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Experiencias e aprendizados

psilosun

Primórdia
Membro Ativo
04/12/2013
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Olá amigos,

Estava há algum tempo sem acessar o fórum, mas sempre tive uma vontade de escrever sobre as minhas experiências e hoje venho realizar.
Este relato não é de uma experiência em especifico, mas do conjunto de experiências que tive no ano que passou.

Vou começar contando um pouco sobre mim: Sempre fui de falar com todos, mas tinha poucos amigos e desses poucos, nunca me senti realmente à vontade ou ligado a nenhum. Sempre fui meio “estranho”, meus gostos em 90% das vezes pendem para o diferente, talvez pelo signo... Por exemplo, quando achei que tinha descoberto esse fórum no ano de 2015 e fui realizar o meu cadastro, já havia uma conta com o meu e-mail criada em 2013 e eu nem me lembrava.

Com a “descoberta” dos cogumelos e substancias psicoativas, descobri um novo mundo que parece não ter fim e que contribuiu demais para a pessoa que me tornei. O meu pai é comerciante e desde quando me lembro por gente, ele tenta me convencer de trabalhar com ele e tomar gosto pelo negocio, como eu morava no fundo da loja, sempre estava ajudando ou fazendo algo lá. Quanto mais ele insistia nisso, mais eu criava uma vontade contraria. Quando estava no final do ensino médio, sem decidir qual rumo tomar, acabei optando por Administração, acredito que por conveniência. Acabei passando numa publica da minha cidade quando estava na metade do 3º ano e fui cursar (medida judicial...). Com isso já fui trabalhar com o meu pai e me envolvi com aquilo mais do que devia. Para resumir, porque o foco não é esse, diversas vezes eu tentava sair da empresa e era convencido por propostas de aumento salarial ou pela necessidade (colocada na minha cabeça) de ajudar nos negócios e isso durou mais de 1 ano.

Quando comecei a cultivar e utilizar os cogumelos, por não ter balança, tinha medo de errar nas dosagens e ter uma experiência para a qual eu não estivesse preparado. Então sempre tinha apenas experiências bem fracas e superficiais, nada do que realmente eu esperava e lia nos relatos de vocês. Acontece que em uma dessas, deve ter sido pela 5ª, eu decidi aumentar um pouco e vi que realmente tinha exagerado, tive alguns efeitos (uma quantidade muito grande de informação e não conseguia nem ao menos “pensar” e isso foi bem ruim. Mas mesmo com isso eu não parei, pois sabia que eu não tinha o “preparo” para aquilo e estava em busca, além de ter outras maravilhosas.

Chegou num ponto em que eu trazia os problemas da empresa para casa, para minha vida e eu já não estava dormindo bem, me estressava com facilidade e às vezes descontava essas coisas em pessoas ao meu redor. Antes eu fazia uso de maconha ocasionalmente, mas a minha namorada não aprovava e acabei deixando de lado.

Em um fim de semana, pelo mês de Novembro, eu tinha uma quantidade, creio que umas 7g de desidratados escondidos num vaso com sílica. Comi com salada de fruta uma grande parte no meu quarto (moro só com minha mãe), acredito que 4g. No inicio a trip foi legal, percebi que os efeitos de uma forma mais intensa, senti aquela sensação de estar conectado com o universo, uma vontade muito grande de conversar e compartilhar com outras pessoas coisas que eu tinha descoberto e depois disso só me lembro de uma enxurrada de informações na minha cabeça. Passei mal, andei pela casa, fiz barulho, minha mãe acordou e eu não conseguia dizer uma palavra, após um tempo, eu não sentia as pernas direito e ela me deu banho e eu comecei a vomitar, só lembro de flashs, mas foi uma situação muito horrível, em seguida ela me colocou na banheira e eu continuei vomitando e ligou para alguns parentes que vieram ajudar e me levaram para o hospital. No caminho eu já estava começando a “acordar” e a conversar com as pessoas. Quando já estava “em mim” novamente, fui tomado de uma sensação de total bem estar e prazer, mesmo estando deitado numa cama de hospital e lembro-me do meu pai vindo e eu o abracei, disse que o amava e ficamos ali os dois abraçados e chorando de emoção, em seguida ele me disse “a gente vai vencer, vai trabalhar e vai ter dinheiro pra empresa e pra tudo que a gente queira.” (não foram essas palavras exatas). Aquilo me fez ficar em um estado de reflexão em que eu percebi o quanto ele estava cego e tomado por aquilo (não sei como chamar, é como se para ele a coisa mais importante do mundo seja dinheiro e trabalhar para conseguir).

Nos meses seguintes foi bem complicado para mim, pois tudo o que eu acreditava (em relação a trabalho, futuro e etc.) foi sendo desconstruído e não tinha idéia do que fazer.

Para vocês terem noção de como as coisas são, após o corrido, me afastei da empresa somente alguns dias, mas sempre alguém ligava, pois a parte financeira e administrativa era feita por mim. E meus pais estavam certos de que precisava de ajuda médica. Fui a um Neurologista amigo da família que me passou um remédio para epilepsia e um exame (não me recordo o nome). Fiz o exame na própria clinica e 15 dias depois retornei, apenas indicou níveis de ansiedade e ele disse que não tinha nada anormal comigo, disse que se eu quisesse, poderia tomar o remédio se tivesse dificuldade em dormir. Meu pai insatisfeito conversou com o medico e o mesmo me chamou novamente e me receitou outro remédio. Chegando a minha casa fui fazer uma pesquisa rápida sobre. A lista de colaterais era gigantesca e eu sabia que não era disso que precisava. Resultado: do 1º remédio tomei alguns comprimidos e do segundo nunca cheguei a comprar.

Nesse meio tempo fui para uma psicóloga bem profissional e contei para ela sobre a minha vida e os acontecimentos, parecido ao que fiz aqui. Porém não citei o fato de estar sob o efeito dos cogumelos no dia em que passei mal (um erro da minha parte), fiz isso porque eu sei que quem não tem conhecimento iria começar a abominá-los e culpá-los pelo que aconteceu, quando o culpado fui eu. Mas depois do feriado do natal/ano novo eu não retornei por motivos financeiros.

Em Dezembro, lembrei do restante dos cogumelos e fiz um chá. Mas dessa vez foi diferente, totalmente diferente e digo que foi a minha melhor trip de todas até o momento. Ao tomar o chá, fiquei meditando um pouco, limpando meus pensamentos e meu corpo, ao invés de ficar fazendo algo para me distrair até os efeitos começarem como eu fazia nas anteriores. Do inicio ao fim, a trip foi muito boa, uma sensação de paz, de bondade, de que o mundo não é totalmente ruim como se espalha pela mídia, nós só temos que valorizar as pequenas ações de cada um, valorizar a historia de cada pessoa, tudo o que ela passa ou passou e não olhar apenas o hoje, precisamos ser mais gratos e aprender a apreciar cada momento em nossa vida.

Durante todo o período seguinte, até meados de Fevereiro desse ano, nada mudou muito, a vontade de sair da empresa só crescia e os motivos que me falavam para que eu continuasse também (sua mãe precisa, você precisa...), mas decidi sair de uma vez e em Março eu consegui, após juntar uma quantidade de dinheiro razoável, pois se tem uma coisa que eu não gosto é depender financeiramente do meu pai.

Os meus planos no momento incluem estudar para concursos (tranquei a universidade) e aprender sobre mim mesmo e sobre esse mundo que muitas vezes fica escondido (enteógenos, meditação, consciência e outros diversos temas tão importantes para a vida e tão desvalorizados.)

Aqui vai a minha interpretação pessoal dos fatos e aprendizado:

Acredito que eu precisava “passar mal/explodir” para abrir os olhos e enxergar a pessoa que eu estava me tornando, valorizando o material acima de tudo, colocava na minha cabeça que ter as coisas me faria feliz e quando tinha algo, já desejava outra coisa. Seria ótimo se pudéssemos viver sem necessidade do dinheiro, mas como não sei se é possível, vou sempre tentando encontrar um equilíbrio, um meio termo.

A nossa vida não é complicada, somos nós que complicamos, não precisamos de muito para encontrar a felicidade, ela já se encontra dentro de nós. Há um tempo assisti a um documentário do diretor Tom Shadyac (o mesmo de Ace Ventura com Jim Carrey) chamado “I AM” e recomendo a todos. Ele conta sobre como o dinheiro subiu a sua cabeça e não o satisfez, estava numa situação de saúde muito complicada, conseguiu sair e se questionou sobre o que está errado com o mundo, abordando temas como materialismo, natureza da humanidade e conexões. Outro ótimo documentário se chama “Happy”, feito por Roko Belic. Não vou adiantar detalhes para não estragar, mas esses 2 me fizeram questionar tudo o que eu havia escutado dos meus pais e das pessoas ao meu redor: Devemos estudar para ter um bom emprego e ter dinheiro para sustentar nossa família e só assim nós seremos boas pessoas e felizes para sempre. E só a partir desse questionamento eu pude realmente enxergar e começar tentar entender que estava indo por um caminho totalmente equivocado e se não houvesse nada brusco para me parar, iria acabar disseminando e contaminando mais pessoas.

Por muito tempo fiquei pensando se deveria realmente contar tais coisas, mas decidi que iria, caso o meu texto chegue a somente uma pessoa e a faça “despertar”, estarei retribuindo o favor que fizeram para mim e que sou imensamente grato (aos cogumelos, a Deus, a alguma divindade...).

Tem muita coisa que eu aprendi, acho de extrema importância, mas as pessoas com quem eu falo na vida real não entendem ou não dão importância. Talvez por não enxergarem da maneira que eu enxergo agora, mas vou tentar da melhor maneira colocar em palavras e pretendo algum dia passar para vocês também.

Por ultimo quero deixar uma mensagem: Questionem, busquem conhecimento e respostas, ou quem sabe até novas perguntas e ajudem o próximo. Abraço irmãos!
 
Lindo o relato. Cada um busque seu caminho, é fato. Tem quem ia curtir a ideia de continuar o negócio do pai, você tem inclinações diversas.
 
Achei mto foda seu relato, me identifiquei com a parte de ser meio "estranho" mesmo isso n sendo realmente estranho, vou assistir os documentários. Obrigado
 
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