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Duas experiências aleatórias (1g e 2,5g)

Michélio

Primórdia
Cadastrado
05/02/2016
3
30
Boa noite, boa tarde ou bom dia!
É meu primeiro post no fórum, e venho aqui documentar minhas experiências com o uso de Psilocybe cubensis.
Escrevo em 2022, mas as duas experiências que tive ocorreram em 2018. O motivo de estar escrevendo agora é justamente porque pretendo ter daqui alguns dias minha terceira experiência, e achei que seria interessante deixá-las previamente relatadas, para fins documentais!

PRIMEIRA EXPERIÊNCIA:
Eu não tenho certeza da dose utilizada, se foi apenas 1g ou se chegou a 2,5g. Provavelmente 1g. Mas tenho certeza de que ela se sucedeu com total falta de preparação no set e setting. Estava indo para uma rave de techno, acompanhado de um amigo, e comi os cogumelos no metrô a caminho da festa. Estavam crocantes, achei a textura parecida com salgadinhos.
Era um ambiente escuro e cheio de pessoas, música alta e com luzes vermelhas piscantes. A falta de preparo interno e externo resultaram que foi uma experiência bem pouco proveitosa. Lembro de sentir dificuldade em perceber os efeitos do cogumelo. Tentava olhar para o teto e para as paredes em busca de padrões ou qualquer visual que me mostrasse o efeito da substância, mas não fui capaz de identificar. De qualquer forma, entendi que foi uma experiência de certa forma instrospectiva, porque se eu estivesse no mesmo ambiente sóbrio ou sob o uso de qualquer outra substância, estaria bem mais conectado ao meu entorno, coisa que não aconteceu.
Entendi que a forma como se desenvolveu a trip não foi nada ideal e que não repetiria dessa forma, pois não gerou efeitos que considero proveitosos. Caso tivesse consumido uma dose mais alta, poderia ter tido que lidar com uma bad trip em um ambiente nada favorável!

SEGUNDA EXPERIÊNCIA:
Neste período, em 2018, eu estava na faculdade. Era em uma cidade distante da minha cidade natal. Nas férias, viajei para lá para visitar meus pais e amigos. Levei comigo cannabis e 2,5g de cubensis. Guardei os dois em um daqueles estojos de óculos, que deixava no meu quarto. Acontece que nessa época minha mãe tinha o costume de mexer nas minhas coisas, e encontrou o estojo. Foi complicado, pois minha família não concordava que eu fumasse. Teve discussão e tudo mais, e o estojo foi confiscado.
Certo dia, era noite e meus pais haviam saído. Estava sozinho em casa e resolvi procurar o estojo. Encontrei no quarto dela, e para a minha surpresa os cogumelos ainda estavam lá! Penso que ela não fazia ideia do que era aquilo (parecia um chá) e por isso ainda não tinha se desfeito dele.
No impulso, tomei posse dos cogus e decidi que, se fosse usar, aquele era o dia! Tinha a meu favor o fato de que ela não sabia ser um alucinógeno e, portanto, se questionado, formularia a desculpa de que havia apenas pegado o estojo de volta, e que aquilo lá era um chá que joguei fora!
Novamente, sem qualquer preparação de set ou setting, comi o bixo. Tinha o hábito de correr nesse período da noite, e assim eu fiz. Era já passado ou próximo da 00:00. Calcei o tênis de corrida e saí por uma avenida da cidade. Foi uns 8km, e na metade do percurso comecei a prestar atenção no vento que batia no meu corpo enquanto corria. Me entreguei àquela sensação, mais que ao cansaço, sentindo as rajadas lambendo meu corpo.
Chegando ao fim do meu trajeto, estava indo já para casa, mas mudei de ideia. Havia um local perto de casa que consistia em um gramado rodeado por árvores. Muitas vezes ia lá com os amigos pra curtir, era um lugar que proporcionava paz e privacidade.
Estava escuro e senti bastante medo em fazer isso, mas entrei no mato para ir até o tal gramado.
E então foi a parte mais interessante da trip. Deitei no gramado e admirei o céu estrelado, ficando bastante tempo por lá (talvez 1h?).
Estava bastante escuro, então não conseguia enxergar muitos detalhes do meu entorno, mas lá havia um cavalo pois eu escutava ele bufando perto de mim kkkkkkk, além disso havia o barulho dos bichinhos do mato (grilos... e outros insetos), um som que sempre me trouxe paz porque muitas vezes antes meditei próximo a janela do meu quarto, e de lá sempre dava para ouvir esse zumbido gostoso.
Me envolvi em todo esse ecossistema de estímulos. Em dado momento, para me sentir ainda mais conectado a natureza, me despi. Fiquei deitado, sentindo a grama, a umidade, o chiado dos insetos, o bufar do cavalo, e * admirando * as estrelas *.
Descrevi até então as características físicas da trip, mas acima de tudo somos seres pensantes, e em meio a todos esses estímulos haviam muitos pensamentos ocorrendo.
Foi uma viagem muito reflexiva, onde vieram a tona muitos questionamentos sobre o que eu estava vivenciando na época.
Como falei, estava na faculdade, e havia concluído meu primeiro ano de curso. Sentia que não tinha conseguido me dedicar aos estudos, sentia insegurança sobre o futuro, sobre como seria o ano seguinte... Todas as paranóias que estavam presentes naquele período vieram à superfície! E a resposta que tive foi: "tudo isso são crises. Eu estou muito ansioso, sofrendo por muita coisa. Existem dados objetivos acontecendo na minha vida, tudo aquilo que é material e tangível: estou na faculdade, estou morando em uma cidade diferente, etc. E sobre essas coisas tangíveis, existem as minhas interpretações sobre cada uma delas. E são essas interpretações que estão me causando ansiedade, mas não precisa ser assim! São crises, e eu posso aceitar mais as coisas que estão acontecendo, sem me abater tanto por essas crises."
Essa foi a parte mais terapêutica da experiência.
Vieram também algumas reflexões mais "transcendentais", mas já não consigo lembrar os sentimentos e pensamentos que me ocorreram.
Foi isso!
Depois, voltei para casa. Devia ser umas 2h da manhã. Fui comer, e nesse momento minha mãe estava em casa e acordada. Topei com ela na cozinha, e puxei papo com ela. Eu estava muito comunicativo, muito mais que o normal, e senti certo prazer em manter uma comunicação naquele momento, como se eu estivesse tentando me conectar verdadeiramente a ela, um sentimento de "eu estou aqui, você está aí. Que bom! Saúdo a sua presença!". O que se sucederia era que geralmente cumprimentaria ela, mas não puxaria papo algum nesse horário da matina.
Num dia seguinte ela até me perguntou se eu havia fumado naquele dia, pois estava muito falante. Nesse momento as minhas ideias estavam coesas, mas muito tagarela!
Essa segunda experiência foi certamente bem mais interessante que a primeira. Apesar de ter ocorrido de forma totalmente aleatória, penso que a trip se desenvolveu de forma favorável. Naquele momento no gramado, houveram momentos de muita ansiedade, choro e tristeza, que poderiam ser uma bad sem fim, mas o que coroou a situação e permitiu que fosse mais positiva foi a compreensão de que não precisava carregar tanto sofrimento comigo.
Acho que sou bem acompanhado por quem quer que tenha me guiado durante essa experiência!

Essas experiências aconteceram há bastante tempo, então isso é tudo que hoje minha memória permite relatar.
Caso alguém tenha lido o relato, agradeço pela paciência a atenção! :amor:
 
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