Aquele menino ali no quarto, tinha algo de legal.
Um dia seu quarto e tudo o que nele existia, existiu também em outro universo, onde , de alguma forma
um eu dele mesmo também existia.
Ao se encontrarem, os dois meninos existiam em um mesmo quarto, num mesmo universo.
Durante o encontro, ambos entenderam as situações que passavam.Seus drama, medos e esperanças ficaram tão perfeitamente visualizável que num momento pareceu que nem eles e nem o quarto pertenciam a nenhuma existência mas quando finalmente um dos dois decidiu sair, um paradoxo ainda maior nasceu: o universo em que um garoto acabara de se ver saindo pela porta do quarto, para onde fora?Embora o universo que habitava não parecia diferente, tudo o estava devido a perspectiva recém descoberta.
No momento em que a porta do quarto abriu seu subconsciente percebera a maneira como foi
aberta e instintivamente os olhos procuraram exatamente onde os olhos de quem abria estavam.
Ambos ficaram se olhando e durante todo aquele tempo que não souberam medir ,pareceu que somente os olhos existiam, distraídos da realidade.
Poderia falar sobre todos os assuntos com ele, e saberia que seria fácil e interessante.
Importava com quem estava falando, e não exatamente o assunto.
Tudo o que importava estava a sua frente, ambos vivendo aquela experiência de se conhecerem e sentindo que já se conheciam.
Longe de ser uma maneira monótona, todas as experiências eram carregadas daquela euforia gostosa e rara no cotidiano.
Se encontraram novamente dentro de seus próprios corpos, e se sentiram um pouco zonzos.
Acostumando-se ,meio agressivos e atônitos,sentindo a presença física um do outro.
O que acabara de chegar contornou o outro e alcançou a cama observando-a atentamente , depois o criado mudo com suas coisas e finalmente a parede : tudo estava igual como deixara ao sair aquela manhã
O garoto que estava dentro do quarto, tocou o próprio peitoral com as pontas dos cinco dedos da mão direita, e fitou o outro:- Eu - gesticulou - posso - falava com calma e vagarosamente - te tocar? - Levantou a mão parecendo uma aranha de ponta cabeça, e apontou para o peitoral do outro . O outro fez a mesma posição e encostou no dedos do outro .Olhavam de maneira confusa no começo, virando a cabeça oservando os detalhes, sentiram um frio na barriga quando as palmas das mãos se tocaram, se aproximaram , os antebraços encostando-se e a luz dos olhos se acenderam de novo.
- É um sonho, mas é o meu ou o seu ?
- É a realidade, de nós dois .
Depois de pensarem no que fora dito, disseram ao mesmo tempo:
- E de mais ninguém.
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Depois do encontro, pensou ter sido uma alucinação, um sonho qualquer, mas aquela carta descartava essas hipóteses.Sentia-se cada vez menos na realidade quando saia do quarto, seu cotidiano continuava da mesma forma como antes do encontro, embora parecia que suas ações estavam mais automática.
Se levantou e enquanto caminhava para a porta, atentou-se as suas percepções , seus passos e caminhar. Abriu-a , e por um momento percebeu que fora do quarto parecia mesmo ser outra existência, como se tivesse que atravessar uma camada de realidade para chegar ao lado de fora. Deu um passo e fechou a porta.Olhou para os pés, e caminhou até a cozinha, e então percebeu aos poucos, que na verdade ele não estava no corpo, mas não sabia explicar onde estava,o corpo sentou-se a mesa e deitou a cabeça nos braços cruzados. Acostumando-se a nova perspectiva, sentiu um pequeno conflito. Lá fora o vento passeava , entrando pela janela e balançando a cortina. Percebeu que ele próprio era o vento ,a cortina e a janela. O que estava deitado na mesa, levantou a cabeça olhou para fora pela janela, e demorou-se observando a cortina balançar, depois olhou para o teto, procurando a si mesmo ,o outro , ou algum sinal de que não estava sozinho.
Um dos meninos encontrou num caderno na gaveta do quarto, uma carta dizendo que por curiosidade de saber se o mesmo estava ocorrendo com seu eu outro, escrevera na esperança de ser lida nesse outro universo.
Leu a carta duas vezes, virou-a de ponta cabeça, olhou atrás da folha, se esforçando a lembrar se ele mesmo não a tinha escrito.
A carta contava como suas experiências fora do quarto pareciam cada vez menos vívidas, até um ponto em que percebera que fora do quarto não era ele mais que existia e sim o garoto do outro universo e ele mesmo era tudo que existia que não fosse o garoto.