- 23/01/2005
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Numa conversa com uma amiga psicóloga quis saber sua opinião a respeito das drogas e de sua aplicação em terapias. Citando diversos autores da disciplina ela basicamente falou o velho clichê de que as drogas são uma fuga da realidade. Muito bem.
Pensando bem sobre o que ela disse, me lembrei que esse discurso é amplamente usado pelas campanhas, religiões e grupos antidrogas e, infelizmente, pelo senso comum. Os indíviduos que as utilizam seriam atordoados pelo mundo real e suas mazelas e usariam as substâncias para ficarem aliviados, mesmo que momentaneamente.
Considerando que o Brasil é um país com a maioria da população envolvida em religiões, podemos questionar e contrapor algumas coisas. Se o discurso de fuga da realidade é tão forte, por que ele não é aplicado a todos? O que difere uma pessoa que faz uso de drogas de uma pessoa religiosa?
Um jovem evangélico vai à igreja sempre um dia na semana. Ele está desempregado, cheio de dívidas e sem perspectiva. Sua namorada o largou e há tempos ele não fica com alguém. Ele tem problemas de saúde e várias vezes fica debilitado, triste. Mas hoje é dia de ir à igreja. Ele se arruma e chega ao lugar, encontrando outras pessoas parecidas com ele, com os mesmos problemas. E o culto começa. Deus e Jesus são exaltados, as pessoas entram num transe frenético, oram fervorosamente, sentindo estar entrando em contato com o divino, sua única fonte de esperança nesse mundo cruel em que elas vivem. Elas buscam algo melhor, acreditam estar no divino a mudança que o mundo precisa, por isso disciplinam-se, seguem os rituais.
Um jovem perdeu sua família. Possui traumas de uma infância problemática. Não teve acesso à educação e suas perspectivas são limitadas. Sua vida afetiva não existe. Tentaram mostrar a igreja pra ele, mas ele frequentou só alguns dias e saiu, viu que aquilo não era pra ele. Conheceu as drogas e encontrou alívio. Pelo menos uma vez por semana ele se preparava pra usar aquela substância que o tiraria do mundo cruel em que vive, traria felicidade pra aquele mar de tristeza.
E aí, qual a diferença entre os dois jovens? Não vejo nenhuma, a não ser os artifícios que eles usam pra sair da realidade.
É evidente que são só exemplos. É claro que pessoas usam a religião e as drogas de várias maneiras diferentes, com diversos propósitos. O que eu quis explicitar é que o senso comum não se olha no espelho. Ele precisa de um bode expiatório, afinal cada pessoa se julga mais politicamente correta do que a outra.
O que se busca com os enteógenos (agora sim me sinto confortável
) e com as religiões não é uma transcedência da realidade a ponto de nas experiências divinas/sobrenaturais encontrarmos as respostas para a evolução e melhoria do mundo e de todos nós? Então o que as difere? Por que a luta, sobretudo ocidental, entre elas?
Esse discurso de fuga da realidade com as drogas é extremamente hipócrita, preconceituoso e equivocado. Não digo que algumas pessoas, diferente do ideal daqui do fórum, usam drogas pra esse propósito, mas o senso comum utilizar-se dele pra deslegitimá-lo enquanto ele mesmo usa outros artifícios para a mesma coisa é de uma falácia estupenda!
O senso comum precisa ouvir umas verdades sobre si próprio.
[]'s
Pensando bem sobre o que ela disse, me lembrei que esse discurso é amplamente usado pelas campanhas, religiões e grupos antidrogas e, infelizmente, pelo senso comum. Os indíviduos que as utilizam seriam atordoados pelo mundo real e suas mazelas e usariam as substâncias para ficarem aliviados, mesmo que momentaneamente.
Considerando que o Brasil é um país com a maioria da população envolvida em religiões, podemos questionar e contrapor algumas coisas. Se o discurso de fuga da realidade é tão forte, por que ele não é aplicado a todos? O que difere uma pessoa que faz uso de drogas de uma pessoa religiosa?
Um jovem evangélico vai à igreja sempre um dia na semana. Ele está desempregado, cheio de dívidas e sem perspectiva. Sua namorada o largou e há tempos ele não fica com alguém. Ele tem problemas de saúde e várias vezes fica debilitado, triste. Mas hoje é dia de ir à igreja. Ele se arruma e chega ao lugar, encontrando outras pessoas parecidas com ele, com os mesmos problemas. E o culto começa. Deus e Jesus são exaltados, as pessoas entram num transe frenético, oram fervorosamente, sentindo estar entrando em contato com o divino, sua única fonte de esperança nesse mundo cruel em que elas vivem. Elas buscam algo melhor, acreditam estar no divino a mudança que o mundo precisa, por isso disciplinam-se, seguem os rituais.
Um jovem perdeu sua família. Possui traumas de uma infância problemática. Não teve acesso à educação e suas perspectivas são limitadas. Sua vida afetiva não existe. Tentaram mostrar a igreja pra ele, mas ele frequentou só alguns dias e saiu, viu que aquilo não era pra ele. Conheceu as drogas e encontrou alívio. Pelo menos uma vez por semana ele se preparava pra usar aquela substância que o tiraria do mundo cruel em que vive, traria felicidade pra aquele mar de tristeza.
E aí, qual a diferença entre os dois jovens? Não vejo nenhuma, a não ser os artifícios que eles usam pra sair da realidade.
É evidente que são só exemplos. É claro que pessoas usam a religião e as drogas de várias maneiras diferentes, com diversos propósitos. O que eu quis explicitar é que o senso comum não se olha no espelho. Ele precisa de um bode expiatório, afinal cada pessoa se julga mais politicamente correta do que a outra.
O que se busca com os enteógenos (agora sim me sinto confortável
Esse discurso de fuga da realidade com as drogas é extremamente hipócrita, preconceituoso e equivocado. Não digo que algumas pessoas, diferente do ideal daqui do fórum, usam drogas pra esse propósito, mas o senso comum utilizar-se dele pra deslegitimá-lo enquanto ele mesmo usa outros artifícios para a mesma coisa é de uma falácia estupenda!
O senso comum precisa ouvir umas verdades sobre si próprio.
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