Cheguei ontem nessa ilha, nadei muito, depois que a kombi naufragou. Estou sozinho. Está nascendo o sol, agora consigo visualizar melhor a dimensão desse paraíso. Estou me sentindo em casa. O estômago começou a roncar... resolvo fazer um reconhecimento.
Logo, vou recolhendo tudo e qualquer tipo de esterco que encontro. Está escasso. Encontrei excremento de capivaras, roedores, antas. Próximo a uma palmeira, encontro muito. Esterco e aqueles "coquinhos" que dão numa penca. Coloco tudo sobre uma folha de bananeira, que estou utilizando para transporte. Entro no mar, saio com um punhado de conchas, e alguns peixes que servirão de rango. Demoro umas 3h para conseguir fazer fogo...os gravetos estavam um pouco úmidos ainda. Os peixes, limpos e espetados , vão pro fogo. As conchas, vão ao redor da brasa. Dos peixes, só sobra o espinhaço e alguns arrotos. As conchas, são esfareladas, com pedras.
Uma concha muito grande, na qual arranquei minha unha quando tropecei, está com água doce fervendo em seu interior. O fogo não pode morrer, a abundância de material combustível está a meu favor. Após fervida e esfriada, raspo 1/2 print que trazia junto comigo.
Encontrei agora, uma vala já aberta no chão. Um baú de tesouro ao lado, porém velho e já vazio. Já passaram por aqui. Pra dentro da vala, já umidecida com água de um pequeno rio, vai folhas de bananeiras, o esterco já foi adicionado pó de conchas, coloco um pouco de água com
esporos hidratados. mais uma camada, mais esporos. Agora aguardo ver o que acontece.
Vejo, lá longe, mais algumas ilhas. Em uma delas, acredito estar Maurício, pois percebo sinais de fumaça, e sempre belas fogueiras a noite. Em outra ilha, muito distante, tem mais alguém. Ainda não tem fogueira acesa hoje, porém percebo sinais de fumaça. Só pode ser o Boca que está lá.
Enquanto o tempo passa, o cabelo cresce... porém, algo me tranquiliza a cada dia. "estou mais um dia vivo aqui, porém a cada dia, estou mais próximo de Deus, e dos cogumelos que estão por vir"
Estou passando o tempo, construindo uma jangada pra visitar os amigos. O cultivo vai bem, ontem comi lagostas... lembrando o quanto caro alguns pagam por esse prato... já penso em não mais ir embora, voltar para o mundo sujo dos impostos, hipocrisia... não mais.
Segue no próximo capítulo.