadores significa que você deliberadamente retira energia do mundo dos seres inorgânicos com o objetivo de realizar um ato de feitiçaria.
- Que tipo de ato de feitiçaria, Dom Juan?
- Uma viagem; uma viagem que usa a consciência como um elemento do ambiente. No mundo da vida cotidiana a água é um elemento do ambiente que usamos para viajar. Imagine a consciência como um elemento semelhante, que pode ser usado para viajar. Através da consciência batedores de todo o universo vêm até nós. E através da consciência os feiticeiros vão aos confins do universo.
Havia alguns conceitos, dentre a enorme quantidade de conceitos que Dom Juan me fizera conhecer no decorrer de seus ensinamentos, que não precisavam de insistência para atrair meu interesse total. Esse era um deles.
- A idéia de que a consciência é um elemento físico é uma coisa revolucionária - falei espantado.
- Não falei que ela é um elemento físico - ele me corrigiu. - É um elemento energético. Você precisa fazer essa distinção. Para os feiticeiros que vêem, a consciência é um brilho. Eles podem atrelar seu corpo energético àquele brilho e viajar com ele.
- Qual é a diferença entre um elemento físico e um elemento energético? - perguntei.
- A diferença é que os elementos físicos são parte de nosso sistema de interpretação, mas os elementos energéticos não. Os elementos energéticos, como a consciência, existem em nosso universo. Mas nós, como pessoas comuns, só percebemos os elementos físicos porque nos ensinaram isso. Os feiticeiros percebem os elementos energéticos pelo mesmo motivo: porque lhes ensinaram a fazê-lo.”
A Arte do Sonhar, pág.205

• Dom Juan me dizia o tempo todo que os feiticeiros estavam divididos em dois grupos: um grupo de sonhadores; o outro de espreitadores. Os sonhadores eram aqueles que tinham grande facilidade de deslocar o ponto de aglutinação. Os espreitadores eram aqueles que tinham grande facilidade em manter o ponto de aglutinação fixado naquela nova posição. Sonhadores e espreitadores complementavam uns aos outros, e trabalhavam em pares, afetando uns aos outros com suas inclinações inatas.
Dom Juan assegurou-me que o deslocamento e a fixação do ponto de aglutinação poderiam ser alcançados à vontade, por meio da disciplina férrea dos feiticeiros. Disse que os feiticeiros de sua linhagem acreditavam que havia pelo menos seiscentos pontos na esfera luminosa que nós somos, e que quando alcançados à vontade pelo ponto de aglutinação pode nos dar um mundo totalmente inclusivo; o que significa que, se o nosso ponto de aglutinação é deslocado para qualquer desses pontos e permanecer fixo nele, perceberemos um mundo como inclusivo e total, como o mundo da vida cotidiana, porém, mesmo assim, um mundo diferente.
O Lado Ativo do Infinito, pág. 223

• “Dom Juan dissera que a arte dos espreitadores entra em jogo depois que o ponto de aglutinação foi deslocado. Manter o ponto de aglutinação fixo na nova posição assegura aos feiticeiros a percepção do novo mundo que eles entraram em sua absoluta plenitude, exatamente como nós fazemos no mundo dos assuntos corriqueiros. Para os feiticeiros da linhagem de Dom Juan, o mundo da vida cotidiana não é mais do que uma camada de um mundo total consistindo em pelo menos seiscentas camadas.”
O Lado Ativo do Infinito, pág. 224

• “Nós podemos aprender a avaliar o mundo de um ponto de vista desapegado, da mesma maneira que nós aprendemos, quando crianças, a avaliá-lo a partir da razão. Só que o desapego, como ponto de enfoque da atenção, está muito mais próximo da realidade energética das coisas.
"Sem essa precaução, a convulsão emocional resultante do exercício de espreitar a nossa auto-importância pode ser tão dolorosa que o aprendiz pode ficar louco ou ser levado ao suicídio. Quando ele aprender a contemplar o mundo a partir da não compaixão, intuindo que por trás de toda a situação que implique um desgaste energético há um universo impessoal, o aprendiz deixa de ser um nó de sentimentos e se torna um ser fluido.
Encontros com o Nagual, pág. 39

• "Recapitular é espreitar nossas rotinas, submetendo-a a um escrutínio sistemático e impiedoso. É a atividade que nos permite visualizar nossa vida como totalidade e não como uma sucessão eventual de momentos. Porém, e ainda que isto possa parecer estranho, só os bruxos recapitulam como norma; o resto das pessoas apenas o faz por casualidade.
"A recapitulação é a herança dos antigos videntes, a prática básica, a essência da bruxaria. Sem ela não há nenhum caminho.”
Encontros com o Nagual, pág. 79

• “A recapitulação é uma forma especializada de espreita e vocês devem empreender isto com um alto sentido de estratégia. Trata-se de entender e pôr em ordem nossas existências, vendo-as tal e qual são, sem remorsos, repreensões ou felicitações, com desapego total e um ânimo leve, até de humor, porque nada em nossa história é mais importante que nada e todas as relações, afinal, são efêmeras.
"O importante é começar, porque a energia que nós recuperamos desde o primeiro intento nos dará forças para continuar recapitulando aspectos mais e mais intrincados de
nossas vidas. Primeiro, é necessário começar pelo investimento mais forte que são os sentimentos mais desgarrados. Depois seguimos por aquelas memórias tão profundas que nós já acreditávamos esquecidas, mas que estão ali.
Encontros com o Nagual, pág. 82

• “Carlos continuou dizendo que os bruxos antigos usavam plantas de poder para parar o diálogo interno. Mas os guerreiros atuais preferem condições menos arriscadas e mais controladas.
"Podemos obter os mesmos resultados produzidos pelas plantas quando nos colocamos contra a parede. Ao enfrentar situações limite, como o perigo, o medo, a saturação sensorial e a agressão, algo em nós reage e toma o controle. A mente se põe em alerta e suspende a tagarelice automaticamente. Colocar-se a si mesmo deliberadamente nessas situações se chama espreita.”
Encontros com o Nagual, pág. 95

• "Fui com meu dilema ver Don Juan. Ele riu do assunto e falou que um princípio dos espreitadores é não se confrontar com ninguém, e menos ainda com pessoas mais poderosas que eles.
Encontros com o Nagual, pág. 120

• "Talvez você não tenha tido boa sorte. Meu mestre dizia que cada ser humano traz sua tendência de nascença. Nem todos são bons ensonhadores; alguns têm maior facilidade para a espreita. A questão importante é que você insista".
Encontros com o Nagual, pág. 125

Apontando as pessoas que voltavam do trabalho, falou:
• "O que você acha que eles foram fazer? Essas pessoas foram viver seu último dia! A coisa triste é que, provavelmente, poucos deles sabem disto. Cada dia é único e o mundo não é só como nos falaram. Cancelar a força do hábito é uma decisão que se toma de uma vez. A partir desse ato, o guerreiro se torna um espreitador"-
Encontros com o Nagual, pág. 143

• "E não pode acontecer que o guerreiro acabe fazendo do seu propósito algo cotidiano?"
Não. Isto é algo que você tem que entender muito bem, pois do contrário sua busca por impecabilidade perderá seu frescor e você terminará traindo-a. Romper rotinas não é o propósito do caminho, mas apenas um meio. A meta é estar consciente. Tendo isso em consideração, outra definição da espreita é: 'uma atenção inflexível sobre um resultado total”
"Esse tipo de atenção sobre um animal dá como resultado um pedaço de carne.(???) Se o aplicarmos isto sobre outra pessoa, produz um cliente, um discípulo ou um enamoramento. E sobre um ser inorgânico, nos proporciona o que os bruxos chamam 'um aliado.' Mas só se aplicarmos a espreita em nós mesmos, pode ser considerada uma arte tolteca, porque então produz algo precioso: a consciência".
Encontros com o Nagual, pág. 144

• "O método do bruxo consiste em focalizar de uma maneira nova a realidade em que vivemos. Mais que acumular informação, o que se busca é recompactar a energia. Um guerreiro é alguém que aprendeu a espreitar-se a si mesmo e já não carrega uma pesada imagem para mostrar aos outros. Ninguém pode descobri-lo se ele não o desejar, porque não tem apegos. Está além do caçador, pois aprendeu a rir de si mesmo".
Contou como sua instrutora, dona Florinda Matus, o ensinou a passar despercebido.
"Exatamente no momento em que meus livros me transformaram em um homem rico, ela me enviou a fritar hambúrgueres em um restaurante de estrada! Durante anos trabalhei vendo meu dinheiro sem poder usá-lo. Disse que isso me ensinaria a não perder a perspectiva adequada. E aprendi minha lição!
Encontros com o Nagual, pág. 146


Nota: Este estudo foi feito pelo Grupo de Tensegridade de Sampa.
Incentiva-se cópias e distribuição por todos os meios existentes, papel, video, cinema, ondas em geral, boca-a-boca (?!), e outros a serem ainda descobertos
 
Muito bom mesmo, me esclareceu algumas coisa que passei que eu não estava entendendo. Muito bom ressucitar esse post, para que os novatos nop site vejam que não é só ficar doidão.
 
Quando o ponto de aglutinação está desalojado, aloja-se outra vez numa posição muito próxima da costumeira ou continua movendo-se para o infinito.

Se continuamos com nosso comportamento desnecessário, podemos conseguir empurrar nosso ponto de aglutinação além de um certo ponto do qual não há regresso.

A egomania é um tirano real.

O comportamento humano normal no mundo da vida cotidiana era rotina. Qualquer comportamento que escapava à rotina causava um efeito incomum em nosso ser total. Esse efeito incomum era o que os feiticeiros buscavam, porque era cumulativo.

O conhecimento da morte é o que nos dá sobriedade. Sem uma visão clara da morte não há ordem, nem sobriedade, nem beleza, nem coragem. Coragem de ser atencioso sem ser vaidoso. Coragem de ser implacável sem ser convencido.

Espreitar a si mesmo para quebrar o poder de suas objeções. A vida é um processo pelo qual a morte nos desafia. A morte é a força ativa. A vida é a arena. Nessa arena há o próprio ser e a morte. Podemos nos elevar acima de todas as possibilidades e derrotarmos a morte.

Implacabilidade: o oposto de autopiedade.

A única maneira de pensar com clareza é não pensar de modo algum.

É possível parar de pensar intentando um movimento de seu ponto de aglutinação. O intento é chamado com os olhos. A implacabilidade é mostrada nos olhos dos feiticeiros, que são brilhantes. Quanto maior o brilho, tão mais implacável o feiticeiro. Quando o ponto de aglutinação se move para o lugar da não-piedade, os olhos começam a brilhar. Quanto mais firme o ponto de aglutinação em sua nova posição, tanto mais os olhos brilham. Os olhos são diretamente ligados ao intento.

Os olhos são conectados apenas superficialmente ao mundo da vida cotidiana. Sua conexão mais profunda é com o abstrato.

Os feiticeiros armazenam sua energia, o que significa uma conexão mais precisa, mais clara com o intento.

A guerra é um estado natural para um guerreiro, a paz uma anomalia. Mas a guerra para um guerreiro não significa atos de estupidez individual ou coletiva ou de violência sangrenta. A guerra, para um guerreiro, é uma luta total contra aquele eu individual que privou o homem de seu poder.

A auto-estima é a força gerada pela auto-imagem do homem. Essa força é que mantém o ponto de aglutinação fixo onde está no presente. O ataque do caminho dos guerreiros é voltado a destronar a auto-estima. E tudo que os feiticeiros fazem é na direção de realizar esse objetivo.

Os feiticeiros haviam desmascarado a auto-estima e descoberto que esta é a autopiedade disfarçada de alguma outra coisa.

A autopiedade é o inimigo real e a fonte da miséria do homem.

A consciência intensificada é o portal do intento.

A maior diferença entre o homem médio e um feiticeiro é que o feiticeiro comanda a morte com sua velocidade.

No mundo dos feiticeiros, a morte normal podia ser revogada, mas não a palavra do feiticeiro.

Através do conhecimento silencioso sabe-se do poder a ser obtido ao mover-se o ponto de aglutinação.

Com um movimento dos pontos de aglutinação pode-se manipular os sentimentos e mudar coisas. Isso chama-se intento.

Possivelmente qualquer ser humano sob condições normais de vida teve a oportunidade de livrar-se das amarras da convenção. Não me refiro à convenção social, mas àquelas que amarram nossa percepção. Um momento de sublimidade seria suficiente para mover nossos pontos de aglutinação e quebrar as convenções. Assim, também, o momento de pavor, doença, raiva ou tristeza. Mas ordinariamente, sempre que tínhamos a oportunidade de mover os pontos de aglutinação, ficávamos assustados. Nossa formação acadêmica, religiosa e social iria entrar em jogo. Iria assegurar retorno seguro ao rebanho, o retorno de nossos pontos de aglutinação à proposta prescrita da vida normal.

Para o movimento do ponto de aglutinação fazer sentido, é necessário ter energia para flutuar do lugar da razão para o lugar do conhecimento silencioso.

Intentar o movimento de seu ponto de aglutinação é uma realização, é algo pessoal. É necessária, mas não significa a parte importante. Não é o resíduo pelo qual os feiticeiros procuram. A idéia do abstrato, do espírito, é o único fator importante. A ideia do eu pessoal não tem valor algum. Não colocar a si mesmo e seus próprios sentimentos na frente.

Toda vez que tiver oportunidade, aja consciente da necessidade de abstrair. Abstrair significa fazer você mesmo disponível ao espírito, estando consciente dele.

Uma das coisas mais dramáticas a respeito da condição humana era a conexão macabra entre a estupidez e a auto-reflexão. Intento inflexivo é uma espécie de obstinação exibida pelos seres humanos; um propósito extremamente bem definido não controvertido por quaisquer interesses ou desejos conflitantes; também é a força engendrada quando o ponto de aglutinação se mantém fixo numa posição que não é usual.

O movimento do ponto de aglutinação era uma profunda mudança de posição, tão extrema que o ponto de aglutinação poderia mesmo alcançar outras faixas de energia no interior de nossa massa total luminosa. Cada faixa de energia representa um universo completamente diferente a ser percebido. Um deslocamento, entretanto, é um movimento pequeno no interior da faixa de campos de energia, que percebemos como um mundo da vida cotidiana.

Os feiticeiros viam o intento inflexivo como um catalisador para desencadear suas decisões imutáveis; ou como o inverso: suas decisões imutáveis eram o catalisador que propelia seus pontos de aglutinação a novas posições, as quais geravam o intento inflexivo.

Cada um de nós tem uma fissura energética, uma brecha energética abaixo do umbigo. Essa abertura, que os feiticeiros chamam de fenda, está fechada quando uma pessoa está no seu auge.

Silêncio interior é um estado especial de ser, em que pensamentos são cancelados e pode-se funcionar a partir de um outro nível que não o da consciência cotidiana. Significa a suspensão do diálogo interno – o eterno companheiro dos pensamentos. É um estado de profunda quietude. É um estado em que a percepção não depende dos sentidos. O que está funcionando durante o silêncio interior é outra faculdade que o homem tem, a faculdade que o torna um ser mágico, mas que foi restringida...

Atos para a busca do silêncio interior: pular em cachoeiras, passar noites dependurado de cabeça p/ baixo de um galho do alto de uma árvore.

O silêncio interior se acumula, aumenta.

O resultado desejado é o que os velhos feiticeiros chamam de ‘parar o mundo’, o momento em que tudo à nossa volta cessa de ser o que sempre foi. Este é o momento em que os feiticeiros voltam para a verdadeira natureza do homem. Os feiticeiros antigos também chamavam-no de liberdade total. É o momento em que o homem escravo torna-se um ser livre, capaz de feitos de percepção que desafiam a nossa imaginação linear. É o caminho que leva a uma verdadeira suspensão do julgamento – a um momento em que a informação sensorial que emana do universo em liberdade deixa de ser interpretada pelos sentidos; o momento em que a cognição cessa de ser a força que, através do uso e da repetição, decide a natureza do mundo.

Os feiticeiros precisam do ponto de ruptura para que o funcionamento do silêncio interior comece.

Esgotamentos nervosos são para as pessoas condescendentes com elas mesmas.

Não é possível continuar no caminho dos guerreiros levando sua história pessoal consigo.

Os feiticeiros só têm um ponto de referência: o infinito.

Um feiticeiro percebe suas ações com profundidade. Suas ações são tridimensionais para ele. Eles têm um 3º ponto de referência. Para atingir o 3º ponto de referência é preciso perceber 2 lugares ao mesmo tempo.

“o elo de conexão com o intento é o particular universal partilhado por tudo que existe.”

Estar em dois lugares ao mesmo tempo era um marco usado pelos feiticeiros para anotar o momento em que o ponto de aglutinação alcançava o lugar do conhecimento silencioso. Percepção dividida, se realizado por meios do próprio indivíduo, era chamado o movimento livre do ponto de aglutinação.

Protetor silencioso é uma onda de energia inexplicável que vem a um guerreiro quando nada mais funciona. Opções de feiticeiro são posições do ponto de aglutinação. Um número infinito de posições que o ponto de aglutinação pode alcançar. Em cada uma e em todas essas mudanças rasas e profundas, um feiticeiro pode reforçar sua nova continuidade. O efeito desses movimentos do ponto de aglutinação é cumulativo. (consciência intensificada)

“Não há liberdade sem a intervenção do nagual.” (Julian)

A luta dos feiticeiros pela certeza é a luta mais dramática que há. É dolorosa e cara. Muitas vezes custou realmente as vidas de feiticeiros.

Qualquer feiticeiro para ter completa certeza sobre seus atos, sobre sua posição no mundo dos feiticeiros, ou de ser capaz de utilizar com inteligência sua nova continuidade, deve invalidar a continuidade de sua antiga vida. Apenas então suas ações podem ter a necessária segurança para fortalecer e equilibrar a fragilidade e instabilidade de sua nova continuidade.

Os feiticeiros videntes dos tempos modernos chamam esse processo de invalidação do passaporte para a impecabilidade, ou a morte simbólica mas final dos feiticeiros.
Morri naquele campo. Senti minha consciência fluindo para fora de mim e dirigindo-se na direção da águia. Mas como eu havia recapitulado impecavelmente minha vida, a águia não me devorou a consciência. A águia cuspiu-me para fora. Porque meu corpo estava morto no campo, ela não me deixou seguir diretamente para a liberdade. Era como se me dissesse para voltar e tentar outra vez.

Até o próprio momento da descida do espírito, qualquer um de nós poderia afastar-se do espírito, mas não depois.

O 4º cerne abstrato – ato de revelação.

Há uma passagem que uma vez cruzada não permite regresso.

Os feiticeiros nunca procuram por ninguém.

A passagem de um feiticeiro para a liberdade era sua morte.

O grande truque dos feiticeiros é estar consciente de que estão mortos. Seu passaporte para a impecabilidade deve estar envolto em consciência. Nessa consciência seu passaporte é mantido em estado de novo (por anos).

As explicações nunca são desperdiçadas, porque ficam expressas em nós para uso imediato ou posterior, ou para ajudar a preparar nosso caminho para alcançar o conhecimento silencioso.

O conhecimento silencioso é uma posição geral do ponto de aglutinação, que eras atrás havia sido a posição normal do homem, mas que por razões que seriam impossíveis de determinar, o ponto de aglutinação do homem moveu-se daquela localização específica e adotou uma nova, chamada ‘razão’. O lugar da ‘não-piedade’ era o predecessor do conhecimento silencioso. O lugar da ‘concernência’ era o predecessor da razão.

Quando o ponto de aglutinação está no lugar do conhecimento silencioso é porque a conexão com o espírito está muito clara.

Uma das diferenças mais dramáticas entre o homem civilizado e os feiticeiros era a maneira pela qual a morte chegava para eles. Apenas com feiticeiros guerreiros a morte era gentil e doce. A morte aguardava por tanto tempo quanto os feiticeiros necessitassem.

O problema dos feiticeiros é a impossibilidade de restaurar uma continuidade estilhaçada; e a impossibilidade tbm de usar a continuidade ditada pela nova posição de seus pontos de aglutinação, pois a nova continuidade é sempre tênue e instável demais, e não oferece aos feiticeiros a segurança que necessitam para funcionar como se estivessem no mundo da vida cotidiana.

A impecabilidade é tudo o que conta.

Um feiticeiro vive uma vida impecável, e isto parece atrair a solução para qualquer problema.

A impecabilidade não é moralidade. É simplesmente o melhor uso de nosso nível de energia. E isso exige frugalidade, simplicidade, inocência; e, acima de tudo, exige falta de auto-reflexão. Tudo isso a faz soar como um manual de vida monástica, mas não é.

Segundo os feiticeiros, para comandar o espírito, ou seja, comandar o movimento do ponto de aglutinação, o indivíduo necessita de energia. A única coisa que armazena energia para nós é nossa impecabilidade. Algumas vezes devido a circunstâncias naturais, embora dramáticas, tais como a guerra, as privações, o stress, a fadiga, a tristeza, a impotência, os pontos de aglutinação dos homens empreendem profundos movimentos.

Se os homens que se encontram em tais circunstâncias fossem capazes de adotar uma ideologia de feiticeiro, seriam capazes de maximizar aquele movimento natural sem problemas. E iriam procurar e encontrar coisas extraordinárias em vez de fazerem o que os homens fazem em tais circunstâncias: ansiarem pelo retorno à normalidade.

Quando o movimento do ponto de aglutinação é maximizado, tanto o homem comum quanto o aprendiz de feiticeiro se tornam um feiticeiro, porque, ao maximizar aquele movimento, a continuidade é desmantelada além da reparação.

Maximizamos o movimento do ponto de aglutinação inibindo a auto-reflexão. Mover o ponto de aglutinação ou quebrar a continuidade de um indivíduo não é a dificuldade real. O difícil é concentrar energia. Se o indivíduo tem energia, uma vez que o ponto de aglutinação se move, coisas inconcebíveis estão ali, bastando pedi-las.

A situação do homem é que ele intui seus recursos ocultos, mas não ousa usá-los. É por isso que os feiticeiros dizem que a luta do homem é o contraponto entre sua estupidez e sua ignorância. O homem necessita agora, mais do que nunca, que lhe ensinem novas ideias que tenham a ver exclusivamente com seu mundo interior – ideias de feiticeiros, ideias pertinentes ao homem encarando o desconhecido, encarando sua morte pessoal. Agora, mais do que nunca, ele necessita aprender os segredos do ponto de aglutinação.

O espírito é indefinível. Não se pode sequer senti-lo, muito menos falar a respeito. Pode-se apenas acenar para ele, reconhecendo sua existência.

O som e o significado das palavras são de suprema importância para os espreitadores. As palavras são usadas por eles como chaves para abrir tudo o que estiver fechado. Os espreitadores, portanto, têm de afirmar seu objetivo antes de tentar alcançar. Mas não pode revelar seu alvo verdadeiro no início, de modo que deve verbalizar as palavras com cuidado para esconder a intenção principal. Esse ato é o acordar do intento.

A posição do conhecimento silencioso é considerado o terceiro ponto porque para chegar a ele é preciso passar pelo segundo ponto, o lugar da não-piedade.

Quando o ponto de aglutinação adquire suficiente fluidez o indivíduo se duplica, o que o permite estar tanto no lugar do conhecimento silencioso quanto no da razão, seja alternadamente ou ao mesmo tempo.

Cada ser humano tem uma capacidade para essa fluidez. Para a maioria de nós, entretanto, está guardada e nunca a usamos, exceto nas raras ocasiões em que são provocadas pelos feiticeiros, como por dramáticas circunstâncias naturais, tais como uma luta de vida ou morte.

A humanidade se encontra no primeiro ponto, a razão, mas nem todo ponto de aglutinação dos seres humanos fica exatamente na posição da razão. Aqueles que estão exatamente em seu próprio ponto são os verdadeiros líderes da humanidade. Na maior parte do tempo, pessoas desconhecidas cujo gênio é exercitar sua razão.

A humanidade passou a parte mais longa de sua história na posição do conhecimento silencioso, e isso explica nosso grande anseio por ele.

Apenas um ser humano que seja um modelo da razão pode mover seu ponto de aglutinação com facilidade e ser um modelo do conhecimento silencioso.

Apenas aqueles que estavam exatamente em qualquer das posições podiam ver a outra posição com clareza, esta foi a maneira pela qual a idade da razão veio a existir. A posição da razão era vista claramente da posição do conhecimento silencioso.

A ponte de mão única do conhecimento silencioso para a razão era chamada “concernência”. Isto é, a concernência que os verdadeiros homens do conhecimento silencioso tinham acerca da fonte do que conheciam. E a outra ponte de mão única, da razão para o conhecimento silencioso, era chamada “entendimento puro”. Isto é, o reconhecimento que revelou ao homem da razão que a razão era apenas uma ilha num mar infinito de ilhas.

Um ser humano que tenha as duas pontes de mão única funcionando era um feiticeiro em contato direto com o espírito, a força vital que fazia ambas as posições possíveis.

O espírito apenas ouve quando o discurso é feito através de gestos, que não significam sinais ou movimentos corporais, mas atos de abandono verdadeiro, atos de liberalidade, de humor. Como um gesto para o espírito, os feiticeiros trazem o melhor de si e em silêncio oferecem-no ao abstrato.

Os feiticeiros contavam suas vidas em horas, em uma hora era possível ao feiticeiro viver o equivalente em intensidade à uma vida normal. Essa intensidade é uma vantagem quando se trata de armazenar informação num movimento do ponto de aglutinação. O ponto de aglutinação, mesmo com o deslocamento mais diminuto, cria ilhas totalmente isoladas de percepção. A informação na forma de experiência na complexidade da consciência pode ser armazenada ali. A informação é armazenada na própria experiência. Mais tarde, quando um feiticeiro move seu ponto de aglutinação ao local exato onde estava, revive a experiência total. Essa recordação dos feiticeiros é a maneira de recuperar toda a informação armazenada no movimento do ponto de aglutinação.

Intensidade é um resultado automático do movimento do ponto de aglutinação. Por exemplo, você está vivendo esses momentos com mais intensidade do que o faria ordinariamente; assim, propriamente falando, você está armazenando intensidade. Algum dia você irá reviver esse momento fazendo seu ponto de aglutinação retornar ao local preciso onde está agora. Essa é a maneira dos feiticeiros armazenarem informação.

A intensidade, sendo um aspecto do intento, está conectada naturalmente ao brilho dos olhos dos feiticeiros. Para relembrar essas ilhas isoladas de percepção, os feiticeiros necessitam apenas intentar o brilho particular de seus olhos associados com a localização à qual desejem regressar.

Porque sua taxa de intensidade é maior do que o normal, em poucas horas um feiticeiro pode viver o equivalente a uma vida normal inteira. Seu ponto de aglutinação, mudando para a posição não familiar, absorve mais energia do que o normal. Esse fluxo extra de energia é chamado intensidade..

A experiência dos feiticeiros é tão bizarra que os feiticeiros a consideram um exercício intelectual, e usam-na para espreitar-se. Seu trunfo como espreitadores, entretanto, é que permanecem agudamente conscientes de que são os perceptores de que a percepção tem mais possibilidades do que a mente pode conceber.

Para proteger-se daquela intensidade os feiticeiros aprendem a manter uma mistura perfeita de implacabilidade, astúcia, paciência e doçura. Essas 4 bases estão inexplicavelmente interligadas. Os feiticeiros cultivam-nas intentando-as. Essas bases são, naturalmente, posições do ponto de aglutinação.

Qualquer ato executado por qualquer feiticeiro era por definição governado por esses 4 princípios. Assim falando propriamente, cada ação de cada feiticeiro é deliberada em pensamento e realização, e tem a mistura específica dos 4 fundamentos da espreita.

Os feiticeiros usam as 4 disposições da espreita como guias. Trata-se de 4 estruturas mentais diferentes, 4 mesclas distintas de intensidade que os feiticeiros podem usar para introduzir seus pontos de aglutinação a se moverem a posições específicas.

Nossa racionalidade nos coloca entre uma pedra e um lugar rijo. Nossa tendência é ponderar, questionar, esclarecer. E não há como fazer isso na disciplina da feitiçaria. Ela é o ato de atingir o lugar do conhecimento silencioso, e o conhecimento silencioso não pode ser raciocinado. Pode ser apenas experimentado.

Os feiticeiros, num esforço para se protegerem do avassalador efeito do conhecimento silencioso, desenvolveram a arte de espreitar. A espreita move o ponto de aglutinação diminuta mas firmemente, propiciando, desse modo, tempo aos feiticeiros e, portanto, a possibilidade de se escorarem.

Na arte de espreitar há uma técnica que os feiticeiros usam muito: loucura controlada. Segundo eles, a loucura controlada é a única maneira que têm de lidar consigo mesmos, em seu estado de consciência e percepção expandidas, e com todos e tudo no mundo dos afazeres diários.

A loucura controlada é a arte do engano controlado ou a arte de fingir estar profundamente imerso na ação – fingindo tão bem que ninguém pudesse distingui-lo da coisa real. A loucura controlada não é um engano direto, mas um modo sofisticado, artístico, de estar separado de tudo permanecendo ao mesmo tempo uma parte de tudo.

A loucura controlada é uma arte que causa muitas preocupações, e muito difícil de se aprender. Muitos feiticeiros não suportam isso, não porque haja alguma coisa inerentemente errada com a arte, mas porque é preciso muita energia para exercê-la.

Don Juan admitiu que a praticava conscienciosamente, embora não gostasse particularmente de fazê-lo, talvez porque seu benfeitor fosse tão adepto a ela. Ou talvez fosse porque sua personalidade – que ele disse ser basicamente tortuosa e mesquinha – simplesmente não tinha agilidade necessária para praticar a loucura controlada.

Na época em que chegamos à feitiçaria, nossa personalidade já está formada e tudo que podemos fazer é praticar a loucura controlada e rir de nós mesmos.

Os espreitadores que praticam a loucura controlada acreditam que, em questão de personalidade, a raça humana inteira entra em três categorias. Os espreitadores acham que não somos tão complexos como pensamos ser e que todos pertencemos a uma das três categorias.

As pessoas da primeira classe são os secretários perfeitos, assistentes, companheiros. Têm uma personalidade muito fluida, mas sua fluidez não é nutrida. São, entretanto, serviçais, preocupados, totalmente domésticos, dispõem de recursos dentro de certos limites, são bem-humorados, têm boas maneiras, são doces e delicados. Em outras palavras, são as pessoas mais simpáticas que alguém pode encontrar, mas têm uma enorme falha: não conseguem funcionar sozinhas. Estão sempre necessitadas de alguém para dirigí-las. Com direção, são perfeitas, não importando quão difícil ou antagônica essa direção possa ser. Entregas a si mesmas, perecem.

As pessoas da segunda classe não são nem um pouco simpáticas. São mesquinhas, vingativas, invejosas, ciumentas, autocentradas. Falam exclusivamente sobre si mesmas e em geral esperam que as pessoas se enquadrem em seus padrões. Sempre tomam a iniciativa mesmo quando não se sentem confortáveis com ela. Ficam profundamente desconfortáveis em qualquer situação e nunca relaxam. São inseguras e nunca conseguem ser agradadas; quanto mais inseguras se tornam, mais desagradáveis ficam. Sua falha fatal é que matariam para ser líderes.

Na terceira categoria estão as pessoas que não são simpáticas nem desagradáveis. Não servem e não se impõem a ninguém. Antes, são indiferentes. Têm uma ideia exaltada acerca de si mesmas derivada unicamente de divagações de pensamento desejoso. Se são extraordinárias em alguma coisa, é em esperar que as coisas aconteçam. Estão esperando ser descobertas e conquistadas e têm uma maravilhosa facilidade para criar a ilusão de que têm grandes coisas em suspenso, que sempre prometem liberar mas nunca fazem porque, na verdade, não dispõem de tais recursos.

Não existe combinação. Todos nós estamos aprisionados numa dessas três categorias para a vida toda, sem esperança de mudança ou redenção, exceto que permanecia um caminho para a redenção. Os feiticeiros haviam há muito tempo aprendido que apenas nossa auto-reflexão pessoal caía numa das três categorias.

O problema conosco é que nos tomamos a sério. Independente da categoria na qual se encaixa nossa auto-imagem, isto só importa por causa da nossa auto-estima. Se não fossemos tão auto-importantes, não importaria nem um pouco em qual categoria entraríamos.

Recapitulando os cernes básicos discutidos: as manifestações do espírito, o assalto do espírito, as artimanhas do espírito, a descida do espírito, os requisitos do intento e o manejo do intento.

Para o nagual Julian, a auto-estima era um monstro de três mil cabeças. E o indivíduo podia encara-lo em qualquer uma das três maneiras. A primeira delas era cortar uma cabeça de cada vez; a segunda era alcançar aquele misterioso estado de ser chamado o lugar da não-piedade, que destruía a uto-estima, matando-a lentamente à míngua; e a terceira era pagar com a própria morte simbólica pela aniquilação instantânea do monstro de três mil cabeças.

O nagual Julian recomendou a terceira alternativa. Mas avisou a Don Juan que poderia se considerar um afortunado se tivesse oportunidade de escolher, pois era o espírito que em geral determinava de que modo o feiticeiro deveria ir, e era dever do feiticeiro seguir.

Don Juan disse que, como me guiara, seu benfeitor o guiara para cortar as três mil cabeças da auto-estima uma por uma, mas que os resultados foram muito diferentes.

O homem possui um lado escuro, sim, e é chamado estupidez.

A consciência humana é como uma imensa casa mal-assombrada. A consciência da vida cotidiana é como estar trancado num quarto daquela imensa casa para a vida toda. Entramos no quarto através de uma abertura mágica: o nascimento. E saímos através de outra dessas aberturas mágicas: a morte. Os feiticeiros, entretanto, eram capazes de encontrar ainda outra abertura e conseguiam deixar aquele quarto fechado enquanto ainda vivos. Uma realização soberba. Mas sua realização mais impressionante é que, quando escapam daquele aposento selado, escolhem a liberdade. Preferem deixar aquela casa imensa mal-assombrada inteiramente em vez de ficarem perdidos em outras partes dela.

A morbidez é a antítese da onda de energia que a consciência necessita para alcançar a liberdade. A morbidez faz os feiticeiros perderem o caminho e ficarem aprisionados nos becos intrincados e escuros do desconhecido.

A companhia de um nagual é muito cansativa. Produz uma estranha fadiga, podendo mesmo ser injuriosa, o que é relativo porque Castañeda não sentia isso em relação a Don Juan.

Don Juan aconselhava-o a não pensar a respeito dos cernes básicos, mas sim fazer seu ponto de aglutinação se mover na direção do lugar do conhecimento silencioso.

Mover o ponto de aglutinação é tudo, mas não significa nada se não for um movimento sóbrio e controlado. Portanto, feche a porta da auto-reflexão. Seja impecável e terá a energia para atingir o lugar do conhecimento silencioso.

Período de maturação, de restaurar energias.
Caminho à plenitude e ao bem-estar
Disciplina, perseverança.
Consciência, espreita, intenção.

Em estado de consciência intensificada, não podia deixar de maravilhar-me com o sentimento de que um véu tivesse sido removido de meus olhos, como se eu estivesse parcialmente cego antes e agora pudesse ver. A liberdade, a pura alegria que me possuíam nessas ocasiões não podem ser comparadas com nenhuma outra coisa que jamais tenha sentido. Entretanto, ao mesmo tempo, havia uma assustadora sensação de tristeza e saudade que vinha de mãos dadas com aquela alegria e liberdade. Don Juan tinha dito que não se pode ser completo sem tristeza e saudade, pois sem tais coisas não existe sobriedade, nem benevolência, e conhecimento sem sobriedade é inútil.

Exercitar o autocontrole e ser capaz de canalizar minhas atividades para metas pragmáticas, que irão beneficiar o homem em geral.

Os guerreiros elaboram listas estratégicas. Anotam tudo o que fazem. Depois decidem quais dessas coisas podem ser mudadas de modo a permitir que poupem parte da energia que dispedem. A lista estratégica cobre apenas padrões de comportamento que não são essenciais à nossa sobrevivência e bem-estar. Nas listas estratégicas dos guerreiros, a vaidade figura como atividade que consome a maior quantidade de energia. Uma das primeiras preocupações dos guerreiros é libertar aquela energia para poder encarar o desconhecido com ela. A ação de recanalizar aquela energia é a impecabilidade.

Cinco elementos da espreita: controle, disciplina, paciência, oportunidade e vontade (para os que lutam para perder a vaidade). O sexto elemento é o pequeno tirano: um atormentador, alguém que ou mantém poder de vida e morte sobre os guerreiros ou simplesmente os perturba levando-os à distração. O que transforma os seres humanos em pequenos tiranos é a manipulação obsessiva do conhecido.

Como é engenhoso e eficiente o artifício de usar um pequeno tirano! A estratégia não apenas elimina a vaidade, como também prepara os guerreiros para a compreensão final de que a impecabilidade é a única coisa que conta no caminho do conhecimento.

O guerreiro que tropeça num pequeno tirano é um guerreiro afortunado.

O 1º passo é a decisão de tornar-se aprendiz. Depois que os aprendizes mudam sua visão sobre si mesmos e sobre o mundo dão o 2º passo e tornam-se guerreiros, ou seja, seres capazes de extrema disciplina e autocontrole. O 3º passo, depois de adquirirem paciência e senso de oportunidade, é tornar-se um homem de conhecimento. Quando homens de conhecimento aprender a ver, dão o 4º passo, tornando-se videntes. Os atributos de controle e disciplina referem-se a um estado interior. Um guerreiro é auto-orientado, não de modo egoísta, mas no sentido de um exame total e contínuo de si mesmo.

Paciência e oportunidade não são realmente um estado interior. Estão no domínio do homem de conhecimento.

A ideia de usar um pequeno tirano não serve apenas para aperfeiçoar o espírito do guerreiro, mas também para diversão e feliciade. Mesmo os piores tiranos podem trazer encanto, naturalmente desde que a pessoa seja um guerreiro. O engano que os homens comuns cometem ao se confrontarem com pequenos tiranos é não possuírem uma estratégia que os apóie; a falha fatal é que os homens comuns levam-se demais a sério; suas ações e sentimentos, assim como as ações e sentimentos dos pequenos tiranos, são de suma importância. Os guerreiros não apenas têm uma estratégia bem elaborada, como estão livres da vaidade. O que restringe sua vaidade é que eles compreenderam que a realidade é uma interpretação que fazemos.

Os pequenos tiranos levam-se mortalmente a sério, ao contrário dos guerreiros. Pode-se derrotar alguns pequenos tiranos usando apenas essa simples percepção.

Qualquer homem que tenha o pingo de orgulho dilacera-se quando o fazem sentir desvalorizado.

“Eu fazia tudo o que ele me pedia com satisfação. Era alegre e forte. Não me importava com meu orgulho ou meu medo. Ali estava com um guerreiro impecável. Dominar o espírito quando alguém está pisando em você chama-se controle. Em vez de sentir pena de si mesmo, recomenda-se trabalhar, anotando os pontos fortes do homem, suas fraquezas, as características de seu comportamento. Juntar informações acerca dos pontos fortes dos pequenos tiranos enquanto é atacado chama-se disciplina. Segundo os novos videntes, um pequeno tirano perfeito não tem qualquer aspecto positivo.

Paciência é esperar calmamente – sem pressa, sem ansiedade. Trata-se de um simples e alegre adiamento do que é devido.
Saber que está se esperando e saber pelo que se está esperando, é aí que está a grande alegria do guerreiro.

A estratégia consiste em embaraçar sistematicamente o pequeno tirano, obtendo uma proteção de ordem superior, um escudo.

O sentido de oportunidade é a qualidade que governa a liberação de tudo o que está contido. Controle, disciplina e paciência são como um dique por trás do qual tudo é represado. O sentido de oportunidade é a abertura do dique.

Em momento algum senti pena de mim mesmo ou chorei de impotência. Permaneci alegre e sereno.

Paciência significa reter com o espírito algo que o guerreiro sabe que, por justiça, deve fazer. Isto não significa que um guerreiro saia por aí planejando causar prejuízos a alguém ou acertar contas passadas. A paciência é algo independente. Desde que o guerreiro tenha controle, disciplina e sentido de oportunidade, a paciência assegura dar o que se deve a quem quer que o mereça.

Os novos videntes usavam pequenos tiranos não apenas para livrar-se de sua vaidade, mas também para realizar a manobra muito sofisticada de se deslocar para fora deste mundo (domínio da consciência).

Todos os que se juntam ao pequeno tirano são derrotados. Agir com raiva, sem controle e disciplina, não ter paciência, é ser derrotado.

Depois que os guerreiros são derrotados eles ou se reagrupam ou abandonam a busca de conhecimento e juntam-se às fileiras dos pequenos tiranos por toda vida. Uma das maiores forças nas vidas dos guerreiros é o medo. Ele estimula-os a aprender.

Os guerreiros preparam-se para ser conscientes e a consciência plena só chega quando não há mais vaidade neles. Apenas quando são nada tornam-se tudo.

A vaidade é a força motivadora de todos os ataques de melancolia.

Os guerreiros podem ter profundos estados de tristeza, mas a tristeza está presente apenas para faze-los rir.
Vontade – intenção – nova ordem

No caminho do guerreiro qualquer guerreiro pode ser bem-sucedido com as pessoas desde que desloque seu ponto de aglutinação para uma posição em que se torna indiferente se as pessoas gostam dele, não gostam ou ignoram.

A maneira de mover os pontos de aglutinação é estabelecer novos hábitos, fazê-los deslocarem-se pela vontade. A única maneira de lidar com guerreiros insuperáveis é não ter vaidade, para poder louvá-los com o espírito aberto.

O deslocamento do ponto de aglutinação não está ligado à uma explosão emocional, mas à ação. A compreensão emocional chega anos depois que os guerreiros já consolidaram, pelo uso, a nova posição de seus pontos de aglutinação.

São necessários anos para tornar-se um guerreiro impecável. Para suportar o impacto do impulso da terra, você precisa ser melhor do que agora.. a rapidez do impulso irá dissolver tudo em você. Sob seu impacto, tornamo-nos nada. Velocidade e sentido de existência individual não combinam.

O alinhamento é a passagem secreta, e o impulso da terra é a chave.

Estava consciente, entretanto, de tudo ao meu redor por meio de uma capacidade ao mesmo tempo estranha e extremamente familiar. A visão do mundo veio a mim de uma só vez. Tudo em mim via; a totalidade do que eu, em mim de uma só vez. Tudo em mim via; a totalidade do que eu, em minha consciência normal, chamo de meu corpo era capaz de sentir como se fosse um enorme olho que detecta tudo.

A posição do ponto de aglutinação é tudo, o mundo que ele nos faz perceber é tão real que não deixa espaço para nada além da realidade. O mundo desaparece no ar quando um novo alinhamento total nos faz perceber outro mundo total.

O alinhamento é uma força única porque ou ajuda o ponto de aglutinação a se deslocar, ou o mantém agarrado à sua posição costumeira. O aspecto do alinhamento que mantém o ponto estacionário é a vontade; e o aspecto que o faz mudar é a intenção. Um dos mistérios mais assombrosos é como a vontade, a força impessoal do alinhamento, se transforma em intenção, a força personalizada, a serviço de cada indivíduo. A parte mais estranha deste mistério é que a mudança é tão fácil de realizar, mas o que não é tão fácil é convencer a nós mesmos que isso é possível. É aí que reside nossa segurança. Temos de ser convencidos. E nenhum de nós quer sê-lo.

Deslocar o ponto de aglutinação de sua localização natural e mantê-lo fixo em nova localização é estar adormecido; com a prática, os videntes aprendem a estar adormecidos e ainda assim atuar como se nada acontecesse com eles.

Relaxar os músculos, silenciar o diálogo interno, golpear-se suave mas firmemente em seu lado direito, entre a anca e a caixa torácica. Depois disso ver-se profundamente adormecido, num estado extremamente peculiar de sonho. O corpo fica dormente, mas se encontra perfeitamente consciente de tudo que acontece.

O derrubador é uma força das emanações da águia. Uma força incessante, que nos atinge a cada instante de nossas vidas. É letal quando vista, mas de outro modo não a percebemos em nossa existência ordinária, porque temos escudos protetores. Temos interesses absorventes, que ocupam toda a nossa existência. Estamos permanentemente preocupados com nosso status e nossas propriedades. Esses escudos protetores não mantêm o derrubador afastado, simplesmente nos impedem de vê-lo diretamente, protegendo-nos de sermos feridos pelo pavor de ver as bolas de fogo atingindo-nos. Os escudos são uma grande ajuda e um grande obstáculo para nós. Acalmam-nos e ao mesmo tempo nos enganam. Dão-nos uma falsa sensação de segurança.

Chegará um momento em minha vida em que ficaremos sem qualquer escudo, o tempo todo à mercê do derrubador. Este é um estágio obrigatório na vida de um guerreiro, conhecido como a perda da forma humana.

Espíritos criados por Deus com inteligência e leis referenciais, somos, de início, como que teleguiados pelos instintos que devemos ir sublimando no esforço transformador das sensações no rumo dos sentimentos. E nessa viagem, que ora nos convida ao repouso e ora nos estimula a prosseguir, perpassamos por desafios emocionais que se desordenam pelos impactos, emergidos dos registros que estão no inconsciente profundo dou por interligações espirituais externas a que, invigilantemente, nos submetemos como vítimas em provas que devem vencer só vencendo-se.

A essa vitória somente se sedimentarão a medida que nos dediquemos ao autoconhecimento.

Cada um de nós, seres humanos, tem duas mentes. Uma é totalmente nossa, e é como uma voz fraca que sempre nos traz ordem, integridade, propósito, é o produto de todas as nossas experiências, aquela que raramente fala porque foi vencida e relegada à obscuridade A outra mente é a mente que usamos diariamente para tudo o que fazemos, é uma instalação forânea. Nos traz conflito, auto-afirmação, dúvidas, desesperança.

Nossas mesquinhezes e contradições são o resultado de um conflito transcendental que atinge cada um de nós, mas que somente os feiticeiros são dolorosa e irremediavelmente conscientes dele: o conflito entre as nossas duas mentes.

Resolver o conflito das duas mentes é uma questão de intenta-lo. Os feiticeiros chamam o intento quando pronunciam a palavras intento em voz forte e clara. Intento é uma força que existe no universo. Quando os feiticeiros chamam o intento, ele lhe chega e prepara o caminho para as suas realizações, isso significa que os feiticeiros sempre concretizam aquilo a que se propõem.

Pode-se chamar o intento para qualquer coisa, mas os feiticeiros descobriram, a duras penas, que o intento só vem a eles para algo que é abstrato. Essa é a válvula de segurança dos feiticeiros; de outra forma eles seriam insuportáveis. Chamar o intento para resolver o conflito entre as duas mentes não é uma questão mesquinha nem arbitrária. Pelo contrário, é um assunto etéreo e abstrato, mas tão vital como qualquer outra coisa.

Em relação à coleção de eventos memoráveis: a seleção do que colocar no seu álbum não é coisa fácil. Essa é a razão pela qual eu disse que fazer esse álbum é um ato de guerra. Você deve refazer a si mesmo mais de dez vezes a fim de saber o que selecionar. Os eventos memoráveis do álbum de um xamã são assuntos que sobreviverão à prova do tempo porque não têm nada a ver com ele, embora ele esteja no meio deles. E estará sempre no meio deles, durante toda a vida, talvez até além dela, mas não de maneira pessoal.

Os feiticeiros dizem que em cada explicação há um pedido de desculpas escondido.

- Resumo dos livros do Carlos Castaneda -
 
Última edição:
Back
Top