- 20/05/2007
- 329
- 73
"Um coração cheio como um aterro
Um emprego que vagarosamente te mata
Feridas que não cicatrizam
Você parece tão cansado e infeliz
Derrube o governo
Eles não... eles não falam por nós
Eu vou levar uma vida quieta
Um aperto de mão de monóxido de carbono
Sem alarmes e sem surpresas." (Radiohead)
"Eu vejo aqui os homens mais inteligentes que já existiram. Que droga, uma geração inteira de garagistas, garçons ou escravos do colarinho branco! Os anúnicos nos fazem comprar carros e roupas. Empregos que odiamos para comprar porcarias que não precisamos. Somos os filhos no meio da história, sem Grandes Guerras nem Grandes Depressões. Nossa Grande Guerra é a Guerra espiritual, nossa Grande Depressão é nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar que um dia seríamos bilionários e deuses do cinema e estrelas do rock, mas nós não somos. Devagar vamos aprendendo isso." (Clube da Luta)
Há certo tempo ouvi o OK Computer do Radiohead e recentemente assisti o filme “Clube da Luta” (“Fight Club)
Notei que os dois possuem várias semelhanças: ambos falam da angústia do homem moderno (dos anos 90 até agora), da vida do ser humano que trabalha como um escravo, almoça no fast-food, renuncia a férias com medo de ser substituído no emprego, cujo chefe o humilha tanto que ele não consegue mais ter ereções e que ao chegar em casa não consegue dormir.
“Você poderia, por favor parar o barulho, eu estou tentando descansar. Tirar um descanso de todas essas galinhas que ainda não nasceram dentro da minha cabeça.” (Radiohead)
Gente que foi criada sob padrões plim-plim de beleza e estilo de vida. Relações tão descartáveis quanto as coisas que servem nos vôos comerciais, pessoas que você conhece e se despede sem nem ter perguntado o nome. Pessoas frustradas.
“Já podaram seus momentos,
Desviaram seu destino.
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu...” (Milton Nascimento)
Vivemos num mundo onde nos subordinamos às coisas que possuímos.
"As coisas que você possui acabam possuindo você." (Clube da Luta)
“Eu tinha um aparelho de som legal, um guarda-roupa que estava começando a ficar respeitável... eu estava perto de me sentir completo.” (Clube da Luta)
"que tipo de porcelana me define como pessoa?" (Clube da Luta)
"Assassinato, crime, pobreza. Estas coisas não me interessam. O que me interessa são revista de celebridades, televisão com 500 canais, nome de uns caras na minha cueca..." (Clube da Luta)
"Que vergonha. Uma coleção completa de condimentos e nenhuma comida." (Clube da Luta)
Não cheiramos flores, não andamos devagar, não cozinhamos, não sentamos no chão com nossos filhos, não olhamos as estrelas, não paramos para orar, não tomamos banho de chuva ou ao menos vamos à praia. Até perdemos entes queridos e nos arrependemos por não ter aproveitado tanto a vida com aquela pessoa; pensamos que aprendemos a lição, até que outro ente querido morra e sintamos mais remorsos. Nunca aprendemos a viver. Trabalhamos para ganhar dinheiro o bastante para nos sustentar como seres humanos normais mas acabamos trabalhando para sustentar as coisas que temos.
O mundo nos dita o jeito perfeito de viver. Nos ditam que curso seguir, que emprego seguir, que sabor escolher, que lugar visitar, com que pessoa se casar. Não se criam mais jeitos de viver como antigamente. Nossos sonhos se resumem a satisfações copiadas de outras cópias.
Não tentamos mais procurar Deus. Eu não falo de Deus como substantivo próprio ou comum. Eu falo que não possui pronome. Um amor independente de sorriso, uma ânsia de satisfação que não seja a sua. Um estado de espírito. Uma ambição que não é egoísta. Uma enteogenia. Tentar provar se Deus existe ou não tem a menor utilidade. Sentir Deus, sim, tem.
Chegando perto do final, gostaria de dizer novamente que aprender é difícil para nós. Na maioria das vezes parecemos contentes por estarmos tristes. Mudar é algo difícil. Amar, mais ainda. Mas a verdade é que quanto mais você olhar, menos chances de pular.
A perfeição consiste em não querer atingir a perfeição.
P.S.: Só queria dizer que me sinto meio hipócrita escrevendo um texto com lições de como viver quando nem mesmo eu estou vivendo a minha vida como eu gostaria. Talvez nem tenha sido eu quem escreveu esse texto. Talvez eu seja só uma ferramenta compiladora de uma substância chamada epifanina.
Um certo dia usei cogumelos e na experiência pensei “Pronto. Estou completo. Agora vou ajudar as outras pessoas.”. Fiquei muito feliz com essa descoberta, mas um mês depois já me sentia triste de novo. Pode-se pensar que essa é uma forma de nos tornarmos escravos do micélio, mas creio que isso seja da natureza humana. Creio que o caráter humano não siga uma linha reta e lógica, mas de fases ruins e boas, uma verdadeira espiral que apenas sobe no eixo que representa o tempo.
Também creio hoje que eu estava errado sobre o pensamento da experiência. Não devemos esperar estarmos em paz conosco para tentar melhorar o que está à nossa volta. É melhorando o que está à nossa volta que trazemos paz para nós mesmos.
Um emprego que vagarosamente te mata
Feridas que não cicatrizam
Você parece tão cansado e infeliz
Derrube o governo
Eles não... eles não falam por nós
Eu vou levar uma vida quieta
Um aperto de mão de monóxido de carbono
Sem alarmes e sem surpresas." (Radiohead)
"Eu vejo aqui os homens mais inteligentes que já existiram. Que droga, uma geração inteira de garagistas, garçons ou escravos do colarinho branco! Os anúnicos nos fazem comprar carros e roupas. Empregos que odiamos para comprar porcarias que não precisamos. Somos os filhos no meio da história, sem Grandes Guerras nem Grandes Depressões. Nossa Grande Guerra é a Guerra espiritual, nossa Grande Depressão é nossas vidas. Todos nós fomos criados vendo televisão para acreditar que um dia seríamos bilionários e deuses do cinema e estrelas do rock, mas nós não somos. Devagar vamos aprendendo isso." (Clube da Luta)
Há certo tempo ouvi o OK Computer do Radiohead e recentemente assisti o filme “Clube da Luta” (“Fight Club)
Notei que os dois possuem várias semelhanças: ambos falam da angústia do homem moderno (dos anos 90 até agora), da vida do ser humano que trabalha como um escravo, almoça no fast-food, renuncia a férias com medo de ser substituído no emprego, cujo chefe o humilha tanto que ele não consegue mais ter ereções e que ao chegar em casa não consegue dormir.
“Você poderia, por favor parar o barulho, eu estou tentando descansar. Tirar um descanso de todas essas galinhas que ainda não nasceram dentro da minha cabeça.” (Radiohead)
Gente que foi criada sob padrões plim-plim de beleza e estilo de vida. Relações tão descartáveis quanto as coisas que servem nos vôos comerciais, pessoas que você conhece e se despede sem nem ter perguntado o nome. Pessoas frustradas.
“Já podaram seus momentos,
Desviaram seu destino.
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu...” (Milton Nascimento)
Vivemos num mundo onde nos subordinamos às coisas que possuímos.
"As coisas que você possui acabam possuindo você." (Clube da Luta)
“Eu tinha um aparelho de som legal, um guarda-roupa que estava começando a ficar respeitável... eu estava perto de me sentir completo.” (Clube da Luta)
"que tipo de porcelana me define como pessoa?" (Clube da Luta)
"Assassinato, crime, pobreza. Estas coisas não me interessam. O que me interessa são revista de celebridades, televisão com 500 canais, nome de uns caras na minha cueca..." (Clube da Luta)
"Que vergonha. Uma coleção completa de condimentos e nenhuma comida." (Clube da Luta)
Não cheiramos flores, não andamos devagar, não cozinhamos, não sentamos no chão com nossos filhos, não olhamos as estrelas, não paramos para orar, não tomamos banho de chuva ou ao menos vamos à praia. Até perdemos entes queridos e nos arrependemos por não ter aproveitado tanto a vida com aquela pessoa; pensamos que aprendemos a lição, até que outro ente querido morra e sintamos mais remorsos. Nunca aprendemos a viver. Trabalhamos para ganhar dinheiro o bastante para nos sustentar como seres humanos normais mas acabamos trabalhando para sustentar as coisas que temos.
O mundo nos dita o jeito perfeito de viver. Nos ditam que curso seguir, que emprego seguir, que sabor escolher, que lugar visitar, com que pessoa se casar. Não se criam mais jeitos de viver como antigamente. Nossos sonhos se resumem a satisfações copiadas de outras cópias.
Não tentamos mais procurar Deus. Eu não falo de Deus como substantivo próprio ou comum. Eu falo que não possui pronome. Um amor independente de sorriso, uma ânsia de satisfação que não seja a sua. Um estado de espírito. Uma ambição que não é egoísta. Uma enteogenia. Tentar provar se Deus existe ou não tem a menor utilidade. Sentir Deus, sim, tem.
Chegando perto do final, gostaria de dizer novamente que aprender é difícil para nós. Na maioria das vezes parecemos contentes por estarmos tristes. Mudar é algo difícil. Amar, mais ainda. Mas a verdade é que quanto mais você olhar, menos chances de pular.
A perfeição consiste em não querer atingir a perfeição.
P.S.: Só queria dizer que me sinto meio hipócrita escrevendo um texto com lições de como viver quando nem mesmo eu estou vivendo a minha vida como eu gostaria. Talvez nem tenha sido eu quem escreveu esse texto. Talvez eu seja só uma ferramenta compiladora de uma substância chamada epifanina.
Um certo dia usei cogumelos e na experiência pensei “Pronto. Estou completo. Agora vou ajudar as outras pessoas.”. Fiquei muito feliz com essa descoberta, mas um mês depois já me sentia triste de novo. Pode-se pensar que essa é uma forma de nos tornarmos escravos do micélio, mas creio que isso seja da natureza humana. Creio que o caráter humano não siga uma linha reta e lógica, mas de fases ruins e boas, uma verdadeira espiral que apenas sobe no eixo que representa o tempo.
Também creio hoje que eu estava errado sobre o pensamento da experiência. Não devemos esperar estarmos em paz conosco para tentar melhorar o que está à nossa volta. É melhorando o que está à nossa volta que trazemos paz para nós mesmos.
Última edição por um moderador: