- 01/10/2016
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Ok, finalmente consegui concretizar meus planos, e anteontem tomei cogumelos pela primeira vez.
Quem quiser saber o contexto que me levou a experimentar, está no meu tópico de apresentação. Não tive nenhum medo ou receio, apesar da inexperiência com alucinógenos. Afinal de contas, o que poderia ser pior do que os 25 anos de depressão que precederam? Tomar cogumelo foi uma das decisões mais fáceis que tive na vida.
Recebi 5g de cubensis desidratados pela internet. Fornecedor excelente, pena que não posso falar de onde comprei. Embalado a vácuo, bem preservado. O cheiro era agradável. Preparei do jeito mais simples possível, com base num vídeo do youtube. Cortei com tesoura em pedaços pequenos, joguei numa leiteira, fervi tudo em fogo baixo por 20 minutos. Resolvi que não ia pesar. Era mais fácil preparar tudo e beber proporcionalmente a dose desejada, deixando o resto do chá congelado para decidir depois o que fazer. Desse jeito, não tive que comprar balança de precisão. Acabei decidindo tomar 80% do preparado - em tese, uma dose de 4g. Estava preparado para jogar mel, acúcar leite, qualquer coisa que tirasse o gosto ruim. Mas para minha surpresa não era desagradável, e bebi fácil.Tinha um balde preparado para vomitar, mas o fato é que não me deu nenhuma náusea.
Quem leu meu tópico de apresentação viu que meu interesse não era nem um pouco recreativo, mas terapêutico e espiritual. Por isso não era de meu interesse usar junto com outras pessoas também viajando. O acompanhante estava sóbrio, só cuidando de minha segurança. Queria que o processo fosse o mais introspectivo e íntimo possível. Quanto ao ambiente, eu queria fazer perto da natureza, mas me convenceram a fazer a experiência em casa mesmo Com isso abri mão de ter um ambiente interessante à minha volta, mas acabou não fazendo diferença, pois optei por passar a maior parte do tempo de olhos fechados - vendados com uma máscara de dormir, para ser preciso. Depois de tomar, deitei no sofá e fechei os olhos em meditação.
E francamente toda a parte mais interessante foi aconteceu com os olhos vendados. As possibilidades de imagens e estímulos eram infinitas. As visões não cessavam, e nenhuma durava mais que uns 10 segundos. Era coisa nova atrás de coisa nova aparecendo. Quando eu tirava a venda, era até para segurar um pouco a viagem. E o que eu via de olhos abertos, era o que muita gente descreve. Cores alucinantes, perspectiva distorcida, alguns objetos e quadros ficavam intrigantes. Se moviam, se misturavam, mostravam padrões intrincados e difíceis de decifrar. De vez em quando eu puxava assunto com meu amigo, quando me cansava das imagens no escuro, só para experimentar como era interagir viajando. E eu só repetia como aquilo tudo era indescritível e paradoxal. E me cansava de conversa e voltava para o escuro.
Tudo muito, muito prazeiroso. Eu ria e ria que não acabava mais. E o que mais provocava riso era a idéia de tentar descrever o que se passava. A incapacidade da linguagem de articular a experiência era algo extremamente cômico.
Uma coisa notável era que eu estava em mais de um plano ao mesmo tempo. O mundo real e o das imagens, e tinha controle de passar um para o outro. No auge do efeito, o plano alucinatório era igualmente verdadeiro. Eu disse para meu amigo algo como "você está no suposto mundo real". Ele ficou espantado com ouvir isso.
Depois de ter passado algumas horas "vendo como é", me dei por satisfeito de ter conhecido o efeito e me concentrei no objetivo, de explorar minha consciência e meu eu. Fiz perguntas, tentei conjurar uma figura que me respondesse, procurando uma epifania, mas... nenhuma "resposta" que não fosse na forma de experiência, e de experiência indescritível. E me dei conta do problema de formular a pergunta. A resposta era o caos, a indeterminação, a amplitude de possibilidades. Mas a resposta a que? E eu repetia "qual é o assunto"?
O efeito, como é típico, foi diminuindo muito gradualmente. Depois de 6 horas ainda não havia passado totalmente, e já era hora de ir dormir. Fui deitar ainda viajando, e levei o efeito do cogumelo para os sonhos, que tiveram um sabor notadamente diferente dos sonhos que se tem toda a noite. Mas também não foi que nem as alucinações de antes. Foram uma terceira coisa.
No dia seguinte, fiquei seriamente achando que ainda estava sob algum efeito. Mas isso existe, o efeito durar até 18 horas depois de tomar? Certifiquei-me que não, que eu havia mudado mesmo.
E se posso descrever a mudança, agora, 2 dias depois, é a seguinte. Minha mente muda de assunto mais fácil. Pensamentos chatos e grudentos, aqueles que fazem de nossa vida uma tremenda neurose, não estão mais grudando tanto. Em termos de saúde psíquica e qualidade de vida, isso é uma enorme diferença. A outra mudança, acho que relacionada à primeira, é que a experiência vivida é bem menos entediante. Uma sensação corporal, uma música na cabeça, uma memória aleatória, uma coisa vista (como nuvens, árvores, utensílios, rostos, qualquer coisa) pode se tornar interessante subitamente. O interesse dura pouco, uns 30 segundos, mas depois outra coisa fica interessante. E outra. E outra. É uma série de fascinações superficiais e passageiras, mas que quebram um dos sentimentos mais opressores, que é o tédio. E há uma semelhança marcante entre essa diversificação de interesse e a sucessão alucinante de pensamentos e sensações de durante a viagem.
A "prova dos nove" hoje foi passar tempo com meus filhos pequenos. Conseguiria brincar com eles sem me entediar? Conseguiria interagir com pessoas sem me entediar? A resposta foi sim, consigo como não conseguia antes. Espero que isso dure, pois é uma mudança magnífica.
Não realizei TUDO que aspirava, apenas uns 85%. Eu tinha esperanças de algo ainda mais transcendental. Mesmo durante a viagem (que foi uma tremenda viagem) eu frequentemente pensava que queria ir mais fundo, ir até o âmago, e que da próxima vez tomaria ainda mais. Mas isso é algo que levarei muitos meses para analisar e decidir.
Falar 2 dias depois é muito cedo ainda. Há muito a digerir, e nem tudo se assentou. Tem muita água para correr, para ver quais serão as mudanças. Por exemplo, uma coisa muito importante para mim é como será no futuro com as práticas espirituais com as quais eu vinha tendo pouco sucesso. Terei mais resultado agora? E esse "espantamento do tédio", é permanente? Ou vai passar com o tempo, e eu vou voltar ao ciclo de depressão e neurose de antes? E o sentimento de amor, o quanto vai se expandir?
Quem quiser saber o contexto que me levou a experimentar, está no meu tópico de apresentação. Não tive nenhum medo ou receio, apesar da inexperiência com alucinógenos. Afinal de contas, o que poderia ser pior do que os 25 anos de depressão que precederam? Tomar cogumelo foi uma das decisões mais fáceis que tive na vida.
Recebi 5g de cubensis desidratados pela internet. Fornecedor excelente, pena que não posso falar de onde comprei. Embalado a vácuo, bem preservado. O cheiro era agradável. Preparei do jeito mais simples possível, com base num vídeo do youtube. Cortei com tesoura em pedaços pequenos, joguei numa leiteira, fervi tudo em fogo baixo por 20 minutos. Resolvi que não ia pesar. Era mais fácil preparar tudo e beber proporcionalmente a dose desejada, deixando o resto do chá congelado para decidir depois o que fazer. Desse jeito, não tive que comprar balança de precisão. Acabei decidindo tomar 80% do preparado - em tese, uma dose de 4g. Estava preparado para jogar mel, acúcar leite, qualquer coisa que tirasse o gosto ruim. Mas para minha surpresa não era desagradável, e bebi fácil.Tinha um balde preparado para vomitar, mas o fato é que não me deu nenhuma náusea.
Quem leu meu tópico de apresentação viu que meu interesse não era nem um pouco recreativo, mas terapêutico e espiritual. Por isso não era de meu interesse usar junto com outras pessoas também viajando. O acompanhante estava sóbrio, só cuidando de minha segurança. Queria que o processo fosse o mais introspectivo e íntimo possível. Quanto ao ambiente, eu queria fazer perto da natureza, mas me convenceram a fazer a experiência em casa mesmo Com isso abri mão de ter um ambiente interessante à minha volta, mas acabou não fazendo diferença, pois optei por passar a maior parte do tempo de olhos fechados - vendados com uma máscara de dormir, para ser preciso. Depois de tomar, deitei no sofá e fechei os olhos em meditação.
E francamente toda a parte mais interessante foi aconteceu com os olhos vendados. As possibilidades de imagens e estímulos eram infinitas. As visões não cessavam, e nenhuma durava mais que uns 10 segundos. Era coisa nova atrás de coisa nova aparecendo. Quando eu tirava a venda, era até para segurar um pouco a viagem. E o que eu via de olhos abertos, era o que muita gente descreve. Cores alucinantes, perspectiva distorcida, alguns objetos e quadros ficavam intrigantes. Se moviam, se misturavam, mostravam padrões intrincados e difíceis de decifrar. De vez em quando eu puxava assunto com meu amigo, quando me cansava das imagens no escuro, só para experimentar como era interagir viajando. E eu só repetia como aquilo tudo era indescritível e paradoxal. E me cansava de conversa e voltava para o escuro.
Tudo muito, muito prazeiroso. Eu ria e ria que não acabava mais. E o que mais provocava riso era a idéia de tentar descrever o que se passava. A incapacidade da linguagem de articular a experiência era algo extremamente cômico.
Uma coisa notável era que eu estava em mais de um plano ao mesmo tempo. O mundo real e o das imagens, e tinha controle de passar um para o outro. No auge do efeito, o plano alucinatório era igualmente verdadeiro. Eu disse para meu amigo algo como "você está no suposto mundo real". Ele ficou espantado com ouvir isso.
Depois de ter passado algumas horas "vendo como é", me dei por satisfeito de ter conhecido o efeito e me concentrei no objetivo, de explorar minha consciência e meu eu. Fiz perguntas, tentei conjurar uma figura que me respondesse, procurando uma epifania, mas... nenhuma "resposta" que não fosse na forma de experiência, e de experiência indescritível. E me dei conta do problema de formular a pergunta. A resposta era o caos, a indeterminação, a amplitude de possibilidades. Mas a resposta a que? E eu repetia "qual é o assunto"?
O efeito, como é típico, foi diminuindo muito gradualmente. Depois de 6 horas ainda não havia passado totalmente, e já era hora de ir dormir. Fui deitar ainda viajando, e levei o efeito do cogumelo para os sonhos, que tiveram um sabor notadamente diferente dos sonhos que se tem toda a noite. Mas também não foi que nem as alucinações de antes. Foram uma terceira coisa.
No dia seguinte, fiquei seriamente achando que ainda estava sob algum efeito. Mas isso existe, o efeito durar até 18 horas depois de tomar? Certifiquei-me que não, que eu havia mudado mesmo.
E se posso descrever a mudança, agora, 2 dias depois, é a seguinte. Minha mente muda de assunto mais fácil. Pensamentos chatos e grudentos, aqueles que fazem de nossa vida uma tremenda neurose, não estão mais grudando tanto. Em termos de saúde psíquica e qualidade de vida, isso é uma enorme diferença. A outra mudança, acho que relacionada à primeira, é que a experiência vivida é bem menos entediante. Uma sensação corporal, uma música na cabeça, uma memória aleatória, uma coisa vista (como nuvens, árvores, utensílios, rostos, qualquer coisa) pode se tornar interessante subitamente. O interesse dura pouco, uns 30 segundos, mas depois outra coisa fica interessante. E outra. E outra. É uma série de fascinações superficiais e passageiras, mas que quebram um dos sentimentos mais opressores, que é o tédio. E há uma semelhança marcante entre essa diversificação de interesse e a sucessão alucinante de pensamentos e sensações de durante a viagem.
A "prova dos nove" hoje foi passar tempo com meus filhos pequenos. Conseguiria brincar com eles sem me entediar? Conseguiria interagir com pessoas sem me entediar? A resposta foi sim, consigo como não conseguia antes. Espero que isso dure, pois é uma mudança magnífica.
Não realizei TUDO que aspirava, apenas uns 85%. Eu tinha esperanças de algo ainda mais transcendental. Mesmo durante a viagem (que foi uma tremenda viagem) eu frequentemente pensava que queria ir mais fundo, ir até o âmago, e que da próxima vez tomaria ainda mais. Mas isso é algo que levarei muitos meses para analisar e decidir.
Falar 2 dias depois é muito cedo ainda. Há muito a digerir, e nem tudo se assentou. Tem muita água para correr, para ver quais serão as mudanças. Por exemplo, uma coisa muito importante para mim é como será no futuro com as práticas espirituais com as quais eu vinha tendo pouco sucesso. Terei mais resultado agora? E esse "espantamento do tédio", é permanente? Ou vai passar com o tempo, e eu vou voltar ao ciclo de depressão e neurose de antes? E o sentimento de amor, o quanto vai se expandir?