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Cybercultura e Tecnodemocracia

Mortandello

O tal do mortan
Cultivador confiável
01/11/2005
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Mauá - ABC - SP
O conceito de “realidade” não encontra uma definição universalmente aceitável. Cada um dos saberes expressos na dimensão da cultura humana apenas tangencia o que seja o real e oferece uma leitura possível. Falar do real, estando nele imerso e sendo dele a parte que pensa a si mesma, é um atrevimento desejável, saudável e estimulante. E ao longo da busca de uma definição abrangente e esclarecedora vamos colhendo instrumentos de cognição que nos levam à ampliação dos nossos saberes e a sua crescente sofisticação. O conhecimento é, em essência, a articulação sofisticada desses saberes. O saber isolado, estanque, voltado a si mesmo, é esterilizante. Só se desenvolve a partir de seu envolvimento em uma promiscuidade cultural sem limites.

Um dos novos instrumentos cognitivos que temos à disposição de nossa inteligência é a Internet. Na Internet podemos vivenciar a confluência de saberes a uma dimensão e velocidade espantosas. Todavia, não basta que mergulhemos na rede para imediatamente encontrarmos ali o cálice sagrado do conhecimento. O conhecimento trata de uma abstração metafórica que traduz um comportamento coeso com as leis do próprio Universo. O conhecimento, pois, traduz uma propriedade da mente e do corpo que dissolvem a ilusão de sua dicotomia essencial: são um só. Entretanto, o conhecimento “ignorante de articulações”, mas verdadeiro e total, é comum a todos os seres humanos. Em uma frase: todos os seres humanos compartilham o conhecimento total do Universo. O que fazemos a vida toda é nos envolver com a articulação dos saberes para despertar esse conhecimento intrínseco. É precisamente isso que pregam as religiões e indubitavelmente a isso que conduz o desenvolvimento do conhecimento científico (saberes articulados da Física, da Química, da Matemática, da História, da Geografia, das Artes, da Educação Física, etc). Mas é sempre bom nos cuidarmos para não sermos envolvidos por saberes dogmáticos que sepultam de vez a possibilidade de despertar o conhecimento intrínseco. A regra básica talvez seja a velha conhecida de todos: mantenha a mente aberta!

Mas, o que isso tudo tem a ver com cibercultura e tecnodemocracia?

Cibercultura é um rótulo para designar as hiper-relações entre todas as atividades humanas mediadas pelas tecnologias de comunicação. A Internet é a tradução atual de um salto cultural da humanidade. A tecnodemocracia é a tradução desejável de um salto para a ampliação do espaço onde todas as vozes humanas se façam audíveis e levem a inclusão de todos os povos. É a maior das utopias rejuvenescida. Se a explosão da cibercultura é o fato histórico que inaugura o século XXI, a tecnodemocracia será sua derradeira conquista.

Se há uma aventura humana que vale a pena, é a aventura do conhecimento. A aquisição do conhecimento, ou melhor, a descoberta em si mesmo do conhecimento, implica em um envolvimento total com o mistério absoluto que nos ronda a todos. E a cada qual caberá, de acordo com suas predileções, um caminho moldado seja pelas ciências, pelas religiões ou por um outro à escolha e, de vez em quando, francamente, à nossa revelia.

Há quem afirme que todos os caminhos levam ao mesmo lugar, e que, sendo isso um fato, importa, pois, que escolhamos o caminho que nos seja mais agradável. Daí a recomendação ao jovem estudante de que faça sua escolha seguro de que ela lhe dará prazer e satisfação. Buscar encontrar o próprio talento e devotar-se ao pleno desenvolvimento dele é a meta de toda uma vida. Se o caminho que lhe dá prazer e satisfação é a música, seja um músico; se é a medicina, seja um médico, se é a religião, seja um padre; se é a ciência, seja um cientista. E se for música e medicina? Ora, seja um músico-médico ou um médico-músico! Toda escolha implica em responsabilidades. Fazer sua escolha implica em aceitar e estar disposto e preparado a enfrentar as conseqüências boas e más que inevitavelmente virão. Esse é um dos aspectos misteriosos da realidade! E talvez essa seja a graça de estar vivo, aqui e agora.

Hoje temos ao nosso alcance uma enormidade de opções. Podemos dizer que hoje temos uma visão mais abrangente do que é a humanidade e do que ela representa para o Planeta. Temos, como espécie, um histórico de conflitos deprimentes e o espectro de uma nova guerra nos ronda e cria apreensão em todos. Como nunca, questionamos: haverá futuro para a humanidade neste Planeta que já dá mostras de que está sendo perigosamente afetado? Haverá saída no labirinto do modelo civilizatório em que mergulhamos? A tecnologia realmente nos proverá de instrumentos para resolução de nossos conflitos relativos à alimentação, à habitação e à saúde dos povos?

Todos nós sabemos que a única coisa que cada um dos 7 bilhões de seres humanos deseja é algo para comer, um lugar para dormir e saúde para comemorar a vida. No entanto, quando em conjunto, outras necessidades surgem. Querer saber e precisar saber são as mais fundamentais de nossas necessidades! E é a busca da satisfação dessas, que vem moldando nosso histórico como espécie. Esse movimento todo faz parte da dimensão daquilo que chamamos cultura que é, em última instância, um palco para a manifestação do real. E cibercultura é sua re-inauguração ampliada à esfera planetária adornada de virtualidades dinâmicas; e a medida em que, hoje, mas do que em qualquer outra época da curta história humana, todos os povos se encontram conectados e suas necessidades passaram a serem compartilhadas a um nível planetário, o real adquire um ritmo novo, ampliando suas fronteiras, abrindo-se para a inserção de conceitos novos e revolucionários advindos das ciências, das religiões. A busca de soluções passou a ser conjunta porque a geração de problemas passou a ser simultânea e em explosão em todo lugar. Não se pode identificar a fonte dos problemas da poluição exclusivamente na indústria que polui se ela o faz para suprir as necessidades de consumo coletivas. Alterar o padrão civilizatório que estimula a degradação ambiental e é fundamentalmente dependente dessa degradação é uma tarefa talvez similar à de Sísifo. Mas urge que seja meta prioritária para os artífices de um novo padrão.

Paradoxalmente, a importância da ação coletiva nasce no momento em que a importância da ação individual se fortalece. Enfim, talvez, tenha germinado a semente de que a transformação do mundo passa pela transformação interna do indivíduo e não pela brutalidade tosca e selvagem dos golpes de estado à direita ou à esquerda.

A tecnodemocracia será certamente um dos pilares da cibercultura humana. E como tudo que tem importância, precisará ser conquistada passo a passo e com muita dificuldade.

E o conceito de "realidade" como fica nisso tudo? Não fica. Pelo menos enquanto o ser humano não encontrar uma definição para si mesmo.
 
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