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Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

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Flashbacks "surfando no caos" - Timothy Leary

Mahasamādhi

Gnossos Papadopoulis
Membro Ativo
09/09/2010
310
55
Olá irmãos, transcrevo aqui a primeira experiência do Timothy com os cogumelos mágicos. Aos poucos vou postando mais. Abraços



Verão de 1960
Cuernavaca, México

[...] Na semana seguinte, Gerhart telefonou da Cidade do México. Ele havia encontrado uma curandera na vila de São Pedro, perto do vulcão de Toluca. Longe do tumulto do mercado, à sombra de uma igreja, Juana tinha lhe mostrado um saco de cogumelos. Quando ele perguntou se não eram perigosos, ela colocou dois deles na boca. Ele levou os cogumelos para casa e lavou-os com água fria. Os cogumelos estavam repousando na prateleira do meio de sua geladeira.
- Te vejo no sábado - eu disse.
Gerhart chegou ao meio dia. Vieram com ele sua namorada Joan, sua filha Mandy e Betty, uma especialista em língua inglesa de Berkeley, que escrevia poesia, contava piadas malucas e jogava bola com os garotos.
Gerhart tinha conversado com alguns botânicos da Universidade do México. Enquanto esperava os cogumelos, contava o que tinha aprendido: usado pelos astecas, os cogumelos mágicos foram banidos pela igreja católica com tanto rigor que levou os botânicos modernos a rejeitarem a existência de tais espécies. Retirados da história até a década passada, esses cogumelos foram redescobertos pelos botânicos Weitlinger e Schultes e pelos micologistas amadores Valentina e Gordon Wasson. Até o momento, apenas alguns cientistas, poetas e intelectuais tinham experimentado os cogumelos em busca de experiências místicas. Acreditava-se que produziam visões extraordinárias.

Gerhart arrumou os fungos em duas tigelas sobre uma mesa que ficava embaixo de um enorme guarda-sol. Disse que cada um de nós deveria comer seis, e que o efeito começaria em uma hora. Então, ele pegou um cogumelo enorme, preto e embolorado, fez uma careta e o mastigou. Seu "gogó" descia e subia à medida que o cogumelo era engolido.
Escolhi um, ele fedia. O cheiro era igual ao de um tronco de árvore podre ou de certos porões da Nova Inglaterra, e o gosto era pior que a aparência. Amargo, borrachento. Tomei um trago de Carta Blanca, enfiei o resto na boca e engoli tudo.
Todos estavam atentos ao próprio estômago, esperando os primeiros sintomas de envenenamento. Cinco de nós fomos nos sentar no terraço ensolarado, vestindo calções de banho, para esperar o efeito. Esperávamos e perguntávamos um ao outro: "Quantos você comeu? Está sentindo alguma coisa?
Duas pessoas não comeram. Uma delas foi Ruth Dettering, que estava grávida e era formada em enfermagem, de maneira que eu fiquei feliz em tê-la como observadora. O outro que se absteve foi Bruce, alegando que tinha ataques nervosos e estava com medo de ter alguma reação. Ele estava de calção de banho sobre cuecas floridas, meias pretas com prendedor verde, sapatos de couro e roupão de seda. Logo, nós o designamos cientista oficial responsável por anotar detalhadamente todas as reações do grupo.

Comecei a me sentir estranho, como se tivesse tomado uma anestesia de dentista. Uma leve náusea. Distante, cada vez mais distante das pessoas de calção de banho em um terraço sob o brilhante sol mexicano. Tudo irradiava vida, mesmo os objetos inanimados.
Deterring disse que sentia a mesma coisa.
Bruce mantinha-se ocupado escrevendo, com seus ombros magros debruçados sobre o bloco de notas, como um psicanalista vienense. O cientista! No entanto, ele não tinha a menor idéia do que estava presenciando e essa descoberta profissional me pareceu imensamente divertida. Risadas e mais risadas. Eu não consegui parar de rir.
Todos olhavam para mim espantados. A admiração deles aumentava minha vontade de rir. Bruce olhava com a língua mexendo no meio da vasta barba.
Eu ri novamente da minha pompa diária, da arrogância tacanha dos acadêmicos, da presunção do racionalismo, da impotência asseada das palavras em contraposição à riqueza bruta e dinâmica dos panoramas que inundavam meu cérebro. Dettering me acompanhou, observando.
- Você percebe, Dick, como nossas mentes são pequenas?
Ele fez que sim. Ótimo, ele percebia. E começou a rir.
Cedi ao prazer da mesma maneira que os místicos fizeram por séculos, quando olhavam pelas cortinas e descobriram que este mundo - tão obviamente real - era na verdade um pequeno palco construído pela mente. Havia um mundo de possibilidades lá fora (lá dentro?), outras realidades, uma série infinita de programas para outros futuros.
Voltando ao terraço. Opa! O meu andar transformara-se em um arrastar-se com pernas de borracha. A sala parecia estar preenchida com um líquido invisível. Flutuei até a poeta Betty. Sua face clássica desabrochou como um girassol. Ela estava em algum ponto do êxtase. Lá está Ruth Dettering em pé, ao lado da porta. Nadei até ela.
- Olhe Ruth - falei, e minha voz me pareceu surpreendentemente normal -, estes cogumelos são mais fortes do que eu esperava. Acho que você deveria mandar as crianças para o cinema e dar folga à empregada. Fique por perto e de olhos abertos.

Depois disso, entrei no departamento óptico da imaginação. Palácios do Nilo, templos hindus, bordéis babilônicos, tendas dos prazeres beduínas, pedras preciosas cintilantes, trajes de seda esvoaçantes com cores esfuziantes, mosaicos flamejantes de esmeraldas de Muzo, rubis da Birmânia, safiras do Ceilão. Aí vieram aquelas serpentes feitas de jóias, os répteis mouros deslizando, enrolando-se, sugados por um orifício bem no meio da minha retina.
Em seguida, o tópico da viajem mudou para a evolução, garantida a todos que haviam embarcado nessa jornada pelo cérebro. Vou, pelo túnel do tempo, para as antigas salas de projeção centrais do cérebro: a era das serpentes, a era dos peixes, a era das florestas de palmeiras gigantes, a era das samambaias verdes de flores rendadas.
Observo calmamente a primeira criatura do mar rastejando para a praia, deito-me com ela, a areia raspando meu rosto, e depois flutuo no profundo oceano verde. Olá, eu sou o primeiro ser vivente.

A viajem durou pouco mais de quatro horas. Assim como quase todos que atravessam as cortinas, voltei um homem mudado.
São João da Cruz, Aldous Huxley, seu irmão mais novo, William Blake, John Lennon, Platão depois de Elêusis, Lucy in the sky with diamonds e assim por diante - todos eles concordam quanto aos reinos extraordinários e inexplorados do cérebro.
Todos nós ouvimos e lemos uma porção de histórias emocionantes de "viajantes', mas essa descoberta é, mesmo assim, uma surpresa gloriosa. Místicos voltam com relatos delirantes sobre níveis superiores de percepção, por meio dos quais uma pessoa vê realidades cem vezes mais bonitas e significativas do que a tranquilizadora rotina familiar. Para a maioria das pessoas é um choque saber que o seu circuito de realidade quotidiana é apenas um entre as dezenas de circuitos que, quando acionados, são igualmente reais, pulsando com formas estranhas e sinais biológicos misteriosos. Aceleradas ou amplificadas, algumas dessas realidades alternativas podem ser microscópicas, riquíssimas em detalhes; outras, telescópicas.
Visto que as drogas psicodélicas expõem-nos a níveis diferentes de percepção e experiência, usá-las significa entrar em uma aventura filosófica, obrigando-nos a confrontar a natureza da realidade com os nossos frágeis sistemas subjetivos de crenças. A diferença é a causa do riso, do terror. Nós descobrimos abruptamente que fomos programados todos esses anos, que tudo que aceitamos como sendo realidade é apenas uma construção social.
Nesses 21 anos, desde o dia em que comi cogumelos em um jardim no México, venho dedicando a maior parte de meu tempo e energia à exploração e à classificação desses circuitos cerebrais e de suas implicações na evolução, no passado e no futuro. Em quatro horas, à beira da piscina em Cuernavaca, aprendi mais sobre a mente, o cérebro e suas estruturas do que nos quinze anos anteriores como psicólogo dedicado. [...]
 
Última edição:
Continuação...


Aprendi que o cérebro é um biocomputador subutilizado, que contém bilhões de neurônios não utilizados. Aprendi que a consciência normal é uma gota em um oceano de inteligência, que consciência e inteligência podem ser sistematicamente expandidas, que o cérebro pode ser programado, que o conhecimento de como o cérebro opera é a questão científica mais urgente de nosso tempo. Estava fora de mim de tanto entusiasmo, convencido de que tínhamos encontrado a chave que procurávamos.
Os dias posteriores à minha viagem estavam livres para introspecção e contemplação, o que foi uma sorte. Uma experiência psicodélica pesada é um momento de convulsão interna para qualquer um. Em manuais e palestras subsequentes, eu sempre sugeria um dia distante das distrações mundanas para digerir calmamente o que aconteceu.
Alguns dias depois, fui para uma vila nos arredores de Tepoztlan a fim de compartilhar minhas descobertas com o professor McClelland. Além de ser um grande e criativo psicólogo, ele tinha se tornado quaker . Essa religião transcendental foi fundada depois das experiências visionárias de George Fox, por isso, eu estava confiante de que McClelland seria receptivo a idéia de experimentar cogumelos.
Engano meu. Mas do que isso, ele pareceu ligeiramente perturbado com minhas previsões entusiasmadas quanto ao valor dos estados alterados em pesquisas psicológicas.
McClelland me deu atenção, acreditou em minhas teorias existenciais-transacionais de mudança de comportamento e apoiou a idéia de que poderíamos trabalhar juntos para humanizar a psicologia.
Fiz um projeto inicial, propondo experiências sistemáticas com drogas em Harvard. Como meu orientador na faculdade, ele estava compreensivelmente preocupado com os prováveis problemas administrativos e políticos que poderiam surgir.
Durante esse encontro com McClelland, compreendi que era praticamente impossível passar a experiência de estados alterados para alguém que não os tinha vivenciado (lembrei da reação adversa que tive quando Barron tentou me contar suas experiências com cogumelos). Mesmo o melhor amigo olharia com ceticismo. Então você viu coisas bizarras? Ficou louco por seis horas? E daí? O que isso tem haver com os problemas da vida normal?
Tentei explicar para McClelland que a atividade de cara órgão dos sentidos era intensificada, que as cores e as formas eram novas e mais definidas. Eu tinha me tornado um instrumento musical, tudo estava vivo, mesmo os objetos inanimados enviavam sinais e adquiriam significados.
- A barba de Bruce adquiriu significado? Essa eu não engulo – suspirou McClelland, olhando para o seu relógio.
Frank chegou e ficou satisfeito em saber que eu havia comido os cogumelos. Passamos longas horas à beira da piscina, tomando outra poção nativa poderosíssima, tequila e tônica, tendo longas discussões sobre as implicações científicas do fenômeno de multiplas realidades. Quando contei a respeito da resistência de McClelland, ele me advertiu da tendência compulsiva de sair correndo por aí explicando a todo mundo essses efeitos extraordinários e seus significados.
Descobriria que o mundo estava dividido entre aqueles que tinham tido a experiência (ou que estavam ansiosos para tê-la) e aqueles que não a tiveram (e que tremiam diante dessa possibilidade)
Nos anos seguintes, também ficaram claras as conexões emocionais entre os que haviam experimentado. Compartilhar o segredo a respeito dos potenciais do cérebro se tornaria um fenômeno social significativo e abrangente. Dificilmente passava um dia sem que alguém – um estranho na rua, um garçom do restaurante, uma aeromoça ou um novo conhecido em uma festa – segurasse minha mão com aquele olhar intenso e contasse um resumo de sua primeira experiência psicodélica.
Frank e eu concordamos em começar um projeto de pesquisa em Harvard para aprofundar nossas idéias. Frank se concentraria no aspecto da criatividade e eu trabalharia com o uso de drogas para acelerar a mudança de comportamento.
Depois que Frank partiu, Dick Alpert chegou em seu novo Cesnna, pronto para comer os cogumelos. Mas não pude achar nenhum. Nossas visitas a São Pedro para encontrar a curandera foram inúteis. Ninguém tinha ouvido falar de Juana!
O verão terminou em alto estilo. Jack e eu voamos de volta com Dick, evitando tempestades, errando de aeroporto na neblina, chacoalhando em uma aterrissagem para reabastecer em um pasto de Michoacan – quase sempre aprendendo a confiar um no outro, como nas aventuras de Tom e Huck.
 
Timothi Leary teve uma postura bem pop star , criticada por muitos, e que causou uma super exposição negativa , por parte da midia , mas ele estava certo em discutir , o uso de psicodélicos de forma livre e sem vergonha... psicodélicos fazem bem para o corpo e a mente, de pessoas preparadas adultas e responsáveis ... revela o espiritual, e nos faz crer em uma força superior ... tornando-nos pessoas melhores... por que esconder algo tão maravilhoso?
 
Existem portas que as pessoas não querem abrir, e o Leary assustou muita gente, pra mim o cara foi um baita visionário, muita gente criticou a postura dele, acabou sendo expulso de Harvard. É inaceitável que alguns seres humanos queiram decidir onde a curiosidade deve ou não se meter.

Só pra citar outra grande figura que inclusive foi presa assim como o Leary: Wilhelm Reich, poxa, perseguiram e prenderam o cara, queimaram os seus livros, o cara morreu na cadeia desacreditado pelo rumo cientifico da época. O Reich influencia até hoje a psicoterapia com suas ideias. Mas é como o Thimoty afirmava: o medo é o pior obstáculo para a evolução humana.

Atualmente as pesquisas dele estão sendo retomadas. O tempo é o senhor!!! :LOL:
 
Mano,já tinha escutado várias vezes o nome Timoth Lear,mas não sabia nada de verdade a respeito.Graças ao tópico resolvi pesquisar e estou muito feliz com o que estou lendo,gratidão Thiaguera:)!
 
Li essa biografia graças a esse tópico e a indicação de um amigo. E eu achei as idéias do cara interessantes... Gostei da narrativa ( apesar de ter lido uma tradução, e geralmente alteram algo ).
A história da proibição da pesquisa dele passa muito pelo medo humano de perder o poder sobre as grandes massas (ou não)... Imagina um bilhão de pessoas tomando LSD, cogumelos, etc, sem medo de ser feliz?
 
As drogas são a origem da religião e da filosofia

Primavera de 1961
Universidade de Harvard

Como novatos no campo visionário da psicobotânica, nós, do projeto de drogas, considerávamos o professor Schultes com o respeito que cabia a um intrépido acadêmico. Costumávamos passar no museu para ver as espécies expostas cuidadosamente em compartimentos de vidro. Schultes era educado conosco, mas sempre distante. Sentíamo-nos como nativos, cujos hábitos de tomar drogas estavam sendo observados.
Um dia, recebemos uma ligação do escritório de Schultes no museu. Na linha, estava Robert Gordon Wasson, que ficara famoso por um longo artigo publicado na revista Life, descrevendo suas viajens ao México e a descoberta de cogumelos mágicos. Antes de Wasson, a maioria dos micologistas tinha descartado a existência de tais cogumelos. Wasson provou que estavam errados. O importante banqueiro de Manhattan tinha comido os cogumelos, deitado no chão de terra do abrigo xamã de Oaxacan e experimentado visões filosóficas profundas.

Wasson fez outras viajens para o México com Roger Heim, um famoso micologista francês. Eles enviaram espécimes para os laboratórios da Sandoz, onde Albert Hofmann sintetizou o princípio ativo. Portanto, devemos o nosso abastecimento de psilocibina à determinação de um banqueiro de Nova York e às habilidades de um químico da Basiléia. Wasson perguntou se podia fazer uma visita ao Centro. Providenciamos para que tomássemos um chá completo na sala de conferências.
O banqueiro Wasson era um homem sério e de boa aparência. Ele nos contou a história da sua primeira experiência psicodélica e da hipótese que o fez sair em busca dela.
- Não lembro exatamente - disse o senhor Wasson - qual de nós, eu ou minha mulher, foi o primeiro a ter coragem de expressar, na década de 40, a premissa de que os nossos ancestrais remotos, talvez de quatro mil anos atrás, cultuavam os cogumelos. No outono de 1952, descobrimos que os escritores do século XVI, que descreviam as culturas indígenas do México, tinham registrado que certos cogumelos exerciam um papel sagrado na religião dos nativos. As chamadas "pedras de cogumelo" (encontradas no México) representam, realmente, cogumelos. Elas eram o símbolo de uma religião, assim como a cruz dos católicos, a estrela dos judeus e a lua crescente dos muçulmanos. Logo, o cogumelo é o centro de um culto que talvez apresente a história contínua mais longa da terra.

Olhares de cumplicidade e de satisfação se cruzavam pela sala, conforme constatávamos que a nosso pesquisa de drogas estava sendo ligada a um precedente histórico impressionante. Esse era o tipo de conversa de que precisávamos.
- A vantagem dos cogumelos é que eles levam muitos, se não todos, para dentro de um estado visionário sem ter de passar pelas mortificações de Blake e de São João. Permitem ver paisagens que estão além dos horizontes desta vida; viajar para frente e para trás no tempo; entrar em outros planos da existência; até mesmo como dizem os índios, conhecer Deus.
- Tudo o que você vê durante essa noite tem uma qualidade de pureza: as paisagens, as construções, as esculturas e os animais. Todos parecem ter saído diretamente das oficinas do Criador. A novidade implícita em cada coisa, como se o mundo tivesse acabado de nascer, sobrepuja e dissolve você com uma beleza própria.

Percebendo o quanto a nossa taxa de crédito subiria com o endosso do Banco de Morgan, Dick contou a Wasson a respeito das análises de conteúdo que estávamos fazendo das descrições visionárias e filosóficas feitas pelos usuários de drogas. Mencionou os nossos planos de desenvolver um sistema de classificação científica dos níveis ou circuitos do sistema nervoso e do nosso projeto de uma máquina de escrever experimental (os voluntários apertariam as teclas simbólicas apropriadas, em vez de lutarem com as palavras). No entanto, Wasson não nos dava ouvidos. Ele viera para falar sobre a sua primeira viajem de ácido. Estava fazendo o papel do cavalheiro pedante ao extremo, saboreando a posição de Honorary Associate do museu de Harvard, como só alguém que não fosse acadêmico faria, deliciando-se ao recitar de cor os nomes científicos das plantas. O peiote era Lophophora williamsii, sinônimo de Anholonium lewinii, nome dado em honra a Lewis Lewin. O ácido lisérgico era Rivea corymbosa, a semente da Mornig Glory. Os junkies, viciados em heroína, tomavam Papaver somniferum, e aquele pó branco usado pelos produtores de Hollywood e banqueiros de Wall Street para encherem seus narizes, era a Erythroxloin coca.

Foi meio decepcionante. Wasson partiu para um safári em seu cerebelo e voltou, como um explorador do século XIX, com aquela roupa cáqui, esperando receber os méritos pela descoberta dessas novas zonas desconhecidas. Ele não queria ouvir que tínhamos entrado no mesmo território. Aqueles eram os "seus" malditos cogumelos controlados pela "sua" junta de criadores. Parecia nos ver como rivais. Pensei em ligar para Aldous Huxley para perguntar como lidar com a competição colonial.
Wasson sugeriu que as religiões mais importantes do mundo tinham se originado a partir de alucinações botânicas de algum visionário ancestral. Recitou e depois traduziu nomes antigos para cogumelo, em diversas línguas orientais e do Oriente médio, sugerindo que estavam todos associados a uma experiência religiosa: carne dos deuses, comida dos deuses. Até o nome Jesus Cristo em aramaico, afirmava ele, era derivado de um termo usado para denominar cogumelos psicodélicos.

Mas Wasson era contrário a qualquer tipo de uso comum dos cogumelos. Embora esses fungos tivessem produzido todas as grandes visões filosóficas da antiguidade, segundo ele, não tinham relevância no mundo moderno. Durante nossas conversas, Wasson quis deixar claro que ele era a única pessoa capaz de explicar os cogumelos, e que tinha muito orgulho de ter publicado reportagens em jornais e revistas de renome como a Life. Estava particularmente incomodado com o fato de que as visões provocadas por cogumelos tivessem sido publicadas em revistas "vulgares". Ele aprovava as batidas policiais nos oddballs, nome dado aos jovens que usavam cogumelos psicodélicos para autoconhecimento e descobertas espirituais.
Ironicamente, seus escritos motivaram inúmeros desses jovens a descer até pequenas vilas mexicanas, como Juatla, a fim de compartilhar as experiências que ele descrevera com tanta eloquência. A possessividade de Wasson me deixou pasmo. Ele aprovava as batidas dos federales contra esses jovens exploradores e não esboçou a mínima reação contra a prisão de Maria Sabina nessa mesma época.

Insistia que os xamãs deviam permanecer em silêncio sobre o trabalho que desenvolviam e demonstrou certa culpa por ter quebrado o ciclo secreto, publicando a descrição de suas cerimônias. Disse que a disseminação dos segredos do culto destruiriam seu poder.
Em breve, provaríamos que ele estava errado.
 
Última edição:
Nossa, eu não tenho dinheiro para comprar esse livro então aguardo ansiosamente pelo próximo trecho.
Obrigado @Thiaguera

hehehe, é nozes brother :)...no próximo post vou transcrever as Badtrip's que o Lear presenciou...segundo ele, é na ambientação da experiência que as temidas Bad's ocorrem...mas chega a ser hilário ver um psiquiatra perdendo o rumo na força dos mágicos. O cara vira um primata sem a domesticação da cultura, foi uma peia que o Dr. com certeza nunca mais esqueceu!! :ROFLMAO:
 
Haha, então como Timothy L cita em seu livro The psychedelic experience, "...os heavy game players, aqueles que se agarram angustiadamente a seus egos, e para aqueles que tomam a droga num cenáio não-apropriado, a luta para voltar à realidade começa cedo e normalmente dura até o fim da sessão."
 
As elites literárias e a esperança negra

Outono de 1960
Cidade de Nova York


Tendo passado a maior parte da minha infância nos reinos idílicos da imaginação, senti o elo que me unia aquele escritor bêbado e introvertido. Jack kerouac era uma pessoa assustadora. Por detrás daquela aparência de lenhador corpulento, estava um homem taciturno de uma cidade industrial da Nova Inglaterra, um canadense católico denso e desconfiado. "Este é um garoto infeliz", pensei comigo.
- Então, dr. Leary, o que você pretende fazer, andando por aí com essa bicha comunista do Ginsberg e seu saco de pílulas? Será que suas drogas podem absolver os pecados mortais e veniais pelos quais seu amado salvador, Jesus Cristo, filho único de Deus, desceu à terra e sacrificou sua vida pregado na cruz para depois desvanecer? - Ele estava sendo engraçado e, ao mesmo tempo, não estava.
- Por que não descobrimos a resposta? - disse Ginsberg calmamente.
Tirei a garrafinha, distribui as pílulas e levantamos vôo.

Kerouac continuou a beber e a esbravejar como um marinheiro em um bar de porto, andando pelo quarto, pulando nas cadeiras e declamando um monte de coisas engraçadas, poéticas e sem sentido. Ele pulou para o sofá e disse:
- Eu sou o rei dos beatniks . Sou François Villon, poeta salteador e vagabundo da estrada. Ouçam-me tocar minhas improvisações aceleradas e espiraladas em minha máquina de escrever soprano.
Seu discurso era inteligente, engraçado e agradável, mas quando a droga começou a relaxar os meus tecidos, o barulho se tornou intolerável. Senti falta do silêncio das sessões domésticas.
Até aquele momento, já tinha compartilhado viagens com mais de cem pessoas, mas nenhuma delas tinha tentado controlar, dominar e derrotar a experiência como Kerouac. Ele se manteve o tempo todo impondo seu estilo de boteco sobre a droga, e para mim aquilo era simplesmente demais.
Fui até o quarto e desmontei na cama. Kerouac continuou a gritar e a gargalhar histericamente com sua euforia alcoólica. Fiquei deprimido. Kerouac tinha me empurrado para minha primeira bad trip. Talvez tenha sido a atmosfera decadente de cortiço da casa, tão diferentes de nossas salas de sessão cuidadosamente preparadas. Talvez o movimento de Nova York, uma cidade incompatível com filósofos tranquilos. Ou talvez a melancolia franco-católica de Kerouac. De qualquer maneira, eu me afundei naquela noite.

A coisa não estava para brincadeiras, o mundo era um lugar frio e sombrio. Tia Mae e Kerouac estavam certos: era besteira querer mudar a natureza humana. Quem era eu para acabar com o sofrimento se do fundo de minha alma supurava um desespero purulento. Sim, as freiras católicas estavam certas, este mundo era um vale de amarguras. Minha vida era uma farsa. Por trás de minha fachada alegre, escondia-se uma criança miserável, abandonada pelo pai, que cortava o coração de sua mãe, que levou sua esposa ao suicídio, incapaz de sentir amor e felicidade verdadeiros.
Meu pai nunca me deu muita atenção. Lembrei-me daquele dia terrível, quando voltei da escola para casa e minha mãe disse que papai queria ter me levado para passar a tarde no lago Congamond. Como eu não estava em casa, ele simplesmente foi embora sem mim. Desci correndo os três lances de escada para o estacionamento do prédio. O carro de papai estava saindo do estacionamento. Corri gritando: "Pai, espere por mim!" Ele não me ouviu e partiu.

Seria possível que ele ou eu amássemos alguém?
Minha mãe e tia Mae aguardavam ano após ano, sofrendo, o momento em que eu ia partir os seus corações novamente.
Eu sempre ia embora, abandonando as pessoas queridas. Marianne, minha doce esposa perdida. Meus pobres filhos, Susan e Jack, desamparados.
Fui para o hospital com o corpo inerte de Marianne. Eles a levaram para a sala de emergência. Um jovem médico, baixo e moreno, debruçou-se sobre ela por um instante. Em seguida, colocaram o lençol sobre o seu rosto.

Allen encontrou-me encolhido como um feto na cama:
- Ah, não! Agora é "você" o angustiado cósmico. Você está bem? Estamos sentindo a sua falta.
Ele me lembrou da sua primeira viagem com cogumelos, quando conseguiu superar um momento doloroso com a minha ajuda. Eu estava precisando ouvir justamente isso. Senti-me melhor, tranquilizado pela expressão amorosa de Allen.
Com a ajuda dessa droga, estava expondo-me às emoções mais intensas possíveis para um sistema nervoso humano. Tendo vivenciado os dois lados das crises durante as sessões, aprendi que era possível controlar e modular as emoções. A consciência podia entrar e sair de qualquer câmara imaginável de terror ou felicidade. O truque era não ser pego, não paralisar o fluxo da realidade. Assim, seria possível dizer: "Nenhuma emoção é estranha a mim, nenhuma emoção pode me aprisionar".

Kerouac ainda estava em sua realidade de boteco, e então me juntei a ele, bebendo vinho tinto, fumando cigarros e contando histórias. Num certo ponto, Allen e eu tentamos falar com Kerouac a respeito do valor cultural das sessões com drogas e das implicações filosóficas dos estados alterados. Ele descartou nosso entusiasmo pagão com um dito católico:
- Não se aprende a andar sobre as águas em um dia. [...]
Jack Kerouac abriu as portas neuronais para o futuro, olhou adiante e não encontrou um lugar para si. O otimismo pluralista dos anos 60 definitivamente não eram para ele.
 
Última edição:
Como eu me tornei um anfíbio

Muitos humanos serão aprisionados pelos seus DNAs, coagidos por sociedades repressivas ou seduzidos por recompensas materiais (dinheiro, sexo, poder) e, assim, permanecerão aprisionados e satisfeitos em Terrarium, o mundo carnal-material.

Os indivíduos que aprendem a construir e a habitar realidades próprias no outro lado da janela eletrônica, estão livres para construir realidades digitais e passear através delas. Os termos metafisiológicos clássicos já podem ser definidos para que sejam operacionais: Espiritual pode ser definido como "digital". Fale em voz alta para si mesmo as palavras míticas e mágicas: "etéreo", "intangível", "imaterial", "desencarnado", "ideal". Estas esferas, sonhadas através dos tempos, já podem ser concretizadas.

A maiorias de nós que tiver opção, viverá como um ser anfíbio de cérebro duplo. A maior parte de nosso tempo em vigília será consumida num mundo cibernético-psicobernético digital-cerebral. O nosso tempo despendido com a realidade da máquina orgânica será considerado prazeroso, lento, sensual, viçoso, erótico, carnal, mundano, enfim, férias divertidas das realidades aceleradas, em ritmo alucinante, do ciberspace.'
 
Pesquisa com drogas em Harvard - Aldous Huxley

Outubro de 1960
Indian Orchard, Massachussetts


A manhã de segunda-feira trouxe outra daquelas sincronicidades que sempre acontecem quando estamos abertos a novas informações. Alguém, em um coquetel da faculdade, disse-me que Aldous Huxley estava passando o semestre em Cambridge como professor visitante do MIT. Escrevi uma longa carta a ele, descrevendo nossos planos de pesquisa. Dois dias depois ele me telefonou no escritório, mais excitado do que eu mesmo, oferecendo-se para participar de nossas experiências. Combinamos um almoço para o dia seguinte.

Huxley estava em um novo complexo de acomodações para docentes do MIT, com vista para o rio Charles. Toquei a campainha e ele apareceu na porta, majestoso, frágil e amigável. Levei-o de carro até o clube dos professores de Harvard, falando o tempo todo sobre as minhas visões na sessão de cogumelos.
Ele examinou o menu com sua lente de aumento, como se estivesse estudando um espécime.
- Parece que já estava predeterminado que deveríamos pedir a sopa - falou.
- Ótimo, do que é?
- Cogumelos - disse, e deu uma gargalhada, o que depois eu notei ser um traço marcante dele.

Aldous Huxley era exatamente o tipo de pessoa que podia ser classificado como um filósofo inglês: um Buda sereno com uma mente enciclopédica. Tinha uma voz tranquila e elegante, típica de Oxford. No entanto, o seu tom de voz elegante aumentava nos momentos em que se indignava contra a arrogância dos donos do poder, que definiam estados alterados de consciência como uma doença.
Eu estava animadíssimo com sua compreensão e aprovação imediatas do projeto de pesquisa existencial-transacional.
Durante o mês de outubro de 1960, encontramo-nos regularmente para planejar nossas experiências. Aldous ouvia com os olhos fechados, meditando. Seu distanciamento era um pouco enervante no começo, mas, quando abria os olhos, fazia comentários puros como diamantes. Aldous deu várias sugestões práticas de como criar um ambiente estético para as sessões seguintes.

As semanas seguintes foram dedicadas a sessões experimentais com a droga. Foi um período de inocência romântica. Estávamos excitados com a ideia de que os seres humanos podiam voar, soltar as amarras sinápticas que os mantinham em níveis inferiores de mentalização, pairar sobre os reinos desconhecidos do cérebro. Era a época dos irmãos Wright. O iniciante alçava vôo, às vezes rateando um pouco, mas em seguida rumava para além da consciência normal. "Ei, Wilbur, olhe aquela árvore!" "Orville, o que você está fazendo?" Um por um, aprendizes de vôo, flutuávamos para além do alcance de nossos radares, nos perdíamos dentro de nós mesmos, para depois dar um rasante de volta, cheios de histórias maravilhosas para contar.

Para nos guiar nos rituais experimentais, Aldous Huxley trouxe a descrição feita por Teophile Gautier das técnicas usadas por Baudelaire e pelo Clube do Haxixe de Paris, cem anos antes:
Sabe-se, portanto, que se alguém deseja aproveitar ao máximo os efeitos mágicos do haxixe, é necessário se preparar antecipadamente e fornecer de alguma maneira o motif para suas variações extravagantes e fantasias irrestritas. É importante estar com a mente e o corpo tranquilos, não ter nesse dia nenhuma ansiedade, tarefa ou horário, e estar em um apartamento que Baudelaire e Edgar Alan Poe adorariam: um quarto de decoração poética e confortável, luxo bizarro e elegância misteriosa; um retiro privado e escondido (...)
Em tais circunstâncias, é provável, quase certo, que as sensações prazerosas naturalmente transformam-se em graças arrebatadoras, êxtases, prazeres inefáveis, muito superiores aos deleites pouco refinados prometidos aos fiéis no paraíso de Maomé (..)
Sem essas precauções, o êxtase pode tornar-se pesadelo. Prazer, transformar-se em sofrimento; alegria em terror. Uma angústia terrível toma conta da pessoa a partir de seu coração e irrompe com peso gigantesco (...) Outras vezes, a vítima sente um frio congelante que a faz parecer um pedaço de mármore até os quadris...


Após seis semanas, já tínhamos conduzido sessões para quinze membros da equipe. Aprendemos muito sobre dosagem e a importância do local - a atmosfera do ambiente, o que incluía as pessoas que participavam das sessões. Rapidamente, descobrimos que aqueles que compartilhavam a experiência desenvolviam um forte relacionamento entre si. Eles pareciam precisar ver uns aos outros, estar perto uns dos outros durante a semana posterior a experiência. Por isso, decidimos que cada explorador poderia convidar membros da família e amigos íntimos para participarem das sessões.

Inevitavelmente, nós, os pesquisadores de cogumelos, começamos a nos unir, desfrutando das relações profundas e do entusiasmo que são comuns aos pioneiros. Ao mesmo tempo, nos afastávamos dos amigos antigos. A viagem era tão poderosa, tão diferente, tão desintegradora da ilusão da realidade única, que as pessoas que a vivenciavam fatalmente formavam grupos exclusivos. A diferença entre aqueles que queriam explorar novas áreas do cérebro e aqueles que evitavam reativamente o desafio, era o prenúncio do amargo conflito cultural que explodiria em todos os lugares na década que estava por vir.
A questão que permeava o nosso trabalho naqueles primeiros passos da pesquisa era a de como introduzir esses métodos de expansão da consciência na sociedade.

Um dia, coloquei essa questão para Huxley no clube dos professores.
- Eu poderia ir à sua casa esta noite. Nós tomamos a droga e expomos essa dúvida para os nossos cérebros expandidos.
No final da tarde, acendi a lareira, Aldous empilhou os livros que havia trazido em cima da mesa do café e deitou no sofá. Nós dois tomamos psilocibina. Nas três horas seguintes, ouvimos música - Bach, Mozart, tambores africanos, cantos indianos e Ravi Shankar. Às vezes, acenávamos um para o outro indicando que estava tudo bem ou emitíamos murmúrios de êxtase.
-Então você não sabe o que fazer com essa gloriosa pedra filosofal que topamos na nossa frente? No passado, esse conhecimento foi guardado em segredo, transmitido por meio do obscurantismo metafórico e severo de acadêmicos, místicos e artistas.
- Mas a sociedade precisa dessas informações - respondi passionalmente.
Meu botão antielitista tinha sido ativado.
- Essas questões são de ordem evolucionista. Não podem ser forçadas. Trabalhe privadamente. Inicie artistas, escritores, poetas, músicos de jazz, cortesãs de luxo, pintores, boêmios ricos. E eles iniciarão os ricos inteligentes. É assim que tudo que está associado à liberdade cultural, estética e filosófica tem sido transmitido.

Ficamos em silêncio. A lareira lançava cores dançantes pela sala, um prado de serenidade. Os olhos de Huxley estavam fechados, sua boca fina exibia um sorriso beatífico.
De repente, ele bateu as mão em suas pernas magras.
- Seu papel é bem simples. Torne-se um incentivador da evolução. Foi isso que eu fiz e que meu avô fez antes de mim. Essas drogas para o cérebro, produzidas em massa pelos laboratórios, provocarão vastas mudanças na sociedade. Isso acontecerá com ou sem você e eu. Tudo o que podemos fazer é expandir o mundo. O obstáculo a essa evolução Timothy, é a bíblia.
- Eu não me lembro de nenhuma passagem sobre drogas do cérebro na bíblia.
- Timothy, você se esqueceu dos primeiros capítulos do Gênesis? Jeová diz para Adão e Eva: "Eu construí este refúgio maravilhoso para vocês a leste do Éden. Vocês podem fazer tudo o que quiserem, exceto comer o fruto da árvore do conhecimento".
- As primeiras substâncias controladas.
- Exatamente. A bíblia elaborou a primeira legislação de proibições de alimentos e drogas.
- Portanto a queda e o pecado original foram causados pela ingestão de drogas ilegais.
A essa altura, Aldous dava risadinhas de prazer, satisfeitíssimo consigo próprio, e eu rolava no chão de tanto rir.
- Timothy, você deve estar preparado para enfrentar oposições. Há pessoas nesta sociedade que farão de tudo, com o grande poder que têm, para impedir nossas pesquisas.
- Você está me dizendo que não vai ser fácil.
- É exatamente isso que estou dizendo - respondeu Huxley. - Os supervisores da consciência, desde o Vaticano até Harvard, estão nesse ramo há muito tempo, e não estão dispostos a ceder seu monopólio. E, afinal de contas, eles são os especialistas e nós os amadores. Eles são os profissionais, nós somos apenas diletantes.
- Não vai ser fácil - repeti.
 
aah, não aguento mais vou comprar este livro..!!!!!!!!!! sou fã do Huxley e esse Timothy tem umas ideias incríveis...
 
Rumo ao Oriente! A ciência psicodélica toma o Expresso do Oriente

Nos anos 50, os psicodélicos ingleses Aldous Huxley, Alan Watts e Gerald Heard estavam profundamente imersos no transcendentalismo oriental antes de descobrirem a mescalina e o LSD. Foi a busca por visões místicas que os levou aos "abridores de mentes suíços". O mesmo para os beatniks e intelectuais, estudantes de Baudelaire e Rimbaud, que compreendiam e desejavam ardentemente experiências visionárias com plantas.

Durante os anos 60, nos Estados Unidos, ocorreu o oposto. As pessoas corriam para tomar drogas ampliadoras da mente exatamente como faziam com outros alteradores da mente - cafeína, álcool, nicotina e TV - por causa da necessidade insaciável, voraz, sedenta, gulosa, fervorosa e avara do cérebro. Essa demanda básica por alimento molecular para o cérebro foi taxada como recreação ou curiosidade pelos racionais. Uma vez "ligados", muitos usuários de drogas, que nunca tinham ouvido falar de soma, Shiva ou Rimbaud, flutuavam intuitivamente na direção de cerimônias pré-industriais e metáforas transcendentais. Estas se manifestavam nas formas missionárias e de vulgatas - budismo, hinduísmo, taoísmo - todas elas concordando que o ponto central da vida era a busca interior. Tais ideias se harmonizavam perfeitamente com o movimento de psicologia humanista emergente (Carl Rogers, Abraham Maslow, Harry Stack Sullivan), que enfatizava o potencial interior e o autodirecionamento.

É instrutivo analisar a órbita oriental que norteava as carreiras dos psicólogos de Millbrook e de Harvard responsáveis pela popularização das pesquisas com drogas psicodélicas. O professor-assistente Richard Alpert, PhD, tornou-se o Baba Ram Dass, o guru hindu mais bem-sucedido que os Estados Unidos já produziram. Ralph Metzner, PhD, é uma das maiores autoridades em xamanismo. Gunter Weil, PhD, é um mestre tântrico. O estudante de pós-graduação de Millbrook-Harvard Robert Thurmond virou Tenzing, presidente da Sociedade Budista Norte Americana e professor de literatura tibetana na Universidade de Colúmbia. George Litwin, PhD, tornou-se um devoto de Sri Rajneesh. Allen Ginsberg é líder e defensor do turbulento grupo budista Naropa, sediado em Boulder, Colorado.

Sempre senti que a viajem ao oriente deveria fazer parte do programa do colegial, uma espécie de acampamento de verão educativo. Tenho pena de qualquer indivíduo filosoficamente ambicioso que não viajou, de um modo ou de outro, para o Hindustão ou Indianápolis e que não assou marshmentals* nos gates em chamas de Benares, ou que não tomou lições atordoantes dos salva-vidas às margens do Ganges, nem usou sacramentos psicocibernéticos em outros locais sagrados para despertar músculos arcaicos do cérebro.

Do ponto de vista da psicologia política (psi-poli), a nossa adoção da linguística oriental foi, todavia, uma bênção combinada. Os jargões e os rituais hindus exigiram que os norte-americanos high-tech retrocedessem a tradições xamânicas pré-industriais, as metáforas do pensamento e as fórmulas de memorização de slogans pré-escrita. Psicólogos cientificamente treinados acabavam entoando fragmentos sonoros mântricos sem sentido lógico, memorizando solenemente os nomes, totens e cores representativos de obscuros cultos hindus e seitas budistas do Tibete. A tendência desse movimento era tornar as coisas insossas. Além disso, distraía-nos das buscas científico-cibernéticas. Por essas razões, eu nunca me incluí no programa oriental da Medalha de Mérito de Homem Sagrado-Swami-Guru.


* Palavra que une marsmallow e excremental. No contexto, uma brincadeira que mistura o hábito dos norte-americanos de tostar bolotas de marshmallow (remetendo aos acampamentos de verão) e o hábito dos hindus de queimar os corpos nos gates à beira do Ganges (N.T)
 
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