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Minha experiência com Amanita

morpheu

Cogumelo maduro
Membro Ativo
01/05/2013
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Essa experiência que vou relatar ocorreu há mais ou menos uns 2 anos, mas só agora decidi fazer um relato dela pra alguém ler.

Uma ou duas semanas antes dela eu já havia tido meu primeiro contato com o cogumelo, no qual consumi uma pequena quantidade dele seco. Não sei quanto foi porque não pesei, mas imagino que não mais que 10 gramas, talvez uns 5. Foi parecido com um LSD fraco, mas melhor, me deu uma sensação de paz sem nenhuma distorção visual, um relaxamento no corpo, enfim, foi uma experiência boa.

Na minha segunda experiência, consumi uma quantidade maior, talvez mais que o dobro da primeira, creio que deva ter ficado entre uns 10 ou 15 gramas, por aí. Nesse dia havia acordado cedo, comido algumas coisas, tomado um banho, e por fim comi o pedaço de Amanita, pus na boca e fui mastigando até virar uma gosma e engolir. O gosto é horrível.

Então saí em direção a uma praça bem tranquila perto do bairro onde eu moro. No caminho começou a garoar. Na minha direção vinha vindo uma garota, ela passou por mim me secando. Eu pensei que o cogu já devia ter batido e eu devia estar com uma cara feia e andando de um jeito estranho, por isso ela ficou me olhando, mas eu tava sentindo no máximo um sono. Fiquei embaixo de uma cobertura de uma igreja que tem na praça enquanto chovia. Quando passou a chuva, fui até a grama da praça, deitei e fechei os olhos. Comecei a pensar que naquele momento minha mãe tava em casa e que ela nem imaginava que eu havia comido cogumelos, depois comecei a pensar nas minhas experiências com LSD, e que em breve eu deveria realizar uma outra. Em algum momento eu ouvi um forte barulho de uma moto passando na rua, e aquilo me incomodou um pouco.

A partir daqui tudo começa a ficar confuso. Eu lembro de tudo apenas em flashes, não sei direito a ordem cronológica desses momentos que permaneceram na minha memória e que irei relatar, nem quanto tempo decorreu entre um e outro, tudo é uma colcha de retalhos na minha mente, talvez por isso o relato fique meio estranho e não linear, mas aí vai.

Uma das coisas de que me lembro é que eu tive a impressão de estar preso dentro de um ciclo, uma espécie de loop infinito que ficava se repetindo, quando chegava ao final ele voltava ao começo e assim ia seguindo circularmente. Eu tive a impressão de que era a história do Universo e do homem. Era estranho, mas parecia que eu via a evolução do homem, ele passando por diversas transformações até chegar em mim, e havia várias etapas dentro dessa evolução, uma das quais, a única que me lembro, era o homem como homossexual. Engraçado que eu não sou gay, nem tenho nada contra, mas eu via isso, e parecia que tudo estava predestinado a se repetir novamente infinitas vezes. Tudo isso acontecia dentro da minha mente. E eu comecei a notar que na verdade eu não estava dentro desse ciclo, eu era esse ciclo.

Teve um momento em que me dei conta de que estava completamente louco. Pensei em levantar e caminhar um pouco pra ver se o tempo passava mais rápido. Enfim, levantei, dei uma volta numas quadras e voltei pra praça, olhei as horas e haviam se passado poucos minutos. Se eu não me engano, voltei a fazer isso inúmeras vezes, sair dar uma volta pelas quadras pra ver se o tempo passava mais rápido, mas sempre quando eu voltava eu percebia que se passava sempre a mesma quantidade de tempo (que era pouca). Aí que me dei conta de que isso era um ciclo ao qual eu também estava preso, como no outro que eu narrei no parágrafo anterior. Eu estava predestinado a ficar dando voltas pela rua e depois voltar pra praça, pra depois sair dela de novo e assim sucessivamente para sempre. Então saquei que eu precisava quebrar esse ciclo. Não sei se o que será narrado no próximo parágrafo foi o que de fato eu vi como solução para quebrar esse ciclo, mas acho que foi.

Eu saí da praça em direção a um bar que tinha ali perto para usar o banheiro. O bar ficava em outra direção da que eu estava usando para sair da praça antes. No caminho comecei a perceber que parecia que as coisas ficavam vindo pra cima de mim, pra onde eu olhava era como se minha visão ampliasse de tal modo o meu campo visual que era como se tudo que eu visse viesse com rapidez em direção a meu rosto, comecei a interpretar isso como portais se abrindo. Realmente, quando tudo vinha pra cima de mim a impressão era de que um portal estava se abrindo na minha visão e na minha mente.

Quando cheguei ao bar, me perguntei o que estava fazendo ali. Aí, de repente, lembrei que eu estava louco. Era como se eu tivesse me esquecido que estava doido e só me lembrasse naquele momento; também lembrei naquela hora que havia comido Amanita e que tudo aquilo era efeito dele, e que eu estava ali pra usar o banheiro. Perguntei pra mulher do bar, uma senhora, onde ficava o banheiro, ela me apontou e lá fui eu. Enquanto urinava percebi que estava tudo muito diferente, as dimensões, os espaços, os tamanhos, o material dos objetos parecia muito estranho. Tentei me olhar no espelho pra ver se minhas pupilas estavam dilatadas, tava muito difícil conseguir enxergá-las, mas tenho quase certeza que não estavam. Acho que depois que saí do bar voltei pra praça.

Uma hora lembrei que havia visto um tópico aqui mesmo no fórum em que foi dito que cafeína talvez cortasse o efeito do Amanita. Eu estava muito louco e, consequentemente, com medo de acabar fazendo alguma besteira. Pensei em comprar algum energético, não que eu tivesse a intenção de tomá-lo, mas se eu simplesmente deixasse ele no meu bolso eu já ficaria mais calmo.

Fui em direção a uma loja de conveniências de um posto ali perto da praça, e perto do bar também. Quando fui pedir para o atendente se tinha aqueles tubinhos pequenos de guaraná, eu comecei a balbuciar umas sílabas desconexas. Era bem difícil conseguir falar. Aí eu me concentrei bastante e finalmente consegui fazer a pergunta. Peguei 2 tubinhos. Acho que ele falou que dava 10 reais, e eu dei 10 reais pra ele. Saí com pressa dali, entrei na nóia de que talvez eu tivesse dado mais do que o que custou e não esperei o troco, ou de que eu dei menos e a qualquer momento poderia vir um segurança ou um policial me cobrar o que fiquei devendo, pensei em voltar na loja mas não voltei, e me dei conta de que estava no caminho errado, e se eu me perdesse estaria louco demais para encontrar o caminho de volta ou pedir informações para uma pessoa qualquer. Dei meia-volta, voltei em direção ao posto e depois em direção à praça.

Lembro que quando passava a mão pelas costas sentia bastante suor, e eu não parava de cuspir, ficava toda hora cuspindo, inclusive um pouco de cuspe sempre acabava caindo na minha roupa.

Dormi por um longo tempo na praça. Acordei e ela estava meio vazia, talvez tivessem todos ido almoçar. Pensei em dar umas voltas por aí, comecei a caminhar para fora da praça. Tive a impressão de que tinha um velho que estava me seguindo na praça, na verdade tenho quase certeza disso, talvez ele tenha percebido que eu estava totalmente alterado e ficou curioso em me observar. Só sei que nem consegui sair da praça, eu tava com tanto sono que acabei deitando e dormindo do lado de um campinho de areia que tem lá na praça. Creio que a maior parte da trip eu passei dormindo em diferentes lugares.

Uma hora eu tava andando por uma rua e um cara saiu de uma empresa e foi andando na minha frente. Do nada eu percebi que podia bater nele por trás, e de fato me vi fazendo isso, mas não o fiz, simplesmente porque não tinha vontade nem motivos para isso. Mas foi muito estranho, foi como se eu tivesse previsto o futuro, mas não o realizado. Fiquei imaginando que nem passou pela cabeça dele que eu pudesse fazer isso e nem jamais passará, e que talvez num universo paralelo eu de fato tenha dado uma pancada nele por trás, e alguém estivesse me mostrando o que acontece num universo paralelo.

Em um ponto da trip eu passei perto de uma casa cuja dona, pelo que me lembro, conversava com uma menina e aparentemente sua mãe que haviam achado um cachorro na rua e tentavam encontrar seu dono. Eu tive a impressão de que se eu tivesse sóbrio eu não conseguiria ouvir a conversa delas, e que foi o Amanita que potencializou minha audição.

Eu estava completamente tonto, mas eu não me sentia tonto. Eu só percebia que estava porque era impossível andar em linha reta, uma hora eu tava na calçada e no passo seguinte eu já tava quase no meio da rua, ia chutando pedras e esbarrando nas coisas sem querer. Não sei como não fui atropelado. Sempre cuspindo de segundo em segundo.

Em algum momento na praça subi numa daquelas bicicletas para os idosos fazerem exercícios e fiquei pedalando um pouco. Depois desci.

Lembrei que eu havia comprado os guaranás e que não tinha certeza se tinha dado o dinheiro certo. Resolvi voltar lá pra perguntar, e aí é que vem o pior. Em vez de ir à loja do posto, eu fui ao bar, mostrei os dois tubinhos pra senhora e fiquei perguntando se estava certo, se era 10 reais mesmo, ela ficou me olhando sem saber o que falar, eu conclui que devia estar certo, me despedi dela e saí de lá esbarrando em tudo que é cadeira e mesa. (Detalhe que eu só fui lembrar disso um ou dois dias depois do ocorrido, porque na hora em que estava no bar eu não lembrava que tinha comprado no posto e depois que saí do bar eu esqueci que estive lá perguntando se os tubinhos eram 10 reais mesmo, só fui lembrar bem depois; até hoje ainda rio disso.)

De volta à praça, dormi mais um monte na grama. Ficava toda hora acordando, cuspia na grama, voltava a dormir, depois acordava, cuspia, e assim ia indo. Ah, estava tendo espasmos nos braços e pernas a todo momento. Uma hora acordei, sentei de pernas cruzadas, tipo em posição de meditação, e fiquei observando a praça. Fiquei embasbacado! Tava tudo diferente, com um aspecto pré-histórico, antigo, glacial, europeu, nórdico, natalino, sei lá. Não sei onde vi esses adjetivos na praça, nem sei na verdade se é possível uma praça ter uma aparência "pré-histórica", "nórdica" ou "glacial", enfim, mas de certo modo foram essas qualidades que vieram à minha mente enquanto eu observava tudo. Eu só fazia contemplar. Parecia haver uma atmosfera fria e mágica em tudo, as árvores pareciam virtuais, feitas de gelo, cristal, vidro, elas pareciam transparentes e ao mesmo tempo não transparentes, pareciam um fantasma, as distâncias estavam totalmente distorcidas, lembrando bastante as triptaminas nesse ponto. Eu comecei a achar que aquilo tudo era um sonho, tamanha beleza e impossibilidade do que eu via. Tirei um tubinho de guaraná e pensei que se eu jogasse no chão e quebrasse aquilo era um sonho, caso contrário não, ou vice-versa; de fato não lembro. Na minha cabeça aquilo fazia sentido. Joguei o tubinho no chão com força e ele não quebrou (era de plástico), voltei a pegá-lo e jogá-lo mais vezes no chão para ver se quebrava. Havia muitas pessoas em volta e eu ficava andando pela praça observando cada detalhe daquele mundo desconhecido. Procurei o outro tubinho no bolso e não encontrei. Procurei no chão pra ver se o tinha perdido e não achei (só fui encontrá-lo alguns dias depois no meu bolso). Enfim, minha visão estava aguçadíssima, tudo parecia irreal, onírico, belo demais pra ser verdade. E eu poucas vezes me senti tão bem, tão lúcido, tão vivo como naquele momento.

Tava tendo uma missa na igreja da praça; eu entrei lá, fiquei um tempinho na porta observando, depois saí. Após um tempo comecei a perceber que os efeitos estavam diminuindo, embora ainda estivessem fortes. Resolvi voltar pra casa. No caminho, sentei em um banquinho perto de um mercado. Fiquei olhando o mercado e vi umas mulheres perto da grade saindo de lá e provavelmente indo entrar no mercado. Não resisti e fui até onde elas haviam estado e fiquei ali, do lado de fora da grade contemplando o nada. De certa forma eu estava sentindo uma empatia por tudo e por todos. O simples fato de observar o que quer que seja já me causava um bem-estar enorme.

Quando cheguei em casa, capotei na cama e dormi, tive sonhos muito vívidos, os quais eu não lembro direito, mas acho que tinham algo a ver com black music. Às vezes acordava mas voltava a dormir. Finalmente uma hora acordei e já não sentia mais os efeitos. Nos dias seguintes, acho que por mais de uma semana, sentia repentinamente durante o dia que a minha mente estava diferente do habitual. Não era algo bom, nem ruim, apenas sentia-a diferente, como se meus pensamentos em uma questão de segundos dessem uma reviravolta e depois voltassem ao normal.

Como podem ver, o meu relato é um apanhado de partes isoladas da experiência, pois simplesmente não consigo estabelecer uma ligação e uma ordem entre muitas delas, devido à confusão que o Amanita dá. A grande quantidade de expressões como "acho", "talvez", "não lembro direito", "não tenho certeza" é devido ao fato de que a confusão mental e a amnésia eram tão grandes que tudo me aparece muito incerto e pouco nítido, e há também os quase dois anos transcorridos desde a experiência até hoje. Falam tanto da relação dos Amanitas com os sonhos, e na minha opinião a trip do Amanita é muito parecida com um sonho. Muitas vezes não conseguimos lembrar de nossos sonhos, outras lembramos superficialmente ou apenas de algumas poucas partes, ou lembramos um bom tempo depois de acordar, quando algo da realidade nos faz relembrar do sonho, ou ainda lembramos perfeitamente quando acordamos, mas no final do dia já o esquecemos completamente, sendo poucos os sonhos que nós realmente conseguimos lembrar pra sempre. Assim também foi a minha trip com Amanita, são poucas as coisas que me lembro dela, algumas eu nem tenho certeza se de fato aconteceram, outras eu só fui conseguir lembrar muito tempo depois da experiência terminar.

Há também os sentimentos que são impossíveis de descrever, que muitos de vocês devem conhecer bem. Obviamente o que eu relatei foi a parte mais comunicável da experiência, pois existem certas coisas que a linguagem não exprime, e muitas dessas coisas me foram proporcionadas pelo Amanita. Embora talvez pelo relato não pareça, essa foi sem dúvida uma das experiências mais fortes, marcantes e belas da minha vida, senão a mais. Isso vindo logo de uma dose não considerada alta de um enteógeno que muitas vezes não faz efeito, e quando faz é descrito muitas vezes como sendo fraco ou não muito agradável. É uma pena que tantas pessoas não consigam ter acesso ao mundo do Amanita. Mas enfim, é isso.
 
Um belo relato.

Me deu saudade de algumas ocasiões em que eu tive trips fortes assim, em público... Conheço o drama, de tentar tomar um café ou comprar algo para comer, com o mundo diferente e o tempo passando devagar :LOL:

Mas hoje em dia eu mesmo não recomendo fazer isso, a ninguém. Cogumelo pode ser muito caótico, fica tão mais difícil quanto mais gente tem por perto.

Como disse Alice: não há lugar como o nosso lar! ;)

Paz e luz.
 
Ótimo relato, tive essa sensação de loop também quando tive minha experiência com os cubensis.. engraçado que a parte que eu lembro da minha era a vinda de Jesus.. kkk muito confuso também.

salve!
 
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