- 24/01/2007
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FREE BEER - Enchendo a cara em Creative Commons
Cerveja - expumante, gelada, caramelada, meio amarga, num copo de vidro, no meio de uma galeria de arte, no centro de São Paulo. Um coletivo dinamarques - Superflex - chegou a cidade propondo, nada mais, nada menos, que libertar a milenar arte de fazer cerveja dos muros e das grades do copyright.
FREE BEER (versão 3.4) é uma cerveja de código aberto. A FREE BEER é feita com base nas tradições clássicas de fabricação de cerveja, mas sua fórmula contém também extrato de Guaraná, fonte natural de energia.
Nós, sabotadores da terra da garôa ácida, até gostamos de energia e natureza, mas, temos que confessar que foi a idéia de produzir o próprio trago e de quebra sacanear com a milionária indústria da bebedeira que realmente nos atraiu. Lá fomos nós, a paisana em direção a tal galeria. Estariam os dinamarqueses sendo mantidos suspensos em algum tipo de estado de arte pela arte? E sua cerveja, seria ela algum tipo de engôdo midiático?
Tanto a receita como os principais elementos visuais da FREE BEER são distribuídos através de uma licença Creative Commons (Atribuição-Compartilhamento pela mesma licença 2.5). A licença permite que qualquer pessoa use a receita ou crie novos produtos a partir dela para fabricar sua própria cerveja livre. A licença permite também que qualquer pessoa possa modificar o design e os aspectos visuais da FREE BEER. Assim, pela licença adotada, é permitido inclusive ganhar dinheiro com a fabricação da FREE BEER, ou sua versão dela. A única condição é que as modificações e melhorias na fórmula e na identidade visual sejam também distribuídas com a mesma licença aberta e crédito seja dado ao trabalho original.
Na última hora do último dia da exposição chegamos a galeria vermelho, mais um reduto cool na zona nobre da cidade. Cronometramos nossos relógios e nos separamos para um reconhecimento de perímetro. De quebra, um espaço realmente interessante (certamente o aluguel deve ser um assalto). Logo na entrada encontramos seguranças - cerveja livre mas não tão livre assim -, na parede da entrada um gigantesco FREE BEER.
Não foi difícil invadir o edifício, a porta estava aberta e não nos cobraram nada na entrada. Muito pouca gente circulava pelo espaço que estava cheio de máquinas de provocação chamadas de "Counter-Game Strategies" (Estratégias de contra-jogo). O objetivo desses brinquedos de gincana era bem claro: fazer piada com o fictício mundo do copyright e apologizar cultura do livre compartilhamento e da pirataria anti-corporativa.
Um senhor de chapéu lia o cartaz referente a "máquina de crackeamento de software", em seus olhos a mais pura contemplação de quem tudo vê, mas nada entende. Elevada ao status de peça de arte, a crítica parece ter seu teor subversivo diluído - seria essa a intenção original dos mestres-cervejeiros totalflex ou apenas mais uma concessão necessária para apunhalar mais fundo o lucrativo coração do copyright?
Em outra sala havia uma mesa com todos os apetrechos e ingredientes para a preparação da cerveja - animador, com poucas aquisições é possível não só beber cerveja mas também fazer cerveja com os amigos! Diante do "Free Beer Kit" fomos recebidos por uma simpática guia que nos contou um pouco mais da trajetória dos dinamarqueses pelo Brasil:
- Em 2006 eles estiveram na Amazônia - disse a guia - e lá visitaram os produtores da semente do guaraná que é quase toda vendida para uma certa empresa que todos conhecem...
(viajantes que foram conhecer agricultores da floresta, talvez esses caras do totalflex estejam mesmo do combate, será?)
...em contato com os produtores inventaram uma receita de refrigerante a base de guaraná sob creative commons, chamaram de Guaraná Power. A intenção deles era criar melhores condições de comercialização da fruta pelos próprios agricutores, aquelas mesma companhia que monopoliza grande parte da colheita viu a coisa como uma afronta e mexeu os pauzinhos para que o grupo não pudesse colocar a palavra GUARANÁ em seu rótulo...
(Ok, eles estavam querendo ajudar populações carentes e exploradas e de quebra provocar uma grande corporação, esses caras só podem ser do combate.)
...depois tentaram inscrever sua obra na Bienal...
(Ela disse Bienal?! "Alerta para o estado de arte! Alerta para o estado de arte!" - Seriam esses dinamarqueses meros artistas embusteiros que elaboram happenings em troca de uma porcentagem de personalismo e fama? - pelo menos um sabotador atordoado cambaleou para trás e se apoiou em uma das paredes).
...mas o diretor da Bienal não aceitou, afirmou que não seria possível inscrever a obra “por não ser considerada uma atividade artística”...
(nossa guia pareceu desanimada. Nos olhamos e sorrimos por dentro, mantendo na face a mais inexpressível cara de paisagem. Apesar de provavelmente ser algum verme pedante, tinhamos que concordar com o tal diretor da 27ªBienal de São Paulo, aquela "atividade" era interessante, provocativa e crítica demais para ser rotulada de "artística". Neste caso ser mera "atividade artística" poderia parecer inclusive uma ofensa. Faltava apenas confirmarmos algumas ligações e este era o momento nossa guia tinha uma expressão de "estou pronta para responder suas perguntas".)
- Eles são dinamarqueses, né? Será que têm alguma coisa a ver com Christiania?
(minutos de silêncio)
- Christiania?.. O que é isso?
- Sim, Christiania, a cidade livre, que na verdade é mais um bairro de Kopenhagen, uma ocupação gigantesca...
- Ah, sim, acho que sim (retomando sua confiança de guia) é bem provável.
(mudando de assunto)... Vocês gostariam de provar a cerveja agora.
Expumante, caramelada, meio escura, meio amarga, gelada e, excelente, em um copo de vidro, a 2 reais, no meio de uma galeria de arte, na zona nobre da cidade de São Paulo: Eis que bebemos a cerveja livre, versão 3.4. Prová-la de certa forma foi uma amostra grátis de tudo aquilo que perdemos - diversidade, gualidade e gosto - em nossas vidas de consumo massificado. Agradável ao Paladar, de textura consistente e saborosa, a Free Beer tem a personalidade que falta às cervejas industriais alardeadas pelas propagandas que vendem corpos femininos, sexo e cerveja.
Comprar cerveja vai se tornar uma atividade tão triste, pelo menos até que nós nos organizemos em torno da subversiva arte de fazer cerveja. A estratégia superflex funciona e, sim, certamente eles estão no fronte de batalha - imaginemos então os executivos da AMBEV chateados com as quedas nas vendas, tudo graças ao ressurgimento das micro-cervejarias artesanais.
Receita FREE BEER versão 3.4
Brewer: Arnaldo Ribero, Sao Paulo, Brasil, Novembro de 2007.
(CERVEJA ALE, 100% MALTE DE CEVADA, EXTRATO ORIGINAL 11,5ºP, AMARGOR TOTAL 12 IBU, ÁLCOOL 3,8% V/V, VOLUME FINAL DE 19 L)
Ingredientes:
Água (11,7 L)
Malte
Pilsen (2,0 Kg)
Pale Ale (0,6 Kg)
Caramelo (230 g)
Carafa (100 g)
Lúpulo
Variedade Galena (22,5 g em pellets de 10,5% alfa-ácidos)
Variedade Perle (10,0 g em pellets de 4.4% alfa-ácidos)
Levedura
Ale (alta fermentação, SAFALE SO 4)
Passo a passo:
Moer os maltes (2,930 Kg).
Misturar os maltes moídos em 11,7 L de água a 66ºC (proporção – 1 Kg malte : 4 L água).
Manter mosto a 66ºC por 60 minutos.
Elevar temperatura para 72ºC.
Manter mosto a 72ºC por 5 minutos.
Elevar temperatura para 78ºC.
Manter mosto a 78ºC por 10 minutos.
Iniciar filtração coletando aproximadamente 9 L de mosto.
Lavar o bagaço com 11 L de água a 78ºC, coletando no total 20 L de mosto.
Ferver mosto filtrado por 75 minutos.
Adicionar 12,5 g de lúpulo Galena 1 minuto após início da fervura, 10,0 g de lúpulo Galena 30 minutos após início da fervura e 10,0 g de lúpulo Perle 1 minuto antes do término da fervura.
Resfriar o mosto a 19ºC e transferir para fermentador limpo e esterilizado. Aerar o mosto frio, dissolvendo o máximo de oxigênio possível.
Dosar levedura (proporção – 5 a 8 g levedura : 10 L mosto frio).
Fermentar a 20ºC até processo de fermentação completo (aproximadamente 4 a 5 dias).
Cuidar para não mais aerar a cerveja em processo de fermentação e maturação.
Resfriar para 8 a 10ºC e manter esta temperatura de maturação durante 10 a 15 dias.
Resfriar para 0 a 2ºC nos últimos 2 dias de maturação para garantir o máximo de sedimentação e remoção de leveduras possível.
Acondicionar em garrafas limpas e esterilizadas e manter a temperatura entre 2 e 4ºC para consumo em, no máximo, 20 dias.
Saúde!
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Cerveja - expumante, gelada, caramelada, meio amarga, num copo de vidro, no meio de uma galeria de arte, no centro de São Paulo. Um coletivo dinamarques - Superflex - chegou a cidade propondo, nada mais, nada menos, que libertar a milenar arte de fazer cerveja dos muros e das grades do copyright.
FREE BEER (versão 3.4) é uma cerveja de código aberto. A FREE BEER é feita com base nas tradições clássicas de fabricação de cerveja, mas sua fórmula contém também extrato de Guaraná, fonte natural de energia.
Nós, sabotadores da terra da garôa ácida, até gostamos de energia e natureza, mas, temos que confessar que foi a idéia de produzir o próprio trago e de quebra sacanear com a milionária indústria da bebedeira que realmente nos atraiu. Lá fomos nós, a paisana em direção a tal galeria. Estariam os dinamarqueses sendo mantidos suspensos em algum tipo de estado de arte pela arte? E sua cerveja, seria ela algum tipo de engôdo midiático?
Tanto a receita como os principais elementos visuais da FREE BEER são distribuídos através de uma licença Creative Commons (Atribuição-Compartilhamento pela mesma licença 2.5). A licença permite que qualquer pessoa use a receita ou crie novos produtos a partir dela para fabricar sua própria cerveja livre. A licença permite também que qualquer pessoa possa modificar o design e os aspectos visuais da FREE BEER. Assim, pela licença adotada, é permitido inclusive ganhar dinheiro com a fabricação da FREE BEER, ou sua versão dela. A única condição é que as modificações e melhorias na fórmula e na identidade visual sejam também distribuídas com a mesma licença aberta e crédito seja dado ao trabalho original.
Na última hora do último dia da exposição chegamos a galeria vermelho, mais um reduto cool na zona nobre da cidade. Cronometramos nossos relógios e nos separamos para um reconhecimento de perímetro. De quebra, um espaço realmente interessante (certamente o aluguel deve ser um assalto). Logo na entrada encontramos seguranças - cerveja livre mas não tão livre assim -, na parede da entrada um gigantesco FREE BEER.
Não foi difícil invadir o edifício, a porta estava aberta e não nos cobraram nada na entrada. Muito pouca gente circulava pelo espaço que estava cheio de máquinas de provocação chamadas de "Counter-Game Strategies" (Estratégias de contra-jogo). O objetivo desses brinquedos de gincana era bem claro: fazer piada com o fictício mundo do copyright e apologizar cultura do livre compartilhamento e da pirataria anti-corporativa.
Um senhor de chapéu lia o cartaz referente a "máquina de crackeamento de software", em seus olhos a mais pura contemplação de quem tudo vê, mas nada entende. Elevada ao status de peça de arte, a crítica parece ter seu teor subversivo diluído - seria essa a intenção original dos mestres-cervejeiros totalflex ou apenas mais uma concessão necessária para apunhalar mais fundo o lucrativo coração do copyright?
Em outra sala havia uma mesa com todos os apetrechos e ingredientes para a preparação da cerveja - animador, com poucas aquisições é possível não só beber cerveja mas também fazer cerveja com os amigos! Diante do "Free Beer Kit" fomos recebidos por uma simpática guia que nos contou um pouco mais da trajetória dos dinamarqueses pelo Brasil:
- Em 2006 eles estiveram na Amazônia - disse a guia - e lá visitaram os produtores da semente do guaraná que é quase toda vendida para uma certa empresa que todos conhecem...
(viajantes que foram conhecer agricultores da floresta, talvez esses caras do totalflex estejam mesmo do combate, será?)
...em contato com os produtores inventaram uma receita de refrigerante a base de guaraná sob creative commons, chamaram de Guaraná Power. A intenção deles era criar melhores condições de comercialização da fruta pelos próprios agricutores, aquelas mesma companhia que monopoliza grande parte da colheita viu a coisa como uma afronta e mexeu os pauzinhos para que o grupo não pudesse colocar a palavra GUARANÁ em seu rótulo...
(Ok, eles estavam querendo ajudar populações carentes e exploradas e de quebra provocar uma grande corporação, esses caras só podem ser do combate.)
...depois tentaram inscrever sua obra na Bienal...
(Ela disse Bienal?! "Alerta para o estado de arte! Alerta para o estado de arte!" - Seriam esses dinamarqueses meros artistas embusteiros que elaboram happenings em troca de uma porcentagem de personalismo e fama? - pelo menos um sabotador atordoado cambaleou para trás e se apoiou em uma das paredes).
...mas o diretor da Bienal não aceitou, afirmou que não seria possível inscrever a obra “por não ser considerada uma atividade artística”...
(nossa guia pareceu desanimada. Nos olhamos e sorrimos por dentro, mantendo na face a mais inexpressível cara de paisagem. Apesar de provavelmente ser algum verme pedante, tinhamos que concordar com o tal diretor da 27ªBienal de São Paulo, aquela "atividade" era interessante, provocativa e crítica demais para ser rotulada de "artística". Neste caso ser mera "atividade artística" poderia parecer inclusive uma ofensa. Faltava apenas confirmarmos algumas ligações e este era o momento nossa guia tinha uma expressão de "estou pronta para responder suas perguntas".)
- Eles são dinamarqueses, né? Será que têm alguma coisa a ver com Christiania?
(minutos de silêncio)
- Christiania?.. O que é isso?
- Sim, Christiania, a cidade livre, que na verdade é mais um bairro de Kopenhagen, uma ocupação gigantesca...
- Ah, sim, acho que sim (retomando sua confiança de guia) é bem provável.
(mudando de assunto)... Vocês gostariam de provar a cerveja agora.
Expumante, caramelada, meio escura, meio amarga, gelada e, excelente, em um copo de vidro, a 2 reais, no meio de uma galeria de arte, na zona nobre da cidade de São Paulo: Eis que bebemos a cerveja livre, versão 3.4. Prová-la de certa forma foi uma amostra grátis de tudo aquilo que perdemos - diversidade, gualidade e gosto - em nossas vidas de consumo massificado. Agradável ao Paladar, de textura consistente e saborosa, a Free Beer tem a personalidade que falta às cervejas industriais alardeadas pelas propagandas que vendem corpos femininos, sexo e cerveja.
Comprar cerveja vai se tornar uma atividade tão triste, pelo menos até que nós nos organizemos em torno da subversiva arte de fazer cerveja. A estratégia superflex funciona e, sim, certamente eles estão no fronte de batalha - imaginemos então os executivos da AMBEV chateados com as quedas nas vendas, tudo graças ao ressurgimento das micro-cervejarias artesanais.
Receita FREE BEER versão 3.4
Brewer: Arnaldo Ribero, Sao Paulo, Brasil, Novembro de 2007.
(CERVEJA ALE, 100% MALTE DE CEVADA, EXTRATO ORIGINAL 11,5ºP, AMARGOR TOTAL 12 IBU, ÁLCOOL 3,8% V/V, VOLUME FINAL DE 19 L)
Ingredientes:
Água (11,7 L)
Malte
Pilsen (2,0 Kg)
Pale Ale (0,6 Kg)
Caramelo (230 g)
Carafa (100 g)
Lúpulo
Variedade Galena (22,5 g em pellets de 10,5% alfa-ácidos)
Variedade Perle (10,0 g em pellets de 4.4% alfa-ácidos)
Levedura
Ale (alta fermentação, SAFALE SO 4)
Passo a passo:
Moer os maltes (2,930 Kg).
Misturar os maltes moídos em 11,7 L de água a 66ºC (proporção – 1 Kg malte : 4 L água).
Manter mosto a 66ºC por 60 minutos.
Elevar temperatura para 72ºC.
Manter mosto a 72ºC por 5 minutos.
Elevar temperatura para 78ºC.
Manter mosto a 78ºC por 10 minutos.
Iniciar filtração coletando aproximadamente 9 L de mosto.
Lavar o bagaço com 11 L de água a 78ºC, coletando no total 20 L de mosto.
Ferver mosto filtrado por 75 minutos.
Adicionar 12,5 g de lúpulo Galena 1 minuto após início da fervura, 10,0 g de lúpulo Galena 30 minutos após início da fervura e 10,0 g de lúpulo Perle 1 minuto antes do término da fervura.
Resfriar o mosto a 19ºC e transferir para fermentador limpo e esterilizado. Aerar o mosto frio, dissolvendo o máximo de oxigênio possível.
Dosar levedura (proporção – 5 a 8 g levedura : 10 L mosto frio).
Fermentar a 20ºC até processo de fermentação completo (aproximadamente 4 a 5 dias).
Cuidar para não mais aerar a cerveja em processo de fermentação e maturação.
Resfriar para 8 a 10ºC e manter esta temperatura de maturação durante 10 a 15 dias.
Resfriar para 0 a 2ºC nos últimos 2 dias de maturação para garantir o máximo de sedimentação e remoção de leveduras possível.
Acondicionar em garrafas limpas e esterilizadas e manter a temperatura entre 2 e 4ºC para consumo em, no máximo, 20 dias.
Saúde!
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