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Fuga da realidade?

NeuroFX

Viajante
Membro da Staff
Cultivador confiável
23/01/2005
904
83
Numa conversa com uma amiga psicóloga quis saber sua opinião a respeito das drogas e de sua aplicação em terapias. Citando diversos autores da disciplina ela basicamente falou o velho clichê de que as drogas são uma fuga da realidade. Muito bem.

Pensando bem sobre o que ela disse, me lembrei que esse discurso é amplamente usado pelas campanhas, religiões e grupos antidrogas e, infelizmente, pelo senso comum. Os indíviduos que as utilizam seriam atordoados pelo mundo real e suas mazelas e usariam as substâncias para ficarem aliviados, mesmo que momentaneamente.

Considerando que o Brasil é um país com a maioria da população envolvida em religiões, podemos questionar e contrapor algumas coisas. Se o discurso de fuga da realidade é tão forte, por que ele não é aplicado a todos? O que difere uma pessoa que faz uso de drogas de uma pessoa religiosa?

Um jovem evangélico vai à igreja sempre um dia na semana. Ele está desempregado, cheio de dívidas e sem perspectiva. Sua namorada o largou e há tempos ele não fica com alguém. Ele tem problemas de saúde e várias vezes fica debilitado, triste. Mas hoje é dia de ir à igreja. Ele se arruma e chega ao lugar, encontrando outras pessoas parecidas com ele, com os mesmos problemas. E o culto começa. Deus e Jesus são exaltados, as pessoas entram num transe frenético, oram fervorosamente, sentindo estar entrando em contato com o divino, sua única fonte de esperança nesse mundo cruel em que elas vivem. Elas buscam algo melhor, acreditam estar no divino a mudança que o mundo precisa, por isso disciplinam-se, seguem os rituais.

Um jovem perdeu sua família. Possui traumas de uma infância problemática. Não teve acesso à educação e suas perspectivas são limitadas. Sua vida afetiva não existe. Tentaram mostrar a igreja pra ele, mas ele frequentou só alguns dias e saiu, viu que aquilo não era pra ele. Conheceu as drogas e encontrou alívio. Pelo menos uma vez por semana ele se preparava pra usar aquela substância que o tiraria do mundo cruel em que vive, traria felicidade pra aquele mar de tristeza.

E aí, qual a diferença entre os dois jovens? Não vejo nenhuma, a não ser os artifícios que eles usam pra sair da realidade.

É evidente que são só exemplos. É claro que pessoas usam a religião e as drogas de várias maneiras diferentes, com diversos propósitos. O que eu quis explicitar é que o senso comum não se olha no espelho. Ele precisa de um bode expiatório, afinal cada pessoa se julga mais politicamente correta do que a outra.

O que se busca com os enteógenos (agora sim me sinto confortável ;)) e com as religiões não é uma transcedência da realidade a ponto de nas experiências divinas/sobrenaturais encontrarmos as respostas para a evolução e melhoria do mundo e de todos nós? Então o que as difere? Por que a luta, sobretudo ocidental, entre elas?

Esse discurso de fuga da realidade com as drogas é extremamente hipócrita, preconceituoso e equivocado. Não digo que algumas pessoas, diferente do ideal daqui do fórum, usam drogas pra esse propósito, mas o senso comum utilizar-se dele pra deslegitimá-lo enquanto ele mesmo usa outros artifícios para a mesma coisa é de uma falácia estupenda!

O senso comum precisa ouvir umas verdades sobre si próprio.

[]'s
 
Neuro não é só isso que é hipócrita, é tudo, no Brasil principalmente, o sistema de governo, a democracia, as religiões,os conceitos públicos sobre drogas, isso tudo é uma piada.
O problema é que o povo todo sabe que tá sendo roubado e iludido mas ninguém levanta a bunda da poltrona para ir reclamar.

Se as drogas fossem a fuga realidade elas seriam a solução do mundo.Fuga da realidade não é um problema é um sonho de cada um de nós que vive revoltado com tanta imundice no meio social.

Muita paz e sabedoria para todos.;)
 
Ressucitando o tópico... hehehe...

NFX, na minha opinião o problema ocorre quando a pessoa passa a recorrer a esses artifícios para justamente não ter que encarar a sua realidade (física).
Diferentemente de umas férias na praia que tiramos para esquecer dos problemas do cotidiano mas que ao término dela teremos que voltar e resolver o que deixamos, acaba sendo prejudicial quando a pessoa resolve tirar umas "férias" toda vez que se depara com um problema.

O preconceito em relação às drogas se dá pela fama que "Droga mata", pro cidadão comum, todas as drogas matam, não importa se é cocaina, heroina, crack, LSD, maconha etc, inclusive, "um conhecido do meu vizinho tem um primo que morreu de overdose de tanto cheirar maconha", histórias assim não são raras e dá para perceber o nível de conhecimento da população sobre drogas, que alias é um nome genérico e por isso mesmo gera tanta confusão.

Mas nunca que irão fazer uma campanha explicando à população que nem toda substância que altera a consciência é nocisa a saúde, que não gera depêndencia etc.

De fato, analisando de forma imparcial, não existem diferenças nos seus exemplos, ambos se apoiam em algo para manter a sua existência.
Não sei a sua intenção em citar os 2 exemplos, mas na minha opinião nenhuma das 2 hipóteses seria saudável levar uma vida assim.

Eu encaro como problema a "fuga da realidade" justamente quando você passa a viver em função daquilo, nesse dois dependentes, cada um a sua maneira.

Existem diversas maneiras de se fugir da realidade: sexo, jogo, bebida, religião, drogas, álcool, etc, mas só chega a ser prejudicial quando a pessoa abusa e tal coisa torna-se uma necessidade.

Lembro-me de ter lido num blog que encontrei numa pesquisa do google sobre Ayahuasca, um relato de uma menina maravilhada com uma religião, descrevia mil maravilhas, e nesse mesmo post ela se queixava que a vida dela não ia bem, que estava sem emprego, sem dinheiro e coisas assim, mais adiante ela retornava a falar da nova religião e então dizia que o grande objetivo dela no momento era comprar um carro só para poder ir tomar a bebida.

Cito esse exemplo, pois para mim marcou muito lê-lo, meu pensamento foi de que a garota estava disvirtuando os objetivos, ao invés de usar a religião para viver em harmonia, ela estava passando a viver para a religião.
Penso eu que tanto religião quanto enteógenos sejam bons para quem procura um equilíbrio e estando equilibrado você consegue viver tranquilamente, mas quando a balança pende muito para um dos lados, a coisa passa a ser mais prejudicial. (ou só religiosidade ou só materialidade)

Esse tema é bem complexo, já não dá para classificar todos os usuários de substâncias psicoativas da mesma maneira, da mesma forma que a lei não iria ter como discriminar que tal usuário usa "drogas" de forma nociva e outros de forma positiva...

Abraço.
 
Numa conversa com uma amiga psicóloga quis saber sua opinião a respeito das drogas e de sua aplicação em terapias. Citando diversos autores da disciplina ela basicamente falou o velho clichê de que as drogas são uma fuga da realidade. Muito bem.
Pensando bem sobre o que ela disse, me lembrei que esse discurso é amplamente usado pelas campanhas, religiões e grupos antidrogas e, infelizmente, pelo senso comum. Os indíviduos que as utilizam seriam atordoados pelo mundo real e suas mazelas e usariam as substâncias para ficarem aliviados, mesmo que momentaneamente.
Considerando que o Brasil é um país com a maioria da população envolvida em religiões, podemos questionar e contrapor algumas coisas. Se o discurso de fuga da realidade é tão forte, por que ele não é aplicado a todos? O que difere uma pessoa que faz uso de drogas de uma pessoa religiosa?
[]'s

Fuga da realidade. Mas o que é realidade?
Existe uma única realidade, da qual cada um de nós percebe apenas um pedaço, ou existem várias realidades?
Só existe uma, e só uma, realidade objetiva - portanto, que tem relação com os objetos, com as coisas, em contraposição às várias realidades percebidas pelos sujeitos, e chamadas portanto de subjetivas (que dizem respeito aos sujeitos) ? Ou será que são várias as realidades?

E aí, qual a diferença entre os dois jovens? Não vejo nenhuma, a não ser os artifícios que eles usam pra sair da realidade.
(...)
[]'s

Eu também não vejo diferença. Não sei sequer resolver de forma a questão da(s) realidade(s).

O que se busca com os enteógenos (agora sim me sinto confortável ;)) e com as religiões não é uma transcedência da realidade a ponto de nas experiências divinas/sobrenaturais encontrarmos as respostas para a evolução e melhoria do mundo e de todos nós? Então o que as difere? Por que a luta, sobretudo ocidental, entre elas?
[]'s

Na verdade, desde que os homens surgiram na terra, tem procurado incessantemente substâncias psicoativas, a ponto que praticamente toda farmacopéia dos psicoativos já estava devidamente conhecida a milênios.
Se sempre houve esta necessidade dos homens buscarem tal fuga da realidade, porque então a ciência tenta agora transformar este questão como se fosse algo tão fora do comum?
O discurso antidrogas tem origem na economia capitalista, sobretudo nas questões tributárias.

Esse discurso de fuga da realidade com as drogas é extremamente hipócrita, preconceituoso e equivocado. Não digo que algumas pessoas, diferente do ideal daqui do fórum, usam drogas pra esse propósito, mas o senso comum utilizar-se dele pra deslegitimá-lo enquanto ele mesmo usa outros artifícios para a mesma coisa é de uma falácia estupenda!
[]'s

Sim. é um discurso tudo isto, e mais, é um discurso que tem como pano de fundo questões de natureza econômica.

O senso comum precisa ouvir umas verdades sobre si próprio.
[]'s

Precisamos gritar para que ouçam, mas não querem ouvir. A única droga admitida para o pobre é a cachaça. Mesmo assim, o "cachaceiro" carrega o estigma social, assim como os "maconheiros" e outros eiros...
 
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