Junho de 2008
Meu encontro anual com o outro lado aconteceu há cerca de um mês.
Sei que sintéticos são proibidos no fórum mas não tenho outro lugar onde dividir, quero compartilhar aqui o vivido, se o post for muito ofensivo Às regras peço desculpas, e por favor apaguem o tópico.
Na verdade pra mim não importa muito qual a substancia, tudo é uma questão básica de saber dimensionar a dosagem e estar no set-setting adequado. As ferramentas químicas são varias. Cada uma tem seus pros e contras. O mais importante é como utilizamos as mesmas, o que aprendemos com elas.
Desta vez a ferramenta utilizada foi LSD.
Segue o relato:
Depois de quase não conseguir me desembaraçar de Maya, fugi de sampa com um grande amigo que também estava em estado de pré estafa por conta de tanto trabalhar na maldita fucking babylon.
Demos um foda-se pra tudo e saímos fora duas semanas numas de desentupir o espírito. Após uma semana em total e absoluto ócio em meio a uma natureza animal, resolvemos que estava na hora de fazer a experiência.
Acordamos cedo, por volta de 5:30 da manhã. banho, barba, vitamna de frutas. Ao nascer do sol, pegamos a trilha no meio da mata. Na caminhada, rumo à uma praia deserta em algum lugar do litoral sudeste brasileiro, eu e D. fomos pedindo proteção a todos os entes da mata, permissão para podermos realizar nosso intento, uma espécie de ritualização racional-imunizante contra possíveis bads devido a perturbações energéticas por violarmos a harmonia da natureza.
Carregávamos em mochilas o necessário para uma ambientação minamente decente numa praia deserta: uma rede, toalhas, mascaras de mergulho, viveres, violão, talking drum, baseado.
Chegando à praia, armamos nosso pequeno acampamento, e tomamos nosso sacramento: 2 e meio selos para mim e 1 e meio selo para o D. A dosagem reflete nossas estaturas: eu sou grandão, e o D é de estatura mediana. Os selos eram do tipo alex grey, limpissimos, sem nenhum traço anfetaminico.
Selos embaixo da língua, aquele gostinho metálico na boca, aquele frio na barriga: - agora já foi! Não tem volta...
Logo após a ingestão, D achou uma vara de pescar que alguém havia esquecido próximo ao ponto onde estabelecemos acampamento. Consideramos aquilo um excelente sinal para a trip iminente, nada nos faltaria ali, nem mesmo alimento. Peixes são símbolos do insconsciente, ótimo sinal encontrar uma varinha de pesca ali no setting natural, imediatamente após a ingestão do sacramento.
Poderíamos ficar ali isolados dias, se necesssario. O espírito era de total entrega. Muito preparo para esse dia, muita certeza e intento verdadeiro para encarar a experiência novamente.
A espera foi curta, creio que em menos de meia hora começamos a sentir os efeitos. D tocou um pouco de violão, eu tentei acompanhar no talking-drum mas foi impossível, não conseguia entrar na musica. Desencanei e fui praticar tai-chi, o chão ondulando, muito difícil, parecia algo desnecessário, resolvi pura e simplesmente enfrentar a ansiedade me entregando a ela quieto, controlando o medo. Merda de culpa misto com ansiedade, com expectativa, um horror! Odeio essa parte nas decolagens...
Ao mesmo tempo, D estava tendo contorções na areia, na peia pura por conta de ódios reprimidos contra o fucking babylon system. Achei uma vara de madeira e entramos na trip de descarregar todo o odio e frustração contra a FB (fucking babylon) dando pancadas na areia com toda a força, usando o galho como se fosse uma clava. UM batia até cansar, daí passava o bastão pro outro, que descarregava sua fúria, uma viagem muito catártica. Ficamos nisso num crescente, descarregos catárticos de pulsões reprimidas estraçalhando um galho de arvore contra a areia quente da praia.
Destruída a clava, nos olhamos satifeitos e aliviados pelo descarrego. Era visível a satisfação animal de ter descarregado muita agressividade reprimida.
Entramos no mar para lavar os fluidos negativos, e na água começou a bater forte, visuais de um efeito liquido na atmosfera, subitamente a densidade do ar torna-se visivel, como é que pode que não reparamos nisso quando sóbrios? È tão fino, tão sutil, tão simples de ver....
Embasbacados ficamos os dois com as visuais de peixinhos, água cristalina, o sol refratando na areia... Um puta lugar inacreditável, uma prainha de uns 60 m de comprimento no meio de mata atlântica bruta, praia sem onda, paraíso tropical.
Dentro da agua começou a ficar muito frio para mim, precisei buscar um lugar quente. Já estava totalmente alterado, mal consegui andar, visualizei um ponto na areia que me pareceu “quente” e fui pra lá, desabei no chão e fechei os olhos.
Uma tremenda compressão do ego, espirais, uma tremenda afllição interna....Começo a ouvir os barulhos dos fluidos internos do corpo, sem medo, apenas expectativa. Quando comecei a entrar na fase de pulverização do ego, tomei consciência de que minha mente estava sob o domínio de uma espécie de lula alienígena azul-verde néon madreperola, que ao perceber que eu percebi a presença dela, passou a tentar me assustar com a perspectiva de morte iminente. Uma monumental compressão do ego, o corpo retorcendo-se numa tremenda peia, um medo inacreditável daquele bicho, e na hora de maior medo, em que ela se apresentava justamente como a MORTE e estava prestes a me engolir, eu sentia tentáculos enroscando-se em cada centímetro do meu ser, uma sensação de sufocamento, desespero, agonia total, e em algum lugar eu sabia que estava sob efeito da droga, bateu um arrependimento de ter tomado, não era aquilo que eu estava buscando. Subitamente alguém dentro de mim lembrou algum colega do PE postou um tópico falando da pergunta essencial a ser feita numa trip: -“quem sou eu?”
Ao fazer a pergunta, a lula-alien ficou furiosa, e “desplugou” da minha cabeça, mostrando-se dentro de um hyperspaço delimitado pelo domo reticulado com olhos nos cruzamentos, esse lugar já apareceu outras vezes pra mim, mas dessa vez era pequeno, apertado, seria talvez uma esfera com uns 5 m de diâmetro, e a lula louca e enfurecida, ficava ricocheteando nas “paredes” do domo, e de repente – tchumn! - ela invadia meu crânio, assaltava minha mente, uma sensação desesperadora de tentáculos néon madrepérola invadindo todos os meus tecidos, todo o meu ser, até tomar conta totalmente de minha percepção, encaixando em minha tela mental um panorama de outro universo.
E ouço uma voz lá longe..... – quem sou eu? Quem sou eu? O que é você?
E a imagem de cosmo aberto se desfez, estava de novo dentro do domo, a lula furiosa por eu ter de novo escapado da armadilha alucinatória dela, esse avistamento da lula fora-de-mim durava alguns segundos de puro pânico, eu não tinha como fugir dela, estava preso dentro do domo, e de novo ela entrava na minha cabeça, esse processo era horrível, eu sentia os múltiplos tentáculos dela entrando em cada célula do meu ser, uma agonia inacreditavel, e de novo: quem sou eu?
Nisso a lula desplugava da minha cabeça, e tchuf! Outro universo me era mostrado em minha tela mental. Ficamos nesse jogo durante muito tempo, eu era distraído com um processo alucinatório de visões cósmicas e de repente lembrava, lá do fundo do meu ser, de fazer a pergunta: quem sou eu?
Guardo poucas lembranças especificas desses universos, estava imerso numa peia física inacreditável por conta das invasões da lula em minha mente, eu sabia em algum lugar que aqueles mundos eram “falsos” a lembrança ficou nebulosa, ficou muito mais forte a lembrança da luta mental com a lula neon. Mas lembro especificamente do ultimo universo visitado, era uma paisagem luminescente de um mar cor de rosa num planeta com dois sois, quando de repente alguém lá dentro de mim de fazer a pergunta de novo – quem sou eu?
Essa primeira onda baixou, e fiz contato visual com o D, ele estava levando uma tremenda surra, numa peia tremenda. Tentei me locomover até ele, e quando estava a uns dois metros, bati numa parede gigantesca feita de carne crua, e das fibras dessa carne pendiam miúdos de frango, enquanto uma voz (a lula, presumo), me dizia: “isso é a morte. Ta vendo, a morte é isso aí. Gostou de ver a morte? Você gosta? A morte é isso....”
Consegui chegar perto do D, que estava de joelhos implorando perdão aos céus, me deu uma necessidade de tocá-lo na coluna, passei as duas mãos ao longo de sua coluna e “arranquei” duas bolas de luz laranja de dentro de seu cóccix. Enterrei as bolas na areia e me arrastei até o mar, para me descarregar. Fiz isso meio num transe, era como se fosse outra pessoa fazendo isso e eu estivesse apenas observando, sem fazer parte da cena. Uma viagem de cura...
Fiquei uma cara agachado olhando a água do mar na parte rasinha, muito cristalina, muito fantasticamente lindas as refrações na areia...
Pouco depois passa a onda, eu e D nos encontramos e nos olhamos perplexos por alguns instantes, chegamos a conversar um pouco: - parece que a onda forte passou, né? - Puxa, que foi iiisssoooo, que loucura? - A gente ainda está aqui? Ainda estamos vivos? Qaunto tempo passou? - Acho que daqui pra frente vai ser mais leve, já faz muito tempo, a onda principal deve ter sido esse negocio que passou há pouco...
Começamos a conversar sobre nossas visões e de repente uma tsunami de espirais madrepérola veio do mar e me varreu desta realidade para outro lugar.
Eu estava de novo dentro do domo, que agora era monumental, o observador numa posição acima do horizonte, como se estivesse nas fileiras superiores de um anfiteatro, semelhante ao Odeon em Atenas, e via ao longe um palquinho, com direito à boca de cena, cortina e coxias. Nesse palquinho eram encenados dramas cósmicos para mim. Ao mesmo tempo, eu estava no camarim, e a tal da lula cosmica estava lá dentro, admirando-se em infinitos espelhos, desta vez ela não era agressiva, me tratava de forma afetuosa e me demosntrava como ela tinha controle sobre as realidades, ela se olhava com um daqueles espelhos redondos, com cabo de prata, que as damas da corte utilizavam, e ao me mostrar o seu reflexo no espelho, o que eu via no espelho era o mesmo que eu via no palco.
Nessa parte, houve um download absurdo de informação não-verbal para dentro de minha cabeça, uma sólida coompreensão da ilusão que é a realidade real, de como tudo é projeção, tudo é teatro. A lula ficava repetindo: tudo são jogos, apenas jogos, como no teatro... Aqui é o teatro das formas, tudo são jogos, apenas jogos...
Mais tarde, meu amigo falou que eu ficava repetindo – È tudo um grande teatro, tudo não passa de um grande teatro... E ele disse que ouvia com um efeito de eco, reverber e distorção, enquanto o corpo dele derretia e se fundia com os grãos de areia da praia.
Eu imerso nessa revelação do teatro das formas e em algum lugar da praia D saiu da fase peia para a fase êxtase cósmico. Ele gritava feito um louco: isso é amor! Isso é que é amor! , e chorava, e urrava... Nisso a lula transforma-se em uma espécie de dançarino, parecido com aquelas figuras das tapeçarias tibetanas , e ia abrindo leques com seus multiplos braços, em cada leque uma dimensão, um universo inteiro a ser observado e explorado.
Então a lula-alien-demonio-tibetano-dançarino-cosmico abriu dois de seus múltiplos braços e ofereceu: O que você quer? Êxtase na luz? E flap! Abriu um leque com a mão direita, onde estava a luz primordial – e perguntou de novo – Ou você quer a escuridão? E flap! Abriu na mão esquerda o leque da escuridão eterna, o nada absoluto... Hesitei uns instantes e de novo: quero saber quem sou eu! Nisso tudo se desfaz, lula, domo, teatro, tudo vira o mais perfeito caos, tenho um vislumbre da luz primordial, um filete de luz inacreditavelmente poderoso, estou atravessando uma espécie de fenda vertical, totalmente escura, e percebo que “além”, está a luz, eu quero chegar até ela, estou voando dentro da fenda, de repente ela se fecha e uma voz como um trovão me informa: SOMENTE DEPOIS DA MORTE!
Imediatamente após essa pancada, desci vários degraus em direção à realidade comum, fiquei consciente do corpo, da praia, do barulho do mar.
Fico muito tempo imerso em visuais incoerentes, emergindo aos poucos para a realidade comum. Meu ego reconstituído aos poucos e meu amigo D ali do lado, às lagrimas de pura gratidão pelo êxtase que havia vivido.
Fizemos juntos muitos agradecimentos aos céus, aos genitores, ao meu querido amigo M., que forneceu os selos, à todas as forças da natureza, e também choramos juntos por toda a infelicidade do mundo. Nesse momento tanto eu como D tivemos uma terceira onda mais curta, um breve instante de alucinações com guerra, gente passando fome, maquinas destruindo a natureza...
Ficamos na praia até umas 4 da tarde, fumando baseado e conversando sobre as visões de cada um. D tem probelmas gástricos, sofre de gastrite crônica, e na trip ele conseguiu por pra fora muitas toxinas, um furúnculo se formou na barriga dele durante a trip; conversamos sobre tudo, sobre a loucura que é a proscrição desse santo remédio (Louvado Seja Deus), sobre o controle que é exercido sobre as consciências, sobre milhares de coisas.
Mentalizamos positivo de novo, agradecendo a todos os deuses, à terra, ao mar, e muito especialmente ao grande amigo M, que descolou lsd de verdade em terras d’além mar... Muitos vivas para o cavalheirismo psicodélico! Vivas para a irmandade da consciência!
Quando a fome bateu forte, recolhemos acampamento e pegamos a trilha de volta à casa, ao chegarmos havia um peixe fresco que um amigo caiçara havia pescado e nos deixou de presente enquanto estávamos viajando na praia. Na hora lembramos da vara de pescar que estava largada na praia, um sentimento muito bom de que tudo estava certo, tudo em seu devido lugar, estávamos em harmonia total com o entorno.
A caseira havia feito uma deliciosa moqueca com esse peixe, convidamos nosso amigo caiçara para comer conosco e confraternizamos juntos em nome da felicidade, da amizade, do amor pela natureza... comemos no jardim e lá ficamos até o por do sol, varios baseados rolaram, varias risadas, muita felicidade e amor por tudo que é simples e bom.
A onda passou totalmente só por volta das 21:00 hs, deu um cansaço gostosinho e tanto eu como D dormimos maravilhosamente bem. No dia seguinte fomos velejar no laser do meu amigo caiçara, fomos pra uma ilha e na volta não tinha vento... Voltamos no remo, uns três quilômetros, tanto eu como D tendo vários momentos de flashback lisérgico no meio do caminho. Essa velejada foi a verdadeira aterrisagem da trip do dia anterior.
Alguns dias depois D retornou à sampa, eu ainda fiquei mais uns dias na praia , minha intenção era fazer mais uma experiência sozinho, dessa vez com cogumelos, estou muito interessado em experimentar uma mushuasca, cheguei a fazer o chá de arruda síria e separar 10 g de cogus, mas na hora da ingestão me deu uma coisa meio assim, não, agora não é o momento. Joguei fora o chá de harmala (sacrilégio!) e guardei os cogus pra outra oportunidade.
Ficou algo de incompleto em minha trip, fiquei instigado pelo “teatro mágico” que a lula me mostrou. Creio que numa próxima vez talvez consiga chegar mais perto de elucidar esse mistério do quem sou eu...
Meu encontro anual com o outro lado aconteceu há cerca de um mês.
Sei que sintéticos são proibidos no fórum mas não tenho outro lugar onde dividir, quero compartilhar aqui o vivido, se o post for muito ofensivo Às regras peço desculpas, e por favor apaguem o tópico.
Na verdade pra mim não importa muito qual a substancia, tudo é uma questão básica de saber dimensionar a dosagem e estar no set-setting adequado. As ferramentas químicas são varias. Cada uma tem seus pros e contras. O mais importante é como utilizamos as mesmas, o que aprendemos com elas.
Desta vez a ferramenta utilizada foi LSD.
Segue o relato:
Depois de quase não conseguir me desembaraçar de Maya, fugi de sampa com um grande amigo que também estava em estado de pré estafa por conta de tanto trabalhar na maldita fucking babylon.
Demos um foda-se pra tudo e saímos fora duas semanas numas de desentupir o espírito. Após uma semana em total e absoluto ócio em meio a uma natureza animal, resolvemos que estava na hora de fazer a experiência.
Acordamos cedo, por volta de 5:30 da manhã. banho, barba, vitamna de frutas. Ao nascer do sol, pegamos a trilha no meio da mata. Na caminhada, rumo à uma praia deserta em algum lugar do litoral sudeste brasileiro, eu e D. fomos pedindo proteção a todos os entes da mata, permissão para podermos realizar nosso intento, uma espécie de ritualização racional-imunizante contra possíveis bads devido a perturbações energéticas por violarmos a harmonia da natureza.
Carregávamos em mochilas o necessário para uma ambientação minamente decente numa praia deserta: uma rede, toalhas, mascaras de mergulho, viveres, violão, talking drum, baseado.
Chegando à praia, armamos nosso pequeno acampamento, e tomamos nosso sacramento: 2 e meio selos para mim e 1 e meio selo para o D. A dosagem reflete nossas estaturas: eu sou grandão, e o D é de estatura mediana. Os selos eram do tipo alex grey, limpissimos, sem nenhum traço anfetaminico.
Selos embaixo da língua, aquele gostinho metálico na boca, aquele frio na barriga: - agora já foi! Não tem volta...
Logo após a ingestão, D achou uma vara de pescar que alguém havia esquecido próximo ao ponto onde estabelecemos acampamento. Consideramos aquilo um excelente sinal para a trip iminente, nada nos faltaria ali, nem mesmo alimento. Peixes são símbolos do insconsciente, ótimo sinal encontrar uma varinha de pesca ali no setting natural, imediatamente após a ingestão do sacramento.
Poderíamos ficar ali isolados dias, se necesssario. O espírito era de total entrega. Muito preparo para esse dia, muita certeza e intento verdadeiro para encarar a experiência novamente.
A espera foi curta, creio que em menos de meia hora começamos a sentir os efeitos. D tocou um pouco de violão, eu tentei acompanhar no talking-drum mas foi impossível, não conseguia entrar na musica. Desencanei e fui praticar tai-chi, o chão ondulando, muito difícil, parecia algo desnecessário, resolvi pura e simplesmente enfrentar a ansiedade me entregando a ela quieto, controlando o medo. Merda de culpa misto com ansiedade, com expectativa, um horror! Odeio essa parte nas decolagens...
Ao mesmo tempo, D estava tendo contorções na areia, na peia pura por conta de ódios reprimidos contra o fucking babylon system. Achei uma vara de madeira e entramos na trip de descarregar todo o odio e frustração contra a FB (fucking babylon) dando pancadas na areia com toda a força, usando o galho como se fosse uma clava. UM batia até cansar, daí passava o bastão pro outro, que descarregava sua fúria, uma viagem muito catártica. Ficamos nisso num crescente, descarregos catárticos de pulsões reprimidas estraçalhando um galho de arvore contra a areia quente da praia.
Destruída a clava, nos olhamos satifeitos e aliviados pelo descarrego. Era visível a satisfação animal de ter descarregado muita agressividade reprimida.
Entramos no mar para lavar os fluidos negativos, e na água começou a bater forte, visuais de um efeito liquido na atmosfera, subitamente a densidade do ar torna-se visivel, como é que pode que não reparamos nisso quando sóbrios? È tão fino, tão sutil, tão simples de ver....
Embasbacados ficamos os dois com as visuais de peixinhos, água cristalina, o sol refratando na areia... Um puta lugar inacreditável, uma prainha de uns 60 m de comprimento no meio de mata atlântica bruta, praia sem onda, paraíso tropical.
Dentro da agua começou a ficar muito frio para mim, precisei buscar um lugar quente. Já estava totalmente alterado, mal consegui andar, visualizei um ponto na areia que me pareceu “quente” e fui pra lá, desabei no chão e fechei os olhos.
Uma tremenda compressão do ego, espirais, uma tremenda afllição interna....Começo a ouvir os barulhos dos fluidos internos do corpo, sem medo, apenas expectativa. Quando comecei a entrar na fase de pulverização do ego, tomei consciência de que minha mente estava sob o domínio de uma espécie de lula alienígena azul-verde néon madreperola, que ao perceber que eu percebi a presença dela, passou a tentar me assustar com a perspectiva de morte iminente. Uma monumental compressão do ego, o corpo retorcendo-se numa tremenda peia, um medo inacreditável daquele bicho, e na hora de maior medo, em que ela se apresentava justamente como a MORTE e estava prestes a me engolir, eu sentia tentáculos enroscando-se em cada centímetro do meu ser, uma sensação de sufocamento, desespero, agonia total, e em algum lugar eu sabia que estava sob efeito da droga, bateu um arrependimento de ter tomado, não era aquilo que eu estava buscando. Subitamente alguém dentro de mim lembrou algum colega do PE postou um tópico falando da pergunta essencial a ser feita numa trip: -“quem sou eu?”
Ao fazer a pergunta, a lula-alien ficou furiosa, e “desplugou” da minha cabeça, mostrando-se dentro de um hyperspaço delimitado pelo domo reticulado com olhos nos cruzamentos, esse lugar já apareceu outras vezes pra mim, mas dessa vez era pequeno, apertado, seria talvez uma esfera com uns 5 m de diâmetro, e a lula louca e enfurecida, ficava ricocheteando nas “paredes” do domo, e de repente – tchumn! - ela invadia meu crânio, assaltava minha mente, uma sensação desesperadora de tentáculos néon madrepérola invadindo todos os meus tecidos, todo o meu ser, até tomar conta totalmente de minha percepção, encaixando em minha tela mental um panorama de outro universo.
E ouço uma voz lá longe..... – quem sou eu? Quem sou eu? O que é você?
E a imagem de cosmo aberto se desfez, estava de novo dentro do domo, a lula furiosa por eu ter de novo escapado da armadilha alucinatória dela, esse avistamento da lula fora-de-mim durava alguns segundos de puro pânico, eu não tinha como fugir dela, estava preso dentro do domo, e de novo ela entrava na minha cabeça, esse processo era horrível, eu sentia os múltiplos tentáculos dela entrando em cada célula do meu ser, uma agonia inacreditavel, e de novo: quem sou eu?
Nisso a lula desplugava da minha cabeça, e tchuf! Outro universo me era mostrado em minha tela mental. Ficamos nesse jogo durante muito tempo, eu era distraído com um processo alucinatório de visões cósmicas e de repente lembrava, lá do fundo do meu ser, de fazer a pergunta: quem sou eu?
Guardo poucas lembranças especificas desses universos, estava imerso numa peia física inacreditável por conta das invasões da lula em minha mente, eu sabia em algum lugar que aqueles mundos eram “falsos” a lembrança ficou nebulosa, ficou muito mais forte a lembrança da luta mental com a lula neon. Mas lembro especificamente do ultimo universo visitado, era uma paisagem luminescente de um mar cor de rosa num planeta com dois sois, quando de repente alguém lá dentro de mim de fazer a pergunta de novo – quem sou eu?
Essa primeira onda baixou, e fiz contato visual com o D, ele estava levando uma tremenda surra, numa peia tremenda. Tentei me locomover até ele, e quando estava a uns dois metros, bati numa parede gigantesca feita de carne crua, e das fibras dessa carne pendiam miúdos de frango, enquanto uma voz (a lula, presumo), me dizia: “isso é a morte. Ta vendo, a morte é isso aí. Gostou de ver a morte? Você gosta? A morte é isso....”
Consegui chegar perto do D, que estava de joelhos implorando perdão aos céus, me deu uma necessidade de tocá-lo na coluna, passei as duas mãos ao longo de sua coluna e “arranquei” duas bolas de luz laranja de dentro de seu cóccix. Enterrei as bolas na areia e me arrastei até o mar, para me descarregar. Fiz isso meio num transe, era como se fosse outra pessoa fazendo isso e eu estivesse apenas observando, sem fazer parte da cena. Uma viagem de cura...
Fiquei uma cara agachado olhando a água do mar na parte rasinha, muito cristalina, muito fantasticamente lindas as refrações na areia...
Pouco depois passa a onda, eu e D nos encontramos e nos olhamos perplexos por alguns instantes, chegamos a conversar um pouco: - parece que a onda forte passou, né? - Puxa, que foi iiisssoooo, que loucura? - A gente ainda está aqui? Ainda estamos vivos? Qaunto tempo passou? - Acho que daqui pra frente vai ser mais leve, já faz muito tempo, a onda principal deve ter sido esse negocio que passou há pouco...
Começamos a conversar sobre nossas visões e de repente uma tsunami de espirais madrepérola veio do mar e me varreu desta realidade para outro lugar.
Eu estava de novo dentro do domo, que agora era monumental, o observador numa posição acima do horizonte, como se estivesse nas fileiras superiores de um anfiteatro, semelhante ao Odeon em Atenas, e via ao longe um palquinho, com direito à boca de cena, cortina e coxias. Nesse palquinho eram encenados dramas cósmicos para mim. Ao mesmo tempo, eu estava no camarim, e a tal da lula cosmica estava lá dentro, admirando-se em infinitos espelhos, desta vez ela não era agressiva, me tratava de forma afetuosa e me demosntrava como ela tinha controle sobre as realidades, ela se olhava com um daqueles espelhos redondos, com cabo de prata, que as damas da corte utilizavam, e ao me mostrar o seu reflexo no espelho, o que eu via no espelho era o mesmo que eu via no palco.
Nessa parte, houve um download absurdo de informação não-verbal para dentro de minha cabeça, uma sólida coompreensão da ilusão que é a realidade real, de como tudo é projeção, tudo é teatro. A lula ficava repetindo: tudo são jogos, apenas jogos, como no teatro... Aqui é o teatro das formas, tudo são jogos, apenas jogos...
Mais tarde, meu amigo falou que eu ficava repetindo – È tudo um grande teatro, tudo não passa de um grande teatro... E ele disse que ouvia com um efeito de eco, reverber e distorção, enquanto o corpo dele derretia e se fundia com os grãos de areia da praia.
Eu imerso nessa revelação do teatro das formas e em algum lugar da praia D saiu da fase peia para a fase êxtase cósmico. Ele gritava feito um louco: isso é amor! Isso é que é amor! , e chorava, e urrava... Nisso a lula transforma-se em uma espécie de dançarino, parecido com aquelas figuras das tapeçarias tibetanas , e ia abrindo leques com seus multiplos braços, em cada leque uma dimensão, um universo inteiro a ser observado e explorado.
Então a lula-alien-demonio-tibetano-dançarino-cosmico abriu dois de seus múltiplos braços e ofereceu: O que você quer? Êxtase na luz? E flap! Abriu um leque com a mão direita, onde estava a luz primordial – e perguntou de novo – Ou você quer a escuridão? E flap! Abriu na mão esquerda o leque da escuridão eterna, o nada absoluto... Hesitei uns instantes e de novo: quero saber quem sou eu! Nisso tudo se desfaz, lula, domo, teatro, tudo vira o mais perfeito caos, tenho um vislumbre da luz primordial, um filete de luz inacreditavelmente poderoso, estou atravessando uma espécie de fenda vertical, totalmente escura, e percebo que “além”, está a luz, eu quero chegar até ela, estou voando dentro da fenda, de repente ela se fecha e uma voz como um trovão me informa: SOMENTE DEPOIS DA MORTE!
Imediatamente após essa pancada, desci vários degraus em direção à realidade comum, fiquei consciente do corpo, da praia, do barulho do mar.
Fico muito tempo imerso em visuais incoerentes, emergindo aos poucos para a realidade comum. Meu ego reconstituído aos poucos e meu amigo D ali do lado, às lagrimas de pura gratidão pelo êxtase que havia vivido.
Fizemos juntos muitos agradecimentos aos céus, aos genitores, ao meu querido amigo M., que forneceu os selos, à todas as forças da natureza, e também choramos juntos por toda a infelicidade do mundo. Nesse momento tanto eu como D tivemos uma terceira onda mais curta, um breve instante de alucinações com guerra, gente passando fome, maquinas destruindo a natureza...
Ficamos na praia até umas 4 da tarde, fumando baseado e conversando sobre as visões de cada um. D tem probelmas gástricos, sofre de gastrite crônica, e na trip ele conseguiu por pra fora muitas toxinas, um furúnculo se formou na barriga dele durante a trip; conversamos sobre tudo, sobre a loucura que é a proscrição desse santo remédio (Louvado Seja Deus), sobre o controle que é exercido sobre as consciências, sobre milhares de coisas.
Mentalizamos positivo de novo, agradecendo a todos os deuses, à terra, ao mar, e muito especialmente ao grande amigo M, que descolou lsd de verdade em terras d’além mar... Muitos vivas para o cavalheirismo psicodélico! Vivas para a irmandade da consciência!
Quando a fome bateu forte, recolhemos acampamento e pegamos a trilha de volta à casa, ao chegarmos havia um peixe fresco que um amigo caiçara havia pescado e nos deixou de presente enquanto estávamos viajando na praia. Na hora lembramos da vara de pescar que estava largada na praia, um sentimento muito bom de que tudo estava certo, tudo em seu devido lugar, estávamos em harmonia total com o entorno.
A caseira havia feito uma deliciosa moqueca com esse peixe, convidamos nosso amigo caiçara para comer conosco e confraternizamos juntos em nome da felicidade, da amizade, do amor pela natureza... comemos no jardim e lá ficamos até o por do sol, varios baseados rolaram, varias risadas, muita felicidade e amor por tudo que é simples e bom.
A onda passou totalmente só por volta das 21:00 hs, deu um cansaço gostosinho e tanto eu como D dormimos maravilhosamente bem. No dia seguinte fomos velejar no laser do meu amigo caiçara, fomos pra uma ilha e na volta não tinha vento... Voltamos no remo, uns três quilômetros, tanto eu como D tendo vários momentos de flashback lisérgico no meio do caminho. Essa velejada foi a verdadeira aterrisagem da trip do dia anterior.
Alguns dias depois D retornou à sampa, eu ainda fiquei mais uns dias na praia , minha intenção era fazer mais uma experiência sozinho, dessa vez com cogumelos, estou muito interessado em experimentar uma mushuasca, cheguei a fazer o chá de arruda síria e separar 10 g de cogus, mas na hora da ingestão me deu uma coisa meio assim, não, agora não é o momento. Joguei fora o chá de harmala (sacrilégio!) e guardei os cogus pra outra oportunidade.
Ficou algo de incompleto em minha trip, fiquei instigado pelo “teatro mágico” que a lula me mostrou. Creio que numa próxima vez talvez consiga chegar mais perto de elucidar esse mistério do quem sou eu...