Pra quem não conhecia, vale a pena a leitura, daria um belo filme, lenda guarani da nossa tão apreciada erva mate E ai? Quem toma um chimarrãozinho aqui pelo Fórum?
" Houve um tempo em que a nuvem da discórdia desceu sobre a grande nação guarani.
O eco das palavras de Xume ainda eram repetidos nos vales e nas montanhas, mas o sentido dos seus ensinamentos tinham caído no abismo do esquecimento. E os que ainda lembravam de alguma coisa, davam novo sentido e interpretavam de forma desastrosa os seus desígnios.
Os maus pensamentos arrombaram a porta do espírito e as bocas semeavam a maledicência.
Foi nesse meio que surgiu a divisão do povo e que usando a liderança de dois pajes muito respeitados por seus poderes, Anhã trouxe a guerra e a destruição entre os parentes.
Daí decorreu que duas facções se separaram, formando duas forças antagônicas, como se fossem duas nações estrangeiras, hostilizando-se mutuamente."
" A discordância entre as duas facções consistia em que, uma passou a usar o Kuruxu, a Cruz de Cristal Emplumada, mas rejeitava as quatro pedras dos ambas. A outra por seu lado rejeitou a Cruz de Cristal Emplumada, usando apenas o Ita'Kuruxu, as quatro pedras em torno do Tata Porã, o Fogo Sagrado: uma amarela na direção leste, uma vermelha na direção oeste, uma negra na direção sul e uma branca na direção norte. Anhã se ria de quase cair ao ver os símbolos sagrados de Xumé assim separados."
A luta do povo separado por Anhã se estendeu por tempos imemoriais, e muitas desgraças vieram. E muitas gerações passaram. E as vinganças não paravam de acontecer. E esse sofrimento, e essa agonia pareciam que nunca mais iriam Ter fim.
Eles já estavam cansados de tanta guerra, de tanta morte. Quando então os chefes de um e de outro povo resolveram fazer um aty, uma reunião de conselho, para combinar a paz.
Após cinco dias de aty chegaram em um acerto. Ficou decidido que iriam casar o mais valioso jovem de um dos povos com a mais valiosa jovem do outro povo e que daquele dia em diante iriam voltar a usar o Kuruxu Emplumado e o Ita'Kuruxu para selar a paz.
Um dos povos escolheu o seu mais valente xondaro (guerreiro), que era uma verdadeira emanação de Tupã, para ser ofertado para as núpcias.
O outro povo escolheu a sua mais bela Kunhãtai (moça) que era uma verdadeira emanação de Ñandexy, para ser ofertada para as núpcias.
O xondaro foi adestrado desde que nasceu para ser defensor de seu povo, ele foi escolhido pela nobreza de seu espírito, seu nome era Jukupe; e a kunhãtai foi ensinada pelo seu pai, o Arandu, na arte do espírito. Ela foi escolhida porque dentro dela havia sido cultivado o amor e a sabedoria, seu nome era Kaakupe.
O conselho também determinou que Kaakupe após as núpcias deveria acompanhar o seu esposo para viver com ele junto ao seu povo.
Kaakupe sentiu-se desamparada ao saber que teria que deixar seus pais e que nunca mais iria viver com eles. Estava consternada. Então sua mãe a pegou pela mão e a levou até um espelho de água. E lhe disse:
" Quando a tristeza vier pousar em teu coração, olhe-se no espelho de
água. O espelho não é somente para você olhar o seu rosto, mas a
vibração do seu próprio ser. Se você sentir saudades de seu pai e de sua
mãe olhe-se no espelho para encontrá-los. Todos os problemas que aparecerem você poderá enfrentá-los olhando-se no espelho, pois através dele você poderá encontrar solução, resposta para o que a faz sofrer"
Após as núpcias , Kaakupe deixou seu povo para viver na aldeia do seu marido. Conforme havia sido determinado.
Jukupe vivia em uma colina suave onde o sol de Tupã sempre se punha em tons rosáceos, quando uma brisa fresca vinda do sul conduzia o seu numeroso povo para perto do Tata Porã.
Porém a vida de Kaakupe com Jukupe não foi como todos esperavam. Muitas vezes Kaakupe teve que buscar consolo no espelho de água. Jukupe sentia muito ciúme de Kaakupe, por não entender o aspecto amoroso de sua esposa, e a obrigava a usar a máscara ritual sempre que se apresentava publicamente.
Passado um tempo, Kaakupe engravidou, então Jukupe resolveu abandonar a aldeia de seu povo para viver isolado só com sua mulher.
O trajeto da viagem durou o tempo de gestação de Kaakupe. Quando pararam para montar o acampamento, Kaakupe pariu uma menina que nasceu desfalecida. Kaakupe pediu para que Jukupe lhe fizesse o Ykarai e que lhe desse o nome de Kaaiari. Então Kaaiari ia ganhando vida, enquanto Kaakupe ia morrendo. Jukupe passou a viver junto à uma cachoeira, no sopé de uma grande montanha.
Em Kaaiari brotou o mesmo amor que havia no coração de Kaakupe, e esta amou o rio, a montanha, a mata, os animais e todos os seres viventes.
Porém quando Kaaiari se tornou Kunhãtai, e teve a sua primeira menstruação, deixou este mundo.
Jukupe ficou abalado com a morte da sua filha. Definhava dia a dia, o sofrimento da perda estava consumindo a sua vida.
Em um entardecer, quando o seu espírito já não suportava tanta dor, viu que havia brotado uns arbustos muito formosos nos lugares onde tinha caído o sangue da menstruação da sua filha.
Então ele tomou algumas folhas daqueles arbustos frondosos e fez um chá, impelido pelo amor que sentia por sua mulher e por sua filha.
E tão logo provou o chá, a sua força voltou, e foi tomado de um grande ânimo e de uma grande alegria. E notou que o amor que animava Kaaiari brotava em seu coração, e dentro dele sentiu profundamente a beleza do rio, da montanha, da mata, dos animais e
de todos os seres viventes. E logo lembrou do povo de sua aldeia e percebeu que o mesmo amor que animava Kaakupe agora também animava o seu coração. Então retornou para o seu povo, levando mudas
da planta que manifestava a essência do espírito da sua esposa e da sua filha.
E dentro dele soou a canção de Xumé que diz que é bendito o homem e a mulher que devoram a onça, porque a onça se torna homem e mulher, e que é maldito o homem e a mulher que são devorados pela onça, porque o homem e a mulher se tornam onça. E saiu ensinando pelo mundo seu saber e plantando mudas dessa planta sagrada junto aos espelhos de água.
Awaju Poty – Kaaiari A Lenda da Erva Mate
Kaaiari
A Lenda da Erva-Mate
A Lenda da Erva-Mate
" Houve um tempo em que a nuvem da discórdia desceu sobre a grande nação guarani.
O eco das palavras de Xume ainda eram repetidos nos vales e nas montanhas, mas o sentido dos seus ensinamentos tinham caído no abismo do esquecimento. E os que ainda lembravam de alguma coisa, davam novo sentido e interpretavam de forma desastrosa os seus desígnios.
Os maus pensamentos arrombaram a porta do espírito e as bocas semeavam a maledicência.
Foi nesse meio que surgiu a divisão do povo e que usando a liderança de dois pajes muito respeitados por seus poderes, Anhã trouxe a guerra e a destruição entre os parentes.
Daí decorreu que duas facções se separaram, formando duas forças antagônicas, como se fossem duas nações estrangeiras, hostilizando-se mutuamente."
" A discordância entre as duas facções consistia em que, uma passou a usar o Kuruxu, a Cruz de Cristal Emplumada, mas rejeitava as quatro pedras dos ambas. A outra por seu lado rejeitou a Cruz de Cristal Emplumada, usando apenas o Ita'Kuruxu, as quatro pedras em torno do Tata Porã, o Fogo Sagrado: uma amarela na direção leste, uma vermelha na direção oeste, uma negra na direção sul e uma branca na direção norte. Anhã se ria de quase cair ao ver os símbolos sagrados de Xumé assim separados."
A luta do povo separado por Anhã se estendeu por tempos imemoriais, e muitas desgraças vieram. E muitas gerações passaram. E as vinganças não paravam de acontecer. E esse sofrimento, e essa agonia pareciam que nunca mais iriam Ter fim.
Eles já estavam cansados de tanta guerra, de tanta morte. Quando então os chefes de um e de outro povo resolveram fazer um aty, uma reunião de conselho, para combinar a paz.
Após cinco dias de aty chegaram em um acerto. Ficou decidido que iriam casar o mais valioso jovem de um dos povos com a mais valiosa jovem do outro povo e que daquele dia em diante iriam voltar a usar o Kuruxu Emplumado e o Ita'Kuruxu para selar a paz.
Um dos povos escolheu o seu mais valente xondaro (guerreiro), que era uma verdadeira emanação de Tupã, para ser ofertado para as núpcias.
O outro povo escolheu a sua mais bela Kunhãtai (moça) que era uma verdadeira emanação de Ñandexy, para ser ofertada para as núpcias.
O xondaro foi adestrado desde que nasceu para ser defensor de seu povo, ele foi escolhido pela nobreza de seu espírito, seu nome era Jukupe; e a kunhãtai foi ensinada pelo seu pai, o Arandu, na arte do espírito. Ela foi escolhida porque dentro dela havia sido cultivado o amor e a sabedoria, seu nome era Kaakupe.
O conselho também determinou que Kaakupe após as núpcias deveria acompanhar o seu esposo para viver com ele junto ao seu povo.
Kaakupe sentiu-se desamparada ao saber que teria que deixar seus pais e que nunca mais iria viver com eles. Estava consternada. Então sua mãe a pegou pela mão e a levou até um espelho de água. E lhe disse:
" Quando a tristeza vier pousar em teu coração, olhe-se no espelho de
água. O espelho não é somente para você olhar o seu rosto, mas a
vibração do seu próprio ser. Se você sentir saudades de seu pai e de sua
mãe olhe-se no espelho para encontrá-los. Todos os problemas que aparecerem você poderá enfrentá-los olhando-se no espelho, pois através dele você poderá encontrar solução, resposta para o que a faz sofrer"
Após as núpcias , Kaakupe deixou seu povo para viver na aldeia do seu marido. Conforme havia sido determinado.
Jukupe vivia em uma colina suave onde o sol de Tupã sempre se punha em tons rosáceos, quando uma brisa fresca vinda do sul conduzia o seu numeroso povo para perto do Tata Porã.
Porém a vida de Kaakupe com Jukupe não foi como todos esperavam. Muitas vezes Kaakupe teve que buscar consolo no espelho de água. Jukupe sentia muito ciúme de Kaakupe, por não entender o aspecto amoroso de sua esposa, e a obrigava a usar a máscara ritual sempre que se apresentava publicamente.
Passado um tempo, Kaakupe engravidou, então Jukupe resolveu abandonar a aldeia de seu povo para viver isolado só com sua mulher.
O trajeto da viagem durou o tempo de gestação de Kaakupe. Quando pararam para montar o acampamento, Kaakupe pariu uma menina que nasceu desfalecida. Kaakupe pediu para que Jukupe lhe fizesse o Ykarai e que lhe desse o nome de Kaaiari. Então Kaaiari ia ganhando vida, enquanto Kaakupe ia morrendo. Jukupe passou a viver junto à uma cachoeira, no sopé de uma grande montanha.
Em Kaaiari brotou o mesmo amor que havia no coração de Kaakupe, e esta amou o rio, a montanha, a mata, os animais e todos os seres viventes.
Porém quando Kaaiari se tornou Kunhãtai, e teve a sua primeira menstruação, deixou este mundo.
Jukupe ficou abalado com a morte da sua filha. Definhava dia a dia, o sofrimento da perda estava consumindo a sua vida.
Em um entardecer, quando o seu espírito já não suportava tanta dor, viu que havia brotado uns arbustos muito formosos nos lugares onde tinha caído o sangue da menstruação da sua filha.
Então ele tomou algumas folhas daqueles arbustos frondosos e fez um chá, impelido pelo amor que sentia por sua mulher e por sua filha.
E tão logo provou o chá, a sua força voltou, e foi tomado de um grande ânimo e de uma grande alegria. E notou que o amor que animava Kaaiari brotava em seu coração, e dentro dele sentiu profundamente a beleza do rio, da montanha, da mata, dos animais e
de todos os seres viventes. E logo lembrou do povo de sua aldeia e percebeu que o mesmo amor que animava Kaakupe agora também animava o seu coração. Então retornou para o seu povo, levando mudas
da planta que manifestava a essência do espírito da sua esposa e da sua filha.
E dentro dele soou a canção de Xumé que diz que é bendito o homem e a mulher que devoram a onça, porque a onça se torna homem e mulher, e que é maldito o homem e a mulher que são devorados pela onça, porque o homem e a mulher se tornam onça. E saiu ensinando pelo mundo seu saber e plantando mudas dessa planta sagrada junto aos espelhos de água.
Awaju Poty – Kaaiari A Lenda da Erva Mate