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Lugares na mente

Cygnus X 1

Cogumelo maduro
Cultivador confiável
21/01/2005
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Este título, Places in the Mind é o primeiro capítulo da segunda parte do TIHKAL (ou tryptamines I have known and loved) do amado inventor do MDMA e tantas outras fenetilamidas por aí, Alexander Shulgin e sua mulher Ann Shulgin. O texto, q em específico é da Ann Shulgin, é bem extenso e trata inicialmente de alterações da consciência e dá umas tantas guias sobre como lidar com isto, tenha sido causado espontaneamente (desde acessos psicóticos (vá pra um psicólogo/terapeuta) até qualquer coisa psicológica não usual (o q é bem genérico)) ou através do uso de psicodélicos.

Aqui é a conclusão desta primeira parte, já traduzida:

"Exploração psicodélica, para mim, sempre significou trabalho, tentar entrar em termos com algum aspecto de meu universo interior que me deixa desconfortável; lidar com insights dentro do meu próprio comportamento passado ou presente que podem ser desconcertantes; tentando trazer respostas para questões básicas sobre a natureza do mundo, do cosmo e seja o q for q chamamos de Deus. Já tive milhares de exposições à estas ferramentas químicas. Escape é precisamente o q elas nunca me deram, e o meu retorno a realidade consensual- tão chamada vida ordinária- sempre foi um prazer, não importando quão positiva tenha sido a experiência psicodélica. Mas tbm sou agraciada por ter uma boa vida para retornar para. Para esses cuja vida diária não é feliz ou satisfeita, a experiência psicodélica pode servir para renovar a sensação de sentido e significado e recoloca-los em contato com a maravilha e o prazer."

Sem caracterizar set ou setting, q já é tema de um post bem maior e paralelo à este, existem alguns efeitos q os psicodélicos, em especial a psilocibina, podem proporcionar aos usuários. Já confirmei a precisão destas caracterizações em minhas experiências e achei extremamente confortante saber q o q experienciei não é incomum, faz parte de uma gama bem grande de possíveis e comuns efeitos dos lisérgicos comuns ao mundo. Esse texto busca familiarizar os astronautas com uma gama reconhecível de efeitos.

Inflação:

"O sacerdote ou sacerdotisa é um arquétipo dentro do inconsciente humano, e acredito q é essencial ser experienciado e trabalhado por qualquer um q quer conhecer a natureza da psique e mente."

Este é um estado de sensação de poder absoluto, de poder fazer coisas impossíveis, de poder responder qualquer coisa, de controle mental e físico absoluto e sensível, de clareza do pensamento. Resultados indesejáveis disto estão normalmente em acabar falando demais (euforicamente) e depois perceber q falou bobeira demais. Os resultados desejáveis são as exposições de verdades compartilháveis, de acessos aos arquivos akáshicos e assim por diante. Por mais q seja um momento perfeito para explorar os extremos da capacidade humana, a lisergia é um momento auto analítico, e requer cuidado, lidando com poder, o desejo faz perder o controle pessoal e permite q o indivíduo aja de forma irrestrita, quebrando regras simples e básicas de bom senso e psicodelia saudável.

Certeza e o conhecer:

"Certeza absoluta, uma sensação de conhecimento sem qualquer dúvida sobre a veracidade sobre algo em particular, é uma experiência comum à todos os adultos."

Pode fazer parte do estado de inflação ou pode ser apenas uma explosão de auto-validação entusiástica. Aqui a dica reside em: "sobre a influência de uma droga, não faça telefonemas, não escreva uma carta e a envie, não faça pronunciamentos sobre qualquer coisa. Curta a sensação, e conte aos outros q vc está experienciando uma deliciosa inflação..."

Se a euforia por comunicar o grande achado for grande demais, considere ter um gravador de áudio por perto quando for se expressar, se isso não for intimidante demais.

O buraco (ou o nada, "the void")

"Eu chamo de o nada (o buraco) pq envolve o confronto com uma perda total de qualquer sensação de sentido/significado/propósito"

De curta duração, facilmente combatida com um pouco de compaixão humana, e extremamente válida. Não é necessariamente uma bad trip pois é comum os baixos para depois constatarmos o q é realmente o alto.

Duas coisas podem ser lembradas: 1 - q a "verdade" observada não é a verdade final sobre as coisas, e 2 - q não existe nenhuma obrigação para sua presença nesta situação desconfortável e desesperadora, isto é, apesar de existir o factual confronto com o NADA, é sempre possível controlar o seu próprio destino e muda-lo para q esse buraco seja preenchido por algo.

Um tipo de variante dessa sensação/experiência são as situações de "atomização" do corpo de percepção ou ponto de consciência, algo do tipo, durante as primeiras horas: "estou sentindo q o meu "eu" está se comprimindo em um ponto cada vez menor, dentro da minha mente e/ou percepção do ambiente".

Paranoia:

Paranóia é simples de entender, suas razões são claras e óbvias, a ilegalidade e a incerteza combinadas, por si só, já geram bastante paranóia em qualquer um. Em um estado psicodélico a paranóia pode ser muito intensa, com sentidos mais intensos uma pessoa falando do seu lado bem baixinho pode parecer q está gritando bem alto. Sons tomam características completamente diferentes e muitas vezes intrigantes. Um ambiente tranquilo e seguro normalmente acaba com grande parte da paranoia. Sobra então a paranoia natural da interação social, de confiabilidade, de amizade, de ódio. Na lisergia é possível lidar com estas coisas, mas tentar resolvar isto magicamente é impossível, são ferramentas q te indicam os sintomas e as doenças mas não curam milagrosamente, só te deixam conscientes disto.

"Nomeando o estado como paranóia te ajuda a resgatar a objetividade"

Lidar com paranóia é bastante complexo. Vai depender completamente de cada pessoa e seu histórico pessoal. Mas uma coisa é certa, é fácil relaxar e considerar q uma trip bem planejada certamente tem seu lugar no mundo, social e não social. Respirar fundo e repetir o status da situação "sou tal pessoa, tomei tal coisa em tal lugar com tais pessoas, estou sentindo paranóia" é confortante, ainda mais por reconhecer q é um apenas um dos momentos da sua percepção e da trip como um todo.
 
Auto-ódio (auto-desprezo)

“Para certos exploradores psicodélicos, parece existir um estágio inicial duranto o qual a sensação predominante é de auto-rejeição; em alguns casos a força da negatividade pode ser extrema o suficiente para ser chamada de auto-desprezo”.

Mais uma das sensações q os marinheiros de primeira jornada avidamente classificam como “bad-trip”. Comum às pessoas q cultivam uma baixa-auto-estima ou não cultivam estima de qualquer forma. Também comum àqueles q cultivam demais a auto-estima, ao confrontarem a frivolidade de tal comportamento sob o estado de lisergia.

O conteúdo emocional de uma trip é extremamente intenso, é comum reviver emoções antigas, sensações de privação e até mesmo traumas de infância. A auto-análise é o modo de operação da ferramenta em questão. O maior problema deste estado desesperador é o potencial “impulso à auto-destruição”. Isto tudo pode ser combatido com uma boa dose de compaixão e compreensão, diferente de uma afirmação egóica, é possível existir contentamento através da humildade, do controle dos desejos e através de uma atitude de contemplação interna, isto é, de estar sempre observando a si mesmo. A dica é sempre manter o posicionamento do indivíduo em relação ao seu ambiente, reafirmar a identidade e a situação é sempre confortante pois reinicia o processo de observar os processos enquanto acontecem. Através disto é possível compreender as razões do auto-desprezo e trabalhar em cima.

A experiência oceânica:

“Também é conhecida como “participation mystique” nas palavras d@ grande Mircea Eliade. ... Para um explorador sério, é usual q seja um dos primeiros lugares q ele encontrará dentro de si mesmo... Este estado é caracterizado por uma sensação de conexão – emocionalmente e espiritualmente – com todas as coisas vivas, incluindo o corpo do planeta. É um lugar de prazer exótico; sente-se uma gratidão imensa por estar vivo e poder participar em um extraordinário sistema natural q é cheio de sabedoria e amor q tudo permeia.”

E no q é peculiar ao cogumelo ressalto este fragmento:
“Existe uma rara e mais profunda forma desta experiência q pode envolver a pessoa primeiro em arrependimento antes de estar curada pela felicidade e amor. O arrependimento é q todas as coisas vivas, presas em dor, medo e perda, por todo o mundo, e vc se encontra participando em suas emoções, sentindo o q elas sentem, enquanto simultaneamente experiencia sua própria piedade e compaixão. Após estar neste lugar por um tempo, vc irá começar a se tornar consciente de um amor imenso e sem fronteiras permeando tudo q existe, e com isso, uma sensação crescente de prazer/euforia/realização.”

Desde meus primeiros contatos com os cogumelos esta sempre foi a parte da experiência q sempre me deixou mais cativado. É sem dúvida nenhuma uma das melhores sensações q se pode ter como ser vivo, a de fazer parte de algo bem maior e inexprimível...

Sinestesia:

“Definição de dicionário: Uma sensação produzida em uma modalidade quando um estímulo é aplicado em outra, como quando ao ouvir um definido som é induzida a visualização de determinada cor”.

Pode acontecer de formas extremamente sutis e de formas exageradas. Ouvir determinado disco pode induzir determinadas visões, sentir frio pelo corpo induz a visão de cores frias, a percepção de sons coloridos, etc etc etc.

Risadas:

“Isto é a risada cósmica, metade dor e metade realização”

Este estado não requer qualquer explicação, o aumento do humor graças aos psicodélicos está relacionado à indução do riso e vice e versa.

O estado Beth:

“Sumarizando, o estado Beth é aquele em q vc está consciente de estar em um estado alterado da consciência, mas não consegue deeterminar exatamente como vc sabe isso, já q não surgem mudanças visuais, nenhuma estimulação emocional, nenhum padrão colorido aparecendo na mente, nada...”

Com a psilocibina é bem difícil não conseguir verbalizar mesmo q precariamente, algum pouco da diferença entre percepção sóbria e psilocibinica. Os efeitos do cogumelo são bem notáveis, apesar de não serem replicáveis. Mas em doses bem baixas, os efeitos sensoriais, especialmente os visuais, são bem fracos e sutis q é possível afirmar q praticamente nada está acontecendo no campo sensório, mas usualmente o corpo emocional fica levemente à fortemente abalado.

Enchente:

“Vc se encontra bombardeado por uma torrente de imagens, conceitos e conexões, todas vindo para vc da sua vizinhança amigável no cosmos.”

Um outro efeito tbm extremamente comum ao cogumelo em doses altas (2.5 g pra cima) e de acordo com o tihkal, comum à vários psicodélicos em doses altas, de fato é a dica q diz q talvez a dose tenha sido alta demais. É capaz de gerar acessos psicóticos e paranóicos com facilidade se o onironauta não for experiente. Depois das primeiras vezes q isso acontece fica bem fácil relaxar e curtir a mescla holográfica de suas idéias com o plano cósmico das idéias. As minhas primeiras vezes nesse estado foram bem caóticas, em uma delas acabei por pedir arrego e cortar os inputs informacionais e sensoriais (desligar o som, parar de conversar e ir para um lugar escuro me deitar) pq estava tomando conta de mim por completo.

O importante é relaxar e deixar a torrente fluir, tentar capturar e segurar idéias fluidas desse tipo não vai levar a absolutamente nada, e tentar verbalizar 10 idéias simultâneas de uma vez só requer trabalho de gênio. Relaxar e deixar rolar é a melhor opção, tentar forçar qualquer coisa neste estado vai gerar mais problemas do q resolver.

Distorção Temporal:

Também é um dos efeitos mais comuns com psicodélicos, a psilocibina tbm se excede nisso. A compressão temporal pode ser tão intensa q a sensação de terem se passado muitas horas desde a última vez q o relógio foi consultado (5 minutos antes da constatação) é uma dádiva. Alguns se sentem em um limbo onde o tempo não passa (a eternidade), ou pelo menos q a percepção pessoal do tempo fica completamente fora do ritmo “natural”. É sem dúvida nenhuma uma forma bem interessante de se “ganhar tempo”, em grande partes das vezes é uma experiência confortante (quando o tempo dura mais do q parece), isto é, atingir o ápice e constatar q ainda tem bastante tempo pra pousar suavemente. A situação oposta, mais incomum, onde o tempo passa mais rápido, é um pouco mais difícil de lidar, mas continua sendo uma experiência bem inofensiva.
 
Perfeito, Cygnus! Tenho tanto o Tihkal quanto o Pihkal e posso dizer que são ótimos livros, de grande valia para qualquer psiconauta. Uma ótima fonte de consulta. Parabéns por traduzir trechos dele para o fórum.

A propósito, Mircea Eliade é homem. Um dos maiores pensadores a respeito de mitos, religiões e xamanismo, diga-se de passagem.
 
OBE's (out of body experiences) ou experiências fora do corpo:

"O q significa uma experiência fora do corpo? Para o cientista comum, por exemplo, uma pessoa treinada em lógica e o q é conhecido por pensamento científico, e sem exposição ao mundo do espiritual, o termo OBE não tem sentido qualquer, pq ele foi ensinado a acreditar q o corpo físico é tudo q existe, e a implicação q uma pessoa pode ter algum tipo de experiência consciente separada do seu corpo é ridícula."

Pode ser confundida com o q chamam de dissociação (q não é tratado no tihkal, mas em outras fontes é), q no caso do cogumelo acontece bastante frequentemente, mas em graus leves, uma experiência dissociativa acontece quando perde-se coisas como: consciência corporal, coordenação motora e o controle sobre os sentidos; quando a percepção fica fragmentada, com buracos contextuais, e coisas do tipo.

Uma experiência fora do corpo é diferente, pois funciona como se a consciência fosse projetada no espaço, retendo a usual espacialidade q a consciência do corpo provêm, e muitas vezes retêm até a qualidade da percepção a partir de algo similar ao corpo.

Alucinações:

Definição: "Um fenômeno extremamente raro, no qual uma realidade completamente convicente envolve uma pessoa, com seus olhos abertos, uma realidade q apenas ele pode experienciar e interagir com. A indução de alucinações é uma propriedade q é comumente atribuida à drogas psicodélicas, mas na realidade é virtualmente não existente no uso de tais materiais, a não ser q tenha ocorrido uma overdose massiva. Em quase todas experiências psicodélicas feitas por pessoas normais e saudáveis, usando doses razoáveis, existe uma consciência sobre o ambiente real q o envolve. Distorções visuais são comuns, mas elas não são confundidas com a realidade objetiva pelo sujeito; são conhecidas como distorções visuais e apreciadas como tais. Drogas anestéticas q induzem delírios, como escopolamina e ketamina, por outro lado, podem e efetivamente produzem alucinações reais."

O primeiro a reconhecer, é q alucinações não são distorções visuais e vice e versa. Alucinações envolvem uma crença no q é percebido como realidade consensual, sem estar relacionado ao consumo da droga. "È a percepção consciente de causa e efeito - o tomar uma droga e ver um cavalo azul - q faz a diferença entre experienciar efeitos visuais ou modificações visuais de alucinações reais"

Uma pessoa em um estado de delírio absoluto, q está realmente alucinando, vai ver "coisas q não existem" no seu campo de percepção, vai assumir q todos estão vendo isto junto com ele e não vai conseguir atribuir como causa, o consumo de psicoativos ou mesmo algum desequilíbrio químico de seu cérebro.
 
Ae obrigado pela tradução.

Informações bem legais, e tudo muito bem trânscrito das experiências.
Sei como é difícil verbalizar tais sensações e algumas são impossíveis, só sendo imerso pelo sentimento para compreender um pouco dele.

Abraços
 
"Exploração psicodélica, para mim, sempre significou trabalho"

...idem. Alguém que pensa como eu.
 
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