- 24/01/2007
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Tudo tem um preço, a medição do seu valor enquanto quantidade determinada em termos de um equivalente geral. Nada tem valor em si mesmo. Todo o valor é determinado em relação ao mercado – e isto inclui o valor das nossas vidas, de nós próprios. As nossas vidas foram divididas em unidades de tempo medido que somos coagidos a vender, de modo a comprar de volta a nossa sobrevivência, sob a forma de pequenos pedaços das vidas roubadas de outros que a produção transformou em mercadorias vendáveis. Esta é a realidade econômica.
Esta horrenda alienação tem a sua base no entrelaçar de 3 das mais fundamentais instituições desta sociedade:
propriedade, troca mercantil e trabalho. A relação integrada entre estas 3 dá origem ao sistema através do qual a classe dominante extrai a riqueza necessária para a manutenção do seu poder. Estou falando da economia. A ordem social de dominação e exploração tem as suas origens numa alienação social fundamental, cujas origens são matéria de intrigante especulação, mas cuja natureza é bastante clara.
Grandes multidões de pessoas foram espoliadas da sua capacidade de determinar as condições da sua própria existência, de criar as vidas e relações que desejam, de modo a que os poucos no topo possam acumular poder e riqueza e virar a totalidade da existência social para o seu próprio benefício. Para que isto possa acontecer, as pessoas têm de ser expropriadas dos meios pelos quais elas eram capazes de preencher as suas necessidades e desejos, os seus sonhos e aspirações. Isto poderia apenas ocorrer com a colocação de barreiras em redor de certas áreas e com a acumulação de certas coisas, de modo a deixarem de estar acessíveis a toda a gente. Mas tais enclausuramentos e amontoamentos de tesouros escondidos seriam insignificantes, a menos que alguém possuísse os meios para impedir que eles fossem usurpados – uma força para impedir que os outros apanhassem o que quisessem sem pedir permissão. Assim, com esta acumulação, torna-se necessário criar um aparato para a proteger.
Uma vez estabelecido, este sistema deixa a maioria das pessoas numa posição de dependência das poucas que levaram a cabo esta apropriação de riqueza e poder. Para ter acesso a alguma da riqueza acumulada, as multidões são forçadas a trocar a maior parte dos bens que produzem. Assim, parte da atividade que inicialmente efetuavam por si mesmas tem de ser, agora, efetuada em favor dos seus dominadores, simplesmente de forma a garantir a sua sobrevivência. À medida que o poder dos poucos aumenta, estes controlam cada vez mais recursos e produtos do trabalho, até que, finalmente, a atividade dos explorados é nada mais, nada menos, do que trabalho para criar mercadorias em troca de um salário que depois gastam para comprar de volta essa mercadoria.
Como é óbvio, o completo desenvolvimento deste processo é lento, em parte porque encontra resistência em cada curva do caminho. Existem ainda partes da terra e parte de vida que não foram enclausuradas pelo estado e pela economia, mas a maior parte da nossa existência foi já etiquetada com um preço, e o seu custo tem vindo a aumentar exponencialmente desde há dez mil anos. Portanto, o estado e a economia surgiram juntos como aspectos da alienação acima descrita. Eles constituem um monstro de duas cabeças que nos impõe uma vazia existência, na qual as nossas vidas se transformam numa luta pela sobrevivência. Isto é verdade tanto nos países ricos como naqueles que têm sido empobrecidos pela expropriação capitalista.
O que define a vida como mera sobrevivência não é nem a escassez de bens disponíveis por um dado preço nem a falta de meios para comprar esses bens. Em vez disso, quando alguém é forçada a vender a sua vida, a dar a sua energia a um projeto que não é da sua escolha, mas que serve para beneficiar outra pessoa que lhe diz o que fazer, por uma mísera compensação que lhe permite comprar umas quantas necessidades e prazeres – isto é meramente sobreviver, independentemente de quantas coisas se possa comprar.
A vida não é uma acumulação de coisas, mas uma relação qualitativa com o mundo. Esta venda forçada da nossa vida, esta escravatura do salário, reduz a vida a uma mercadoria, a uma existência dividida em pedaços mensuráveis que são vendidos um por um. É óbvio que para o trabalhador, que foi chantageado para vender a sua vida deste modo, o salário parece nunca ser suficiente. Como o poderia ser, se o que foi realmente perdido não foram unicamente as várias unidades de tempo, mas a própria qualidade da vida? Num mundo onde vidas são compradas e vendidas em troca de sobrevivência, onde os seres e as coisas que constituem o mundo natural são simplesmente bens à venda, para serem explorados na produção de outros bens para venda, o valor das coisas e o valor da vida transformam-se num número, numa medida, e essa medida é sempre em dólares, ou pesos, ou euros, ou yen – ou seja, em dinheiro.
Mas nenhuma quantia de dinheiro nem nenhuma quantidade dos bens que o dinheiro compra pode compensar o vazio de tal existência, pelo simples fato de que este tipo de valorização pode apenas existir drenando a qualidade, a energia, a admiração da vida.
A luta contra a lei da economia – que deve andar de mão dada com a luta contra o estado – tem de começar com uma recusa desta quantificação da existência, que consegue ocorrer apenas quando as nossas vidas nos são roubadas. É a luta para destruir as instituições da propriedade, da troca de mercadorias e do trabalho – não com o objetivo de tornar as pessoas dependentes de novas instituições, nas quais a regra da sobrevivência ganha um ar mais humano, mas de modo a que todos possamos nos reapropriar das nossas vidas como nossas e perseguir as nossas necessidades, desejos, sonhos e aspirações, em toda a sua imensurável singularidade.
Esta horrenda alienação tem a sua base no entrelaçar de 3 das mais fundamentais instituições desta sociedade:
propriedade, troca mercantil e trabalho. A relação integrada entre estas 3 dá origem ao sistema através do qual a classe dominante extrai a riqueza necessária para a manutenção do seu poder. Estou falando da economia. A ordem social de dominação e exploração tem as suas origens numa alienação social fundamental, cujas origens são matéria de intrigante especulação, mas cuja natureza é bastante clara.
Grandes multidões de pessoas foram espoliadas da sua capacidade de determinar as condições da sua própria existência, de criar as vidas e relações que desejam, de modo a que os poucos no topo possam acumular poder e riqueza e virar a totalidade da existência social para o seu próprio benefício. Para que isto possa acontecer, as pessoas têm de ser expropriadas dos meios pelos quais elas eram capazes de preencher as suas necessidades e desejos, os seus sonhos e aspirações. Isto poderia apenas ocorrer com a colocação de barreiras em redor de certas áreas e com a acumulação de certas coisas, de modo a deixarem de estar acessíveis a toda a gente. Mas tais enclausuramentos e amontoamentos de tesouros escondidos seriam insignificantes, a menos que alguém possuísse os meios para impedir que eles fossem usurpados – uma força para impedir que os outros apanhassem o que quisessem sem pedir permissão. Assim, com esta acumulação, torna-se necessário criar um aparato para a proteger.
Uma vez estabelecido, este sistema deixa a maioria das pessoas numa posição de dependência das poucas que levaram a cabo esta apropriação de riqueza e poder. Para ter acesso a alguma da riqueza acumulada, as multidões são forçadas a trocar a maior parte dos bens que produzem. Assim, parte da atividade que inicialmente efetuavam por si mesmas tem de ser, agora, efetuada em favor dos seus dominadores, simplesmente de forma a garantir a sua sobrevivência. À medida que o poder dos poucos aumenta, estes controlam cada vez mais recursos e produtos do trabalho, até que, finalmente, a atividade dos explorados é nada mais, nada menos, do que trabalho para criar mercadorias em troca de um salário que depois gastam para comprar de volta essa mercadoria.
Como é óbvio, o completo desenvolvimento deste processo é lento, em parte porque encontra resistência em cada curva do caminho. Existem ainda partes da terra e parte de vida que não foram enclausuradas pelo estado e pela economia, mas a maior parte da nossa existência foi já etiquetada com um preço, e o seu custo tem vindo a aumentar exponencialmente desde há dez mil anos. Portanto, o estado e a economia surgiram juntos como aspectos da alienação acima descrita. Eles constituem um monstro de duas cabeças que nos impõe uma vazia existência, na qual as nossas vidas se transformam numa luta pela sobrevivência. Isto é verdade tanto nos países ricos como naqueles que têm sido empobrecidos pela expropriação capitalista.
O que define a vida como mera sobrevivência não é nem a escassez de bens disponíveis por um dado preço nem a falta de meios para comprar esses bens. Em vez disso, quando alguém é forçada a vender a sua vida, a dar a sua energia a um projeto que não é da sua escolha, mas que serve para beneficiar outra pessoa que lhe diz o que fazer, por uma mísera compensação que lhe permite comprar umas quantas necessidades e prazeres – isto é meramente sobreviver, independentemente de quantas coisas se possa comprar.
A vida não é uma acumulação de coisas, mas uma relação qualitativa com o mundo. Esta venda forçada da nossa vida, esta escravatura do salário, reduz a vida a uma mercadoria, a uma existência dividida em pedaços mensuráveis que são vendidos um por um. É óbvio que para o trabalhador, que foi chantageado para vender a sua vida deste modo, o salário parece nunca ser suficiente. Como o poderia ser, se o que foi realmente perdido não foram unicamente as várias unidades de tempo, mas a própria qualidade da vida? Num mundo onde vidas são compradas e vendidas em troca de sobrevivência, onde os seres e as coisas que constituem o mundo natural são simplesmente bens à venda, para serem explorados na produção de outros bens para venda, o valor das coisas e o valor da vida transformam-se num número, numa medida, e essa medida é sempre em dólares, ou pesos, ou euros, ou yen – ou seja, em dinheiro.
Mas nenhuma quantia de dinheiro nem nenhuma quantidade dos bens que o dinheiro compra pode compensar o vazio de tal existência, pelo simples fato de que este tipo de valorização pode apenas existir drenando a qualidade, a energia, a admiração da vida.
A luta contra a lei da economia – que deve andar de mão dada com a luta contra o estado – tem de começar com uma recusa desta quantificação da existência, que consegue ocorrer apenas quando as nossas vidas nos são roubadas. É a luta para destruir as instituições da propriedade, da troca de mercadorias e do trabalho – não com o objetivo de tornar as pessoas dependentes de novas instituições, nas quais a regra da sobrevivência ganha um ar mais humano, mas de modo a que todos possamos nos reapropriar das nossas vidas como nossas e perseguir as nossas necessidades, desejos, sonhos e aspirações, em toda a sua imensurável singularidade.