Teonanacatl.org

Aqui discutimos micologia amadora e enteogenia.

Cadastre-se para virar um membro da comunidade! Após seu cadastro, você poderá participar deste site adicionando seus próprios tópicos e postagens.

  • Por favor, leia com atenção as Regras e o Termo de Responsabilidade do Fórum. Ambos lhe ajudarão a entender o que esperamos em termos de conduta no Fórum e também o posicionamento legal do mesmo.

Cogumelos, Charme e Veneno

tupy

★ vento sul ☆
Membro da Staff
Cultivador confiável
29/05/2006
4,063
94
Terra de Deus
Durante muito tempo pouco se soube sobre esses estranhos fungos, alguns dos quais capazes de produzir efeitos não menos bizarros em quem os consome.
Diz uma história que a nobre italiana Lucrécia Bórgia (1480-1519) costumava oferecer aos seus inimigos poções à base de cogumelos venenosos.


Lucrécia Bórgia

Outra lenda sustenta que o imperador francês Napoleão Bonaparte (1769-1821) só conseguiu gerar um filho graças aos efeitos afrodisíacos das trufas - espécie de cogumelos subterrâneos. Já povos antigos que habitavam a região de Kamchatka, extremo leste da Rússia, mascavam algumas espécies alucinógenas, a pretexto de encontrar assim o espírito nelas oculto.


Kamchatka - Extremo Leste da Rússia


Kamchatka - Extremo Leste da Rússia

A razão para tanto folclore é simples: segundo a bióloga Vera Bonini, do Instituto de Botânica de São Paulo, existem nada menos de 200 mil espécies desses fungos, assumindo formas e cores diversas, capazes de brotar até em meios os mais inóspitos.

Podem ocorrer em desertos, no alto das montanhas, no interior das cavernas, em densas florestas ou em campos abertos. Mas a fama dos cogumelos não é feita só de fantasias, que certamente nasceram de acidentes com espécies venenosas ou alucinógenas.

Os champgnons, como dizem os franceses, ou funghi, como são chamados pelos italianos, figuram hoje entre os pratos mais apreciados no mundo inteiro. Não que seu uso culinário seja recente: na antiga Roma, Júlio César (100-44 a.C.) deu o próprio nome ao cogumelo preferido, Amanita Caesare.


Amanita Caesarea - Foto:maskaphoto

Mas talvez a mais antiga espécie de que se tem notícia seja a que os japoneses cultivam há mais de dois milênios: a shii-take - Leutinus edodes --, que nasce em troncos de árvores mortas. Na França, onde são muito consumidos, as experiências de cultivo foram realizadas, pela primeira vez, por Olivier de Serres, agrônomo da corte de Luís XIV, no século XVII.

Em 1835, em sua viagem pelo oceano Pacífico o naturalista inglês Charles Darwin observou os hábitos alimentares dos nativos da Terra do Fogo, no extremo sul da Argentina. Darwin notou que mulheres e crianças comiam enormes quantidades de fungos em estado natural. Os cogumelos representavam seu principal alimento, com acréscimo de alguns frutos silvestres. Os nativos sabiam muito bem o que comiam.


Terra do Fogo, no extremo sul da Argentina

Reconhecer se um cogumelo é comestível ou venenoso é mais difícil do que se pode imaginar. Os métodos populares conhecidos são considerados insuficientes pelos especialistas, como verificar se sua coloração muda ao toque das mãos, se têm um anel na parte superior do talo ou ainda por suas tonalidades ou manchas. Na verdade, para distinguir o que é o que no mundo dos cogumelos, todos esses fatores são importantes, além de muitos outros, como, por exemplo, o tamanho, a cor dos esporos, a forma do anel ou pequenas escamas que podem aparecer na parte superior do chapéu. Em certas regiões da Europa, sair em busca de cogumelos após a chuva, de preferência no outono, é atividade bastante comum, e a sabedoria passa de pai para filho.

Mesmo assim, ocorrem, a cada ano, alguns casos de envenenamento, às vezes mortais. Mas as raras fatalidades não chegam a desencorajar as famílias, que saem a campo munidas até de livros de identificação. Depois de classificadas, as espécies comestíveis se transformam quase sempre numa festejada e suculenta omelete. Efêmeros e frágeis, os cogumelos, porém, não esperam muito até serem colhidos. Algumas espécies têm brevíssimos ciclos de vida: em horas, nascem, crescem, murcham ou se transformam em um simples borrão de tinta, como é o caso do gênero Coprinus, que em apenas seis horas se autodestrói, ficando reduzido a uma pequena mancha escura.


Coprinus spp

O número de esporos produzido em cada cogumelo é estarrecedor: trilhões deles se espalham pelo campo das maneiras mais inesperadas. A ação do vento é, sem dúvida, a maior responsável pela sua dispersão, e eles podem percorrer quilômetros até cair no chão. Outras espécies emanam um forte cheiro, que atrai os insetos; depois que estes encostam no cogumelo, saem carregados do finíssimo pó. Mas há espécies que contam com o acaso, como, por exemplo, o Lycoperdon perlatum.


Lycoperdon perlatum - Foto: Christian Pourre

Minúscula e muito diferente dos cogumelos tradicionais, essa espécie se parece com uma almofadinha que contém um orifício na parte de cima. Seus esporos são formados no interior do cogumelo, de onde só conseguem sair sob pressão da pata de um animal, ou caso caia um temporal, ou ainda se qualquer outra força os pressionar, como a um tubo de pasta de dentes.

Desde a época dos faraós, há mais de 5 000 anos, as pessoas já empregavam bactérias e fungos para fazer pães, bebidas alcoólicas, queijos e iogurtes.




Neste século, o primeiro produto industrializado com a ajuda de fungos, na época da Primeira Guerra Mundial, foi o glicerol, um componente de explosivos. Na década seguinte, o inglês Alexander Fleming verificou que o fungo Penicillium notatum excretava toxinas contra as bactérias e podia ser cultivado em massa para a produção de remédios, os antibióticos, como viriam a ser denominados os medicamentos que mais vidas humanas salvaram.



No futuro, a solução poderá ser encontrada no meio do mato — ao menos, é nisso que aposta o farmacêutico Jayme Sertié, da USP. Famoso por caçar matérias-primas para medicamentos nas plantas, Sertié acredita que as espécies vegetais contêm substâncias antimicrobianas. “Os antibióticos atuais são extraídos de fungos ou outras bactérias”, explica. “São, na realidade, verdadeiros venenos produzidos para servir de defesa contra espécies de micróbios inimigos. Eles têm várias semelhanças e só uma planta poderia conter uma molécula de estrutura completamente diferente, capaz de pegar as bactérias de surpresa.”
venenoso01.jpgvenenoso02.jpgvenenoso03.jpgvenenoso04.jpgvenenoso05.jpgvenenoso06.jpgvenenoso07.jpgvenenoso08.jpgvenenoso09.jpg
 
Muito instrutivo Mr. tupy. Está de parabéns!!!

Espero que as Amanitas tradicionais (se é que se pode chamar qualquer Cogumelo de tradicional) não fiquem tão pouco tempo "vivas" como é o caso da Coprinus spp, tão bem citado em seu maravilhoso texto!

Aquele...
 
Não é de minha autoria, são textos recortados de matérias da Revista Super Interessante., adicionei fotos do google e fotógrafos independentes.
Leitura gostosa pra quem gosta de cogumelos.
 
Muito legal Tupy!
Uma dúvida, este amanita que foi nomeado por César, é alucinógeno?

Jah Bless!
 
Back
Top