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Flashbacks "surfando no caos" - Timothy Leary

Fui até conferir no livro pra ver se tinha digitado errado mas é isso mesmo. ;)

Não faço ideia da motivação do Lear em citar Indianápolis nesse trecho @Ecuador. Talvez ele tenha vivenciado algo relevante para sua vida em algum lugar de Indianápolis. Fiquei curioso agora.

aah, não aguento mais vou comprar este livro..!!!!!!!!!! sou fã do Huxle e esse Timoth tem umas ideias incríveis...

Compra que não vai se arrepender. Na estante virtual tem por aproximadamente 50 pratas. :)
 
@Mahasamādhi Muito interessante o livro. Você não conseguiria disponibilizar pro pessoal do fórum em pdf? na net não temos pra download nem para leitura online.
 
Hiago, dei uma procurada rápida na net e não encontrei disponível em pdf. Sobrando um tempo vou escanear e postar no fórum.

Saudações!
 
Paraíso terrestre

Maio de 1963
México

- Olhe, doutor Leary, você é o que chamamos de filósofo loco. Eu conversei com os mexicanos daqui e, pelo que me contaram, fiquei com vontade de tomar a sua droga.
Mas o seu erro é que você não é prático o bastante. Por exemplo, você cobra trezentos dólares por mês dos seus convidados. Meu amigo, qualquer pessoa no mundo quer o que você está oferecendo. Mas eles devem pagar um preço justo. Agora ouça uma coisa. Meu irmão é o governador do estado de Michoacan. Deixe que eles fechem o seu negócio aqui. Então, você vai até o meu Estado e abriremos dois, talvez três hotéis como este. Cobraremos o preço médio de um hotel de Acapulco: dois mil dólares por mês. Você tem algo contra ficar rico?
Pela primeira em dois dias senti uma fagulha de otimismo.

Quando cheguei na Cidade do México, telefonei para Dick em Cambridge. Era a primeira vez que conversávamos depois da expulsão de Harvard. Ele me disse que alguns amigos estavam a caminho da Cidade do México junto com um figurão mexicano de "costas quentíssimas", que garantiu poder dar um jeito de nos colocar de volta no país.
Passei o dia seguinte com meu advogado, achatando os nossos traseiros no escritório do ministro da Saúde, um cara pomposo que se gabava de seu treinamento na clínica Menninger. Tínhamos esperança de conseguir convencê-lo a voltar atrás com o pedido de deportação. Ele alegou se sentir insultado por acharmos que poderíamos nos dar bem com esse tipo de sacanagem em seu país.
Ressaltei as diversas vantagens de dar início à explosão de inteligência no México e transformar seu país na Suiça da América do Norte. Mas ele não caiu nessa. Tinha sido convencido, depois de várias conversas com autoridades americanas, de que eu era indesejável.

Já no jantar daquela noite, organizado por Jorge, eu me senti mucho desejado. O governador de Michoacan enviara um alto funcionário para me encorajar a mudar para o seu Estado. Uma vez que ele já havia marcado um encontro com o presidente no dia seguinte, todos esperavam uma aprovação sem maiores problemas. O presidente devia muitos favores ao governador. Fizemos vários brindes a ciência e ao dinheiro que estavam por vir.
No dia seguinte, todavia, Jorge apareceu desolado em meu hotel. Não tinha dado certo. O próprio presidente estava tratando do problema, e não haveria nenhuma prorrogação para a minha expulsão. Ele recebera ligações pessoais do embaixador dos EUA, da CIA e de oficiais do Departamento de Justiça. Era impossível dar um jeito.
Quando voltei para o hotel, cheio de vibrações negativas, mais notícias deprimentes me aguardavam. Um dos hóspedes, Duane Marvy, um engenheiro de Boston, tinha tomado LSD e ainda não voltara da viajem, havia doze horas. Era a primeira vez que nos deparávamos com uma bad trip prolongada. Encontrei-o sentado no pátio, mudo,sem reações, olhando fixamente para o céu. De vez em quando, punha-se de pé, de um salto, e tentava sair correndo, gritando que nós todos éramos comunistas e que ele nos deletaria para a CIA. Obviamente, pensei, a chegada da polícia contaminou a ambientação. Devíamos ter suspendido todas as sessões. Eu tinha esperança de que ele retornasse gradualmente até o dia seguinte, quando teríamos de ir embora.

Naquela noite, fizemos um jantar familiar de despedida, todos muito desanimados. Depois da sobremesa, o dr. Fred Payne, um psicólogo grisalho que acabara de chegar da Califórnia, implorou para fazer uma "viagem". Uma enfermeira de psiquiatria de Menlo Park e Jack Downing, o psiquiatra, ofereceram-se para serem seus guias. Eles insistiram tanto que , mesmo relutante, concordei.
Uma hora depois, enquanto eu estava sentado no pátio olhando a lua, um gorila de médio porte, mas com a pele macia de um humano, entrou nu, vagarosamente, pulou sobre uma mesa, bateu no peito, pulou para outra mesa, emitiu um rugido, e se lançou, rolando pelo parapeito, sobre os arbustos embaixo.
Um segundo depois, entrou o dr. Downing, correndo pela escada, seguido pela enfermeira, esbaforida.
- Por acaso você viu o dr. Payne passar por aqui? - perguntou a enfermeira com um certo constrangimento.
- Eu acabei de ver um homem-macaco de 85 quilos atravessar por ali. Vejam se conseguem acalmá-lo. Não fiquem brincando de pega-pega com ele, porque vocês não são páreo para um símio daquele tamanho.

Balançando-se entre as árvores, pulando sobre telhados, correndo para cima e para baixo, pelas escadas, dr. Payne proporcionou a eles uma alegre caçada. Quando os guias o cercaram na porta da cozinha, ele escalou uma calha e desapareceu no andar de cima. A enfermeira e o psiquiatra voltaram em busca de ajuda. Encontrei dr. Payne sentado numa escada de pedra, coberto de sangue proveniente de cortes e arranhões superficiais.
Ele chupava o dedão do pé alegremente.
- Ei, Fred, você está tendo uma viajem selvagem de ácido, não é mesmo?
Ele me olhou com aquela curiosidade animal.
- Você ainda vai ficar viajando mais ou menos durante uma hora, para depois começar a se acalmar. Não precisa se preocupar. É apenas uma aventura selvagem e primitiva.
Ele projetou sua cabeça e farejou o ar com desconfiança.
- Que tal um cigarro, Fred? - Ofereci a ele um maço de Pall Mall.
Ele veio em minha direção. Entrei em pânico e rolei escada abaixo. Minha cabeça e meu cotovelo sangravam. Ele voltou atrás e correu de volta para o andar de cima.
Participei, então, de uma da cenas mais cretinas da minha vida. Formamos um grupo de seis homens, armados de travesseiros e cobertores. Um de nós carregava uma lona e uma corda. Jack Downing trazia uma seringa cheia de tranquilizante.

Finalmente avistamos o dr. Payne agachado na varanda, em frente ao seu próprio quarto. Sob o meu comando, os seis homens atacaram o pobre coitado com travesseiros. Ele lutou um pouco, mas conseguimos dominá-lo. Pensando melhor a respeito do que aconteceu, percebi que mais uma vez foram as pessoas do ambiente a causa do problema, e não o viajante. Dr. Payne não chegou a tocar em ninguém. Na verdade, cada movimento seu foi no sentido de evitar ser machucado, não de machucar. O único sangue derramado foi o dele mesmo e o meu, porque entrei em pânico.
Ele estava lúcido, mas bastante grogue na manhã seguinte. Dr. Downing concordou em acompanhá-lo até São Francisco.
- Precisamos conversar sobre isso algum dia - murmurou Payne, enquanto nós o levávamos para o aeroporto.
 
Segue um breve e interessante trecho, em que Lear fala sobre ambientação e bad trip :)

O acampamento psicodélico de verão


'Os dois objetivos do nosso acampamento de verão eram coletar dados em primenira mão, na forma de observações, arquivos e relatórios escritos, e experimentar métodos de condução de sessões de drogas. Em particular, queríamos testar a teoria do ambiente. Estávamos convencidos de que os efeitos da droga eram quase inteiramente determinados pelo que faziam as pessoas ao redor do viajante. Se o ambiente irradiasse segurança, beleza e sabedoria, até os neuróticos teriam experiências seguras, estéticas e reveladoras. A teoria sustentava que todas as bad trips poderiam ser convertidas em good trips se o ambiente fosse administrado de maneira inteligente e desse apoio ao viajante.

Cheguei uma semana antes para preparar a equipe do hotel. O meu tempo livre era dedicado aos banhos de sol, deitado nas areias douradas da praia, e à tradução do Livro tibetano dos mortos do inglês-budista para o americano-psicodélico. Essa obra notável narra os estágios pelos quais passaria a consciência durante os 49 dias após a morte; descreve as visões arquetípicas e os estados mentais, alguns aterrorizantes, outros prazerosos; além disso, também apresenta as técnicas que devem ser lembradas pelo viajante ou pelo guia à medida que a alma progride por diversos níveis, chamados bardos. Foi Salinas quem me chamou a atenção para as implicações psicodélicas do texto.'


 
Inverno de 1962 - 1963
Universidade de Harvard


Para identificar os níveis de consciência (ou seja, desenvolver o novo software), tínhamos de lidar com diversas questões ligadas ao cérebro, visto como um biocomputador: Como ele é programado? Quais os circuítos a que se pode ter acesso? Como tais circuítos configuram as realidades em que habitamos? Desde a minha primeira experiência com cogumelos, responder a essas questões era a minha tarefa filosófica permanente. [...]

[...] Enquanto isso, nossas pesquisas iam bem. Estávamos ocupados com a publicação de artigos em periódicos científicos e apresentando trabalhos em conferências. Pesquisadores de todas as partes do mundo vinham observar o nosso trabalho. O entusiasmo pelas drogas por parte dos estudantes de graduação de Harvard continuava a nos assombrar. Nesse ano, o terceiro de nossa pesquisa, a universidade fervia com a consciência das drogas. Se nós, pudicamente, nos recusássemos a conduzir sessões para eles, de nada adiantaria. Eles obtinham fornecimentos de Boston e de Nova York. Vários estudantes de química mais audaciosos construíram laboratórios domésticos para eles próprios elaborarem a droga. De maneira geral, a epidemia de drogas que tomava conta de Cambridge parecia inofensiva. Centenas de estudantes de Harvard expandiam suas mentes, tinham visões, liam literatura mística e escreviam ensaios inteligentes sobre as experiências. Para nós, eles estavam se beneficiando com isso.

Claro que incidentes ocasionais acabavam chamando a atenção das autoridades. Alguns estudantes foram correndo contar suas viagens aos seus psiquiatras. As histórias exuberantes sobre os estados alterados chocaram os médicos inexperientes no assunto.
- Você sentiu seu corpo dissolver numa piscina de mel?
Pensamento de padrão psicótico.

Alguns estudantes deixaram a universidade e foram para o Oriente estudar ioga às margens do Ganges, o que não era necessariamente - do nosso ponto de vista - um atraso de vida, mas os pais ficaram compreensivelmente assustados. Eles não tinham mandado seus filhos a Harvard para que se tornassem Budas. Os piores problemas resultaram da tendência crônica dos estudantes de contar tudo a "todos". Dezenas de jovens brilhantes telefonavam para suas casas anunciando que haviam encontrado Deus e descoberto o segredo do universo. Os diretores da universidade ficaram irritados com as reclamações dos pais.
 
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