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Degradação de organoclorados por fungos

User03

Cogumelo maduro
Membro Ativo
28/03/2011
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Orelhas-de-pau – As pesquisas da Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna-SP, e do Instituto de Botânica de São Paulo, podem fazer crer que no futuro (como prova a experiência positiva da Hábil Química) as bactérias e fungos brasileiros tornem-se mais competitivas que as estrangeiras. Mesmo sabendo ser a maioria desses microrganismos cosmopolitas, presentes em vários ecossistemas, alguns resultados de ambas as pesquisas encontraram aspectos positivos das populações nativas.
O caso mais marcante é o da pesquisa levada há sete anos pelo Instituto de Botânica, ligado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, de São Paulo. Extensão de uma descoberta publicada em 1990 em artigo na revista científica americana Science, no qual foi revelado que fungos basidiomicetos (conhecidos como orelhas-de-pau, tipo cogumelo) têm a capacidade de despoluição degradar organoclorados persistentes, a pesquisa brasileira encontrou microrganismos dessa espécie no litoral paulista com maior capacidade de despoluição no Brasil. Isso foi provado com testes de degradação realizados com as espécies nativas e as importadas dos Estados Unidos.
Pesquisa voltada para uso nos casos de contaminação de solo por resíduos de solventes clorados na Baixada Santista, provocados na década de 70 pela Clorogil-Rhodia (ver QD-354, pág. 16), seus resultados em laboratório indicaram que algumas espécies recolhidas na região degradam o pentaclorofenol (PCP) de 60% a 85% em 60 dias de incubação. Com a espécie utilizada no experimento americano, a Phanerochaete chrysosporium, só foi possível, sob as mesmas condições brasileiras, atingir menos de 40% de degradação.

"Isso prova que é sempre melhor procurar microrganismos nativos, cujas peculiaridades compatíveis com pH, temperatura e umidade do local, garantirão uma mineralização do poluente mais completa”, afirmou o coordenador da pesquisa, Dácio Roberto Matheus. Essa conclusão, aliás, justificou o longo caminho percorrido pelo Instituto de Botânica para chegar aos fungos degradadores. No litoral e em outras regiões de São Paulo foram coletadas cerca de 600 linhagens, das quais 400 já identificadas e mantidas conservadas no acervo do instituto. Após isso, foi feito um processo de seleção, para descobrir quais fungos produziam mais enzimas, maior tolerância a organoclorados, capacidade de colonização de solo e, por fim, se efetivamente degradavam os compostos, sobretudo o PCP e o hexaclorobenzeno (HCB). Nessa etapa, chegaram a 130 linhagens, logo em seguida reduzida para 36."

Com esses 36 grupos, o processo seletivo chegou a quatro espécies para degradar o PCP: Trametes sp, Psilocybe sp*, Lentinus sp e a Peniophora sp. Além de mineralizar o composto até 85% em 60 dias de incubação, essas espécies provaram suportar mais de 5.000 ppm do PCP no solo. No caso do HCB, apesar de 16 linhagens terem suportado até 50.000 ppm do solvente considerado muito estável, a taxa de degradação de apenas duas espécies dos gêneros Psilocybe e Lentinus foi menor do que 25%, nas mesmas condições de testes para o PCP.
Para o pesquisador Dácio Roberto, porém, o desempenho de 25% para o HCB não pode ser considerado desanimador. “A etapa atual do trabalho é otimizar o potencial dos fungos, com variações na nutrição e nas condições ambientais em laboratório que afetam a produção das enzimas”, diz. O esforço do instituto em aperfeiçoar a ação dos basidiomicetos visa melhorar o metabolismo ligninolítico dos fungos. Isso porque, apesar da sua grande variedade, em comum todas essas espécies de cogumelos, na maioria das vezes desenvolvidos em troncos de árvore, produzem enzimas ligninases, degradadoras da lignina. Por esse substrato possuir estrutura molecular complexa, com muitos anéis de benzeno, similar à de organoclorados, fica fácil entender sua capacidade natural de mineralizar os compostos.
Além da função ligninolítica dos basidiomicetos, comprovada já com a pesquisa americana de 1990 (de Steven Austin, da Universidade de Utah), essas enzimas são inespecíficas, ou seja, degradam vários tipos de molécula, começando pelos radicais mais livres e depois atingindo os carbonos dos anéis aromáticos. A não distinção desses fungos por alimento facilita a biorremediação, pois torna-se útil para sites contaminados com vários poluentes orgânicos. No caso da pesquisa americana, por exemplo, foi provado que o Phanerochaete chrysosporium mineraliza, entre outros, o DDT, TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina), benzopireno, lindane (1,2,3,4,5,6-hexaclorociclohexano) e algumas bifenilas policloradas (PCBs).
A pesquisa do Instituto conta com o apoio financeiro da Rhodia e a cooperação técnica da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Aliás, a patente do projeto está sendo solicitada em nome dessas três instituições. Como meta, a intenção é em 2003 estar encaminhada sua aplicação-teste em escala maior. Quando mais adiante a pesquisa estiver finalizada, Dácio Roberto acredita que os fungos serão aplicados com veículos de serragem de madeira, bagaços ou palhas. Por serem aeróbicas, para biorremediação de solos devem ser aplicadas in situ apenas em contaminações superficiais e mediante mistura por trator. Se os poluentes estiverem em grandes profundidades, a saída será a chamada remediação on-site, na qual se remove o solo para a criação de biopilhas (leitos), ao lado do local contaminado, para se promover a mistura. Outra vertente da pesquisa do Instituto de Botânica visa usar os fungos para tratamento biológico de efluentes de corantes azóicos na indústria têxtil.
As vantagens da aplicação dos basidiomicetos, de acordo com o pesquisador, já são documentadas em todo o mundo. Para começar, são econômicos. “O único encarecedor do processo é a fabricação da biomassa, mas mesmo assim seu custo é dez vezes menor que técnicas como a incineração de solos”, compara o coordenador. Até quando comparadas com bactérias (algumas, como as Anthrobacter, Pseudomonas, Mycobacterium ou Flavobacterium, podem degradar organoclorados), apresentam vantagens. “Esses aditivos, além de possuírem enzimas muito específicas e menos eficazes, precisam ser sempre dosados, caso contrário as populações nativas consomem as bactérias aplicadas.”
No caso do sistema fúngico, diz o pesquisador, basta manter quantidade considerável de resíduos lignocelulósicos no solo, como fontes de carbono, para manter as colônias de basidiomicetos vivas. A capacidade de mineralização dos fungos, ocorrida até a lignina ou o contaminante degradarem-se em CO2, também não precisa ser induzida por exposição prévia, como no caso das bactérias. Além do mais, em razão de sua ação enzimática extracelular, pode atuar em substratos pouco acessíveis à ação bacteriana, como em compostos insolúveis ou complexados ao solo. Ainda comparando com as bactérias, Dácio ressalta a tolerância delas ao PCP: de apenas 100 ppm, contra os 5.000 ppm suportados pelas “orelhas-de-pau”.
*Até ali eles aparecem. O pesquisador deve cultivar eles em casa!
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Interressante é como eles estão cultivando o fungo. Muito parecido com os nossos métodos.
 
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