ao fim desta dança eu fiquei ali sentado no meu colchão e pensava coisas como que vcs aqui deste fórum são uns malucos e esses cogumelos uma coisa doida
É normal pensar isso sob um estado alterado de consciência.
em certo momento eu fiquei numa posição muito desconfortável, com a cabeça encostando no chão toda torta e pensamentos suicidas passaram por mim, pensei em enfiar a agulha dos cultivos no meu pescoço
Posições desconfortáveis são potenciais desencadeadoras de MEDO e todo tipo de emoção e sentimento aversivo.
ai eu levantei e pensei comigo que aquilo era algo sério e que eu deveria respirar; considero isso como algo normal e já lidei com impulsos suicidas antes sob efeitos de enteógenos, entendo que esses impulsos são intrínsecos a um ser humano e algo que precisa ser transformado / existem diversos aspectos dentro de si e este é um que precisa de cura
Quando o medo ganha espaço, a mente fica vulnerável a estes pensamentos, pois eles podem parecer uma boa solução para uma angústia que não acaba. Ter uma dimensão destes impulsos suicidas pode ser bom para o indivíduo durante a
trip. O que se pretende é alcançar um nível de clareza no qual é possível ver melhor a mesma situação, porém, sob um ponto de vista contrário ao suicídio. Quando você diz que um aspecto precisa de cura, penso que o caminho é por aí mesmo. Existem aspectos que precisam ser melhor trabalhados em nós, mas é bom ficar atento ao perfeccionismo e a busca pela perfeição, pois isso pode ser prejudicial.
Eu já tive experiências com dosagens iguais as tuas. Uma vez, em 2007, quis ver até onde eu conseguiria chegar. De manhã, eu colhi mais de 500 g (meio quilo) dos Panaeolus Cyanencens em um pasto, todos frescos, jovens e sem lesões. De tarde, peguei um pouco dos cogumelos, uma panela, água e fósforo; saí com um amigo; fizemos um chá com uns 50 cogumelos grandes e tomamos no meio da floresta. Após alguns minutos, eu senti os primeiros efeitos e falei para andarmos. Andamos em direção ao morro, subimos nele e voltamos para o local onde tomamos o chá (um local afastado da civilização). Esse trajeto durou cerca de 2 horas. Nada de muito estranho, os efeitos foram os de sempre: leves perturbações, cores vibrantes, harmonia com a natureza e uma calma após algumas horas. No caminho de volta para casa, eu resolvi comer os cogumelos que aparecessem em meu caminho. Apareceram muitos, eu escolhia os mais sadios e comia, no total, foram mais uns 30. Ao chegar na civilização (rua), já escuro, (numa cidade de 4 mil habitantes - interior da Bahia), eu comi uma esfirra de frango e fui para casa tranquilo sem sentir efeitos. Tomei um banho, fui para a cozinha e comecei a me sentir estranho. Segui para o meu quarto e tive a ideia de tocar violão para ver se eu sintonizava uma boa vibração. Ao pegar o violão e tocar uma corda, eu fui transportado para outra dimensão na hora. Eu estava sentado na cama de frente para as portas do guarda-roupas, a madeira dele estava derretendo, mas sem sair do lugar. Eu via as imagens se mexendo como que fervendo e, um
pavor tomou conta de mim. Eu encostei o violão e sentei no canto da cama, encolhido, torcendo para ninguém me ver ali daquele jeito. Essa situação durou uma hora e, durante esse tempo, não passou ninguém. As pessoas de casa estavam fora. Durante essa hora, eu acabei sincronizando meu pensamento com a fala de uma mulher do outro lado da rua (lugar pequeno, de noite, dá pra ouvir muita coisa), ela falava em um tom de desafetos, falava mal de alguém, sempre dizendo a palavra "ele", isso era potencialmente perturbador, pois eu achava que eram sobre mim. Eu apenas pensava
"vai passar, vai passar". Após essa fase infernal (uma hora), eu senti uma força renovada dentro de mim, peguei uma moto que estava parada na frente de casa e fui dar uma volta nas ruas da pacata cidade. Agora, estava tudo bom, eu sentia uma energia que parecia não se esgotar. Eram por volta das nove da noite, permaneci fora de casa com a moto até às onze e meia da noite, aproveitado esses momentos de prazer, tranquilidade e segurança. Quando cheguei em casa, fiz um chá com mais uns 20 cogumelos; tomei o chá e comi mais uns 30 cogumelos com bananas (até hoje me lembro dessa degustação - bananas disfarçam bem o sabor). Deitei em minha cama e fiquei aguardando com a luz acesa. Foi nesse dia que eu tive a maior experiência da minha vida. Eu não conseguia nem me levantar da cama. Qualquer movimento que eu fazia com qualquer parte do corpo me trazia de volta para a cama, pois parecia que eu estava em outro lugar. Minha mente havia se dissipado e eu só sentia que ainda estava vivo em algum lugar do cosmos, era uma sensação boa, descrevo-a como se estivesse fundido com o universo. Esperei até ficar melhor e poder ir ao banheiro, o que fiz com muita dificuldade, pois cada passo demorava muito, minhas pernas ficaram endurecidas, parecia que meu
espírito estava em outro lugar e somente meu corpo estava ali, isso era aborrecedor. Depois das 3 da manhã, eu consegui dormir. No dia seguinte, eu ainda estava tomado por uma paz fenomenal (meu olho estava estranho, diferente) que durou até a tarde quando, numa conversa com uma amiga, eu tive um pequeno aborrecimento, (reparei que as pálpebras dos meus olhos deram uma pequena arqueada) e percebi como se algo quebrasse minha redoma da paz nesse momento, (na verdade, eu mesmo a havia quebrado ao permitir o aborrecimento). A partir deste momento, voltei a ser quem sempre fui, uma pessoa que comete erros e acertos, iguais as outras, mas na hora, eu não pensei assim, apenas agradeci por passar por tudo aquilo, ao mesmo tempo frustrado por não poder permanecer sempre naquela paz fenomenal.
Sempre passa. Depois de anos perdido no mundo, sem saber que rumo tomar, eu resolvi estudar Psicologia e entender melhor os mecanismos da nossa mente. Hoje, com 31 anos, estou no último ano do curso, e penso em atuar na área social. Eu pesquiso sobre o poder dos cogumelos desde 2005 e, desde 2014, sou simpatizante dos movimentos ayahuasca que temos no Brasil, mas nunca tive experiências com esta bebida, nem me relaciono com pessoas que usam-na em rituais, apenas achei bonito o modo como eles lidam com a
Força e o Amor.
Abraços. [ Editado: ajustes ortográficos e pequenos complementos (5 ou 6 palavras a mais) ]