- 02/05/2019
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Esse é um texto que escrevi para mim, mas gostaria de deixar aqui pois os cogumelos tiveram uma boa influência nessa situação.
Me permitiram parar de ser apenas um espectador e entrar para o jogo.
Se tem aquele velho medo do cara que comeu cogumelos e nunca mais voltou, então eu vou além, sou uma dessas pessoas e sou grato por isso.
Se eu tivesse voltado, continuaria sofrendo e preso para sempre.
Estaria preso em uma vida que não deixaria espaço para arrependimento. Continuaria cego.
Não sabia em qual categoria colocar... e o anonimato me permite postar tranquilo.
Minha escolha por deixar a faculdade de medicina.
Durante a época de sair do ensino médio para encontrar algum rumo que faça sentido para minha vida, esperava encontrar minha satisfação pessoal dedicando meu tempo a aprender como ajudar as pessoas, parecia nobre no início, aparentemente é rentável financeiramente e algo que não teria como trazer arrependimentos futuros.
Acontece que existe um enorme precipício no que é a vida acadêmica, do que é a realidade. O ambiente que está inserido é preenchido por pessoas centradas pelo ego, tanto professores, quanto alunos, nem sempre é ruim, se faz as pessoas trabalharem mais. Muitas vezes é discutido a humanização como forma de melhorar o tratamento, mas é possível traduzir como: fingir empatia em busca de algum retorno.
Por que digo isso? Pois dentro de uma sala de aula não existe tal termo, participei de 4 turmas distintas, as 4 eram formadas pela mesma classe de pessoas, com o mesmo pensamento e passando pelas mesmas situações. Grande parte de família com alto poder aquisitivo, como médicos ou fazendeiros. Um ou outro em que os pais se esforçavam ao máximo para tentar pagar o curso para permitir que o filho realize seu sonho.
Um episódio, que ficou em minha memória, eram duas amigas discutindo pois os pais não queriam pagar mais no aluguel de um novo apartamento, que seria “apenas” 1500 reais, pois piscina é necessário. Observei uma autêntica indignação por parte delas com os pais. Algo recorrente que vi no curso, a falta de entendimento do valor do dinheiro. Em certo momento a garota falou: vou ficar pegando uber para aumentar a fatura do cartão e justificar a mudança.
O que isso tem a ver com a minha decisão sobre o curso? Ao total são 6 anos inseridos nesse meio, algo que eu erroneamente julgava como possível de aguentar. Cada aula eu me questionava o que estava fazendo ali, como se fosse uma formiga em ninho de vespa. Cada trabalho em grupo é como se algo estivesse morrendo dentro de mim, como eu era o estranho, utilizava-me da artimanha de fazer a maior parte do trabalho apenas para conseguir ser inserido em algo. Incontáveis vezes tentei entender o que estava errado em mim, tentei mudar a aparência, o contexto, tudo que pudesse afastar as pessoas de mim... a verdade é que não tinha nada de errado, eu apenas não estava na mesma vibração e por vezes eu afastava elas.
Outro episódio, que é um fator definitivo para essa mudança, foi quando neguei o pintor, que estava pintando a parte externa do prédio, de pintar a sacada no horário que ele queria (12:00). Havia ficado a disposição a semana inteira que me pediram e nunca vieram, no final me taxaram como preconceituoso e que tinha tratado o pintor da forma incorreta... fui maldoso, apenas por falar que não pintaria naquele horário, mas poderia pintar mais tarde. Garanto a você, em nenhum momento ofendi ou julguei alguém. Apenas quis escolher o horário que pintariam a sacada da minha casa, que é cheia de plantas penduradas e por isso eu precisava de tempo para retirar.
Essa discordância foi o suficiente para fundarem inverdades sobre a situação para se eximirem da culpa de cobrar e não prestar um serviço, já que o pintor, contratado pela afinidade religiosa do síndico, estava de mudança. Entendi então, que quase ninguém é guiado pela verdade e ela se torna uma ferramenta para agir ao favor de quem está ouvindo. Uma mentira pode se transformar em verdade se as pessoas certas conduzirem ela.
Mais uma vez pergunto, o que isso tem a ver com o curso? O objeto de estudo da medicina são pessoas, é dever do médico estar isento de preconceitos ao receber um paciente. Mas eu não tenho mais essa força, não tenho mais essa vontade de ajudar os outros, muitos menos por dinheiro.
Eu queria fazer o curso? Queria, mas consigo viver melhor estando longe disso tudo, consigo viver. Todos os sentimentos bons que eu tinha, foram apagados pelo tempo, minha vontade de me dedicar aos outros se transmutou em indiferença quanto a vida alheia. Estava à espera de poder fazer a diferença na vida de alguém, permitir que ela viva para melhorar o mundo, mas era algo presunçoso, eu não posso melhorar o mundo, não posso ajudar alguém a melhorar, não posso nem me ajudar.
Mas o fator cabal foi um professor, já com muito dinheiro, vencedor de miss universo e que, coincidentemente quando eu teria aula com ele, tentou suicídio. Tive aula apenas alguns dias após essa tentativa, vi o sofrimento no olhar dele, tinha tudo que todos poderiam querer, mas continuava sofrendo. Brevemente me identifiquei com aquilo, para mim é como se fosse o meu futuro, o sofrimento não acabaria junto com a faculdade e o desfecho seria também o suicídio, a única diferença é que a experencia de algumas tentativas anteriores, logo no começo da faculdade, eu não deixaria espaço para arrependimento.
Decidi dedicar meu tempo a mim, preciso buscar algum papel na sociedade em que encontre meu sustento. Ainda estou na procura de alguma ideia, mas felizmente a vida me presenteou com pessoas do meu lado que servirão de incentivo para esse novo caminho. O texto inteiro foi carregado de dor e sofrimento, mas adianto que esse novo paragrafo está cheio de alívio e tranquilidade, bem mais do que eu esperaria.
Como a única certeza da vida é o tempo, então aproveitarei enquanto ainda tenho o meu. Vou guardar meu sofrimento para coisas realmente necessárias e permitir que outros sentimentos fluam com a vida. Minha vontade de viver nunca foi tão grande, agora é como se fosse o fim de uma ressaca que durou muito tempo, uma dor bem no íntimo, que por fim... cessou.
Me permitiram parar de ser apenas um espectador e entrar para o jogo.
Se tem aquele velho medo do cara que comeu cogumelos e nunca mais voltou, então eu vou além, sou uma dessas pessoas e sou grato por isso.
Se eu tivesse voltado, continuaria sofrendo e preso para sempre.
Estaria preso em uma vida que não deixaria espaço para arrependimento. Continuaria cego.
Não sabia em qual categoria colocar... e o anonimato me permite postar tranquilo.
Minha escolha por deixar a faculdade de medicina.
Durante a época de sair do ensino médio para encontrar algum rumo que faça sentido para minha vida, esperava encontrar minha satisfação pessoal dedicando meu tempo a aprender como ajudar as pessoas, parecia nobre no início, aparentemente é rentável financeiramente e algo que não teria como trazer arrependimentos futuros.
Acontece que existe um enorme precipício no que é a vida acadêmica, do que é a realidade. O ambiente que está inserido é preenchido por pessoas centradas pelo ego, tanto professores, quanto alunos, nem sempre é ruim, se faz as pessoas trabalharem mais. Muitas vezes é discutido a humanização como forma de melhorar o tratamento, mas é possível traduzir como: fingir empatia em busca de algum retorno.
Por que digo isso? Pois dentro de uma sala de aula não existe tal termo, participei de 4 turmas distintas, as 4 eram formadas pela mesma classe de pessoas, com o mesmo pensamento e passando pelas mesmas situações. Grande parte de família com alto poder aquisitivo, como médicos ou fazendeiros. Um ou outro em que os pais se esforçavam ao máximo para tentar pagar o curso para permitir que o filho realize seu sonho.
Um episódio, que ficou em minha memória, eram duas amigas discutindo pois os pais não queriam pagar mais no aluguel de um novo apartamento, que seria “apenas” 1500 reais, pois piscina é necessário. Observei uma autêntica indignação por parte delas com os pais. Algo recorrente que vi no curso, a falta de entendimento do valor do dinheiro. Em certo momento a garota falou: vou ficar pegando uber para aumentar a fatura do cartão e justificar a mudança.
O que isso tem a ver com a minha decisão sobre o curso? Ao total são 6 anos inseridos nesse meio, algo que eu erroneamente julgava como possível de aguentar. Cada aula eu me questionava o que estava fazendo ali, como se fosse uma formiga em ninho de vespa. Cada trabalho em grupo é como se algo estivesse morrendo dentro de mim, como eu era o estranho, utilizava-me da artimanha de fazer a maior parte do trabalho apenas para conseguir ser inserido em algo. Incontáveis vezes tentei entender o que estava errado em mim, tentei mudar a aparência, o contexto, tudo que pudesse afastar as pessoas de mim... a verdade é que não tinha nada de errado, eu apenas não estava na mesma vibração e por vezes eu afastava elas.
Outro episódio, que é um fator definitivo para essa mudança, foi quando neguei o pintor, que estava pintando a parte externa do prédio, de pintar a sacada no horário que ele queria (12:00). Havia ficado a disposição a semana inteira que me pediram e nunca vieram, no final me taxaram como preconceituoso e que tinha tratado o pintor da forma incorreta... fui maldoso, apenas por falar que não pintaria naquele horário, mas poderia pintar mais tarde. Garanto a você, em nenhum momento ofendi ou julguei alguém. Apenas quis escolher o horário que pintariam a sacada da minha casa, que é cheia de plantas penduradas e por isso eu precisava de tempo para retirar.
Essa discordância foi o suficiente para fundarem inverdades sobre a situação para se eximirem da culpa de cobrar e não prestar um serviço, já que o pintor, contratado pela afinidade religiosa do síndico, estava de mudança. Entendi então, que quase ninguém é guiado pela verdade e ela se torna uma ferramenta para agir ao favor de quem está ouvindo. Uma mentira pode se transformar em verdade se as pessoas certas conduzirem ela.
Mais uma vez pergunto, o que isso tem a ver com o curso? O objeto de estudo da medicina são pessoas, é dever do médico estar isento de preconceitos ao receber um paciente. Mas eu não tenho mais essa força, não tenho mais essa vontade de ajudar os outros, muitos menos por dinheiro.
Eu queria fazer o curso? Queria, mas consigo viver melhor estando longe disso tudo, consigo viver. Todos os sentimentos bons que eu tinha, foram apagados pelo tempo, minha vontade de me dedicar aos outros se transmutou em indiferença quanto a vida alheia. Estava à espera de poder fazer a diferença na vida de alguém, permitir que ela viva para melhorar o mundo, mas era algo presunçoso, eu não posso melhorar o mundo, não posso ajudar alguém a melhorar, não posso nem me ajudar.
Mas o fator cabal foi um professor, já com muito dinheiro, vencedor de miss universo e que, coincidentemente quando eu teria aula com ele, tentou suicídio. Tive aula apenas alguns dias após essa tentativa, vi o sofrimento no olhar dele, tinha tudo que todos poderiam querer, mas continuava sofrendo. Brevemente me identifiquei com aquilo, para mim é como se fosse o meu futuro, o sofrimento não acabaria junto com a faculdade e o desfecho seria também o suicídio, a única diferença é que a experencia de algumas tentativas anteriores, logo no começo da faculdade, eu não deixaria espaço para arrependimento.
Decidi dedicar meu tempo a mim, preciso buscar algum papel na sociedade em que encontre meu sustento. Ainda estou na procura de alguma ideia, mas felizmente a vida me presenteou com pessoas do meu lado que servirão de incentivo para esse novo caminho. O texto inteiro foi carregado de dor e sofrimento, mas adianto que esse novo paragrafo está cheio de alívio e tranquilidade, bem mais do que eu esperaria.
Como a única certeza da vida é o tempo, então aproveitarei enquanto ainda tenho o meu. Vou guardar meu sofrimento para coisas realmente necessárias e permitir que outros sentimentos fluam com a vida. Minha vontade de viver nunca foi tão grande, agora é como se fosse o fim de uma ressaca que durou muito tempo, uma dor bem no íntimo, que por fim... cessou.