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Mundo nunca foi tão pacífico, diz Steven Pinker

então tá, que mundo maravilhoso estamos vivendo, graças aos USA... Eles lutam para garantir nosso estilo de vida, a civilização ocidental super-aparelhada...

se baixou a violência, do que reclamamos???
realmente está tdo muito fácil hoje em dia...
temos a internet, o youtube, o desemprego está muito baixo, o capitalismo avança a contento, viva a Dilma e o Lula!!!

me sinto quase de férias num transatlantico rumo a Fernando de Noronha ou a Cancun... Eu e o José Dirceu, este grande icone da sociedade, junto com o Beira-mar e a Ariadna (delícia cremosaaa)...:D

o blza!!!... Apertem os cintos e relaxem (ao menos uma vez nas suas vidas!).

:fumar:

que continue assim, amém.
 
Folha de São Paulo - 21/08/2015

Chacina neolítica


Há 7.000 anos, ataque na Europa deixou 26 torturados e mortos, reforçando a noção de que violência é indissociável da vida tribal e da história humana

RICARDO MIOTO EDITOR-ADJUNTO DE "COTIDIANO"

Foi uma chacina. Antes de morrerem, as 26 vítimas foram torturadas. Primeiro, tiveram as pernas quebradas, para que não fugissem. Depois, foram agredidas na cabeça e em outras partes do corpo. Havia crianças, que apanharam do mesmo jeito.

Aconteceu há 7.000 anos.

Os corpos foram despejados sem cuidado em uma vala comum. Só não restaram ossos de mulheres jovens, que provavelmente foram tomadas para fins sexuais.

A história foi contada por pesquisadores alemães que analisaram um sítio arqueológico a 20 quilômetros de Frankfurt. O estudo foi publicado na revista "PNAS".

A vala foi encontrada por operários que abriam uma rodovia. Eles chamaram os arqueólogos, que ficaram impressionados. "Poucas vezes se viu em um sítio violência tão extrema e generalizada", diz Christian Meyer, da Universidade de Mainz.

Os danos nas ossadas permitem saber que foram utilizados tanto porretes quanto flechas e, pelo caráter sistemático do estrago, que tudo foi feito de forma deliberada.

Os ossos não permitem saber isso, mas os pesquisadores acreditam que o episódio tenha seguido o modelo padrão dos ataques em sociedades tribais. Não há "fair play": as ações são sempre de surpresa, em geral de noite, quando as vítimas, já dormindo, estão mais indefesas.

Como os agrupamentos humanos de então agregavam não mais do que algumas dezenas de pessoas, em geral aparentadas, é de se imaginar que essa comunidade tenha sido exterminada.

Não se sabe quem são eles –curiosamente, na arqueologia a história é contada pelos perdedores, que deixam seus cadáveres–, mas é possível que fossem até vizinhos. A convivência entre os grupos primitivos tende a ser tensa, e a linha que divide a simpatia da emboscada é tênue, apontam os autores do estudo.

No caso desses povos da Europa do neolítico, período final da Idade da Pedra em que os humanos começam a ficar sedentários e a plantar, arqueólogos têm encontrado com frequência restos de humanos vítimas de violência.

"Tem ficado muito evidente que a aniquilação de unidades sociais inteiras em massacres foi característica crucial da vida pré-história. Era, aliás, a estratégia de guerra mais poderosa", escrevem os autores.

CONSEQUÊNCIAS

Se os arqueólogos estiverem certos, há impactos na história e até na filosofia.

No primeiro caso, seria errado o senso comum de que o mundo nunca foi tão violento. Mesmo com guerras mundiais e bombas atômicas, a taxa de homicídios seria bem mais elevada em sociedades tribais –pense que, se dez pessoas são mortas em um grupo de 50, proporcionalmente é como se 40 milhões de brasileiros morressem de uma vez.

Na filosofia, estaria errada a ideia de Rousseau (1712 - 1778) de que o homem é naturalmente bom, mas acaba degenerado pela sociedade. "O conceito de bom selvagem não é científico", diz Meyer à Folha. "Temos firme evidência de que a violência sempre foi parte do repertório humano."

Também argumentam nessa linha pesquisadores como Napoleon Chagnon (autor de "Nobres Selvagens", publicado neste ano pela Três Estrelas) e Steven Pinker ("Os Anjos Bons da Nossa Natureza", Companhia das Letras, 2013).

Arqueólogos vivem encontrando, entre resquícios de povos primitivos, armas como porretes, pouco úteis para a caça, mas muito adequados para bater no outros.

"Por décadas, 'antropólogos da paz' negaram que humanos já tivessem sido canibais, mas indícios em contrário se acumulam", escreve Pinker, citando proteína humana encontrada em cacos de panela. "Condenação certa."

Desse ponto de vista, a pergunta não é o que leva as pessoas a atacarem as outras –ficam assim absolvidas a televisão, os jogos violentos, a decadência moral, a sociedade opressora. A questão é o que faz com que as pessoas não se agridam. Afinal, de alguma forma os terríveis vikings acabaram dando nos bonzinhos dinamarqueses e suecos.

Pinker sugere que a resposta passa pela maior quantidade de redes de reciprocidade, como o comércio, que tornam os outros humanos mais úteis vivos do que mortos –ou seja, não há mudança "moral", mas de interesses.

Ele cita ainda que, em uma sociedade sofisticada, a violência é menos eficiente. Se mato meu colega de trabalho, não fico com seu dinheiro, sua casa nem sua mulher –e ainda vou perder o emprego e provavelmente ser preso.

Ser preso: "Quando eu era adolescente no pacífico Canadá, nos românticos anos 1960, ridicularizava a ideia dos meus pais de que o caos ocorreria se o governo abrisse mão das armas", escreve Pinker.

"Mas, quando a polícia de Montreal entrou em greve em 17 de outubro de 1969, já de manhã um banco foi roubado, ao meio-dia as lojas fecharam por causa de saques e taxistas incendiaram uma locadora de limusines que competia com eles no aeroporto. Tiveram de chamar o Exército."

O psicólogo cita Winston Churchill, que sucedeu a Neville Chamberlain, pacifista primeiro-ministro britânico que fez concessões a Hitler: "A história humana é a guerra. Exceto por breves e precários intervalos, nunca houve paz; bem antes de a história começar, o conflito assassino era universal e interminável".
 
O tal do Pinker é linguista e psicólogo não? Creio que essa pesquisa seria um trabalho mais para demógrafos, estatísticos, historiadores, geógrafos, etc...Se o mundo vem ficando mais pacífico nos últimos 500 anos os 60 milhões de mortos na SGM, por exemplo, foram o que? Aberrações estatísticas? Colonialismo, neocolonialismo, totalitarismos...Enfim, sobre esse estudo, parafraseando o P.Francis; "não li e não gostei"...Hehehehe.

Um tipo de pensamento que me aborrece sobremaneira é esse de que escrutinando o passado é possível prever o futuro. Podemos até ter subsídios pra traçar cenários possíveis através da análise histórica (sem dúvida uma grande ferramenta) mas esse salto lógico que diz; "a humanidade sempre foi violenta, logo sempre será" é simplesmente besteira, futurologia barata. Tenho ojeriza dessa coisa de "natureza humana". Pensadores que apelam de forma hermética a esse conceito desobrigam-se de realizar um trabalho realmente crítico e científico pois já partem de bases pré-estabelecidas subjetivas. Uma das poucas palavras que podem ser utilizadas de forma tão abrangente sobre a humanidade é heterogeneidade.

Não somos à priori nem "terríveis vikings" nem "suecos e dinamarqueses bonzinhos" (escrevem qualquer coisa na Folha mesmo né? Caraio...) temos sim é padrões sócio-comportamentais variados, grandes limitações e infinitas potencialidades.
 
Se o mundo vem ficando mais pacífico nos últimos 500 anos os 60 milhões de mortos na SGM, por exemplo, foram o que? Aberrações estatísticas? Colonialismo, neocolonialismo, totalitarismos...

Sessenta milhões de mortos em quantos? Isso em um período de seis anos.

A questão não é a quantidade, mas as probabilidades.

Pense em quantos conflitos entre dois grupos de caçadores coletores com 25 pessoas cada um, disputando território, podem ocorrer nesse período. E quantos morrem.

Ou nos hebreus invadindo Israel (o que provavelmente não foi do modo como está contado na Bíblia, mas ...), capturando cidade após cidade e passando os ocupantes rendidos no fio da espada. Como?
 
Pense em uma pilha de 25 cadáveres. Agora pense em uma montanha de 60 milhões.
 
Pense em uma pilha de 25 cadáveres. Agora pense em uma montanha de 60 milhões.

Mas enquanto a população estiver crescendo a pilha só vai aumentar.

Dê uma olhada nisso: https://pt.wikipedia.org/wiki/Crescimento_populacional

Veja que levamos de 100.000 anos a.c a 1.800 e poucos para chegarmos a um milhão de indivíduos. E depois a população dispara cada vez mais rápida. Guerras, fome e doenças no nosso passado limitaram o crescimento?

O dilema populacional é difícil de abordar.
 
Última edição:
Tem muito a ver com densidade demográfica também né Equador, domínio da agricultura, surgimento das primeiras civilizações....

Mas continuo achando totalmente subjetivo dizer que o Mundo está menos violento nos últimos 500 anos. A violência também deve ser ponderada de acordo com o nível "filosófico" e científico da humanidade. Que os trogloditas do paleolítico fossem violentos é mais compreensível do que o homem contemporâneo, e mesmo que a proporcionalidade aponte para uma suposta pacificação grandezas como 60 milhões de mortos em 6 anos são bem incompatíveis com os tais "anjos bons".
 
A violência também deve ser ponderada de acordo com o nível "filosófico" e científico da humanidade.

Creio que introduzir um fator desses é que é querer tornar o assunto subjetivo.

Pinker trabalha com dados numéricos.


Que os trogloditas do paleolítico fossem violentos é mais compreensível do que o homem contemporâneo

E o mito do bom selvagem? :D
 
O mito do bom selvagem é tão fantasioso quanto o mito do bom civilizado. :roflmao:

Entendo a questão das proporções que "embasam" o psicólogo mas continuo achando que diante das grandezas a proporção não é suficiente para otimismo. Que evento, que gurra, neolítica teve um impacto tão grande em relação à população mundial da época quanto a SG para a população na década de 30 e 40? 60 milhões para algo como 2 bilhões e tanto...
Penso que levando em conta todos os aspectos o mundo segue violento como sempre foi.
 
Que evento, que gurra, neolítica teve um impacto tão grande em relação à população mundial da época quanto a SG para a população na década de 30 e 40?

É claro que no neolítico não houve uma guerra mundial, pois as pessoas nem tinham como se organizar para isso.

Mas a que tipo de impacto você está se referindo, proporcional ou número de mortes total?
 
Me refiro a relação entre as duas coisas. Mais de 2% da pop mundial morreu num intervalo de 6 anos na segunda guerra. Aqui na AL populações enormes foram praticamente dizimadas durante o "descobrimento". A violência nos últimos 5 séculos ocorreu massivamente em todos os tipos para todos os gostos.

Ainda que uma grande % da população estivesse exposta a violência no decorrer de séculos no neolítico e fosse, como de fato era, um período violento em relação a guerras tribais ainda assim não creio que o homem primitivo nos superasse ou ficasse para trás nesse quesito. Digamos que houvessem 5 milhões de pessoas em 10.000 A.C. 2% seriam 100 mil. Um evento que matasse 100 mil pessoas em 6 anos no neolítico seria demograficamente impossível mas ainda que inúmeras disputas tribais na época, e creio que esse estudo que não li (e Nemlerey) aponta pra isso, matassem ao longo de décadas 300 mil pessoas gerando um impacto pesado na população total em porcentagem, a conclusão de que estamos menos violentos (do que trogloditas yaaay!) necessariamente precisa ser relativizada.

Quero dizer o seguinte: Imagine uma determinada indústria de transformação em que o conjunto de todo o setor na primeira metade do Séc.XX produzisse anualmente 10 toneladas de resíduos químicos e descartasse no meio ambiente 100% desses resíduos. Digamos que com o desenvolvimento e expansão desse setor passassem a produzir atualmente 500 toneladas de resíduos mas por legislação, conscientização, marketing ou o que seja, tal setor tenha passado a conseguir despejar no meio ambiente apenas 10% de seus resíduos. Se por um lado antigamente 100% dos resíduos fossem descartados e atualmente apenas 10% ainda assim na prática as 10 toneladas passaram para 50. Que período foi mais poluidor do meio ambiente? Relativo né?

Creio que como já disse a violência de um homem ou povo que já desenvolveu conceitos morais, éticos, cívicos, enfim...Sem dúvida é pior filosoficamente do que a violência de trogloditas paleolíticos que não possuíam essas ferramentas. Os rituais canibalísticos tupinambás (já que se falou em bom selvagem) por exemplo davam um trato infinitamente mais digno ao inimigo do que as câmaras de gás nazistas, e isso não significa que fazer um churrasco com um prisioneiro de guerra seja algo bacana e aceitável. Pinker como psicólogo deveria mais do que qualquer demógrafo fazer essa ponderação.

Mas quando faço essas colocações também não quero naturalizar a violência e descartar a possibilidade de que é plenamente possível evoluirmos coletivamente e socialmente para nos tornarmos uma espécie pacífica.
 
Desde que li a primeira vez o Livro dos Espíritos, concordei com o que a Doutrina chama de Lei do Progresso, a qual a tese de abertura do tópico corrobora.

Bem, malgrado tanta violência ainda existente, há diversos elementos que, em retrospectiva, já me levavam a inferir a validade daquela Lei do Progresso, pelo qual a Humanidade como um todo sempre caminha pra frente, pra um mundo com mais condições de fazer imperar a Lei do Amor:
  1. Há pouco tempo as pessoas se divertiam indo em praças públicas para verem execuções, enquanto hoje em dia isto nos repugna a consciência;
  2. Se hoje existe tortura por agentes públicos, ela não é mais institucionalizada, ela é contra a lei. Antigamente, era comum não se admitir confissão senão sob tortura;
  3. A condenação ao duelo, que antigamente era aceito e hoje é tido como ato bárbaro.
Tem outros...

Bem o progresso existe, de fato. Aqui e ali há situações que parecem passos pra trás, mas no geral a Humanidade segue em frente, passo a passo, esforço a esforço, e não volta atrás.

O fundamento que possibilita tal progresso é a razão, que transpassa crenças e concilia interesses, no que o ser Humano sem querer vê que cria melhores condições de ser feliz e depois passa a valorizar o esforço da paz em si. No que em especial gostei deste trecho:

Ainda que a razão não se comporte exatamente da forma que os "philosophes" a idealizaram e descreveram, parece incontestável que ela esteja no centro de nossas melhores realizações.

A razão é uma das maiores ferramentas do amor, senão a maior.
 
Última edição:
Atrocidades têm por todo lado.. Violência psicológica, isso sem falar da violência doméstica, violência racial ou religiosa, dos bullyings da vida, das tiranias em nome do poder ou, do que é pior ainda: em nome do status, do machismo ou de mentes psicopatas, mentes que manipulam..

A violência só está melhor camuflada, ao meu ver.. Enquanto suas facetas se desdobram em infinitas ramificações da psique humana..
 
Última edição:
Fala de abertura de Steven Pinker no Munk Debate sobre o progresso da humanidade

http://www.bulevoador.com.br/2016/09/o-mundo-esta-melhorando/

Colegas canadenses, cidadãos do mundo: eu pretendo convencê-los de que os melhores dias da humanidade estão por vir — sim, convencer.

Declinistas [pessimistas] falam de uma ‘fé’ ou ‘crença’ no progresso, mas não há nada aqui baseado em fé.

A nossa compreensão da condição humana não deve ser baseada em mitos sobre a queda do Éden ou sobre uma ascensão à utopia, nem sobre genes para um temperamento iluminado ou sombrio, nem com que pé vocês levantaram da cama esta manhã. E não deve vir das manchetes dos jornais — os jornalistas informam acidentes de avião, não aviões que decolam e pousam. Enquanto as coisas ruins não tiverem desaparecido da face da terra por completo, sempre haverá o bastante delas para preencher o noticiário, e as pessoas vão acreditar, como fizeram por séculos, que o mundo está caindo aos pedaços.

Não, a única maneira de entender o destino do mundo é com fatos e números. Ou seja, pôr em gráficos os episódios de coisas boas e ruins ao longo do tempo — não apenas para lugares encantados como o Canadá, mas para o mundo como um todo — ver por qual caminho as linhas do gráfico estão indo, e identificar as forças que as estão dirigindo. Permita-me fazer isso para dez das coisas boas da vida.

Primeira, a própria vida. Um século e meio atrás, a perspectiva humana de vida era de 30 anos; hoje é de 70, e não mostra sinais de estabilização.

Segunda, a saúde. Dê uma olhada em varíola e peste bovina na Wikipédia; as definições estão no pretérito: varíola foiuma doença, indicando que duas das maiores fontes de miséria na existência humana foram erradicadas para sempre. O mesmo irá em breve ser verdade para a poliomielite e dracunculose, e atualmente estamos dizimando ancilostomíase, malária, filariose, sarampo, rubéola e bouba.

Terceira, a prosperidade. Dois séculos atrás, 85% da população mundial vivia em condições de extrema pobreza. Hoje isso foi reduzido para 10%, e, de acordo com a ONU, em 2030 poderia chegar a zero. Em todos os continentes as pessoas estão trabalhando menos horas e podendo pagar mais alimentos, roupas, iluminação, lazer, viagens, telefonemas, dados e cerveja [risos da audiência].

Quarta, a paz. A mais destrutiva atividade humana — a guerra entre nações poderosas — está se tornando obsoleta. Os países desenvolvidos não travaram uma guerra por 70 anos, as grandes potências por 60 anos. As guerras civis continuam a existir, mas elas são menos destrutivas do que as guerras entre Estados, e há menos delas. Este broche [aponta seu broche] é uma lembrança de uma viagem no início desta semana à Colômbia, que está em processo de terminar a última guerra no hemisfério ocidental. Globalmente, a taxa de mortalidade anual em guerras tem estado em um acidentado declínio, de 300 [mortes] por 100.000 [habitantes] durante a Segunda Guerra Mundial, para 22 em 1950, 9 na década de 70, 5 na década de 80, 1,5 na década de 90 e 0,2 nos 00. Mesmo a terrível Guerra Civil na Síria apenas moveu os números de volta para onde eles estavam nos anos 2000.

Quinta, a segurança. As taxas globais de crimes violentos estão em queda, em muitos lugares vertiginosamente. Os principais criminologistas do mundo têm calculado que, dentro de 30 anos, podemos reduzir a taxa mundial de homicídios pela metade.

Sexta, a liberdade. Apesar de recaídas neste ou naquele país, o Índice de Democracia Global está em um ponto alto jamais igualado. Mais de 60% da população do mundo vive agora em sociedades abertas — a mais alta percentagem já atingida.

Sete: conhecimento. Em 1820, 17% das pessoas tinham uma educação básica; hoje 82% a tem, e a percentagem está rapidamente se dirigindo a 100.

Oito: direitos humanos. Campanhas globais em andamento têm como alvo o trabalho infantil, a pena de morte, o tráfico de seres humanos, a violência contra as mulheres, a mutilação genital feminina e a criminalização da homossexualidade. Cada uma tem conseguido progressos mensuráveis, e, se a história serve de guia, esses costumes bárbaros vão seguir o mesmo caminho do sacrifício humano, canibalismo, infanticídio, escravidão [chattel slavery], queima de hereges, execuções de tortura, enforcamentos públicos, servidão por dívidas, duelos, haréns, eunucos, circos de horror [freak shows], pés-de-lótus, rir dos loucos [laughing at the insane] e o chamado ‘goon’(*) no hóquei [risos].

*Goon, como o Google define, é “um valentão ou bandido, especialmente um contratado para aterrorizar ou acabar com a oposição”.

Nove: equidade de gênero. Dados globais mostram que as mulheres estão ficando mais instruídas, se casando mais tarde, ganhando mais e em mais posições de poder e influência.

Finalmente: inteligência. Em cada país o QI tem aumentado em três pontos por década.

Então, qual é a resposta dos pessimistas para todas essas deprimentes boas notícias? [risos]. É: “Apenas espere — a qualquer momento uma catástrofe irá interromper esse progresso ou colocá-lo em marcha à ré”. Mas, com a possível exceção de guerra, nenhum destes indicadores está sujeito a caóticas idas e vindas [bubbles and crashes] como o mercado de ações. Cada um é gradual e cumulativo, e coletivamente eles se reforçam mutuamente. Um mundo mais rico pode se dar mais o luxo de cuidar do meio ambiente, policiar suas gangues e ensinar e curar os seus cidadãos. Um mundo com mais educação e mais mulheres no poder irá favorecer menos autocratas e começar menos guerras estúpidas. Os avanços tecnológicos que impulsionaram esse progresso só vão acelerar, a lei de Moore está se mantendo, e a genômica, neurociência, inteligência artificial, ciência de materiais e políticas baseadas em evidências estão progredindo em disparada [skyrocketing].

E quanto às distopias da ficção científica? A maioria delas, como ciborgues furiosos e pragas de nanorrobôs, são inteiramente fantasiosas e seguirão o mesmo caminho do Bug do Milênio e outros tolos tecnopânicos. Duas outras são sérias, mas solucionáveis:

Apesar das profecias de uma III Guerra Mundial termonuclear e de terrorismo ao estilo de Hollywood, lembre-se de que nenhuma arma nuclear foi usada desde Nagasaki; a Guerra Fria acabou; 16 países desistiram dos programas de armas nucleares, incluindo, este ano, o Irã; o número de armas nucleares foi reduzido em mais de 80%; e um acordo global de 2010 bloqueou armas nucleares e material físsil. Mais importante, o mundo talvez só precise estender a sua paz de 70 anos em mais algumas décadas — um roteiro para a eliminação gradual de todas as armas nucleares foi aprovado, em princípio, pelos principais líderes mundiais, incluindo os da Rússia e Estados Unidos.

A outra ameaça é a mudança climática. Este pode ser o problema mais duro da humanidade, mas os economistas concordam que é um problema solucionável. Um imposto global sobre o carbono iria incentivar bilhões de pessoas a economizar, inovar e mudar para fontes de energia de baixo carbono, enquanto P&D [pesquisa e desenvolvimento] acelerado nas energias renováveis, a quarta geração de energia nuclear e a captura de carbono reduziria os seus custos.

Será que o mundo irá ignorar essas soluções de forma suicida? Bem, aqui estão três títulos da revista Time a partir de apenas o último mês: “A China mostra que leva a sério a mudança climática”; “Walmart, McDonald’s e 79 outros se comprometem a combater o aquecimento global”; e “A negação da mudança climática, entre americanos, atinge seu recorde de baixa”.

Um mundo melhor, com certeza, não é um mundo perfeito. Como um notório defensor da ideia de “natureza humana”, acredito que a partir da madeira torta da humanidade nada de realmente reto pode ser feito e, para mal citar uma grande canadense, “Nós não somos poeira das estrelas, não somos de ouro, e não há nenhuma maneira de voltarmos ao Jardim”(*) [risos].

*A cantora Joni Mitchell, na música Woodstock [que refere o famoso festival de contracultura de 1969, anunciado como Uma Exposição Aquariana: 3 Dias de Paz & Música], canta: Somos poeira das de estrelas / Somos de ouro / E devemos nos levar / de volta para o Jardim. Claro, o Jardim do Paraíso, o Éden.

No glorioso futuro que eu estou vislumbrando, haverá doença e pobreza, haverá terrorismo e opressão e guerra e crimes violentos, mas haverá muito, muito menos desses flagelos, o que significa que bilhões de pessoas estarão em melhor situação do que estão hoje. E isso, eu quero lembrá-lo, é a resolução do debate desta noite.

Original (transcrição): http://www.intelligentoptimism.com/#!blank/vp9lg

Munk Debates
 
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