"“OS PRÓPRIOS BONS CONSEGUEM IR NASCER NA TERRA PURA, COM MUITO MAIOR RAZÃO POIS OS MAUS O CONSEGUIRÃO. ENTRETANTO, AS PESSOAS COSTUMAM DIZER, QUE SE OS MAUS CONSEGUEM IR NASCER NA TERRA PURA, COM MUITO MAIOR RAZÃO OS BONS O CONSEGUIRÃO. ESTA ÚLTIMA AFIRMATIVA, PARECE À PRIMEIRA VISTA RAZOÁVEL, MAS, ELA VAI CONTRA O VOTO ORIGINAL DE AMIDA. ISSO PORQUE, AQUELES QUE ACREDITAM NA SALVAÇÃO CONSEGUIDA ATRAVÉS DE PRÁTICAS VIRTUOSAS FEITAS COM SEU PRÓPRIO ESFORÇO, NÃO CONFIAM INCONDICIONALMENTE NO OUTRO PODER, E ASSIM, NÃO SE HARMONIZAM COM O VOTO ORIGINAL DE AMIDA”…
O nosso texto afirma que “os próprios Bons conseguem o Ir Nascer na Terra Pura, com muito maior razão os Maus o conseguirão.”
Quem estuda o Budismo, toma esta afirmativa como uma polêmica, pois pela lógica e pelo sentido literal da palavra Bom, esse, o Bom, teria muito mais razões para alcançar a Salvação.
Por isso, exporemos os Conceitos de Bom e Mau, utilizados pelo Mestre Shinran:
No Sentido Legal, comum, quem realiza bons atos, de acordo com Leis das Constituições, é considerado Bom. Quem age em desacordo com estas Leis, é Mau.
No Sentido Moral, uma pessoa que age de acordo com as normas da Moralidade, é Boa, e a que age em desacordo, é Má.
No Sentido Religioso, aquele que consegue cumprir as práticas virtuosas, transcender o aspecto intelectual, o acúmulo de conhecimentos, e trabalhar uma Fé confiante no Incondicional, no Imensurável, no Ininteligível, entregando-se a este “Outro Poder” este é o Bom. O Mau é aquele que não trabalha esta fé no seu interior.
No Sentido Reflexivo, os Conceitos de Bom e Mau estão relacionados com as Reflexões da pessoa: se ela reflete e assume que não tem feito coisas boas, ela vai sentir-se uma pessoa má. E ao contrário, se ela refletindo, se conscientiza de estar fazendo coisas boas, ela vai sentir-se Boa. Pode acontecer porém, que uma pessoa considerada Má, (porque infringindo um aspecto legal cometeu um crime) considere-se Boa. Por exemplo: um governante em favor do povo faz algo contra a Lei. Ele pode sentir-se injustiçado se for considerado Mau.
Segundo o Mestre Shinran:
O Bom seria aquele que confia no Auto-Esforço (Auto-Poder), isto é, passa fome, sede, privações, se fustiga, se enterra na lama, para alcançar a Salvação.
O Mau, reconhecendo sua incapacidade de praticar o Bem Absoluto, renuncia ao Auto-Esforço (Auto-Poder) entregando-se ao Outro Poder, isto é confiando na execução das Leis Naturais, na sua infalibilidade, entregando-se totalmente ao Voto Original de Amida (integrando-se no contexto do Absoluto diante do qual considera-se impotente.) Vemos portanto, que segundo o Mestre Shinran o Ser Humano para encontrar a Paz, precisa da Reflexão de que é Mau, isto é, precisa renunciar ao Auto-Poder harmonizando-se com o Voto Original de Amida, entendendo que é Mau ao ponto de, mesmo fazendo sacrifícios, não conseguir a Salvação (a Paz). Harmonizando-se com o Voto Original totalmente, então consegue esta Salvação, ou o Ir Nascer na Terra Pura. No Budismo, o Homem é Sofredor, e sabemos que isto é Verdade, porque com o tempo surgem as doenças, a velhice e o organismo com a incapacidade determinada por estas condições, morre. E há pessoas que influenciadas pela idéia Indiana de karma (que traz no seu âmago, o conceito de Castigo / Prêmio), acham que fizeram algum Mal, em alguma encarnação anterior, e agora estão pagando com o Sofrimento. Mas, a Velhice é uma estágio natural no processo de vida. E, se surge, por exemplo, um Câncer, algum motivo houve, aqui na sua vida: ou emocional, ou extravagância alimentar, que o determinaram, quando o organismo tornou-se mais debilitado pela Velhice. Não foi nenhum mal cometido em vidas passadas (pecado, no Ocidente) que o determinou. No Budismo não existe Pecado, não condenamos ninguém, e isto, porque é inerente ao homem, a capacidade de realizar qualquer ato dependendo das condições propiciatórias. Devemos ainda, considerar que o homem é incapaz de chegar à Perfeição porque a Imperfeição é inerente ao Ser Humano."
O Buda Amida, compadecido de que, inerentemente, todos nós seres humanos, possuímos o caráter de Imperfeitos, nos favorece com o Voto Original, mostrando que mesmo dentro da nossa imperfeição podemos vislumbrar e desfrutar da Perfeição das Leis, se agirmos em comum acordo com elas.
Vejamos alguns exemplos que mostrarão a Imperfeição Humana :
Suponhamos que dois homens amem uma mulher. Há grandes probabilidade de nascer um rancor entre os dois. Este rancor é inerente à imperfeição latente em cada ser. Nasceu portanto das condições, que propiciaram aos dois, amarem a mesma mulher.
Obter lucros prejudicando outra pessoa. Há pessoas que não se incomodam em levar vantagem prejudicando outras. Se as condições propiciatórias aparecem, a imperfeição latente pode permitir que as mais fortes prejudiquem as mais fracas.
Dentro de uma família pode haver insatisfações e esta condição pode propiciar um caso de alcoolismo, que surge por causa da imperfeição latente em todos os seres.
Como vemos, em todos os casos, a Imperfeição Latente, revela-se determinada pelas Condições propiciatórias. Ela está no âmago de todos os seres humanos, razão pela qual, naqueles que não mergulharem em condições propiciatórias semelhantes às destes exemplos, ela não revelar-se-á. Mas, existe em todos os seres.
Por tudo isso, não podemos julgar, se alguém é Bom ou Mau, somente baseando-se nos fatos. A perspectiva Budista não aceita a afirmativa de que: “Há pessoas que se acham incapazes de cometerem maus atos, consideram-se boas e perfeitas.” O Budismo não aceita isto, por defender tudo que explicamos anteriormente, isto é: que a Natureza do indivíduo está sujeita à Imperfeição, inerente ao ser humano. Mesmo ele considerando-se Perfeito em relação aos outros seres, considerando-se Bom, veremos que de acordo com o Budismo da Terra Pura, a Imperfeição está latente em todos nós e surge dependendo das condições propiciatórias.
Sintetizando:
O BOM considera-se perfeito, certo, considera-se realmente “o bom”. Com isso ele não consegue perceber os desejos das Leis, o Voto Original de Amida.
O MAU reconhece-se imperfeito, sabe que tem de buscar a perfeição, com esta busca ele chegará mais próximo à linguagem das Leis, percebendo o Voto Original de Amida.
Com estes conceitos porém, não estamos discriminando o Bom, pois de repente ele pode perceber o Voto Original de Amida (pode conseguir o Ir Nascer), refletindo, buscando o Conhecimento, e entrando no caminho búdico à partir disto. Mas, este processo é lento, porque o Bom se autoconsidera assim, sendo difícil ele perceber que também é capaz de praticar o Mal (se lhe forem oferecidas condições propiciatórias). Mas, se esta percepção da capacidade de praticar o Mal chegar à consciência, neste momento, esta pessoa que acha-se Boa vai perceber a Imperfeição Latente, e caminhar em direção ao Autoconhecimento. Esta pessoa começará então a tomar consciência das nossas origens, e então ela perceberá o Voto Original de Amida."