Falta menos de meia-hora pro fim das 6 horas de viagem, então ainda estou sob influência, mas naquele ponto em que finalmente volto a ter fome - então definitivamente já devo estar quase aterrizando. A
trip foi fantástica, e o ponto-chave dela foi uma superação em relação ao silêncio, que me parecia impossível a curto prazo. Ao fim do álbum
Animals (que tocou depois de
The Wall), eu parei o som e ouvi a cidade. Ela estava em silêncio, pela primeira vez em dois anos, eu finalmente estava em silêncio com a minha mente. Podia sentir tudo à volta conectado, as ruas... E ao mesmo tempo tudo parecia "aquático", como se ondas da realidade chegassem a mim e o ar se tornasse água, e numa espécie de radar eu podia sentir tudo que acontecia. E parecia que naquele momento o bairro simplesmente estava em silêncio, algo que naquele momento me soou como um sinal de reconhecimento aos eventos passados, um pouco de respeito a alguém que só quer seguir em frente e fazer do mundo um lugar melhor.
Esse silêncio pra mim foi a primeira parte da cura de um
stress pós-traumático de certos eventos, que já não me cabe mais comentar. Quero apenas deixar registrado o começo da cura, e a curta citação do mal só serve como referência para o bem que veio depois. Em mais de um ano, foi a primeira vez que experimentei o silêncio, que sem um som alto nada ouvi, nada minha mente produziu, nem tampouco senti vibrações vindo de fora pra mim. Pude finalmente me jogar aliviado sobre a cama, enquanto aguardava a autorização pra continuar pro próximo álbum.
Deitado, pude então respirar, no silêncio, e finalmente tive a sensação de êxtase absoluto simplesmente por respirar! Aquela primeira inspiração no silêncio, totalmente focado em mim, foi vivenciar plenamente apenas o ato de respirar - e mais nada. A sensação orgásmica de estar vivo enquanto o ar passava pela minha garganta e chegava aos pulmões simplesmente ficou plasmada na minha cabeça, e não será esquecida.
Fiquei então um tempo, não sei quanto tempo, ali naquele silêncio, depois de autorizado pelas minhas entidades a seguir pro próximo álbum. Eu quis aproveitar finalmente minha mente calma, minha energia calma, pela primeira vez em um, dois anos?.. Havia silêncio, dentro e fora de mim. Isso pra quem conviveu com o que convivi nos últimos dois anos foi a maior das recompensas. Algo tão simples, quanto o silêncio, valia mais que ouro. E eu fiquei daquele jeito um tempo... Não tinha pensamento vindo de dentro, nem de fora... Não meditei sobre nada na minha vida... Não! Aquele momento era um êxtase e valioso por si mesmo: eu finalmente voltava a escutar o silêncio, e isso era a razão pra uma felicidade indizível.
Como resultado, quando voltei às músicas, o volume então abaixou, não precisava mais tapar o barulho lá fora. Isso me deu uma experiência mais tranquila de certa forma. Mais suave. E assim cantei
Dark Side of The Moon, e finalizei na delícia de
Wish you Were Here.
Agora, algumas considerações pontuais sobre a experiência...
Primeiro, enquanto eu estava deitado na cama por quase duas horas, correu tudo sem problemas. Mas, quando resolvi levantar... Enfim, o resultado foi que durante uns 15-20 minutos pareceu que estava com uma sudorese absurda, que o mundo ia cair, que me faltava ar, água, nutrientes... Tudo na verdade porque eu saí de uma postura física e fui pra outra. E acredito que isso explique alguns dos desmaios que vêm sendo relatados recentemente aqui no fórum. Em experiências mais profundas, essas mudanças súbitas na circulação (deitado pra em pé em especial) podem ter efeitos relativamente alongados, e só causar desmaios depois de alguns minutos após se levantar.
Segundo, estabeleci um novo princípio da psicodelia, pra mim: tome sempre as decisões mais simples sobre mudanças no
setting (Princípio do Menor Esforço). Simples assim. No caso, eu estava no silêncio, desliguei tudo que fazia barulho, mas o computador ainda estava ali, com sua ventoinha, felizmente fazendo pouco barulho. Naquela hora a vontade era desligar tudo, mas a questão é que isso traria complicações demais: desligar pra curtir um silêncio e depois tornar a ligar, ia fazer uma quebra na cadeia do "aproveite o momento do silêncio" para executar as ações, em especial no retorno à música. Se eu ainda estivesse numa casa no meio do mato, em que de fato não houvesse carros, motos lá fora, aí teria chance de chegar num silêncio supremo. Mas naquele momento, era o melhor que podia, e a experiência seguiria depois com música, como programado. Enfim, mudar demais o
setting do planejado costuma com frequência se transformar numa troca-troca de cenário sem fim, a ocupar a viagem mais que a viagem em si mesma. Só mexa no que seja fundamental, e de preferência que não dê problemas depois pra voltar ao planejado, em especial no pico. Ou vai ter que descer das estratosferas celestes para aguardar o
login do
Windows...
Terceiro, esse chá-rope (com mel) mantido no
freezer por 5 meses me deu uma viagem digna de um chá feito no mesmo dia! Digo que demorou a bater, a ponto de eu começar a me questionar se a psilocibina não tinha ido embora quando a água tinha evaporado praticamente toda na panela. Mas, quando veio... veio com força, e eu me senti numa viagem muito profunda, com sentimentos sendo vazados e arrancados de mim, ódios e rancores, medos, e tudo mais... Era bem o que queria, praticamente eu esmagado pelo meu fluxo de sentimentos - cheguei a morrer algumas vezes. Lembro de um dos berros-grunhidos que dei em
Dogs, que foi arrancado do âmago da minha alma.
Quarto, possibilitado pelo retorno ao silêncio... Sei que ao fim do quarto e último álbum, minha esposa tinha chegado a uma casa com um som ameno. Terminou o álbum, peguei meu violão, toquei também minha gaita. Então fui pro banho, onde me deixei lavar. Mas ainda com 5 horas após a ingestão, os efeitos visuais permaneciam. Fui pra fora da casa, pro fundo, onde vi a natureza, e desfrutei novamente do silêncio e da paz do silêncio. Fiquei ali meditando e olhando pra uma árvore que sempre lembro de uma noite há 16 anos atrás, nas primeiras vezes que fumei maconha, onde via formas humanas como espíritos vindo na minha direção - como miragem das folhas. Ali de certa forma retomei sentimentos de esperança, de significado. Foi quando olhei para um amontoado de elásticos que fiz para fechar o
insulfilm de um balde
terrário xuxa de meu último cultivo (diário a ser aberto)...
--> elásticos metafóricos
Nessa hora adotei uma metáfora. Cada elástico separado é muito menor, e eles juntos eram capazes de algo muito maior. Mas em algum ponto haveria um nó diferente, ou algo que servisse pra fechar esse círculo de força - possibilitando que as condutas individuais se somassem numa conduta coletiva benéfica. E eu me vi ali como aquele "amarrador de pão de forma", responsável por unir, e que se eu me desfizesse, não haveria como as partes menores se somarem. Também observei como nunca fui capaz de ser um líder, porque simplesmente não consigo fazer as pessoas agirem junto, e agir eu sozinho é uma espécie de "até boa-ação", mas se não há uma mudança na postura coletiva, então não houve melhoria, eu falhei - então nunca liderei, pois não houve ganho consistente ao coletivo.
Foi também quando notei que não senti raiva ao fim desta viagem. Olhei para os elásticos e parece que ali tive um tipo de resposta para a minha pergunta a Deus: "por que ajudar as pessoas se elas parecem tão cheias de desamor umas pelas outras, e se elas até hoje jogam aqueles que as ajudam na fogueira, e salvam seus algozes, bem do mesmo jeito que fizeram com Jesus e Barrabás... Por quê?" E a resposta não veio de outra forma senão me apontando meu papel, aprendendo a superar as aparências das limitações dos elásticos, unindo-os em torno de algo maior, para que eles possam cumprir o melhor de si. Eu pude novamente sentir o amor e a esperança que há dentro de cada pessoa, o lado bom delas. E vi que se eu desistir de tentar fazer do mundo um lugar melhor, o anel de elásticos do amor que cabe a mim cuidar não se fechará. E aí não darei aos elásticos a chance de serem o melhor que podem - e ainda vou acusá-los de serem tão fracos individualmente.
Por fim, apenas entendi que devo de fato prosseguir para meu próximo concurso, e aprender o que é necessário para ser um líder pelo bem de todos, e não um chefe em nome de uma causa - com o perdão de adotar estes termos (líder/chefe) da ciência da Administração, que não é a minha área.