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Convergência, Anti-Convergência e Completude

L'esprit libre

Cogumelo maduro
Membro Ativo
22/06/2005
173
73
Convergência, Anti-Convergência e Completude

25.10.2008

Atípica convergência seguiu-se naquele domingo. Nos dias regulares e ordinários, em geral um indo para um lado outros para outro, uma aura que é o começo da desunião – paixões inflamadas, auto-reconhecimento e reconhecimento social, embaralhados ao propósito de girando e girando rumo a lugar nenhum. Mas naquele domingo foi diferente, havia um brilho especial naquela manhã, eu e meus colegas de um tempo, aparecendo um a um, como que combinado à seqüência e disposição das chegadas no lugar marcado. Antes seria impossível imaginar seria possível sequer uma reunião que não parecesse o confuso eterno intervalo entre nada e mais nada.

Dias atrás, havia sido magnificamente presenteado com algumas cápsulas mágicas e em igual gesto de NOBREZA, própria daqueles dias, recebemos cada um de nós, um papel St. Albert and the LSD Revelation Revolution (Alex Grey). Partimos então nós seis ao sítio onde faríamos a experiência. Logo na primeira rua um desvio: comprar cerveja ou não? Interessante que não era um conflito, mais uma tabula redonda de afirmações sinceras de expectativas.Uns achavam e acreditam que a cerveja é um mal, outros queriam, mas não conseguiam tomar partido por conta do caráter excepcional e especial criado por manifestações superiores que todos estávamos envolvidos. Coloquei os dois lados em evidência: quem quiser bebe, e quem quiser não bebe, contanto que o álcool não seja a base da experiência. Ao contrário de parecer razoável a todos, os extremos se colocaram, uns queriam agora vodka para beber mesmo, julgando que um papel não seria suficiente; e os outros agora não queriam ir mais. Trêmulo, pela sensação que antecede algumas experiências, em especial notado fortemente com a salvia, apenas ao tocá-la ou tê-la em presença, deixei de ser o “juiz de paz” da história e tomei a frente. Levamos 12 latas de Skol e 24 de Antártica. Isso demorou quase uma hora! Então seguimos e veio a disputa mesquinha pelo “beck”:

- Pô, só tenho um haxixe para o começo e o fim da experiência – disse um dos colegas iniciando a discussão. Na verdade todos eles tem e querem que os outros “botem um”. Mais demora... então comecei a conversar vividamente sobre todo tipo de assunto, mudando o clima silencioso que seguia até ali por conta da sensação do desconhecido. Mais uma hora e agora vamos de vez!

No caminho ouvíamos músicas no carro, cantávamos alto e conversávamos em alegre harmonia ao ter deixado a cidade para trás. Ao chegarmos, tudo em belo silêncio, casa de madeira, nenhuma palavra. Como se combinado, começamos a abrir as portas e janelas, dispor a mesa, a caixa de som – poucas palavras, nenhuma conversa. Eu tinha bebido 4 latas de Skol e não pretendia tomar mais, os outros deviam estar na mesma média, um estado em que o álcool (a cerveja em especial) me é favorável. Estávamos prontos para começar o que já era um ritual independente do que a nossa configuração artificial possa provocar, então súbito vimos um carro chegar com as irmãs e o namorado de uma delas. Evento brusco para que tínhamos finalmente nos integrado a outra experiência de vida. Nos entreolhamos com ar de surpresa e esperamos calados até eles chegarem até a casa, sem saber o que fazer, diante a mudança que aquilo representava, tinha tudo virado de cabeça para baixo.

Eu não entendi nada, não entendi o que eles queriam ali, os conhecia muito pouco e não entendia mais que curso tomariam as coisas ali... Mudou completamente o ar solene de catedral do século XVII, para sabe-se lá o que. Meus colegas também não pareciam entender o que se passaria a partir dali e falávamos entre nós: - que querem eles? – o que fazemos?

Bom, ligamos o som e eles tomaram os papéis, dando uns pedaços para os recém-chegados, não sei como foi. Num processo de adaptação fomos conversando, minha tensão cresceu novamente então tomei uma cápsula gelatina de cubensis transkey. Não sabia a potência, mas imediatamente começaram os efeitos, no dia anterior, tentava contar as cápsulas e mudavam de numeração, apareciam em lugares diferentes no meu cômodo, fiquei intrigado, mas nada surpreso, pois isso é que o normal dos cogumelos, poderia listar as tantas vezes que duendes, fadas e outros entes da floresta se manifestaram perto de mim. Não sei quantas cápsulas havia levado. Logo observando um certo desequilíbrio com o novo grupo que havia chegado, reparti poucas cápsulas para os colegas que havíamos chegado juntos e eles repartiram com os recém-chegados.

Pronto! Era umas 2h da tarde, descemos entre eucaliptos e em meio ao calor, subia a neblina de “contos de fadas”, chegamos até umas árvores e as pessoas foram se distribuindo melhor. Tomei mais uma cápsula.

Em meio a conversas de um calor impressionante, fui tomado por um círculo de fogo que partia das minhas costas e me encobria e o quanto crescia chamava a atenção dos andantes. Finos rios de arco-íris criavam uma dupla visão com o meio cotidiano, enlaçando meu campo de visão com inscrições em letra hippie com a palavra Psychedelic. A ardência da queima do manto que já encobria a todos foi ao extremo quando as duas meninas se soltaram mais e passaram a andar e buscar conversas. Vi uma tatuagem de uma lótus no pescoço de umas delas, então peguei o pacote com as sementes de nelumbo nucifera que eu propagava pelo mundo àquela época... em meio a apreciação, conversas, o pacote se rompeu e todas as sementes pingaram curiosamente escada abaixo, conectando mais ainda uns e afastando outros, uns se uniram para pegar as sementes, naquela atmosfera de calor vermelho-laranja extremo ou se participava ou se estava completamente repelido.

Num ato curioso, poucos minutos após a queda das sementes, o colega do grupo chegado depois, correu e pulou os vários degraus e caiu em dor. Pronto, agora ele conseguiu alguma participação, e corrompeu o calor, ainda que eu estivesse alheio aquilo, notava a mudança nas pessoas. Alguns com sensação de culpa, e articulando uma angústia a que eu me considerava invulnerável, pois não conseguia nem vê-la. Começava a anoitecer e a indecisão deles e o fato de que o acidentado era o motorista deles, ele precisaria ir ao hospital, apesar de estar anestesiado pelo álcool que já estavam envoltos ao chegarem. Continuava fazendo minhas coisas alegremente, inclusive nas minhas conversas com o acidentado, que não via nada demais naquilo e certamente ele estava gostando da participação que conseguiu naquilo. Havia um problema a ser solucionado, então me coloquei à frente e fui acelerando as decisões deles, que ligaram para alguém vir buscá-los.

Nesse intervalo, rompi o contato com as coisas do acidente, e sentei-me à mesa, que era o que eu pensava desde o início, estava tocando Atom Heart Mother, muito alto, mas sem distorção. Vi um colega que trabalha meditação envolvido, e disse para mim ‘vou descobrir o que é que eles vêem nessa música’, música que já havia me surpreendido outras vezes, mas algo eu ainda era alheio à ela. Ao fechar os olhos vi enormes esferas metálicas, com muitas inscrições se abrindo em luzes laranja, outras verde e outras azul. As esferas giravam em perfeição e a música teve seu ápice, todos que estavam próximos levantam sem se dar conta, quase pulando e os campos de energia das pessoas se tornam visíveis em cores, a do amigo da meditação era branco, fino, parecendo um leve penugem...disse: ah! Deixa eu aproveitar isso! E toquei-lhe o braço! Então seguiu-se que ele foi abraçado por seus amigos e era o total contraste com toda a situação do acidente, que ficara alheio todo o tempo.

Então voltou a cena do acidente. Cometi o erro fatal de entrar na angústia deles, junto com a noite, quando se DEVE nos momentos de transição do dia, estar somente para esta transição. Não me sentia mal, mas queria resolver logo a situação, então alguém precisava dirigir numa pequena estrada para sinalizar a entrada do sítio, ficaram todos que estavam lá no “é, isso não é comigo...pois é né? e etc” Sem demoras, tomei a posição e fui, muito estranho sentir-me a cápsula de metal e o odor da vida dos outros concentrada ali. Foi bem rápido, não tive problemas.

Desceu essa pessoa que os levaria, um rosto tremendamente horrível se decompunha, derretia como o pior dos plásticos, ao som de algo demoníaco, me afastei com uma sensação horrível. E eles ainda lá tentando resolver o que já estava decidido por eles mesmos, adiantei novamente ‘vai, precisa de hospital, então vai e ponto’. Ainda assim ficaram demorando, ondas irregulares tormentosas balançavam todo o lugar, e pronto, foram embora.

Tudo ficou num frio silêncio, agora éramos novamente o grupo inicial, daí vi o quanto tinha me desgastado com aquilo e entrado na noite como quem desrespeita todo o Organismo. Precisávamos nos recompor daquilo, e tomar nova direção... começamos então a conversar, sem entender nada da intenção dos outros com o que todos diziam, o que foi o que me levou a me libertar do acesso virtual às tudo que existe, quando se apenas sabe que as coisas existem e as olha refletida no espelho com limpidez e por isto acredita delas participar. Então a libertação foi dolorosa, até que em alguns minutos eu tocava, tinha contato com tudo que existe...comecei a falar frases de libertação como ‘é, a primeira vez que escuto alguém falar’, no momento era como se nunca prestado atenção à alguém, mesmo que já tivesse, mas estava em sabe-se lá que ponto contaminado por este, O GRANDE PERIGO DA PÓS-MODERNIDADE, que se não percebido, te joga no mundo do espectador.

Chegando a decisivas novas Direções, precisava ficar sozinho...então andei para o outro lado do sítio, quando mais me afastava, mais o chão parecia ter pedras, até cheguei a um ponto que pareciam espinhos, então começaram a surgir milhares de espinhos me dando forte e agudos choques, fui saindo a passos largos, mas não parava de aumentar, então corri, mas cuidando para não desestabilizar-me. Voltei e avisei isso aos meus colegas, que não se interessaram, num tom de desconfiança do que acontecia ali. Um certo medo começava a se propagar, um barulho desagradável e pesado vinha de uma moita, demorou e saiu um sapo bem grande, com uma couraça seca e grossa, nos olhou se saiu sem ruídos.


Tinha uma pouco de jurema, então iria preparar, mesmo que não tivesse algum imao. A preparação foi prazerosa, a comunhão na cozinha. Enquanto preparávamos tentamos fumar um pouco e provocava alguns efeitos, mas nada explosivo. Quando ficou pronto, descemos a uma sala construída embaixo da sala principal. Algo com cheiro e atmosfera de “idade média”. Eles comungaram a bebida. O que tornou tudo mais contemplativo, embora não tenham relatado senão um estado meditativo. Não tomei por que, fizesse o efeito que fosse, eu já estava numa profunda e forte experiência e nem supunha qualquer alteração para bem ou mal.

Estávamos dando sinal de cansaço. Seria uma longa noite. Eu já não agüentava mais a música ligada desde a hora que chegamos e então uma explosão! Agora estávamos sem luz elétrica! Todo o mal estar se foi... então passaram, ainda que desorganizadamente, a procurar por estímulos, “ver coisas acontecendo”, eles não conseguiam participar daquela experiência e passaram a procurar coisas “místicas”, “sobrenaturais”. Então chamei a atenção para o céu, e tudo se ampliou, o céu lentamente se partiu em dois, de um lado azul e o outro vermelho... segui minha prática de tentar dissolver o vermelho, quando um som vindo de longe se tornou nítido e de lá vinha a luz de um vermelho desagradável. Era a cidade, que antes não se podia ver dali! Todo o tumulto se condensava naquela “música”, que vinha de lá.

O colega da meditação então desceu para uma construção que tem uma atmosfera de oca indígena, outro entrou dentro do carro para deitar, outro pegou uma bebida deixada pelo outro grupo. Eu e outro colega ficamos em pé numa mureta observando raios de luz que começavam a aparecer no céu, mas o cansaço pelo desgaste do dia, não deixava a concentrar e mais ainda um tipo de medo coletivo e a anti-convergência atingida ali. Então me aproximei do outro colega que se balançava amedrontado com a falta de luz artificial, e a cada passo que seu medo aumentava via sua fisionomia tomar formas demoníacas, começaram a crescer dois chifres enormes, sua cabeça foi baixando, a face toda deformada, então o surpreendi chamando alto seu nome... daí ele, se desculpando, interrompi e só falei ‘presta atenção’. Estaríamos sob perigo? Sim. Pelo medo quase voluntário e a desagregação, a energia vital ia se consumindo.

Espontaneamente, cada um foi para um lugar que lhe dá segurança, sem ter ciência de se fazer isto, totalmente o que somos, animais. Agora formamos uma intrincada defesa, com o homem da bebida à frente da casa, o amedrontado escondido, o meditativo em sua cabana, eu e o outro colega em guarda em cômodos opostos da casa. então a energia voltou, mas não deixei ligassem a luz ou som. O homem da bebida, tentava anestesiar aquele estado e até fugir para longe de sua cabeça, então colocou o Ummagumma para tocar, e ficava balbuciando algumas coisas sozinho, entre risadas e se balançando na cadeira. Fechei os olhos, deitei com os braços cruzados e num lapso, a música Time se colocou num som alto e estridente, abri os olhos, já esperando pelo cansaço, e nenhuma falha, nunca tinha experimentado antes o que chamei imediatamente de Completude. Todos foram atraídos para a frente da casa, então já celebrávamos aquela Provação, Organização e Purificação. E após uma última meditação numa mesa, como uma comunhão, seguimos certos de futuro.

L’esprit libre.
 
Otimas observações descritas eiM!!
pareceu que vc via tudo como uma forma de linguagem através de energia, a energia daquele local, das pessoas e a forma de comunicação sabe essa comunhão entre essas energias

Ainda não tive oportunidade de participar em uma experiência em grupo a só(salvo uma com lsd numa festa), mas parece que as energias se tornam mais nítidas. e deve ser díficil trabalhar com elas num grupo muito grande (5+)

Agora, vendo de forma ampliada essas energias sutis trabalhavam como se fossem um (o ser oculto que manipula as marionetes) e pelo relato alguns se sentiam alheios a isso ilusóriamente
sei lá pra min pareceu isso. abrç
 
Fala oyahutssi9...

O que vi eram rios que se pareciam veias e acima e em tudo, uma malha de calor que pulsava do centro, sem distinção de lugar/pessoa. Me senti assim o tempo todo, sem um fragmento fora deste Corpo que se manifestou ali, envolvendo todas as pessoas e o lugar...Unidade...direção do Uno-Primordial.

Era impossível fugir à Unidade, alguns tentaram seus meios como narrei...ter as mesmas veias e o mesmo coração...

Até!
 
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