Salve amigos! Um relato breve, outro mais compridinho. Tenham paciência, por favor.
Dia 17 de fevereiro de 2023, das 23h às 05h00 aproximadamente.
Dosagem: 7g de cogumelos secos e engraçadinhos, dado a festas coloridas e radiantes.
Eu estava sem cogumelos do meu próprio cultivo, então acabei recorrendo aos cogumelos de uma pessoa em quem confio. Como tinha feito viagens muito fortes antes, decidi que talvez fosse legal experimentar 7g desta vez.
Essa trip foi muito divertida e… pronto… só isso mesmo. Muito divertida e tá tudo bem. Eu sei que nem sempre os cogumelos precisam trazer insights profundos.
O que foi muito legal nesse dia é que pela primeira vez eu senti o efeito tão forte, que nem fazia diferença estar de olhos abertos ou fechados. Tudo virou uma mistura de cores e formas geométricas lindas. E tudo se mexia de acordo com a música que eu ouvia. Foi lindo. Num momento, o apartamento estava banhado por luz roxa e eu podia jurar que tinha alguma entidade junto comigo, embora eu não tenha visto ela de olhos abertos.
Nessa noite eu basicamente passei horas e horas viajando nos efeitos visuais. Foi muito divertido, mas nem um pouco introspectivo. Para ser justo… lá no finalzinho da experiência eu tive um único insight: uma inspiração de que eu seria capaz de encarar as coisas que eu preciso encarar. Fora isso, acho até um pouco difícil me lembrar de detalhes. Talvez a dose tenha sido tão forte que eu aproveitei menos do que se tivesse tomado apenas 5g, como tinha feito antes com os cogumelos desse cara.
Dia 11 de março de 2023, das 23h às 05h30 aproximadamente.
Dosagem: 10g de cogumelos secos, fortes e raivosos que queriam me ensinar uma lição.
Muito bem amigos, aqui é que está o problema. Minha décima experiência. Ainda sem cogumelos próprios, arranjei duas doses de 5g para os próximos dois meses, só pra garantir que não ficaria mais sem.
Acho que por ser minha décima experiência, eu tava me sentindo todo paquito experiente, capaz de enfrentar qualquer viagem. Que erro primário! Quero que vocês entendam o que aconteceu com meu set e setting antes de eu relatar a viagem em si:
Eu estava ansioso, esse é o fato. Queria mergulhar de cabeça numa experiência extremamente psicodélica, cheia de cores e paisagens malucas. Não foi isso o que aconteceu.
Vi paisagens parecidas com florestas, cores e formas muito vívidas. Me senti realmente muito embriagado, mas então me veio a marretada que iria me desmontar naquela noite. Como uma revelação divina (ou diabólica?), uma ideia surgiu entre os pensamentos:
Eu cuido de tudo e de todos, enquanto isso ninguém cuida de mim. Estou sozinho. Se eu quebrar, minha casa quebra. Se eu cair, ninguém me segura. Não tem ninguém segurando a minha mão enquanto eu atravesso a vida adulta. Estou completamente só. Ninguém me conhece para além dos papéis que eu desempenho. As pessoas conhecem o Experimentalist que é pai, (ex)-marido, colega de trabalho, parceiro de jogatina, companheiro de cervejada, piloto de churrasqueira, o filho dos pais conservadores e superprotetores… mas ninguém me conhece de verdade.
Me senti extremamente frágil. Fiquei completamente desarmado, na maior solidão que eu jamais poderia imaginar. Já passei por diversos lutos, mas ter percebido o tamanho da minha solidão me deixou em pânico. Passei quase 2 horas chorando por estar essencialmente sozinho.
Ainda moro com o meu filho e a mãe dele. Nos damos bem. Ela estava dormindo no quarto dela e fui pedir ajuda. Ela segurou a minha mão enquanto eu chorava. Fiquei chorando enquanto via um monte de visuais extremamente psicodélicos. Teve um momento em que eu me vi sendo dissolvido em feixes de luz. Foi lindo ver que eu estava sumindo. Lembro que em um momento eu disse que estava cansado de existir. Pedi licença pra ela e falei que precisava sentir o impacto daquela solidão por conta própria. Se era solidão que eu sentia, eu tinha que passar por aquilo sozinho. Ela dormiu e eu fui pro meu quarto.
Fui me acalmando. Meu gato chegou perto de mim. Ele estava lindo. Parecia um anjo com brilho dourado e eu podia jurar que ele estava vendo o mesmo que eu. Ele tinha um brilho diferente no olhar dele. Comecei a conversar com ele.
“Bigode… você tá aqui comigo né cara? Você tá vendo tudo isso, né? A gente abriu o portal juntos.” Ele ficou chamando minha atenção. Pedindo carinho. Parecia que ele queria me dizer alguma coisa.
Então veio um insight: vivemos em universos que se desdobram à medida que a gente toma decisões. Por exemplo, existe um mundo que se abre quando eu decido comer direito e me exercitar. Esse mundo é diferente do mundo que surge quando eu decido viver comendo lasanha congelada e viver sedentário. Existe um universo que se abre quando eu decido ser amável com as pessoas, que é bem diferente do mundo que se abre quando eu escolho ser amargo e tratar as pessoas com indiferença.
Falei de novo pro meu gato que ele estava me ajudando a abrir o portal para minha nova vida. Que eu teria atitudes baseadas no amor. Que eu tomaria cuidado ao abrir esses novos universos com decisões bem pensadas. Quando me cansei, pedi para dormir ao lado da minha ex-esposa, porque eu sentia que precisava de companhia.
Faz praticamente 10 dias que estou integrando essa viagem. Vou a um psicólogo que respeita meu uso de cogumelos. Acho que a trip me mostrou exatamente o que estava dentro de mim. Uma solidão para a qual não tem cura. E não tem cura porque na realidade a vida dos adultos é assim mesmo. Estamos sozinhos essencialmente.
Aprendi que eu preciso me dar amor. Se ninguém me conhece na minha essência, então que pelo menos eu possa me dar todo amor que eu mereço (e preciso). Estou tentando encontrar maneiras de cuidar de mim mesmo, da mesma maneira como eu cuido do meu próprio filho: minha alimentação, meu descanso, minha higiene, meu nível de estresse. Tenho tentado ser mais gentil comigo mesmo.
Essa experiência foi realmente muito forte. Teve seu valor, mas sinto que errei feio em dois aspectos:
Obrigado a todos que me leram até aqui! Isso significa muito para mim.
Um grande abraço amigos cogumeleiros. Sigo por aqui enquanto estou nesse hiato.
Dia 17 de fevereiro de 2023, das 23h às 05h00 aproximadamente.
Dosagem: 7g de cogumelos secos e engraçadinhos, dado a festas coloridas e radiantes.
Eu estava sem cogumelos do meu próprio cultivo, então acabei recorrendo aos cogumelos de uma pessoa em quem confio. Como tinha feito viagens muito fortes antes, decidi que talvez fosse legal experimentar 7g desta vez.
Essa trip foi muito divertida e… pronto… só isso mesmo. Muito divertida e tá tudo bem. Eu sei que nem sempre os cogumelos precisam trazer insights profundos.
O que foi muito legal nesse dia é que pela primeira vez eu senti o efeito tão forte, que nem fazia diferença estar de olhos abertos ou fechados. Tudo virou uma mistura de cores e formas geométricas lindas. E tudo se mexia de acordo com a música que eu ouvia. Foi lindo. Num momento, o apartamento estava banhado por luz roxa e eu podia jurar que tinha alguma entidade junto comigo, embora eu não tenha visto ela de olhos abertos.
Nessa noite eu basicamente passei horas e horas viajando nos efeitos visuais. Foi muito divertido, mas nem um pouco introspectivo. Para ser justo… lá no finalzinho da experiência eu tive um único insight: uma inspiração de que eu seria capaz de encarar as coisas que eu preciso encarar. Fora isso, acho até um pouco difícil me lembrar de detalhes. Talvez a dose tenha sido tão forte que eu aproveitei menos do que se tivesse tomado apenas 5g, como tinha feito antes com os cogumelos desse cara.
Dia 11 de março de 2023, das 23h às 05h30 aproximadamente.
Dosagem: 10g de cogumelos secos, fortes e raivosos que queriam me ensinar uma lição.
Muito bem amigos, aqui é que está o problema. Minha décima experiência. Ainda sem cogumelos próprios, arranjei duas doses de 5g para os próximos dois meses, só pra garantir que não ficaria mais sem.
Acho que por ser minha décima experiência, eu tava me sentindo todo paquito experiente, capaz de enfrentar qualquer viagem. Que erro primário! Quero que vocês entendam o que aconteceu com meu set e setting antes de eu relatar a viagem em si:
- Estou num processo emocionalmente difícil de separação da mãe do meu filho. Isso não tem nada a ver com a revelação que eu tive de ser gay na minha oitava viagem (que por sinal foi linda demais).
- Estou enfrentando dívidas que tem me tirado o sossego. Nunca passei por isso antes e confesso que até há poucos dias atrás, eu estava com muito medo.
- Tensões na área profissional… coisas boas podem acontecer, coisas assustadoras podem acontecer, eu posso crescer, eu posso me dar mal.
- Estou realmente… digo, REALMENTE cansado. Perto da exaustão física e mental.
- Naquela noite eu tinha saído do meu lugar tradicional de trip e fui pro meu novo quarto em casa, onde tenho dormido sozinho. Isso tem um significado profundo para mim.
Eu estava ansioso, esse é o fato. Queria mergulhar de cabeça numa experiência extremamente psicodélica, cheia de cores e paisagens malucas. Não foi isso o que aconteceu.
Vi paisagens parecidas com florestas, cores e formas muito vívidas. Me senti realmente muito embriagado, mas então me veio a marretada que iria me desmontar naquela noite. Como uma revelação divina (ou diabólica?), uma ideia surgiu entre os pensamentos:
Eu cuido de tudo e de todos, enquanto isso ninguém cuida de mim. Estou sozinho. Se eu quebrar, minha casa quebra. Se eu cair, ninguém me segura. Não tem ninguém segurando a minha mão enquanto eu atravesso a vida adulta. Estou completamente só. Ninguém me conhece para além dos papéis que eu desempenho. As pessoas conhecem o Experimentalist que é pai, (ex)-marido, colega de trabalho, parceiro de jogatina, companheiro de cervejada, piloto de churrasqueira, o filho dos pais conservadores e superprotetores… mas ninguém me conhece de verdade.
Me senti extremamente frágil. Fiquei completamente desarmado, na maior solidão que eu jamais poderia imaginar. Já passei por diversos lutos, mas ter percebido o tamanho da minha solidão me deixou em pânico. Passei quase 2 horas chorando por estar essencialmente sozinho.
Ainda moro com o meu filho e a mãe dele. Nos damos bem. Ela estava dormindo no quarto dela e fui pedir ajuda. Ela segurou a minha mão enquanto eu chorava. Fiquei chorando enquanto via um monte de visuais extremamente psicodélicos. Teve um momento em que eu me vi sendo dissolvido em feixes de luz. Foi lindo ver que eu estava sumindo. Lembro que em um momento eu disse que estava cansado de existir. Pedi licença pra ela e falei que precisava sentir o impacto daquela solidão por conta própria. Se era solidão que eu sentia, eu tinha que passar por aquilo sozinho. Ela dormiu e eu fui pro meu quarto.
Fui me acalmando. Meu gato chegou perto de mim. Ele estava lindo. Parecia um anjo com brilho dourado e eu podia jurar que ele estava vendo o mesmo que eu. Ele tinha um brilho diferente no olhar dele. Comecei a conversar com ele.
“Bigode… você tá aqui comigo né cara? Você tá vendo tudo isso, né? A gente abriu o portal juntos.” Ele ficou chamando minha atenção. Pedindo carinho. Parecia que ele queria me dizer alguma coisa.
Então veio um insight: vivemos em universos que se desdobram à medida que a gente toma decisões. Por exemplo, existe um mundo que se abre quando eu decido comer direito e me exercitar. Esse mundo é diferente do mundo que surge quando eu decido viver comendo lasanha congelada e viver sedentário. Existe um universo que se abre quando eu decido ser amável com as pessoas, que é bem diferente do mundo que se abre quando eu escolho ser amargo e tratar as pessoas com indiferença.
Falei de novo pro meu gato que ele estava me ajudando a abrir o portal para minha nova vida. Que eu teria atitudes baseadas no amor. Que eu tomaria cuidado ao abrir esses novos universos com decisões bem pensadas. Quando me cansei, pedi para dormir ao lado da minha ex-esposa, porque eu sentia que precisava de companhia.
Faz praticamente 10 dias que estou integrando essa viagem. Vou a um psicólogo que respeita meu uso de cogumelos. Acho que a trip me mostrou exatamente o que estava dentro de mim. Uma solidão para a qual não tem cura. E não tem cura porque na realidade a vida dos adultos é assim mesmo. Estamos sozinhos essencialmente.
Aprendi que eu preciso me dar amor. Se ninguém me conhece na minha essência, então que pelo menos eu possa me dar todo amor que eu mereço (e preciso). Estou tentando encontrar maneiras de cuidar de mim mesmo, da mesma maneira como eu cuido do meu próprio filho: minha alimentação, meu descanso, minha higiene, meu nível de estresse. Tenho tentado ser mais gentil comigo mesmo.
Essa experiência foi realmente muito forte. Teve seu valor, mas sinto que errei feio em dois aspectos:
- Tive problemas com tomar dose a mais antes. Isso está virando um padrão. Vou passar a esconder os cogumelos quando embarcar numa experiência para evitar esse tipo de situação.
- Preciso respeitar meu estado mental e embarcar nas trips apenas num set adequado. Eu estava com uma pilha de nervos e não soube respeitar isso.
Obrigado a todos que me leram até aqui! Isso significa muito para mim.
Um grande abraço amigos cogumeleiros. Sigo por aqui enquanto estou nesse hiato.