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mountainee
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Estava vendo uns documentos no computador e achei esse texto que fiz na minha terceira experiência com cogus e queria postá-la aqui. O texto é original, com exceção dos últimos dois parágrafos para concluir o texto...
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Devo dizer que a experiência foi muito gostosa.
Era uma segunda-feira. Acordei cedo e fui à faculdade ler algumas lâminas de um pequeno experimento que tinha feito na semana anterior. Depois, aproveitei a última parte da manhã com meus amigos: almoçamos juntos e ficamos conversando até que cada um seguiu sua direção. Eu não tinha mais nada para fazer o dia todo e o dia estava lindo; depois do almoço o céu ainda estava azul e sem nuvem nenhuma.
Havia um pasto ali perto da universidade. Decidi me aventurar até lá para ver se achava um coguzinho, mas estava com poucas esperanças de encontrá-los. Isso porque tinha chovido há muitos dias e achei que os coguzinhos que frutificaram já tinham cumprido seu dever e não mais existiam.
Entrei no pasto e logo de longe vi uma colônia de cogus grandes e brancos. Corri até eles, pensando que este seria o dia de maior sorte que eu tinha tido, mas mesmo antes de chegar muito perto, sentia/sabia que não eram eles... eram de outra espécie.
Meio decepcionado, continuo com a procura. Novamente achei aqueles cogus brancos não-azuis e depois de novo. Já estava desistindo. A estação era daquela espécie de cogu e não de psilocybes.
Quando, de repente, vejo dois cogumelos em uma bostinha de cavalo. Eu SABIA que eram eles, e isso foi o mais impressionante... Meus olhos se encheram de felicidade e baixei para examinar a dupla sertaneja já sabendo que se tratavam dos azuis. O teste de cianidificação foi mera formalidade. Me surpreendeu, numa análise mais cuidadosa, que tinha-os achado em bostinhas de cavalos e não de vacas, contrariando o que tinha sempre ouvido falar.
Ansiosamente, levei os cogumelos até o laboratório de meu professor de micologia. Eu tinha perguntado havia algumas semanas como eram as características do Psylocibe cubensis, e ele, muito gentilmente, me falou delas e como diferenciar as espécie comuns da região. Ele disse que, pessoalmente, nunca tentou e nem quer tentar pois diz já ser muito velho para isso. De certa forma, ele na verdade pensa que os cogumelos tem um efeito embriagante como o álcool, só que bem forte. Mesmo assim, ele foi muito simpático nas vezes que fui lá. Na despedida me pediu para depois contar a ele como tinha sido minha experiência. Quem sabe um dia eu conto...
Fui o mais rápido possível para casa e fiz um carimbo de cada coguzinho para remover os esporos. Eles parecia ser de uma cepa diferente dos que eu havia encontrado lá antes, que eu desconfiava ser Golden Teacher ou algum muito parecido.
Essa seria minha experiência mais forte até aquele momento. Mesmo assim eu esperava que o efeito fosse ainda considerado fraco, visto o tamanho tão mediano dos cogus. Decidi que tentaria seguir um ritual asteca para comê-los, ou seja, estaria de jejum e só tomaria chocolate quente enquanto os comia (no final foi chocolate quente e umas barrinhas de Diamante Negro). O horário estava complicado: eram 17h e na casa estavam minha mãe e vó. Se a dose fosse forte e eu passasse mal, não queria que elas me vissem até eu me recuperar.
Depois de pensar muito, decidi começar o ritual às 04h (da manhã). Parecia-me o horário perfeito pois todos estariam dormindo profundamente e eu teria dois momentos de experiência: uma parte escura e uma parte clara, e bem no meio delas, eu veria o nascer do sol. Não há nada melhor do que o nascer do sol visto de minha janela.
Antes de ir dormir,arrumei o quarto com um aquecedor (não queria ter que ficar usando roupas pesadas, era julho - estava frio) e deixei vários objetos que eu acho legais e que significam alguma coisa para mim alí perto. Escolhi um cobertor que eu gosto muito, cheio de estampas de cores quentes e fiz algumas playlists para minha viagem. Por último, tirei do guarda-roupa um kimono, aquela vestimenta tradicional japonesa, que eu tinha ganhado de um amigo lá no Japão. O kimono tinha pertencido ao avô dele, então é uma roupa muito especial para mim eu queria usá-lo durante a experiência, assim como Albert Hoffman e seus colegas fizeram em uma experiência com psilocibina relatada no livro dele.
Acordei às 03h e fiz uma caneca bem grande de chocolate quente bem forte. Liguei o aquecedor no máximo e sentei na minha mesa e arrumei a tigela com os delicados cogumelos. Então o ritual começou.
Como eu calculava entre 40 minutos e uma hora até que os cogus começassem a fazer efeito, decidi me distrair nesse intervalo para escrever uma carta para uma amiga da Austrália. Assim não cairia no sono e ela iria adorar ouvir o relato daquele momento, pois ela é super hippie dos anos 60 e me contou como foi quando ela foi comer aquele cogumelo vermelho do mário e usou LSD...
Depois de mais ou menos meia hora da primeira mordida, senti uma leve mudança. Continuei a escrever a carta, sabendo que deveria terminá-la logo, antes que o efeito começasse. Estava muito ansioso paa ver o que aconteceria... Queria aproveitar o efeito. Depois de mais 20 minutos, terminei de escrever. Já conseguia sentir um tremor forte, um relaxamento e a visão um pouco mais suave. Mais tarde cheguei a conclusão de que o tremor era causado pela minha força em tentar lutar contra a sensação de relaxamento e preguiça gostosa que entrava no meu corpo, era a luta da minha consciência em continuar a apreender a realidade da forma como eu estava acostumado e não da forma diferente que a psilocibina estava me induzido.
Estava com medo de deitar na cama e dormir e perder os efeitos, então fui para a cozinha fazer café enquanto escutava música no fone de ouvido. Estava escutando algumas músicas de tema triste. Quando vi, estava me afogando em lágrimas na cozinha enquanto passava o café. Estava extremamente emotivo, mas não triste de verdade. Pelo contrário, o choro era de felicidade. No silêncio entre uma música e outra, ria do meu próprio estado emotivo lamentável. Ainda bem que não tinha ninguém acordado... rs
Uma tontura tinha começado a surgir assim que cheguei na cozinha e agora tinha se estabilizado e estava forte. Sentia enjôo, um mal-estar muito ruim no estômago. O chocolate tinha ajudado a comer os cogumelos mágicos; mesmo assim, quase vomitei várias vezes.
Estava passando mal. Talvez tinha comido demais. A euforia da cozinha tinha passado e agora era somente um pequena alegria enquanto usava o computador. Me decepcionei. Tinha comido dois cogumelos médios e só o que tinha me acontecido era o surgimento de uma sensibilidade emotiva. Não estava experienciando nenhuma dos efeitos visuais que eu tinha conseguido perceber uma vez antes quando tinha comido só um cogumelinho super pequeno e depois fumado um beck uma hora depois.
Deitei. Estava crente de que iria dormir logo e que acordaria mais tarde normal, sem qualquer efeito. Essa vez não tinha dado muito certo... Fazer o quê.
Inesperadamente, uma sensação brotou em meu peito e cabeça e quando percebi, profundos pensamentos sobre vários assuntos reinavam na minha mente veloz. A euforia aumentou drasticamente nos momentos seguintes enquanto o mal-estar diminuia consideravelmente.
Os pensamentos tomaram dimensões incríveis. Não estava com medo de pensar em coisas tristes. Na verdade, quando esses pensamentos vinham, eu os recebia calorosamente. As descobertas que eu fazia sobre eles eram simplesmente surpreendentes! A maioria dos assuntos era feliz.
Efeitos visuais rudimentares apareceram como uma grande livre-abstração da realidade. Ou seja, quando eu olhava minha própria mão pegar um objeto, minha mão parecia ser algo alienígena. Era algo extremamente discutível se aquela mão era minha de verdade. Na frente de um espelho, nunca me senti tão alien, percebendo o rosto, suas proporções e rugas de cada expressão. Me senti incomodado em me ver no espelho e o guardei. Não sei ainda direito, mas eu sei que tem alguma coisa nisso e acredito que me ver no espelho vai ser uma das coisas mais difíceis. Quem sabe, poderá ser meu teste final...
Passei um longo tempo na cama pensando profundamente sobre vários assuntos. Estava me sentindo extremamente feliz com a vida em geral. Percebia como os detalhes são belos, como os detalhes fazem toda a diferença, tanto na vida de uma pessoa como em cada objeto...
Extremamente feliz, levantei e fui até o computador. O quarto tinha sido tomado por uma matiz anil escura e brilhante. O dia estava começando a amanhecer e o sol estava despontando lindamente pela janela. Dava pra ver o sol do outro lado da cidade... Era incrível!
Liguei uma música pensando que talvez eu tinha conseguido abaixar meu grau de consciência o bastante para poder sentir os efeitos mais fortes da psilocibina. Quem sabe agora eu conseguiria ter aqueles efeitos visuais, como a sinestesia visual da música, mas isso infelizmente isso não ocorreu. Os únicos efeitos que me tomaram foram o grande realce das lindas cores do quarto e atmosfera do dia e um leve ondular que fluía por todo meu campo de visão lentamente. Combinados, era um sensação muito, muito boa!
Voltei para a cama e detei novamente. Achei incrível que o sono não vinha. A minha mente estava tomada pelos pensamentos profundos sobre questões da minha vida. Em alguns momentos, senti meu ego se desmanchar um pouco, tudo parecia estar conectado por uma trama fina invisível. Isso me ajudou a ver meus prórios atos e coisas que ocorreram na minha vida sob uma luz essencialmente nova. Achava todo o desenrolar da experiência fascinante!
Infelizmente, era difícil conseguir manter-me focado sobre somente um assunto. Eu senti que se conseguisse pensar sobre determinados assuntos, eu poderia fazer descobertas incríveis e completas, porém precisaria conseguir me concentrar, o que parecia absurdamente difícil naquele momento. Os pensamentos passavam correndo pela minha mente. Era impossível conseguir me focar em somente em um deles.
Me lembrei de algumas pessoas que eu admirava por serem muito boas que faziam yoga para se sintonizar com o mundo. De alguma forma, a meditação parecia ser a resposta para o meu problema de concentração. Haviam estímulos demais e eram eles os culpados da constante variedade de pensamentos.
Decidido, sentei com as pernas cruzadas na cama, com duas cobertas que eu tinha escolhido para a ocasião pois eram cheias de estampas e cores. Estava meio frio...
Endireitei minha postura e senti as costas doerem. Assim iria ser difícil manter a concentração... até que depois de alguns minutos, as dores do corpo e o calor do aquecedor no quarto pareciam preocupações secundárias... Sem os estímulos externos do tato, visão e movimentos do corpo, consegui me concentrar e manter o foco nos assuntos que eu queria pensar a respeito.
Os pensamentos estavam todos voltados para a análise de minhas atitudes e meu jeito de ser. Consegui perceber como eu tinha sido (como podia eu ter sido!) tão egoísta!? Precisava reformular todo a minha vida! Havia tanto para mudar... Conclui que meditações deveriam passar a fazer parte da minha rotina pois eu precisava pensar sobre minha vida. Fui tomado completamente por um senso de fazer bem aos outros e muito altruísmo.
Os barulhos começaram a ficar altos na cidade. Já era sete horas da manhã e as pessoas começavam a ir trabalhar. Lentamente sai da minha meditação, tomado por uma determinação de mudar toda a minha vida e um sentimento de poder de influência muito grade. Eu queria mudar todas as pessoas que conviviam comigo, animando-as com o meu bom-humor e felicidade. Se eu desse felicidade iria receber felicidade. Parecia a solução para os problemas.
Fui no quarto da minha mãe que estava acordando... Abracei-a e pedi desculpas por certas coisas que agora me pareciam ter sido extremamente egoístas de minha parte. Fui à cozinha e fiz café e lavei a louça.
Enquanto lavava a louça, pensei que talvez fosse difícil manter essa vontade de mudar de vida e de fazer o bem. O dia que eu conseguisse fazer tal meditação sem a ajuda da psilocibina e conseguisse com isso guiar a minha vida, deveria ser minha meta. Até lá, se eu precisasse usar algum outro método para conseguir fazer meditações tão boas como a que eu tinha tido naquela manhã, que fosse!
Parecia um bom plano.
Uma hora e meia depois, eu estava em uma cínica psicológica fazendo a parte do teste psicotécnico que consiste em uma entrevista com um psicólogo. Durante o percurso de ônibus, percebi uma “vibe” muito ruim fluindo das pessoas e passei um pouco mal. Não queria estar naquele ônibus lotado com toda aquela gente vulgar. Pensei que se fosse uma outra pessoa, talvez não conseguiria controlar esse sentimento tão bem e poderia passar muito mal.
Me concentrei nas roupas das pessoas. A textura e cores eram maravilhosas. Meus olhos doíam por causa da claridade excessiva que a midríase causada pela psilocibina tinha causado. Assim, pensei que talvez o efeito visual do realce das cores experimentado sob efeito da psilocibina poderia ser explicado justamente pela midríase: com a pupila dilatada, mais luz atinge a retina e os cones iriam ser mais estimulados...
Apesar de um pouco de nervosismo (já pensou a psicóloga percebe que eu usei algum tipo de psicoativo??), me saí muito bem na entrevista e inclusive questionei a utilidade de algumas perguntas na própria cara dela... rs. Porém minha argumentação tinha muita lógica e ela não viu isso como um indicador ruim.
A euforia só foi passar mesmo lá pelas dez da manhã, quando pegava um ônibus para ir à casa da minha vó na outra cidade do lado, onde estava hospedado meu pai, visitá-lo.
Na minha última experiência antes dessa, eu comi os cubensis e mesmo depois de 12 horas eu tive efeitos visuais quando fumei um chá. Estava curioso para ver oq ue iria acontecer quando rolasse um beck de novo... Naquele dia, às cinco da tarde, dei somente dois tragos e tive que apagar o cigarro. Mesmo assim, o efeito foi tão grande que comecei a elogiar a qualidade do chá, até que eu me lembrei que os efeitos eram estavam fortes por causa da interação do THC com a psilocibina...
Fui dar uma volta no shopping. No meio do caminho, a larica me pegou e comi um sundae de sorvete. No shoping, a euforia era grande. A essas alturas, eu estava sofrendo de uma grande interação entre beck e cogumelos.
Um pouco depois, quando dois jovens passaram. Provavelmente nunca saberei sei se é verdade ou se era alucinação eu tê-los “escutado” claramente quando subiram a escada rolante que estava atrás do banco onde estava sentado.
Após esse episódio, me comportei por medo de estar dando muita bola fora. Os efeitos ainda estavam muito fortes. Voltei para casa, comi, e então fui dormir. Sem dúvida foi uma noite agradável e divertida.
Agora, um ano e meio depois, vejo como essa meditação com a ajuda de cogumelos mudou minha vida. Ainda me lembro daquele sentimento durante a meditação, de querer fazer o bem pros outros e mostrar para eles como é bom viver, como a vida é bela e os detalhes tão importantes...
Por ser a primeira experiência que realmente alterou o jeito que eu pensava e me mostrou a verdade com palavras de sabedoria, considero-a a experiência mais importante até hoje.
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Devo dizer que a experiência foi muito gostosa.
Era uma segunda-feira. Acordei cedo e fui à faculdade ler algumas lâminas de um pequeno experimento que tinha feito na semana anterior. Depois, aproveitei a última parte da manhã com meus amigos: almoçamos juntos e ficamos conversando até que cada um seguiu sua direção. Eu não tinha mais nada para fazer o dia todo e o dia estava lindo; depois do almoço o céu ainda estava azul e sem nuvem nenhuma.
Havia um pasto ali perto da universidade. Decidi me aventurar até lá para ver se achava um coguzinho, mas estava com poucas esperanças de encontrá-los. Isso porque tinha chovido há muitos dias e achei que os coguzinhos que frutificaram já tinham cumprido seu dever e não mais existiam.
Entrei no pasto e logo de longe vi uma colônia de cogus grandes e brancos. Corri até eles, pensando que este seria o dia de maior sorte que eu tinha tido, mas mesmo antes de chegar muito perto, sentia/sabia que não eram eles... eram de outra espécie.
Meio decepcionado, continuo com a procura. Novamente achei aqueles cogus brancos não-azuis e depois de novo. Já estava desistindo. A estação era daquela espécie de cogu e não de psilocybes.
Quando, de repente, vejo dois cogumelos em uma bostinha de cavalo. Eu SABIA que eram eles, e isso foi o mais impressionante... Meus olhos se encheram de felicidade e baixei para examinar a dupla sertaneja já sabendo que se tratavam dos azuis. O teste de cianidificação foi mera formalidade. Me surpreendeu, numa análise mais cuidadosa, que tinha-os achado em bostinhas de cavalos e não de vacas, contrariando o que tinha sempre ouvido falar.
Ansiosamente, levei os cogumelos até o laboratório de meu professor de micologia. Eu tinha perguntado havia algumas semanas como eram as características do Psylocibe cubensis, e ele, muito gentilmente, me falou delas e como diferenciar as espécie comuns da região. Ele disse que, pessoalmente, nunca tentou e nem quer tentar pois diz já ser muito velho para isso. De certa forma, ele na verdade pensa que os cogumelos tem um efeito embriagante como o álcool, só que bem forte. Mesmo assim, ele foi muito simpático nas vezes que fui lá. Na despedida me pediu para depois contar a ele como tinha sido minha experiência. Quem sabe um dia eu conto...
Fui o mais rápido possível para casa e fiz um carimbo de cada coguzinho para remover os esporos. Eles parecia ser de uma cepa diferente dos que eu havia encontrado lá antes, que eu desconfiava ser Golden Teacher ou algum muito parecido.
Essa seria minha experiência mais forte até aquele momento. Mesmo assim eu esperava que o efeito fosse ainda considerado fraco, visto o tamanho tão mediano dos cogus. Decidi que tentaria seguir um ritual asteca para comê-los, ou seja, estaria de jejum e só tomaria chocolate quente enquanto os comia (no final foi chocolate quente e umas barrinhas de Diamante Negro). O horário estava complicado: eram 17h e na casa estavam minha mãe e vó. Se a dose fosse forte e eu passasse mal, não queria que elas me vissem até eu me recuperar.
Depois de pensar muito, decidi começar o ritual às 04h (da manhã). Parecia-me o horário perfeito pois todos estariam dormindo profundamente e eu teria dois momentos de experiência: uma parte escura e uma parte clara, e bem no meio delas, eu veria o nascer do sol. Não há nada melhor do que o nascer do sol visto de minha janela.
Antes de ir dormir,arrumei o quarto com um aquecedor (não queria ter que ficar usando roupas pesadas, era julho - estava frio) e deixei vários objetos que eu acho legais e que significam alguma coisa para mim alí perto. Escolhi um cobertor que eu gosto muito, cheio de estampas de cores quentes e fiz algumas playlists para minha viagem. Por último, tirei do guarda-roupa um kimono, aquela vestimenta tradicional japonesa, que eu tinha ganhado de um amigo lá no Japão. O kimono tinha pertencido ao avô dele, então é uma roupa muito especial para mim eu queria usá-lo durante a experiência, assim como Albert Hoffman e seus colegas fizeram em uma experiência com psilocibina relatada no livro dele.
Acordei às 03h e fiz uma caneca bem grande de chocolate quente bem forte. Liguei o aquecedor no máximo e sentei na minha mesa e arrumei a tigela com os delicados cogumelos. Então o ritual começou.
Como eu calculava entre 40 minutos e uma hora até que os cogus começassem a fazer efeito, decidi me distrair nesse intervalo para escrever uma carta para uma amiga da Austrália. Assim não cairia no sono e ela iria adorar ouvir o relato daquele momento, pois ela é super hippie dos anos 60 e me contou como foi quando ela foi comer aquele cogumelo vermelho do mário e usou LSD...
Depois de mais ou menos meia hora da primeira mordida, senti uma leve mudança. Continuei a escrever a carta, sabendo que deveria terminá-la logo, antes que o efeito começasse. Estava muito ansioso paa ver o que aconteceria... Queria aproveitar o efeito. Depois de mais 20 minutos, terminei de escrever. Já conseguia sentir um tremor forte, um relaxamento e a visão um pouco mais suave. Mais tarde cheguei a conclusão de que o tremor era causado pela minha força em tentar lutar contra a sensação de relaxamento e preguiça gostosa que entrava no meu corpo, era a luta da minha consciência em continuar a apreender a realidade da forma como eu estava acostumado e não da forma diferente que a psilocibina estava me induzido.
Estava com medo de deitar na cama e dormir e perder os efeitos, então fui para a cozinha fazer café enquanto escutava música no fone de ouvido. Estava escutando algumas músicas de tema triste. Quando vi, estava me afogando em lágrimas na cozinha enquanto passava o café. Estava extremamente emotivo, mas não triste de verdade. Pelo contrário, o choro era de felicidade. No silêncio entre uma música e outra, ria do meu próprio estado emotivo lamentável. Ainda bem que não tinha ninguém acordado... rs
Uma tontura tinha começado a surgir assim que cheguei na cozinha e agora tinha se estabilizado e estava forte. Sentia enjôo, um mal-estar muito ruim no estômago. O chocolate tinha ajudado a comer os cogumelos mágicos; mesmo assim, quase vomitei várias vezes.
Estava passando mal. Talvez tinha comido demais. A euforia da cozinha tinha passado e agora era somente um pequena alegria enquanto usava o computador. Me decepcionei. Tinha comido dois cogumelos médios e só o que tinha me acontecido era o surgimento de uma sensibilidade emotiva. Não estava experienciando nenhuma dos efeitos visuais que eu tinha conseguido perceber uma vez antes quando tinha comido só um cogumelinho super pequeno e depois fumado um beck uma hora depois.
Deitei. Estava crente de que iria dormir logo e que acordaria mais tarde normal, sem qualquer efeito. Essa vez não tinha dado muito certo... Fazer o quê.
Inesperadamente, uma sensação brotou em meu peito e cabeça e quando percebi, profundos pensamentos sobre vários assuntos reinavam na minha mente veloz. A euforia aumentou drasticamente nos momentos seguintes enquanto o mal-estar diminuia consideravelmente.
Os pensamentos tomaram dimensões incríveis. Não estava com medo de pensar em coisas tristes. Na verdade, quando esses pensamentos vinham, eu os recebia calorosamente. As descobertas que eu fazia sobre eles eram simplesmente surpreendentes! A maioria dos assuntos era feliz.
Efeitos visuais rudimentares apareceram como uma grande livre-abstração da realidade. Ou seja, quando eu olhava minha própria mão pegar um objeto, minha mão parecia ser algo alienígena. Era algo extremamente discutível se aquela mão era minha de verdade. Na frente de um espelho, nunca me senti tão alien, percebendo o rosto, suas proporções e rugas de cada expressão. Me senti incomodado em me ver no espelho e o guardei. Não sei ainda direito, mas eu sei que tem alguma coisa nisso e acredito que me ver no espelho vai ser uma das coisas mais difíceis. Quem sabe, poderá ser meu teste final...
Passei um longo tempo na cama pensando profundamente sobre vários assuntos. Estava me sentindo extremamente feliz com a vida em geral. Percebia como os detalhes são belos, como os detalhes fazem toda a diferença, tanto na vida de uma pessoa como em cada objeto...
Extremamente feliz, levantei e fui até o computador. O quarto tinha sido tomado por uma matiz anil escura e brilhante. O dia estava começando a amanhecer e o sol estava despontando lindamente pela janela. Dava pra ver o sol do outro lado da cidade... Era incrível!
Liguei uma música pensando que talvez eu tinha conseguido abaixar meu grau de consciência o bastante para poder sentir os efeitos mais fortes da psilocibina. Quem sabe agora eu conseguiria ter aqueles efeitos visuais, como a sinestesia visual da música, mas isso infelizmente isso não ocorreu. Os únicos efeitos que me tomaram foram o grande realce das lindas cores do quarto e atmosfera do dia e um leve ondular que fluía por todo meu campo de visão lentamente. Combinados, era um sensação muito, muito boa!
Voltei para a cama e detei novamente. Achei incrível que o sono não vinha. A minha mente estava tomada pelos pensamentos profundos sobre questões da minha vida. Em alguns momentos, senti meu ego se desmanchar um pouco, tudo parecia estar conectado por uma trama fina invisível. Isso me ajudou a ver meus prórios atos e coisas que ocorreram na minha vida sob uma luz essencialmente nova. Achava todo o desenrolar da experiência fascinante!
Infelizmente, era difícil conseguir manter-me focado sobre somente um assunto. Eu senti que se conseguisse pensar sobre determinados assuntos, eu poderia fazer descobertas incríveis e completas, porém precisaria conseguir me concentrar, o que parecia absurdamente difícil naquele momento. Os pensamentos passavam correndo pela minha mente. Era impossível conseguir me focar em somente em um deles.
Me lembrei de algumas pessoas que eu admirava por serem muito boas que faziam yoga para se sintonizar com o mundo. De alguma forma, a meditação parecia ser a resposta para o meu problema de concentração. Haviam estímulos demais e eram eles os culpados da constante variedade de pensamentos.
Decidido, sentei com as pernas cruzadas na cama, com duas cobertas que eu tinha escolhido para a ocasião pois eram cheias de estampas e cores. Estava meio frio...
Endireitei minha postura e senti as costas doerem. Assim iria ser difícil manter a concentração... até que depois de alguns minutos, as dores do corpo e o calor do aquecedor no quarto pareciam preocupações secundárias... Sem os estímulos externos do tato, visão e movimentos do corpo, consegui me concentrar e manter o foco nos assuntos que eu queria pensar a respeito.
Os pensamentos estavam todos voltados para a análise de minhas atitudes e meu jeito de ser. Consegui perceber como eu tinha sido (como podia eu ter sido!) tão egoísta!? Precisava reformular todo a minha vida! Havia tanto para mudar... Conclui que meditações deveriam passar a fazer parte da minha rotina pois eu precisava pensar sobre minha vida. Fui tomado completamente por um senso de fazer bem aos outros e muito altruísmo.
Os barulhos começaram a ficar altos na cidade. Já era sete horas da manhã e as pessoas começavam a ir trabalhar. Lentamente sai da minha meditação, tomado por uma determinação de mudar toda a minha vida e um sentimento de poder de influência muito grade. Eu queria mudar todas as pessoas que conviviam comigo, animando-as com o meu bom-humor e felicidade. Se eu desse felicidade iria receber felicidade. Parecia a solução para os problemas.
Fui no quarto da minha mãe que estava acordando... Abracei-a e pedi desculpas por certas coisas que agora me pareciam ter sido extremamente egoístas de minha parte. Fui à cozinha e fiz café e lavei a louça.
Enquanto lavava a louça, pensei que talvez fosse difícil manter essa vontade de mudar de vida e de fazer o bem. O dia que eu conseguisse fazer tal meditação sem a ajuda da psilocibina e conseguisse com isso guiar a minha vida, deveria ser minha meta. Até lá, se eu precisasse usar algum outro método para conseguir fazer meditações tão boas como a que eu tinha tido naquela manhã, que fosse!
Parecia um bom plano.
Uma hora e meia depois, eu estava em uma cínica psicológica fazendo a parte do teste psicotécnico que consiste em uma entrevista com um psicólogo. Durante o percurso de ônibus, percebi uma “vibe” muito ruim fluindo das pessoas e passei um pouco mal. Não queria estar naquele ônibus lotado com toda aquela gente vulgar. Pensei que se fosse uma outra pessoa, talvez não conseguiria controlar esse sentimento tão bem e poderia passar muito mal.
Me concentrei nas roupas das pessoas. A textura e cores eram maravilhosas. Meus olhos doíam por causa da claridade excessiva que a midríase causada pela psilocibina tinha causado. Assim, pensei que talvez o efeito visual do realce das cores experimentado sob efeito da psilocibina poderia ser explicado justamente pela midríase: com a pupila dilatada, mais luz atinge a retina e os cones iriam ser mais estimulados...
Apesar de um pouco de nervosismo (já pensou a psicóloga percebe que eu usei algum tipo de psicoativo??), me saí muito bem na entrevista e inclusive questionei a utilidade de algumas perguntas na própria cara dela... rs. Porém minha argumentação tinha muita lógica e ela não viu isso como um indicador ruim.
A euforia só foi passar mesmo lá pelas dez da manhã, quando pegava um ônibus para ir à casa da minha vó na outra cidade do lado, onde estava hospedado meu pai, visitá-lo.
Na minha última experiência antes dessa, eu comi os cubensis e mesmo depois de 12 horas eu tive efeitos visuais quando fumei um chá. Estava curioso para ver oq ue iria acontecer quando rolasse um beck de novo... Naquele dia, às cinco da tarde, dei somente dois tragos e tive que apagar o cigarro. Mesmo assim, o efeito foi tão grande que comecei a elogiar a qualidade do chá, até que eu me lembrei que os efeitos eram estavam fortes por causa da interação do THC com a psilocibina...
Fui dar uma volta no shopping. No meio do caminho, a larica me pegou e comi um sundae de sorvete. No shoping, a euforia era grande. A essas alturas, eu estava sofrendo de uma grande interação entre beck e cogumelos.
Um pouco depois, quando dois jovens passaram. Provavelmente nunca saberei sei se é verdade ou se era alucinação eu tê-los “escutado” claramente quando subiram a escada rolante que estava atrás do banco onde estava sentado.
Após esse episódio, me comportei por medo de estar dando muita bola fora. Os efeitos ainda estavam muito fortes. Voltei para casa, comi, e então fui dormir. Sem dúvida foi uma noite agradável e divertida.
Agora, um ano e meio depois, vejo como essa meditação com a ajuda de cogumelos mudou minha vida. Ainda me lembro daquele sentimento durante a meditação, de querer fazer o bem pros outros e mostrar para eles como é bom viver, como a vida é bela e os detalhes tão importantes...
Por ser a primeira experiência que realmente alterou o jeito que eu pensava e me mostrou a verdade com palavras de sabedoria, considero-a a experiência mais importante até hoje.