- 14/04/2015
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É, já fazia um mês desde minha viagem anterior, e eu tava meio que, tipo... sabe, de ir de novo pra psicodelia com cogumelos em alta dosagem, porque o buraco é mais embaixo e não é brincadeira não :roflmao:... Tive que esperar tanto porque o tempo é curto, e tem que ser bem feito. Por surpresa, no fim do mês, tive uma brecha criada e então a aproveitei. Ingeri um chá feito pela minha esposa com pouco menos de 6 gramas de pó de cogumelos secos triturados na hora no moedor de café. Misturamos mel pra melhorar o gosto, e gengibre pra reduzir as ânsias que costumo sentir.
Deixei o chá sobre o móvel do computador e então preparei uma lista de músicas somente com álbuns completos do Pink Flod, em ordem de lançamento, a partir do disco que possui Echoes, pois sabia que até chegar nesta música os efeitos da psilocibina já estariam decolando. A lista de álbuns em tese teria de ter sido esta, até o fim da trip: Meddle, The Dark Side of the Moon, Animals, The Wall e Division Bell. (Este último, não tenho certeza se coloquei na lista feita antes de tomar o chá).
Finalmente tomei o chá e fui deitar, enquanto começava a tocar a primeira música do disco Medlle. Levei junto algumas folhas de papéis A4 em branco e uma caneta, para fazer anotações enquanto pudesse escrever.
Seguem as transcrições (ipsi literis):
Bem, não consegui mais escrever nenhuma palavra a mais até o fim das 3 primeiras horas de viagem. Chegaremos lá... :coffee:
Sei que deixei o papel e a caneta sobre o criado mudo e tratei de me cobrir com a manta que sempre me acompanha nas viagens sobre a minha cama.
Enfim, não era mais possível escrever nada...
Aos poucos meu corpo se sentia cada vez mais cansado, e as coisas ficavam cada vez mais confusas...
Sentia toda a musculatura do meu corpo doer muito por falta de exercício, e realmente doía bastante...
Pensei que teria maus momentos durante a trip por causa da minha condição muscular, que deveria voltar à natação imediatamente...
Aceitei a dor muscular acentuada no corpo e relaxei pra ouvir o som...
Não fechei os olhos, deixei-os apenas perdidos em algum ponto perdido no espaço...
Será que botei as músicas na ordem certa?..
Subitamente, enquanto os efeitos ficavam mais acentuados, senti a minha arcada dentária igual quando tinha arrancado meu ciso, alguns dias antes. Tinha temido que aquela sensação voltasse durante a viagem, e fiquei bem apreensivo na hora, até porque ainda havia pontos na minha boca e as sensações rememoradas eram de poucos dias antes. Isso fez com que eu retivesse, neste momento, a minha mente de se deixar ir na viagem. Também notei, nesta altura, que os efeitos não seriam tão fortes a ponto de eu ter alguma bad trip com a sensação da minha arcada dentária sendo arrancada, por exemplo...
E a música tocava... Eu me perguntava se tinha a colocado na ordem certa... Nunca tinha usado aquela função daquele programa...
Será que botei na ordem certa?..
Ou melhor, as músicas estão se repetindo?..
Ao mesmo tempo, tantas coisas passam pela minhas vistas ora fechadas, ora abertas...
Sentimentos, coisas, pessoas...
Esse blues não me agrada tanto, é esquisito o sentimento que me causa...
Chega finalmente a canção Echoes...
E passa...
Ou não...
Estão as músicas se repetindo?..
Dentro de mim, é somente onde sei onde se passam as coisas...
Do nada, sou jogado em sensações espirituais intensas, como se meu corpo se transformasse em algo etéreo para capturar a energia espiritual...
Conflitos internos...
Algo sobre meus antepassados...
De repente toda aquela intensidade, toda aquela energia tensa, todo aquele conflito que vem desde o começo da Humanidade se transformava num súbito retorno feliz à realidade, mesmo que ainda sob a ótica psicodélica, mas agora não mais em outra dimensão, apenas a comemoração de uma nova descoberta, ou a mera felicidade de sair daquela faixa tensa. E quando isso ocorria, era a música do Pink Flod que explodia em felicidade, em sonoridade, em vida, em contraposição a todo um conjunto de argumentos sonoros densos por eles apresentados antes. E então estes artistas loucos me jogavam de volta a vibrações espirituais tensas para (não tão) logo depois me fazerem transpassar por e transcender uma série de questões subjacentes à vida e à morte, tensas e árduas; daí novamente eu retornava em delírio, em êxtase, ao som de batidas mais fortes e vivas do rock .
E assim o pico da viagem se estabelecia em tons extremamente espiritualizados com êxtases vibracionais e fossas espirituais segundo o som, segundo as músicas...
Mas teria eu colocado todas pra tocarem realmente na ordem planejada?..
As músicas estão se repetindo?..
Será que botei na ordem certa?..
Era difícil entender exatamente qual música exatamente estava tocando...
Era exatamente a primeira vez que eu usava exatamente aquela função exatamente daquele programa...
E estariam as músicas mais exatamente se repetindo?..
Eu levantei e liguei o monitor pra ver a lista de músicas... Ah, pra quê? Não entendia nada do que lia, era muito estranho, mas forcei a vista e me convenci de que a nova função do programa que eu tinha usado não funcionava como eu achava e que estava do nada repetindo as músicas, e não na lista que eu tinha programado no começo.
Foi então que cliquei na única expressão que entendi, o nome de uma música ou de um álbum ...
Terei eu colocado num álbum?..
Terei eu simplesmente avançado músicas na mesma plalist?...
O plaer continua tocando...
Eu me convenço que finalmente as músicas pararam de repetir...
Deito...
E assim a viagem prosseguia dentro de mim.
E, bem...
Eventualmente, entre idas e vindas...
Começo a me sentir ótimo, cada vez melhor, enquanto a música tocava...
E de novo a única pergunta do Universo para a qual não consegui resposta durante a viagem volta a me afligir:
Não! Isso é aquela sacanagem que o Pink Flod faz de repetir a mesma sonoridade em vários momentos do mesmo álbum...
Mas e se talvez eu tenha passado a trip inteira até aqui ouvindo um só álbum, depois que eu fui ligar o monitor e mexer no plaer...
Será que eu botei um só álbum pra tocar, ou será que eu apenas pulei umas músicas da lista de músicas inicial quando mexi no programa tocador de músicas?..
Eu nunca usei aquele recurso daquele programa antes...
E depois eu ainda fui mexer numa lista que eu nem sabia o que era...
Pra piorar, as músicas do Pink Flod ainda ficam repetindo a mesma sonoridade o tempo todo ao longo do mesmo álbum...
Será que as músicas estiveram se repetindo?..
Será?..
Eu levanto, ligo o monitor e clico de novo em outro nome que consigo reconhecer da lista...
Será que eu mudei de álbum?.. Será que eu tô na mesma lista que eu configurei no começo e apenas pulei de novo algumas músicas?..
E então finalmente explodo em gargalhada dessa toda de não saber se afinal de contas essa repetição toda é por causa do Pink Flod com cogumelos ou se porque o plaer está configurado pra repetir todas as músicas. Eu cogito se devo tentar conferir o repeat do plaer, mas fico com receio de piorar as coisas, porque anteriormente eu sequer tinha conseguido entender se o símbolo do repeat estava ligado ou desligado :notworth:.
Permaneci deitado...
Ia e vinha...
A música explode de novo...
Que delícia de som...
E as músicas se repetindo?.. Será?..
Em certo momento lembrei que tinha me proposto a fazer um questionamento específico no meio da viagem, algo do tipo: "oh, sábia voz do cogumelo , me diga se isso está correto". Bem, pois eu lembrei que tinha que obter essa resposta bem na hora em que esse efeito já era o suficiente justamente para ouvi-la dizer que não tinha opinião formada sobre aquele assunto, que eu podia fazer o que achasse certo, que nem tudo na minha vida ela resolve :roflmao:. Enfim, esse evento me faz lembrar de que eu nunca fui de pedir opinião de entidade sobre a minha vida quando ia em Umbanda, então acho que o mesmo princípio se aplica ao cogumelo.
Eu rio...
As músicas se repetiram?..
Será que botei num só álbum se repetindo?..
Não aguentei mais , levantei e liguei o monitor de novo, pra novamente clicar em outro nome que conseguisse ler, na mesma lista, mais pra baixo...
Será que eu botei um álbum ou apenas pulei a lista?..
Eu tentava entender o laout do programa tocador de músicas, mas não compreendia...
Apenas nomes de músicas soltas...
Essa repetição toda que eu senti é das músicas?..
E o tempo passa...
As músicas estarão realmente se repetindo ou não?..
Será?..
Oh, :devil:, essas malditas músicas dos infernos estão ou não se repetindo???
Aaaaaahhhhhh!!!
Deixa, deixa pra lá!
Deixa repetir!
Deixa essa p**** repetir, meu filho!!!
Mas será que as músicas estão se repetindo mesmo?..
Porque se até agora tudo que eu fiz foi pular as músicas da plalist inicial, então nenhuma música foi repetida...
Mas eu tenho a impressão...
A leve impressão...
Houve músicas repetidas?..
E novamente, em algum momento perdido nas horas, explodo em gargalhada sobre isso. Mas desta vez, canto junto alto!
Enfim, enquanto Pink Flod continuava a tocar de qualquer jeito (repetindo ou não!), tudo isso acima ocorria, não sei exatamente em que ordem. Até que, em certo momento libertador, foi como se eu renascesse tal qual se uma mão me puxasse minha mente do fundo da minha alma de volta ao meu corpo revivido! Em menos de um segundo, toda a confusão mental acabou e eu me sentia inteiramente pleno e capaz de superar todas as questões pessoais, individuais, todos os meus medos.
Foi quando olhei pro lado do criado mudo e não vi ali nem a caneta e nem o papel, devido à fraca luminosidade no quarto. Mesmo assim, estendi a mão e os peguei. Sem ter certeza se escrevia corretamente, as palavras fluíram com uma alegria inigualável, comparável a um renascimento em felicidade e amor:
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Nesse momento eu só queria saber de deixar o Pink Flod no volume alto, enquanto sorria pro mundo e começava a segunda fase da viagem...
Assim que terminei de escrever a imagem acima e sentei sobre a cama, iniciou a segunda fase da viagem. Toda a parte interna principal tinha passado, agora já estava tudo tranquilo. Sentei na beira da cama e pela primeira vez tive, com cogumelos, efeitos visuais extremamente acentuados: as texturas do azulejos não paravam de se mover. Era muito divertido, mas eu francamente pensei: "nossa, por mim eu jogava todos os efeitos visuais fora e ficava só com a parte espiritual".
Sei que muitos buscam usar cogumelos por causa dos efeitos visuais, mas vi que definitivamente esse não era o meu caso...
Bem, em algum momento a esta altura da viagem, :!: reparei que toda a musculatura do meu corpo subitamente tinha enrijecido, que a dor que antes da trip eu sentia tinha sumido, que eu literalmente tinha criado clara definição muscular no espaço das 3 horas do pico da viagem, posto que sou sedentário. Desde esta viagem aqui relatada, aliás, parei de sentir dores musculares. Foi muito interessante ver, pela primeira vez, como os efeitos positivos sobre a musculatura são de fato existentes com a psilocibina em dose alta.
Fiquei muito feliz porque os cogumelos fazem a gente ficar mais forte !
A onda foi indo mais um tempo, comigo sentado na cadeira da frente do PC, sem nada demais a relatar, exceto que assim se passou uma ou duas horas.
Começou a chover lá fora e finalmente anoiteceu! Tomei o cogumelo às 16h, agora eram 19h e parecia que tinha se passado uma eternidade!
Já com a onda mais baixa, me perguntei sobre fumar unzinho, ou tomar uma cerveja ou vodka.
Notei que me sinto mais tranquilo de não fumar do que não beber, e isso me preocupou... E tal fato me chamou a atenção...
E então minha mulher me ligou. Eu já estava relativamente muito bem, por isso o celular estava ligado. Podia responder a uma ligação tranquila, por exemplo, mas evitaria qualquer coisa além de risadaria. E daí ela me disse que estava na fila do caixa do supermercado quase chegando em casa. Eu achei que era o da esquina, e como estava chovendo e eu estava relativamente bem, me prontifiquei a ir com o guarda-chuvas a buscá-la. Era logo na esquina...
Pois bem, fui sem abrir o guarda-chuvas debaixo do braço, debaixo de chuva leve mas fria e constante, de camiseta e bermuda de praia... Andando igual um guerreiro indo pra batalha... A passos largos... Na verdade, meio que um monstrinho andando de seriedade...
Cheguei na esquina...
Cadê ela?
Vou na entrada do mercado, ela disse que estava na fila do caixa...
Tomo um susto antes de entrar no supermercado porque tenho uma leve alucinação com o rosto de uma caixa. É quando eu noto que eu ainda estava sob efeito muito forte. Me certifiquei que ela não estava de fato em nenhuma das filas, e isso me deixou muito angustiado! Conferi novamente se ela não estava na esquina.
Eu estava todo molhado, agitado, rápido. Conclui que ela estava no outro supermercado, há 2 quadras dali passando pela avenida naquela hora em engarrafamento. Quis ficar muito, muito irritado com essa confusão toda, mas me acalmei. Fiquei arrependido de não ter levado celular, apesar de que também sabia que provavelmente não teria lembrado de trazer.
Olhei pr`aquela chuva, pra eu de guarda chuva, suado, molhado, me perguntei se esperava ela ali na esquina, embaixo da marquise, mas me dei conta de que ela teria que trazer as compras sozinha e debaixo de água. Então arrisquei ir até o encontro dela no outro supermercado, e fui andando. Quando tendia a ficar irritado com toda a confusão, me acalmava e continuava a andar no objetivo de achar minha esposa.
Bem, então cheguei no outro supermercado, olhei por ela nos caixas e, de novo, não achei! Olhei mais um pouco e, quando estava pra ir embora, a ouvi me chamar: ela estava atrás de uma pilastra ! Caraca, eu estava com tanta dificuldade de ver as coisas e ela no único caixa atrás de uma pilastra!!! :roflmao:
Neste momento me aproximei dela, com poucas palavras, bem molhado e suado. Peguei todas as sacolas enquanto todos pareciam reparar em mim. De fato, esclareço: não tem como não prestar atenção num ser totalmente ensopado e ofegante que chega subitamente pra pegar as compras pra mulher na fila do supermercado. Então, claro, estavam me olhando. Mas, neste momento, agradeci a Deus o conhecimento passado no FAQ da Experiência Psicodélica:
Eu não estava de óculos escuros, mas tenho plena noção de que ninguém além de mim sente o que eu sinto, a menos que eu expresse ou esteja tão mal que não consiga agir como um adulto. Enfim, eu quase pensei "eles estão vendo que estou doido", até que lembrei desta orientação, e de que as pessoas não sabem de fora o que se passa na minha mente . Sempre suponha que eles não sabem nada, porque eles sempre saberão qualquer coisa que você acreditar que eles sabem, sacou?
E então eu peguei as sacolas que, Jesus!, eram realmente muito pesadas e as levei até em casa, num suadeiro só, debaixo de chuva, doido de cogumelo, rindo muito: "é, tá vendo, e eu querendo me exercitar, tá valendo!"
Por fim, retornei à casa e pedi com bom humor à minha mulher que, quando eventualmente ocorrer dela me ver de novo doido de cogumelo na na frente de estranhos por algum eventual futuro mal-entendido deste tipo que se repita, que não converse comigo! Eu não fui grosso com ela quando puxou papo no caixa, mas fui incisivo e direto, apesar de bem amável. Depois expliquei pra ela que:
E digo ainda que, quando cheguei em casa depois de carregar quilos de compras, o tônus muscular da psilocibina tinha ficado ainda mais acentuado . Em seguida, fui ver Medo e Delírio em Las Vegas novamente, acho que pela 7ª vez... Já tinham passado 5 ou 6 horas desde o começo da viagem, então finalmente eu voltei a fumar minha cannabis e a tomar uma cerveja. E ri muito.
um fato que me chamou a atenção foi de que os efeitos da dosagem não foram tão fortes quanto eu esperava, apesar de terem sido pra lá de muito intensos demais da conta . Na experiência anterior, com uma dose não muito maior - pouco menos de 8 g secos mas com uma tolerância bem mais acentuada - tive o tal do arrebatamento pela luz . Pois nessa vez, mais de um mês depois desde a última trip, com uma dose da casa dos 6 g secos, cheguei na faixa das projeções espirituais, mas não fiquei atordoado nem dessituado. Me pergunto se não foi o fato de que eu não consumi álcool nem maconha anteriormente à experiência atual, enquanto na anterior sim :fumar:.
Deixei o chá sobre o móvel do computador e então preparei uma lista de músicas somente com álbuns completos do Pink Flod, em ordem de lançamento, a partir do disco que possui Echoes, pois sabia que até chegar nesta música os efeitos da psilocibina já estariam decolando. A lista de álbuns em tese teria de ter sido esta, até o fim da trip: Meddle, The Dark Side of the Moon, Animals, The Wall e Division Bell. (Este último, não tenho certeza se coloquei na lista feita antes de tomar o chá).
Lupada de Pink louco do Loop Flod
Finalmente tomei o chá e fui deitar, enquanto começava a tocar a primeira música do disco Medlle. Levei junto algumas folhas de papéis A4 em branco e uma caneta, para fazer anotações enquanto pudesse escrever.
Seguem as transcrições (ipsi literis):
- 16 h - terminei de ingerir. Em dois minutos reconheço um começo de enevoamento, de leveza. Como já estou acostumado, não sinto como um baque o começo rápido dos efeitos
- 16:05 h - a tontura começa a aparecer. É legal observar que nesta trip estou menos ansioso pela decolagem. Sinto que fazer essas anotações também foca meu pensamento. Se não escrevesse, sentiria mais . Vou dar 15 minutos
- 16:10 h - (pois é, não esperei) estranho excelente humor pra aceleração, me pergunto se é influência mais da cachoeira, ou se do álbum Meddle. Começo a sentir o cansaço da psilocibina
- 16:15 h - a conexão entre ideias fica mais forte, em especial aspectos que me preocupem, pois tive que tomar um medicamento: inicia a dinâmica de perturbação mental. Mas, ao aceitá-la, fico tranquilo
- 16:18 h - a aceleração é suficiente pra prejudicar a escrita. Vou parar aqui, por hora (não consegui terminar a palavra)
Sei que deixei o papel e a caneta sobre o criado mudo e tratei de me cobrir com a manta que sempre me acompanha nas viagens sobre a minha cama.
Obs.: depois desta trip, descobri, durante a tradução do FAQ da Crise Psicodélica, que o uso de cobertor grosso ou manta para se enrolar é algo que consegue acalmar bad trips espirituais, por providenciar conforto ao psiconauta em eventual momento (sempre passageiro) de conflito interno.
Enfim, não era mais possível escrever nada...
Aos poucos meu corpo se sentia cada vez mais cansado, e as coisas ficavam cada vez mais confusas...
Sentia toda a musculatura do meu corpo doer muito por falta de exercício, e realmente doía bastante...
Pensei que teria maus momentos durante a trip por causa da minha condição muscular, que deveria voltar à natação imediatamente...
Aceitei a dor muscular acentuada no corpo e relaxei pra ouvir o som...
Não fechei os olhos, deixei-os apenas perdidos em algum ponto perdido no espaço...
Será que botei as músicas na ordem certa?..
Subitamente, enquanto os efeitos ficavam mais acentuados, senti a minha arcada dentária igual quando tinha arrancado meu ciso, alguns dias antes. Tinha temido que aquela sensação voltasse durante a viagem, e fiquei bem apreensivo na hora, até porque ainda havia pontos na minha boca e as sensações rememoradas eram de poucos dias antes. Isso fez com que eu retivesse, neste momento, a minha mente de se deixar ir na viagem. Também notei, nesta altura, que os efeitos não seriam tão fortes a ponto de eu ter alguma bad trip com a sensação da minha arcada dentária sendo arrancada, por exemplo...
E a música tocava... Eu me perguntava se tinha a colocado na ordem certa... Nunca tinha usado aquela função daquele programa...
Será que botei na ordem certa?..
Ou melhor, as músicas estão se repetindo?..
Ao mesmo tempo, tantas coisas passam pela minhas vistas ora fechadas, ora abertas...
Sentimentos, coisas, pessoas...
Esse blues não me agrada tanto, é esquisito o sentimento que me causa...
Chega finalmente a canção Echoes...
E passa...
Ou não...
Estão as músicas se repetindo?..
Dentro de mim, é somente onde sei onde se passam as coisas...
Do nada, sou jogado em sensações espirituais intensas, como se meu corpo se transformasse em algo etéreo para capturar a energia espiritual...
Conflitos internos...
Algo sobre meus antepassados...
Pela primeira vez vi a imagem ou espírito? do meu amado avô, sempre sorridente como era, nas viagens de cogumelo. Aliás, durante as minhas últimas férias, fiz uma viagem de LSD no Pantanal, terra natal dele para a qual viajei justamente para homenageá-lo, onde fiz contato com energias mais naturais do meu ser, de forma racional, que me deixaram mais preparado para minha mente aproveitar a experiência que tive com os cogumelos na cachoeira cerca de duas semanas depois.
(De volta ao relato atual...)
(De volta ao relato atual...)
De repente toda aquela intensidade, toda aquela energia tensa, todo aquele conflito que vem desde o começo da Humanidade se transformava num súbito retorno feliz à realidade, mesmo que ainda sob a ótica psicodélica, mas agora não mais em outra dimensão, apenas a comemoração de uma nova descoberta, ou a mera felicidade de sair daquela faixa tensa. E quando isso ocorria, era a música do Pink Flod que explodia em felicidade, em sonoridade, em vida, em contraposição a todo um conjunto de argumentos sonoros densos por eles apresentados antes. E então estes artistas loucos me jogavam de volta a vibrações espirituais tensas para (não tão) logo depois me fazerem transpassar por e transcender uma série de questões subjacentes à vida e à morte, tensas e árduas; daí novamente eu retornava em delírio, em êxtase, ao som de batidas mais fortes e vivas do rock .
E assim o pico da viagem se estabelecia em tons extremamente espiritualizados com êxtases vibracionais e fossas espirituais segundo o som, segundo as músicas...
Mas teria eu colocado todas pra tocarem realmente na ordem planejada?..
As músicas estão se repetindo?..
Será que botei na ordem certa?..
Era difícil entender exatamente qual música exatamente estava tocando...
Era exatamente a primeira vez que eu usava exatamente aquela função exatamente daquele programa...
E estariam as músicas mais exatamente se repetindo?..
Eu levantei e liguei o monitor pra ver a lista de músicas... Ah, pra quê? Não entendia nada do que lia, era muito estranho, mas forcei a vista e me convenci de que a nova função do programa que eu tinha usado não funcionava como eu achava e que estava do nada repetindo as músicas, e não na lista que eu tinha programado no começo.
Foi então que cliquei na única expressão que entendi, o nome de uma música ou de um álbum ...
Terei eu colocado num álbum?..
Terei eu simplesmente avançado músicas na mesma plalist?...
O plaer continua tocando...
Eu me convenço que finalmente as músicas pararam de repetir...
Deito...
E assim a viagem prosseguia dentro de mim.
Tive então a primeira ânsia de vômito . Foi muito súbita e forte, mas durou apenas 2 segundos. Lembrei então que tomei gengibre e dei graças a Deus que demorei mais de uma hora pra ter uma ânsia, e que ela passou tão rápido, apesar de tão forte. Essa mesma ânsia forte e rápida ainda se repetiu duas vezes mais, nas duas horas seguintes, e depois não mais. :!: Ou seja: 99% melhor do que sem o gengibre. Recomendo adicioná-lo ao chá, pra quem tenha enjoos ou vômitos ao tomar cogumelos .
E, bem...
Eventualmente, entre idas e vindas...
Começo a me sentir ótimo, cada vez melhor, enquanto a música tocava...
E de novo a única pergunta do Universo para a qual não consegui resposta durante a viagem volta a me afligir:
h: Estar-se-ão a se repetirem novamente as mesmas músicas???
Não! Isso é aquela sacanagem que o Pink Flod faz de repetir a mesma sonoridade em vários momentos do mesmo álbum...
Mas e se talvez eu tenha passado a trip inteira até aqui ouvindo um só álbum, depois que eu fui ligar o monitor e mexer no plaer...
Será que eu botei um só álbum pra tocar, ou será que eu apenas pulei umas músicas da lista de músicas inicial quando mexi no programa tocador de músicas?..
Eu nunca usei aquele recurso daquele programa antes...
E depois eu ainda fui mexer numa lista que eu nem sabia o que era...
Pra piorar, as músicas do Pink Flod ainda ficam repetindo a mesma sonoridade o tempo todo ao longo do mesmo álbum...
Será que as músicas estiveram se repetindo?..
Será?..
Eu levanto, ligo o monitor e clico de novo em outro nome que consigo reconhecer da lista...
Será que eu mudei de álbum?.. Será que eu tô na mesma lista que eu configurei no começo e apenas pulei de novo algumas músicas?..
E então finalmente explodo em gargalhada dessa toda de não saber se afinal de contas essa repetição toda é por causa do Pink Flod com cogumelos ou se porque o plaer está configurado pra repetir todas as músicas. Eu cogito se devo tentar conferir o repeat do plaer, mas fico com receio de piorar as coisas, porque anteriormente eu sequer tinha conseguido entender se o símbolo do repeat estava ligado ou desligado :notworth:.
Permaneci deitado...
Ia e vinha...
A música explode de novo...
Que delícia de som...
E as músicas se repetindo?.. Será?..
Em certo momento lembrei que tinha me proposto a fazer um questionamento específico no meio da viagem, algo do tipo: "oh, sábia voz do cogumelo , me diga se isso está correto". Bem, pois eu lembrei que tinha que obter essa resposta bem na hora em que esse efeito já era o suficiente justamente para ouvi-la dizer que não tinha opinião formada sobre aquele assunto, que eu podia fazer o que achasse certo, que nem tudo na minha vida ela resolve :roflmao:. Enfim, esse evento me faz lembrar de que eu nunca fui de pedir opinião de entidade sobre a minha vida quando ia em Umbanda, então acho que o mesmo princípio se aplica ao cogumelo.
Eu rio...
As músicas se repetiram?..
Será que botei num só álbum se repetindo?..
Não aguentei mais , levantei e liguei o monitor de novo, pra novamente clicar em outro nome que conseguisse ler, na mesma lista, mais pra baixo...
Será que eu botei um álbum ou apenas pulei a lista?..
Eu tentava entender o laout do programa tocador de músicas, mas não compreendia...
Apenas nomes de músicas soltas...
Essa repetição toda que eu senti é das músicas?..
E o tempo passa...
As músicas estarão realmente se repetindo ou não?..
Será?..
Oh, :devil:, essas malditas músicas dos infernos estão ou não se repetindo???
Aaaaaahhhhhh!!!
Deixa, deixa pra lá!
Deixa repetir!
Deixa essa p**** repetir, meu filho!!!
Mas será que as músicas estão se repetindo mesmo?..
Porque se até agora tudo que eu fiz foi pular as músicas da plalist inicial, então nenhuma música foi repetida...
Mas eu tenho a impressão...
A leve impressão...
Houve músicas repetidas?..
E novamente, em algum momento perdido nas horas, explodo em gargalhada sobre isso. Mas desta vez, canto junto alto!
Enfim, enquanto Pink Flod continuava a tocar de qualquer jeito (repetindo ou não!), tudo isso acima ocorria, não sei exatamente em que ordem. Até que, em certo momento libertador, foi como se eu renascesse tal qual se uma mão me puxasse minha mente do fundo da minha alma de volta ao meu corpo revivido! Em menos de um segundo, toda a confusão mental acabou e eu me sentia inteiramente pleno e capaz de superar todas as questões pessoais, individuais, todos os meus medos.
Foi quando olhei pro lado do criado mudo e não vi ali nem a caneta e nem o papel, devido à fraca luminosidade no quarto. Mesmo assim, estendi a mão e os peguei. Sem ter certeza se escrevia corretamente, as palavras fluíram com uma alegria inigualável, comparável a um renascimento em felicidade e amor:
Visualizar item de mídia 3239
Nesse momento eu só queria saber de deixar o Pink Flod no volume alto, enquanto sorria pro mundo e começava a segunda fase da viagem...
Sacolas de Compras
Assim que terminei de escrever a imagem acima e sentei sobre a cama, iniciou a segunda fase da viagem. Toda a parte interna principal tinha passado, agora já estava tudo tranquilo. Sentei na beira da cama e pela primeira vez tive, com cogumelos, efeitos visuais extremamente acentuados: as texturas do azulejos não paravam de se mover. Era muito divertido, mas eu francamente pensei: "nossa, por mim eu jogava todos os efeitos visuais fora e ficava só com a parte espiritual".
Sei que muitos buscam usar cogumelos por causa dos efeitos visuais, mas vi que definitivamente esse não era o meu caso...
Bem, em algum momento a esta altura da viagem, :!: reparei que toda a musculatura do meu corpo subitamente tinha enrijecido, que a dor que antes da trip eu sentia tinha sumido, que eu literalmente tinha criado clara definição muscular no espaço das 3 horas do pico da viagem, posto que sou sedentário. Desde esta viagem aqui relatada, aliás, parei de sentir dores musculares. Foi muito interessante ver, pela primeira vez, como os efeitos positivos sobre a musculatura são de fato existentes com a psilocibina em dose alta.
Sobre os efeitos positivos da psilocibina na musculatura, já falei no primeiro diário de microdoses que:
E também que:
O mais interessante: psilocibina parece ajudar na musculatura, mas em microdosagens não. Inclusive, visando o efeito sobre a musculatura que senti na última trip, estou pensando em subir as microdosagens pra acima de 100 mg, pra ver se esse efeito muscular começa a aparecer, porque já passei dos 30 anos e seria uma boa...
E também que:
Literalmente, ao tomar uma dose próxima a 6 gramas secos, no fim das 3 primeiras horas de pico da trip, senti minha musculatura enrijecer.
O que me fez notar o súbito tônus muscular foi o fato de que no momento em que tomei o chá estava com dores com todo o corpo, com uma sensação nítida e urgente que está na hora de eu começar a fazer exercícios :roflmao:.
De fato, desde a trip em dose na casa dos 6 g secos, não estou mais com dores pelo corpo. Creio que minha musculatura voltou a me sustentar bem .
A onda foi indo mais um tempo, comigo sentado na cadeira da frente do PC, sem nada demais a relatar, exceto que assim se passou uma ou duas horas.
Começou a chover lá fora e finalmente anoiteceu! Tomei o cogumelo às 16h, agora eram 19h e parecia que tinha se passado uma eternidade!
Já com a onda mais baixa, me perguntei sobre fumar unzinho, ou tomar uma cerveja ou vodka.
Notei que me sinto mais tranquilo de não fumar do que não beber, e isso me preocupou... E tal fato me chamou a atenção...
E então minha mulher me ligou. Eu já estava relativamente muito bem, por isso o celular estava ligado. Podia responder a uma ligação tranquila, por exemplo, mas evitaria qualquer coisa além de risadaria. E daí ela me disse que estava na fila do caixa do supermercado quase chegando em casa. Eu achei que era o da esquina, e como estava chovendo e eu estava relativamente bem, me prontifiquei a ir com o guarda-chuvas a buscá-la. Era logo na esquina...
Pois bem, fui sem abrir o guarda-chuvas debaixo do braço, debaixo de chuva leve mas fria e constante, de camiseta e bermuda de praia... Andando igual um guerreiro indo pra batalha... A passos largos... Na verdade, meio que um monstrinho andando de seriedade...
Cheguei na esquina...
Cadê ela?
Vou na entrada do mercado, ela disse que estava na fila do caixa...
Tomo um susto antes de entrar no supermercado porque tenho uma leve alucinação com o rosto de uma caixa. É quando eu noto que eu ainda estava sob efeito muito forte. Me certifiquei que ela não estava de fato em nenhuma das filas, e isso me deixou muito angustiado! Conferi novamente se ela não estava na esquina.
Eu estava todo molhado, agitado, rápido. Conclui que ela estava no outro supermercado, há 2 quadras dali passando pela avenida naquela hora em engarrafamento. Quis ficar muito, muito irritado com essa confusão toda, mas me acalmei. Fiquei arrependido de não ter levado celular, apesar de que também sabia que provavelmente não teria lembrado de trazer.
Olhei pr`aquela chuva, pra eu de guarda chuva, suado, molhado, me perguntei se esperava ela ali na esquina, embaixo da marquise, mas me dei conta de que ela teria que trazer as compras sozinha e debaixo de água. Então arrisquei ir até o encontro dela no outro supermercado, e fui andando. Quando tendia a ficar irritado com toda a confusão, me acalmava e continuava a andar no objetivo de achar minha esposa.
Francamente não recomendo a ninguém andar sob efeito de cogumelos na rua, porque é muita confusão, mesmo durante a aterrizagem. Eu sei que eu fui pego de surpresa, porque o que entendi como um pulo na esquina sem riscos se tornou em andar numa avenida movimentada, e não achei que ainda estava tão doido... Além disso, não ia simplesmente voltar pra casa e deixar minha esposa com sacolas de compras pesadas debaixo de água...
Bem, então cheguei no outro supermercado, olhei por ela nos caixas e, de novo, não achei! Olhei mais um pouco e, quando estava pra ir embora, a ouvi me chamar: ela estava atrás de uma pilastra ! Caraca, eu estava com tanta dificuldade de ver as coisas e ela no único caixa atrás de uma pilastra!!! :roflmao:
Neste momento me aproximei dela, com poucas palavras, bem molhado e suado. Peguei todas as sacolas enquanto todos pareciam reparar em mim. De fato, esclareço: não tem como não prestar atenção num ser totalmente ensopado e ofegante que chega subitamente pra pegar as compras pra mulher na fila do supermercado. Então, claro, estavam me olhando. Mas, neste momento, agradeci a Deus o conhecimento passado no FAQ da Experiência Psicodélica:
O único sinal externamente visível que você está viajando é a pupila dilatada. Coloque óculos escuros quando sair.
Eu não estava de óculos escuros, mas tenho plena noção de que ninguém além de mim sente o que eu sinto, a menos que eu expresse ou esteja tão mal que não consiga agir como um adulto. Enfim, eu quase pensei "eles estão vendo que estou doido", até que lembrei desta orientação, e de que as pessoas não sabem de fora o que se passa na minha mente . Sempre suponha que eles não sabem nada, porque eles sempre saberão qualquer coisa que você acreditar que eles sabem, sacou?
E então eu peguei as sacolas que, Jesus!, eram realmente muito pesadas e as levei até em casa, num suadeiro só, debaixo de chuva, doido de cogumelo, rindo muito: "é, tá vendo, e eu querendo me exercitar, tá valendo!"
Por fim, retornei à casa e pedi com bom humor à minha mulher que, quando eventualmente ocorrer dela me ver de novo doido de cogumelo na na frente de estranhos por algum eventual futuro mal-entendido deste tipo que se repita, que não converse comigo! Eu não fui grosso com ela quando puxou papo no caixa, mas fui incisivo e direto, apesar de bem amável. Depois expliquei pra ela que:
- Não imaginava que ainda estava com efeitos tão fortes e só me dei conta disso quando já tinha chegado no primeiro supermercado;
- Achei que ia encontrá-la no supermercado da esquina e isso me deixou muito aflito;
- Este sentimento estava intenso quando a encontrei porque a pilastra na frente dela me fez pensar que ela não estaria em nenhum dos dois supermercados e que eu a tinha perdido;
- Daí, tive que aprender no instante em que a vi no caixa, pela primeira vez sob efeito de psilocibina em público, a elaborar meus pensamentos e respostas enquanto aprendia a reter meu comportamento;
- Ou seja: muita coisa pra lidar ao mesmo tempo!.. Mas felizmente as pessoas no supermercado acharam graça da cena .
E digo ainda que, quando cheguei em casa depois de carregar quilos de compras, o tônus muscular da psilocibina tinha ficado ainda mais acentuado . Em seguida, fui ver Medo e Delírio em Las Vegas novamente, acho que pela 7ª vez... Já tinham passado 5 ou 6 horas desde o começo da viagem, então finalmente eu voltei a fumar minha cannabis e a tomar uma cerveja. E ri muito.
um fato que me chamou a atenção foi de que os efeitos da dosagem não foram tão fortes quanto eu esperava, apesar de terem sido pra lá de muito intensos demais da conta . Na experiência anterior, com uma dose não muito maior - pouco menos de 8 g secos mas com uma tolerância bem mais acentuada - tive o tal do arrebatamento pela luz . Pois nessa vez, mais de um mês depois desde a última trip, com uma dose da casa dos 6 g secos, cheguei na faixa das projeções espirituais, mas não fiquei atordoado nem dessituado. Me pergunto se não foi o fato de que eu não consumi álcool nem maconha anteriormente à experiência atual, enquanto na anterior sim :fumar:.
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