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ElDorado
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Excertos do livro "Mycelium Running", de Paul Stamets (1ª ed. --- pgs. 51-109)
traduzido por R. Roldan
Micorrestauração
"Habitats, como as pessoas, têm sistema imunes, que se enfraquecem devido a stress, doenças ou exaustão. Micorrestauração é o uso de fungos para reparar ou restaurar os sistemas imunológicos de diversos ambientes que estejam enfraquecidos. Tenham os habitats sido danificados pela atividade humana ou por desastre natural, fungos saprofíticos, endofíticos, micorrizais e, em alguns casos, até mesmo parasíticos podem ajudar na recuperação. Conforme gerações de ciclo micélio vivem seus ciclos através de um habitat, a profundidade do solo e a umidade aumentam, aprimorando a capacidade de carregamento [N.T: de nutrientes] do ambiente e a diversidade de seus membros.
Na terra, toda vida surge do solo. O solo é a moeda ecológica. Se o gastarmos em excesso ou ficarmos sem ele, o ambiente vai à falência. Seja fazendo prevenção ou reconstruindo após uma catástrofe ambiental, os micologistas podem se tornar artistas ambientais ao projetarem paisagens para benefício tanto humano quanto da natureza. A introdução tempestiva de saprófitas primários, que estão entre os primeiros organismos a renovar a cadeia alimentar após uma catástrofe, podem determinar o curso das comunidades biológicas por meio de um cuidadoso encaixe de micélios com plantas, insetos e outros agentes compatíveis.
A prática de personalizar paisagens micológicas, que futuramente terá grande abrangência, pode afetar microclimas ao aumentar a umidade e a precipitação. Podemos nos capacitar para usar pegadas miceliais para criar oásis ambientais que continuam a se expandir conforme o micélio cria o solo, acertando o rumo do desenvolvimento ecológico.
As práticas de micorrestauração podem ser implementadas nas seguintes formas:
A arte desta ciência emergente está na seleção de espécies e, com igual importância, sua introdução tempestiva. Se usarmos fungos como espécies-chave, permitiremos populações subsequentes e criaremos habitats únicos e misturas de espécies. Embora estes caminhos ainda não estejam mapeados, observações da recuperação de habitats destruídos por sábios micológicos como Roy Watling (1998) podem servir como guias naturais para restauração. A Natureza ensina pelo exemplo. Primeiro precisamos aprender de seus ensinos para conseguir ter a visão dos caminhos micológicos que melhor levam a estratégias de restauração de habitats.
Após incêndios florestais, quando os habitats queimados começam a se recuperar, as espécies que aparecem em meio às cinzas e escória são os cogumelos, especialmente as morelas (Morchella) e cogumelos-taça (sic) [cup fungi] (Auricularia), que podem aparecer em questão de semanas. Esses cogumelos que crescem rapidamente e que rapidamente se decompõem emergem onde nenhuma vida aparentemente poderia sobreviver. Conforme esses suculentos cogumelos amadurecem e liberam esporos, eles também liberam fragrâncias que atraem insetos e mamíferos, incluindo coletores de cogumelos. Um oásis biológico emerge conforme novas espécies se reúnem em torno do fungo pós-incêndio. Moscas depositam larvas nas morelas e, quando as larvas amadurecem, elas atraem pássaros e outros amantes de vermes. Pássaros e mamíferos que aparecem para comer as morelas defecam sementes de plantas comidas bem longe da zona de fogo. De acordo com o movimento dos diversos animais no terreno infértil, surge uma pegada ecológica de flora e fauna. As camadas de pegadas ecológicas criam uma rede biológica entrelaçada [N.T: a tal internet da Natureza que o Stamets fala no começo do livro].
Reconhecimento de Habitat
De modo a determinar qual método de micorrestauração deve ser usado, um habitat danificado deve primeiro passar por um reconhecimento de área para se saber qual o mix de espécies. As espécies residentes são a recomendação da Natureza para a restauração de habitats. Se o habitat for micologicamente neutro -- não demonstrando nenhuma evidência do crescimento de cogumelos -- então teremos um elenco de personagens que podem ser adequados mas que devem ser para lá importados sob a forma de inóculo (spawn).
Em geral, um fungo nativo pode corrigir o desequilíbrio biológico. Uma pesquisa de campo do sítio afetado pode revelar cogumelos que possam contrariar os efeitos patogênicos.
[N.T.: pesquise os livros do autor citado e o CogumelosMagicos.org sobre as técnicas aplicáveis]. Se uma toxina contamina um habitat, cogumelos frequentemente aparecem que não apenas toleram a toxina mas que também a metabolizam como um nutriente ou a decomponham.
Paisagens micológicas devem ser realimentadas com materiais nutritivos e, às vezes, até recarregada de inóculos (spawn) para preservar as comunidades de cogumelos saprofíticos. Nas matas selvagens, a constante queda de restos vegetais alimenta o cogumelo saprofítico que habita o chão da floresta. Através deste processo, o solo se aprofunda.
A micorrestauração é uma ciência ainda em sua infância para os humanos, mas um método altamente refinado usado pela natureza por milhões de anos. Ao abrirmos nossos olhos para oportunidades fungais -- literalmente sob nossos pés -- logo vemos muitos cogumelos em seus papéis como curadores ambientais. Em minha mente, cogumelos são almas xamânicas, espiritualmente sintonizadas com seus lares. Nós, como cocreadores, nos beneficiaremos ao ouvir suas vozes."
Depois trarei o capítulo específico da micorremediação. O caverna é o grande responsável por este tópico, pois me motivou a escrevê-lo. Vê se ajuda aê, que uma andorinha não faz verão!! kkkk
Ele mencionou a monocultura da cana, cujo solo estaria desgastado. Enfim, as oportunidades são imensas nessas quatro atividades de micorrestauração.
Não sei se são viáveis ou não. Abri o tópico para que troquemos ideias e experiências a respeito, bem como para motivar um possível projeto, uma futura ONG ou algo do gênero para colaborar em processos de reflorestamento, etc e tals, com esse conhecimento micológico.
O tópico pode servir ao menos para reunir algumas experiências bem sucedidas de outdoor de quaisquer espécies, principalmente associadas a plantas nativas.
Também a verificação de micorrizas endêmicas, quais as associações e por aí vai.
Acho que podemos explorar primeiro a teoria envolvida, pensar como poderíamos nos organizar na vida real para viabilizar a entidade. Depois, o lance é gerar um protocolo de procedimentos e começar a angariar fundos e experimentos. Quando tivermos uma equipe com certo domínio e um equipamento adequado, podemos iniciar atividades consistentes.
Devemos ter também um catálogo de espécies brasileiras, seja de talha nossa ou apenas pesquisa reunida de outras fontes.
Sei que os cogumelos psicodélicos têm um papel preponderante nisso tudo.
Em termos de investidores e/ou oportunidades para a coisa, acho bem mais fácil do que a parte nossa aqui, mas também menos prazerosa.
O que acham? Mesmo que seja muita viagem, ao menos tratemos então da teoria.
Agradeço pela atenção de tod@s!
Abraços cósmicos!
P.S.: Para quem não conhecia, o Stamets é um dos nossos heróis hoje vivos! Ele é um dos donos do FungiPerfecti.com e grande apreciador de cogumelos psicodélicos e psicoativos. Fiquem com a excelente entrevista trazida pelo amigão caverna abaixo.
traduzido por R. Roldan
Micorrestauração
"Habitats, como as pessoas, têm sistema imunes, que se enfraquecem devido a stress, doenças ou exaustão. Micorrestauração é o uso de fungos para reparar ou restaurar os sistemas imunológicos de diversos ambientes que estejam enfraquecidos. Tenham os habitats sido danificados pela atividade humana ou por desastre natural, fungos saprofíticos, endofíticos, micorrizais e, em alguns casos, até mesmo parasíticos podem ajudar na recuperação. Conforme gerações de ciclo micélio vivem seus ciclos através de um habitat, a profundidade do solo e a umidade aumentam, aprimorando a capacidade de carregamento [N.T: de nutrientes] do ambiente e a diversidade de seus membros.
Na terra, toda vida surge do solo. O solo é a moeda ecológica. Se o gastarmos em excesso ou ficarmos sem ele, o ambiente vai à falência. Seja fazendo prevenção ou reconstruindo após uma catástrofe ambiental, os micologistas podem se tornar artistas ambientais ao projetarem paisagens para benefício tanto humano quanto da natureza. A introdução tempestiva de saprófitas primários, que estão entre os primeiros organismos a renovar a cadeia alimentar após uma catástrofe, podem determinar o curso das comunidades biológicas por meio de um cuidadoso encaixe de micélios com plantas, insetos e outros agentes compatíveis.
A prática de personalizar paisagens micológicas, que futuramente terá grande abrangência, pode afetar microclimas ao aumentar a umidade e a precipitação. Podemos nos capacitar para usar pegadas miceliais para criar oásis ambientais que continuam a se expandir conforme o micélio cria o solo, acertando o rumo do desenvolvimento ecológico.
As práticas de micorrestauração podem ser implementadas nas seguintes formas:
- micofiltragem
- micoreflorestamento
- micoremediação
- micopesticidas
A arte desta ciência emergente está na seleção de espécies e, com igual importância, sua introdução tempestiva. Se usarmos fungos como espécies-chave, permitiremos populações subsequentes e criaremos habitats únicos e misturas de espécies. Embora estes caminhos ainda não estejam mapeados, observações da recuperação de habitats destruídos por sábios micológicos como Roy Watling (1998) podem servir como guias naturais para restauração. A Natureza ensina pelo exemplo. Primeiro precisamos aprender de seus ensinos para conseguir ter a visão dos caminhos micológicos que melhor levam a estratégias de restauração de habitats.
Após incêndios florestais, quando os habitats queimados começam a se recuperar, as espécies que aparecem em meio às cinzas e escória são os cogumelos, especialmente as morelas (Morchella) e cogumelos-taça (sic) [cup fungi] (Auricularia), que podem aparecer em questão de semanas. Esses cogumelos que crescem rapidamente e que rapidamente se decompõem emergem onde nenhuma vida aparentemente poderia sobreviver. Conforme esses suculentos cogumelos amadurecem e liberam esporos, eles também liberam fragrâncias que atraem insetos e mamíferos, incluindo coletores de cogumelos. Um oásis biológico emerge conforme novas espécies se reúnem em torno do fungo pós-incêndio. Moscas depositam larvas nas morelas e, quando as larvas amadurecem, elas atraem pássaros e outros amantes de vermes. Pássaros e mamíferos que aparecem para comer as morelas defecam sementes de plantas comidas bem longe da zona de fogo. De acordo com o movimento dos diversos animais no terreno infértil, surge uma pegada ecológica de flora e fauna. As camadas de pegadas ecológicas criam uma rede biológica entrelaçada [N.T: a tal internet da Natureza que o Stamets fala no começo do livro].
Reconhecimento de Habitat
De modo a determinar qual método de micorrestauração deve ser usado, um habitat danificado deve primeiro passar por um reconhecimento de área para se saber qual o mix de espécies. As espécies residentes são a recomendação da Natureza para a restauração de habitats. Se o habitat for micologicamente neutro -- não demonstrando nenhuma evidência do crescimento de cogumelos -- então teremos um elenco de personagens que podem ser adequados mas que devem ser para lá importados sob a forma de inóculo (spawn).
Em geral, um fungo nativo pode corrigir o desequilíbrio biológico. Uma pesquisa de campo do sítio afetado pode revelar cogumelos que possam contrariar os efeitos patogênicos.
[N.T.: pesquise os livros do autor citado e o CogumelosMagicos.org sobre as técnicas aplicáveis]. Se uma toxina contamina um habitat, cogumelos frequentemente aparecem que não apenas toleram a toxina mas que também a metabolizam como um nutriente ou a decomponham.
Paisagens micológicas devem ser realimentadas com materiais nutritivos e, às vezes, até recarregada de inóculos (spawn) para preservar as comunidades de cogumelos saprofíticos. Nas matas selvagens, a constante queda de restos vegetais alimenta o cogumelo saprofítico que habita o chão da floresta. Através deste processo, o solo se aprofunda.
A micorrestauração é uma ciência ainda em sua infância para os humanos, mas um método altamente refinado usado pela natureza por milhões de anos. Ao abrirmos nossos olhos para oportunidades fungais -- literalmente sob nossos pés -- logo vemos muitos cogumelos em seus papéis como curadores ambientais. Em minha mente, cogumelos são almas xamânicas, espiritualmente sintonizadas com seus lares. Nós, como cocreadores, nos beneficiaremos ao ouvir suas vozes."
Depois trarei o capítulo específico da micorremediação. O caverna é o grande responsável por este tópico, pois me motivou a escrevê-lo. Vê se ajuda aê, que uma andorinha não faz verão!! kkkk
Ele mencionou a monocultura da cana, cujo solo estaria desgastado. Enfim, as oportunidades são imensas nessas quatro atividades de micorrestauração.
Não sei se são viáveis ou não. Abri o tópico para que troquemos ideias e experiências a respeito, bem como para motivar um possível projeto, uma futura ONG ou algo do gênero para colaborar em processos de reflorestamento, etc e tals, com esse conhecimento micológico.
O tópico pode servir ao menos para reunir algumas experiências bem sucedidas de outdoor de quaisquer espécies, principalmente associadas a plantas nativas.
Também a verificação de micorrizas endêmicas, quais as associações e por aí vai.
Acho que podemos explorar primeiro a teoria envolvida, pensar como poderíamos nos organizar na vida real para viabilizar a entidade. Depois, o lance é gerar um protocolo de procedimentos e começar a angariar fundos e experimentos. Quando tivermos uma equipe com certo domínio e um equipamento adequado, podemos iniciar atividades consistentes.
Devemos ter também um catálogo de espécies brasileiras, seja de talha nossa ou apenas pesquisa reunida de outras fontes.
Sei que os cogumelos psicodélicos têm um papel preponderante nisso tudo.
Em termos de investidores e/ou oportunidades para a coisa, acho bem mais fácil do que a parte nossa aqui, mas também menos prazerosa.
O que acham? Mesmo que seja muita viagem, ao menos tratemos então da teoria.
Agradeço pela atenção de tod@s!
Abraços cósmicos!
P.S.: Para quem não conhecia, o Stamets é um dos nossos heróis hoje vivos! Ele é um dos donos do FungiPerfecti.com e grande apreciador de cogumelos psicodélicos e psicoativos. Fiquem com a excelente entrevista trazida pelo amigão caverna abaixo.