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Artigo Estudo piloto de tratamento para ansiedade com psilocibina em pacientes com cancer avançado

Ecuador

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22/12/2007
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nossa ecuador massa de mais essa.. valeu pelo post! (novamente) vou dar uma olhada com tempo mais tarde!

abraços...
 
Aqui vai.

Não traduzi os "Resultados" e as "Referências", pois o primeiro é técnico demais, não tive segurança e acho que ninguém aqui terá interesse, e a segunda porque a maior parte (quiçá todos) dos títulos listados só tem em inglês mesmo.




ARQUIVOS DE PSIQUIATRIA GERAL (Archives of General Psychiatry)
Janeiro 2011, Vol. 68, nº 1



Estudo Piloto do Tratamento com Psilocibina para Ansiedade em Pacientes com Câncer em Estágio Avançado
Charles S. Grob, MD; Alicia L. Danforth, MA; Gurpreet S. Chopra, MD; Marycie Hagerty, RN, BSN, MA; Charles R. McKay, MD; Adam L. Halberstadt, PhD; George R. Greer, MD
Fonte: http://archpsyc.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=210962

Em anos recentes, houve uma consciência crescente de que as crises psicológicas, espirituais e existenciais frequentemente encontradas por pacientes com câncer e suas famílias precisam ser abordadas com maior vigor (1 a 4). Do final da década de 50 até o começo dos anos 1970, pesquisas foram realizadas explorando o uso de alucinógenos para tratar de ansiedade existencial, desespero e isolamento frequentemente associados com câncer em estágio avançado (5 a 15). Tais estudos descreviam indivíduos criticamente doentes submetendo-se a epifanias psiquespirituais normalmente associadas a alterações poderosas e duradouras no humor e na ansiedade, bem como uma diminuição na necessidade para medicação narcótica contra a dor. A despeito destes resultados promissores, não houve uma pesquisa de confirmação.

Hoje o valor clínico dos alucinógenos é de novo o de serem examinados em ambientes psiquiátricos formais. Uma substância sob investigação é a psilocibina, O-fosforil-4-hidróxi-N,N-dimetiltriptamina, que ocorre na natureza em várias espécies de cogumelos. A psilocibina é rapidamente metabolizada em psilocina, que é um potente agonista dos receptores serotoninérgicos 5-HT 1A/2A/2C, com a ativação do receptor 5-HT 2A diretamente relacionada à atividade alucinogênica humana (16) A psilocibina foi estudada durante a década de 1960 para estabelecer seu perfil psicofarmacológico; descobriu-se que era ativa oralmente ao redor de 10mg, com efeitos mais fortes em doses maiores, e que tinha uma experiência de 4 a 6 horas de duração. Efeitos psicológicos foram similares àqueles da dietilamida do ácido lisérgico (LSD), com a psilocibina sendo considerada mais forte visualmente, menos emocionalmente intensa, mais euforizante e com menos reações de pânico e menos chance de paranóia do que com o LSD (17 a 18).

Recentes exames clínicos com psilocibina indicaram que ela não é danosa à saúde física (19). Estudos tomográficos com emissão de pósitrons (NT: simplesmente o exame de imagens mais completo e preciso que existe atualmente) demonstraram que a psilocibina produz um aumento global na taxa de metabolismo cerebral da glicose, mais marcadamente no córtex do giro frontal médio e no córtex do sulco lateral, do cingulado anterior e do córtex temporal médio. Essas mudanças foram relacionados a medida do estado psicológico, mantendo consistência com os substratos potenciais neurobiológicos das mais comuns enfermidades mentais (20).

Em um estudo recente, 36 voluntários saudáveis receberam uma dose alta de psilocibina (30mg/70kg) sem a manutenção de efeitos deletérios fisiológicos ou psicológicos. Os investigadores corroboraram descobertas prévias de que a psilocibina pode com segurança e confiabilidade catalisar experiências místicas que conduzam a melhoras significativas e duradouras na qualidade de vida (21). Em outro estudo, os efeitos da psilocibina foram examinados em pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo severo e refratário. Pesquisadores concluíram que a psilocibina é segura e bem tolerada em pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo e pode ser associada a “reduções agudamente robustas” nos sintomas centrais do transtorno obsessivo-compulsivo, embora não se tenha estabelecido uma relação dose-resposta clara (22).

Durante a primeira onda de pesquisa com alucinógenos a partir da década de 1950 até o começo dos anos 1970, investigadores que administravam alucinógenos a pacientes com câncer em estágio terminal relataram resultados que incluíam humor melhorado e ansiedade reduzida, mesmo aqueles com profunda desmoralização psicológica (23 a 26). O presente estudo é o primeiro em mais de 35 anos a explorar a utilidade potencial do modelo de tratamento com psilocibina para ansiedade reativa associada ao câncer em estágio avançado (27).


MÉTODO

Doze pessoas com câncer em estágio avançado e um diagnóstico DSM-IV (28) de transtorno agudo de estresse, transtorno generalizado de ansiedade, transtorno de ansiedade devido ao câncer ou transtorno geral de adaptação com ansiedade foram recrutados para um estudo interpessoal, duplo cego, controlado por placebo, para examinar a segurança e a eficácia da psilocibina no tratamento de aflições psicológicas associadas com a crise existencial de uma doença terminal. Os participantes foram recrutados através de anúncios na Internet, distribuição de panfletos, apresentações em hospitais locais e centros de saúde e beleza, indicações de oncologistas e pedido de registro em www.clinicaltrials.gov e pelo contato com agências locais de apoio ao paciente, além de fornecedores de health care. Triagem clínica e psiquiátrica, incluindo exames de imagem por ressonância magnética do cérebro, comunicação com oncologistas ativos, entrevistas formais de diagnóstico psiquiátrico e consentimento expresso foram requisitos para candidatura ao estudo.

Os sujeitos do experimento não receberam qualquer pagamento por sua participação. O comitê institucional de análise do Instituto de Pesquisa Biomédica de Los Angeles, pertencente ao Centro Médico Harbor-UCLA, em Torrance, Los Angeles, California, EUA, aprovou o protocolo e monitorou o estudo.
Dos 12 participantes, 11 eram mulheres. As idades dos sujeitos do experimento variaram de 36 a 58 anos. Os tipos de câncer primário incluíam câncer de mama em 4 examinadas, câncer de cólon em 3, câncer de ovário em 2, câncer peritonal em 1, câncer nas glândulas salivares em 1 e mieloma múltiplo em 1. Todos os pacientes estavam em estágios avançados de suas enfermidades. A duração de seu câncer primário durou de 2 meses a 18 anos. Oito participantes completaram a avaliação sequencial semestral, 11 completaram pelo menos 4 meses de avaliação e todos os 12 completaram pelo menos os 3 primeiros meses de acompanhamento. Dois indivíduos morrer de câncer durante o período de acompanhamento e outros 2 ficaram doentes demais para continuarem a participar. O estudo foi conduzido de Junho de 2004 a Maio de 2008. No momento de publicação deste relatório em 2010, 10 dos 12 sujeitos do experimento haviam morrido.

Critérios de exclusão incluíam envolvimento do câncer no sistema nervoso central, doença cardiovascular severa, hipertensão sem tratamento, anomalia hepática ou renal, diabetes, histórico de esquizofrenia, transtorno bipolar ou outra doença psicótica e transtornos de ansiedade ou afetividade dentro de 1 ano antes do surgimento do câncer. Contraindicações medicamentosas incluíram quimioterapia ativa, medicamentos antivertiginosos, insulina, hipoglicêmicos orais e medicamentos psicotrópicos nas 2 semanas anteriores às sessões do experimento.

Também se solicitou aos participantes que se abstivessem de tomar quaisquer remédios no dia e no dia seguinte ao das sessões de tratamento experimental, exceto para remédios para dor não-narcóticos, prescritos ou sem necessidade de receita a qualquer momento e medicamentos narcóticos contra a dor em até 8 horas antes e 6 horas após a administração do remédio experimental.

Quatro dos sujeitos não tinham nenhuma experiência prévia com alucinógenos. Dos 8 restantes, 4 tiveram experiências com alucinógenos mais de 30 anos antes. Dois tiveram sua última experiência mais de 5 anos antes do experimento e os outros 2 haviam tomado um alucinógeno dentro do ano anterior à sua participação no presente estudo. Os alucinógenos tomados incluíam LSD (7 participantes), cogumelos alucinógenos (5 participantes), peyote (2 participantes) e ayahuasca (2 participantes).

Os participantes reuniram-se com a equipe do estudo para revisar o propósito e a intenção da participação no estudo, as metas de tratamento, a estrutura das sessões de tratamento experimental e as questões críticas a serem examinadas durante o curso do tratamento. Os candidatos eram informados de que o espectro de reações emocionais que poderia ser experimentado enquanto sob a influência da psilocibina, incluindo temas psicológicos desafiadores que poderiam despontar e foram também informados que o propósito da investigação era determinar se a psilocibina poderia sanar e melhorar a ansiedade associada com seu câncer em estágio avançado.

Objetivos adicionais destes encontros incluíram estabelecer um nível confortável de compatibilidade e confiança entre paciente e o pessoal da pesquisa, revisando assuntos significativos para a vida no histórico do paciente, bem como a natureza e o estado dos presentes relacionamentos e preocupações.

Todas as sessões experimentais tiveram lugar numa unidade hospitalar de pesquisa clínica, em uma sala decorada com biombos de cortinas de fitas de tecido penduradas no teto e flores frescas para estabelecer um ambiente agradável e confortável. Os pacientes eram internados durante a tarde do dia anterior ao tratamento. Um monitor cardíaco Holter ficava preso a eles por 24 horas, começando logo ao serem internados.

Em seguida à avaliação clínica, a equipe de tratamento se reunia com o participante para revisar o procedimento para a sessão de tratamento (descrita mais à frente), confirmar as intenções pessoais do paciente e respoder a quaisquer perguntas adicionais.

Os sujeitos então passavam a noite na sala da unidade de pesquisa, lhes sendo oferecido um jantar e um desjejum leve antes das 06h30 da manhã. Na manhã do tratamento, a equipe terapêutica encontrava com a pessoa para administrar instrumentos pré-sessão, atender ao conforto do paciente e revisar procedimentos do tratamento para a sessão por uma última vez.

Cada sujeito agia conforme sua própria vontade e foi submetido a duas sessões de tratamento experimental, separadas uma da outra por várias semanas. Eles eram informados de que receberiam psilocibina ativa (0,2mg/kg) em uma ocasião e o placebo, niacina (250mg), em outra ocasião. A psilocibina e o placebo eram administrados em cápsulas 00 claras com rolha de cortiça e engolidos com 100mL de água. O placebo de niacina foi escolhido porque ele normalmente induz uma reação fisiológica suave (p.ex., rubor) sem alterar o estado psicológico. A ordem pela qual os candidatos receberam ambos diferentes tratamentos foi aleatória e conhecida apenas pelo farmacêutico da pesquisa. A equipe de tratamento permanecia ao lado da cama com o paciente durante todas as 6 horas da sessão.

A psilocibina ou o placebo eram administrados às 10 horas da manhã. Ofereceu-se ao paciente para que se deitasse na cama com tapa-olhos durante as primeiras horas, assim como a colocar fones de ouvido para ouvir música pré-selecionada. Os sujeitos eram deixados em paz até cada hora, quando a equipe de tratamento aparecia para perguntar como estavam indo. O contato era geralmente breve; os sujeitos haviam sido avisados de que haveria ampla oportunidade após a sessão e nos dias, semanas e meses seguintes para discutir os conteúdos da experiência. Durante checagens a cada hora, medições de batimentos cardíacos (HR) e de pressão sanguínea (BP) eram realizadas. Líquidos claros e não-cafeinados ou sucos eram permitidos.

Na conclusão da sessão de 6 horas, os pacientes discutiam as experiências subjetivas estéticas, cognitivas, afetivas e psiquespirituais que eles havia tido durante a sessão e completavam instrumentos de avaliação. Vários inventários e questionários foram administrados de 2 semanas antes da primeira sessão de tratamento a até 6 meses após a segunda. O pessoal da equipe de tratamento manteve contato com os sujeitos da experiência por todo o período de acompanhamento semestral, incluindo telefonemas mensais agendados com regularidade para atualizar dados sobre ocorrências adversas, medicações concomitantes e evolução clínica física e psicológica.



MEDIDAS DE AVALIAÇÃO

Os batimentos e a pressão dos pacientes foi medida 30 minutos antes da ingestão da droga, imediatamente antes da administração e em intervalos regulares de hora em hora pelas 6 horas seguintes. A temperatura foi medida imediatamente antes da administração da droga e 6 horas mais tarde, na conclusão da sessão.

As seguintes medições psicológicas foram administradas no dia antes de cada uma das sessões experimentais: o Inventário Beck de Depressão (BDI), Perfil de Estados de Humor (POMS) e o Inventário de Estado-Traço de Ansiedade (STAI). O POMS, STAI, o perfil da 5-Dimensões de Estados Alterados de Consciência (5D-ASC) e a Escala de Breve Avaliação Psiquiátrica foram todos administrados na conclusão de cada uma das sessões experimentais. No dia após a sessão, o BDI, POMS e STAI foram readministrados. Finalmente, o BDI, POMS e STAI foram administrados novamente 2 semanas após cada sessão e em intervalos mensais, por 6 meses após a sessão final.



INSTRUMENTOS

Inventário Beck de Depressão
O BDI consiste em uma série de questões desenvolvidas para mensurar a intensidade, a severidade e a profundidade de uma depressão (29).

Perfil de Estados de Humor
O POMS descreve os sentimentos que indivíduos têm, com a pessoa indicando seu humor durante a semana que passou, incluindo o dia presente. O sumário do POMS, usado para este estudo, é uma versão compilada do Teste Padrão POMS original (30). Os pacientes são instruídos a preencher o POMS e o BID em relação aos seus sentimentos durante a semana que passou.

Inventário de Estado-Traço de Ansiedade
O Formulário STAI Y é um instrumento de autoanálise amplamente usado para avaliar a ansiedade em adultos. Ele inclui medidas separadas do estado e do traço da ansiedade (31). O STAI avalia as qualidade essenciais dos sentimentos de apreensão, tensão, nervosismo e preocupação. o STAI diferencia entre a condição temporária do estado de ansiedade e a qualidade mais geral e de longa duração do traço de ansiedade. A subescala STAI do estado ansiedade pede pelos sentimentos do momento de preenchimento do questionário e a subescala do traço de ansiedade pede aos pacientes que indiquem como eles vêem a si mesmos de modo geral a respeito destes assuntos.

Escala de Breve Avaliação Psiquiátrica
Esta escala provê métodos clínicos na escala dos sintomas como hostilidade, suspeitabilidade, alucinação e grandiosidade (32).

Perfil das 5-Dimensões de Estados Alterados de Consciência
A escala de avaliação 5D-ASC mede alterações de humor, percepção, experiência do eu em relação ao ambiente e de transtornos do pensamento (33). Os itens ASC estão agrupados em 5 subescalas, compreendendo diversos itens, como: (1) infinitude oceânica, medindo a irrealidade e despersonalização, acompanhadas por mudanças de afeto desde um humor elevado até a euforia; (2) dissolução ansiosa do ego, medição da desintegração do ego associada com a perda de autocontrole, transtorno do pensamento, lascívia e ansiedade; (3) reestruturação visionária, incluindo alucinações, pseudo-alucinações, sinestesia, mudança de significado das percepções e imaginação e memória facilitadas; (4) alterações auditivas, com alterações acústicas e das experiências auditivas; e (5) redução da vigilância, associada à sonolência, prontidão reduzida e relativo comprometimento cognitivo. Os pacientes preencheram o 5D-ASC ao final da sessão.


ANÁLISE DE DADOS

Os dados puros de BDI, POMS e STAI foram analisados usando análise de variação de 2 vias (ANOVA) com a droga como fator peculiar e dia como uma medida repetida. Quando o ANOVA de 2 vias detectou efeitos principais significativos de droga ou interações entre dia e droga, comparações de pareamento post hoc foram usadas com ANOVA de 1 via para cada dia. Os dados do 5D-ASC foram analisados usando o ANOVA de 1 via com droga como sendo o fator peculiar. Conjuntos de itens compreendendo as dimensões da infinitude oceânica, da dissolução ansiosa do ego e da reestruturação visionária também foram analisados usando ANOVA de 1 via (34). Os dados da Escala de Breve Avaliação Psiquiátrica foram analisados usando ANOVA de 1 via com droga como um fator psiquiátrico.

As medições de batimento e pressão foram analisadas usando ANOVA de 2 vias com droga como um fator peculiar e tempo como uma medida repetida. Quando o ANOVA de 2 vias detectou efeitos principais significativos da droga ou interações entre tempo e droga, comparações pareadas post hoc foram realizadas com o ANOVA de 1 via a cada vez. Para as medidas listadas mais cedo, a significância foi demonstrada ao se suplantar um nível α de 0,5. Testes t pareados foram usados para avaliar se o placebo de niacina ou a psilocibina produziu efeitos sobre os batimentos e pressão quando comparados com o período pré-droga e a significância foi demonstrada para essas múltiplas comparações ao superar um nível α de 0,25. Para o BDI, POMS e STAI, dados de cada um dos 6 períodos de acompanhamento foram comparados com o valor de referência obtido no dia antes da primeira sessão de tratamento, usando testes t. Para os dados de acompanhamento, a significância foi demonstrada ao suplantar o nível α de 0,05.


FUNÇÃO CARDIOVASCULAR

A administração de psilocibina numa dose de 0,2mg/kg induziu uma leve mas estatisticamente significativa elevação da taxa de batimento cardíaco (psilocibina X tempo de interação: F7,70=2,40, P=.03), pressão sanguínea sistólica (F1,11=25,39, P<.001) e a diastólica (F1,11=5,94, P=.03) quando comparados com placebo de niacina. A elevação dos batimentos alcançou um pico 2 horas após a administração da psilocibina, com um efeito de pico médio (SEM) de 81.5 (5.8) batidas/min, o que foi estatisticamente significativo (F1,11=11.31, P<.007) se comparado com 70.4 (4.3) batidas/min durante as sessões de placebo (figura 1A).

Figura 1
Efeito da psilocibina ou do placebo de niacina na média (SEM) do batimento cardíaco (A), pressão sanguínea sistólica (B) e diastólica (C). A psilocibina ou o placebo de niacina foi administrada no valor 0 horas. * P < .01, † P < .05 para psilocibina vs. controle com placebo de niacina (uma via de análise de variação foi usada para comparar os efeitos da niacina e da psilocibina em momentos individuais).
A pressão sanguínea também alcançou um pico no ponto de 2 horas, com média (SEM) de pico sistólico durante as sessões de psilocibina medindo 138.9 (6.4) mm Hg (comparada com 117.0 [4.3] mm Hg durante as sessões de niacina), (figura 1B); e média (SEM) de pico diastólico de 75.9 (3.4) mm Hg durante as sessões com psilocibina (comparado com 69.6 [2.7] mm Hg durante as sessões com placebo de niacina). (figura 1C). Os registros do monitor Holter durante as sessões de psilocibina não mostraram taquiarritmias prolongadas ou bloqueio do coração e foram consistentes com achados durante as sessões com placebo ativo. Comparado com o período pré-droga, a niacina pouco deprimiu a pressão diastólica 1 hora após sua administração (figura 1C) com um rebound na hora seguinte mas não teve efeito em outras ocasiões.


MEDIDAS PSICOLÓGICAS

O 5D-ASC demonstrou diferenças marcantes entre a psilocibina e as experiências com placebo. A psilocibina particularmente afetou as dimensões da infinitude oceânica (F1,11 = 33.12, P < .001) e da reestruturação visionária (F1,11 = 18.95, P = .001). (figura 2A). Psilocibina teve efeitos menores mas significantes sobre a ansiedade na dissolução do ego (F1,11 = 4.91, P = .049) e nas alterações auditivas (F1,11 = 4.91, P = .049).

Os conjuntos de itens com diferenças marcadas entre os estados subjetivos produzidos pela psilocibina e pela niacina incluíram um aumento significativo (P < .05) nos estados invocados pela psilocibina de irrealidade positiva, despersonalização positiva, senso alterado do tempo, humor positivo, experiências de mania, alucinações elementares, pseudalucinações visuais, sinestesia, mudança no significado das percepções, imaginação e memória facilitadas. Subescalas sem diferenças apreciáveis entre estados intrassubjetivos induzidos pelos 2 tratamentos incluiu irrealidade ansiosa, transtorno do pensamento, delusão, medo da perda do controle do pensamento e medo da perda do controle corporal (figura 2B).



Figura 2
Efeitos subjetivos da psilocibina como medidos pelo perfil de 5-Dimensões de Estados Alterados de Consciência (5D-ASC). a) Essas são as cinco dimensões principais do exame 5D-ASC: infinitude oceânica (OB), dissolução ansiosa do ego (AED), reestruturação visionária (VR), alterações auditivas (AA) e vigilância reduzida (RV). b) São vistos conjuntos de itens compreendendo as dimensões OB, AED e VR. Valores são a média das porcentagens (SEM) do placar total possível. * P < .01, † P < .05 para psilocibina vs. controle placebo de niacina (análise de 1 via de variação foram usadas para comparar efeitos da niacina e da psilocibina nas dimensões individuais 5D-ASC e nos conjuntos de itens 5D-ASC).

Para o BDI houve uma interação total da psilocibina e dia que aproximou-se de, mas não teve significância estatística (F1,11 = 3.75, P = .08). Não houve mudança apreciável do dia 1 antes da administração do placebo até 2 semanas após o tratamento experimental, onde uma tendência foi observada após a administração da psilocibina de uma média (SEM) de 16.1 (3.6) um dia antes do tratamento para 10.0 (2.7) duas semanas após o tratamento (figura 3A). Como mostrado na figura 3B, os placares de BDI caíram mais de 30% da primeira sessão até 1 mês após a segunda sessão de tratamento (t11 = −2.17, P = .05), uma diferença que foi mantida e se tornou significativa aos ponto de acompanhamento por 6 meses (t7 = 2.71, P = .03).


Figura 3

Nota do Tradutor: Seção não traduzida, para se focar nos aspectos mais amplos, que parecem atender mais ao perfil da comunidade a que se dirige a tradução.


COMENTÁRIOS

As metas iniciais desse projeto de pesquisa eram estabelecer exequibilidade e segurança para um modelo de tratamento com alucinógeno em pacientes com câncer em estágio avançado e ansiedade. Seguindo-se à discussão com agências regulatórias nas esferas federal e estadual bem como com os cômites hospitalares institucionais de revisão e pesquisa, uma modesta dose de 0,2mg/kg de psilocibina foi escolhida. Embora não comparável a altas doses de alucinógenos administradas no passado para pacientes severamente doentes, a dose usada aqui ainda acreditava-se ser capaz de induzir uma alteração na consciência com potencial benefício terapêutico enquanto otimizando a segurança do paciente. Determinar parâmetros seguros com esse novo paradigma de tratamento é crítico para estabelecer uma forte base para este campo de estudo que permitiria futuras investigações.
Consistente com pesquisas anteriores, descobrimos que não houve qualquer sequela cardiovascular em nossa população de participantes. Elevações menores de batimentos cardíacos ou pressão sanguínea após a administração da psilocibina foram evidência de apenas um leve efeito simpatomimético. O monitoramento Holter não identificou crescentes arritmias cardíacas em comparação com o placebo de niacina, mesmo em sujeitos que se apresentaram com alguma arritmia cardíaca de fundo. A niacina pode baixar de forma aguda a pressão por meio de vasodilatação (35), mas teve efeitos mínimos sobre batimentos e pressão em nossos pacientes, exceto por uma redução na pressão diastólica que foi notada 1 hora após a administração da niacina. Esse efeito transiente pode ter contribuído para a nossa detecção de um efeito significativo da psilocibina no momento, mas não pode explicar os efeitos significativos da psilocibina durante os intervalos subsequentes porque a redução inicial de pressão diastólica induzida pela niacina não persistiu. Também não observamos quaisquer efeitos psicológicos adversos provenientes do tratamento. Todos os pacientes toleraram bem as sessões de tratamento, sem indicação de ter ocorrido qualquer ansiedade severa ou uma “bad trip” (viagem ruim). O fato de que a psilocibina tenha produzido efeitos modestos sobre a ansiedade pela escala de dissolução do ego do 5D-ASC confirmou essa conclusão.

Quando alucinógenos eram administrados a pacientes com câncer terminal nos anos 60 e no começo da década de 1970, a ocorrência de uma experiência psiquespiritual profunda era relacionada à alta médica (10 a 12). Tais estados transcendentes de consciência são comumente associados com doses altas de alucinógenos, assim nossa expectativa de demonstrar eficácia era limitada (21). Temas comuns relatados pelos pacientes incluíram o exame de como sua doença impactara suas vidas, suas relações com a família e amigos íntimos e o sentido de segurança ontológica. Além disso, os sujeitos relataram catexia fortemente empática em relação a amigos íntimos e membros da família e examinaram como eles desejaram apontar sua limitada expectativa de vida. Nos debates de acompanhamento mensal, os pacientes refletiram sobre suas introspecções e sobre novas perspectivas obtidas durante seu tratamento com psilocibina. Entretanto, a frequência desses relatos não foi quantificada.

Embora pesquisadores passados tenham relatado efeitos terapêuticos mais pronunciados com um modelo de dose mais alta, mesmo a dose menor de psilocibina usada no presente estudo deu algum indicativo do benefício terapêutico em avaliações psicológicas quantitativas. Em específico, descobrimos que a subescala STAI de traço de ansiedade demonstrou uma redução prolongada na ansiedade que alcançou uma significatividade no primeiro e no terceiro meses após o tratamento. Essa redução pode refletir a inclinação a um nível reduzido de estresse e ansiedade com o tempo. Embora a ansiedade estado no STAI tenha mostrado uma ligeira elevação em 6 meses, a mudança não foi estatisticamente significativa e pode ter resultado do estado clínico degenerativo da maior parte dos pacientes com o tempo.

O humor também melhorou por 2 semanas após o tratamento com psilocibina, havendo melhora prolongada no BDI, alcançando significância no ponto de acompanhamento de 6 meses. Os placares de POMS também refletiram melhora no humor 2 semanas após receberem psilocibina. Embora não estatisticamente significativo, houve uma tendência na direção de um resultado positivo. Com um maior quórum de pacientes e uso de uma dose maior de psilocibina, parece possível que resultados significativos seriam obtidos nestas medições.

Comparativamento às sessões com placebo, os placares de POMS foram elevados em sujeitos imediatamente antes da administração da psilocibina. As razões para essa diferença 1 dia antes da administração não é inteiramente clara. As expectativas dos sujeitos não tinham chance de desempenhar um papel na elevação no dia antes do tratamento porque a mesma ocorreu independentemente da ordem de tratamento. A explicação mais provável para tal elevação nos placares POMS antes do tratamento com psilocibina é a de que a aleatoriedade dos pacientes não era ainda completa em relação ao instrumento. Todavia, os placares POMS declinaram após a administração da psilocibina em 11 de 12 participantes, sugerindo que a psilocibina produz efeitos de elevação do humor que persistem após os efeitos agudos da droga.

Outro foco de estudo foi o efeito de uma dose de 0,2mg/kg de psilocibina sobre sintomas somáticos, especialmente a percepção da dor. Em contraste com investigações prévias, não achamos reduções robustas na percepção da dor ou necessidade reduzida de medicação narcótica para a dor. Nas 2 semanas seguintes às sessões de tratamento experimental, vários pacientes relataram menos dores, enquanto outros não. Não houve diferença aparente entre pacientes tratados com psilocibina e aqueles com placebo (não há dados para exibição). Embora não se tenha observado esta modesta dose de psilocibina impactar a dor, dados os impressionantes relatos de pesquisadores anteriores (6), essa seria uma medida certamente indicada para um estudo com doses maiores.

Embora se tenha usado um modelo peculiar, duplo cego, controlado por placebo, a ordem das drogas estava quase sempre aparente para os pacientes e investigadores, fosse o tratamento com psilocibina ou com o placebo. De fato, uma crítica consistente do estudo foi o de que as sessões placebo eram vistas como muito menos valiosas do que aquelas com psilocibina. Muitos dos participantes sugeriram que os futuros protocolos contemplem a oportunidade para uma segunda sessão com psilocibina várias semanas após a primeira. O consenso geral entre os participantes é o de que uma experiência seguinte com a psilocibina reforçaria e estenderia os efeitos terapêuticos percebidos na sessão inicial.

Estudos futuros também precisarão apontar o assunto de controle para um efeito placebo que poderia de outra forma ser atribuído ao tratamento ativo. Dada à prognose grave dos pacientes e a limitada expectativa de vida, decidimos dar a todos os participantes uma oportunidade de provarem o remédio experimental e servirem como seu próprio controle. Embora acreditássemos que esse era o caminho ético a seguir, dadas as circunstâncias de vida que os participantes estavam encontrando, o protocolo projetado contém algumas limitações inerentes. Um melhor projeto experimental deve incorporar um grupo de controle independente, recebendo apenas tratamento com placebo ou uma intervenção psicofarmacológica convencional. Conquanto não haja dúvida de que a atenção extensiva dada aos pacientes influenciou resultados, as qualidades únicas da experiência com psilocibina em facilitar fortes laços terapêuticos e aliviar a desmoralização psicológica subjacente são fatores importantes com grande valor para exploração futura.

Outra limitação deste estudo foi a variabilidade na extensão do contato com os sujeitos após o tratamento. Um contato mínimo de uma hora por mês foi estabelecido, mas a variabilidade na comunicação adicional ad hoc dependeu das necessidades e desejos dos pacientes, alguns dos quais se encontravam próximos à morte se comparado com outros que foram mais funcionais para o estudo.

A despeito das limitações, esse estudo demonstrou que o uso cuidadoso e controlado de psilocibina pode prover um modelo alternativo para o tratamento das condições que normalmente só obtém uma resposta mínima das terapias convencionais, incluindo a profunda ansiedade existencial e o desespero que frequentemente acompanham o câncer em estágio avançado. Uma recente revisão do grupo de pesquisa com psilocibina da Universidade de Johns Hopkins, Chicago, EUA, descreve os componentes críticos necessários para assegurar que o paciente esteja seguro na pesquisa com alucinógenos (36). Levando em conta esses provimentos essenciais para otimizar a segurança bem como aderir a padrões de conduta estritamente éticos para os facilitadores do tratamento, os resultados obtidos aqui indicam a segurança e como é promissora a continuidade das investigações no espectro de efeitos médicos dos componentes alucinógenos como a psilocibina.


INFORMAÇÕES DO AUTOR

Correspondência: Charles S. Grob, MD, Department of Psychiatry (Departamento de Psiquiatria), Harbor-UCLA Medical Center, Box 498, 1000 W Carson St, Torrance, CA USA, ZIP CODE 90509
Email: cgrob@labiomed.org
Submetido para Publicação em: 17 de Agosto de 2009; revisão final recebida em 28 de Junho de 2010; aceito em 4 de Julho de 2010.
Publicado Online: 6 de Setembro de 2010. doi:10.1001/archgenpsychiatry.2010.116
Contribuições do Autor: O Dr. Grob teve acesso pleno a todos os dados do estudo e assumiu a responsabilidade pela integridade dos mesmos e pela precisão da análise das informações.
Prestação de Contas: Os Drs. Grob e Greer estão na mesa diretora do Instituto de Pesquisa Heffter. O Dr. Greer não teve qualquer autoridade de veto ou aprovação tanto sobre o manuscrito quanto sobre os dados coletados.
Patrocínio/Apoio: Esse trabalho teve apoio do Instituto de Pesquisa Heffter, da Fundação Betsy Gordon, da Fundação Nathan Cummings, com apoio e encorajamento de James K. Cummings; e obteve uma cessão de verba M01-RR00425 do fundo Instituto Nacional de Saúde para o Centro de Pesquisas Clínicas Gerais Harbor-UCLA.
Apresentação Anterior: Essas descobertas foram apresentadas no encontro anual da Faculdade Real de Psiquiatras, em 4 de Junho de 2009, Liverpool, Inglaterra.
Contribuições Adicionais: Ofereceram comentários sobre o manuscrito Ira Lessar, médica doutora; David Nichols, PhD; Mark Geyer, PhD, e Roland Griffiths, PhD.
 
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